Blast from the Trash: Top Gun (NES)

em 27/03/2013

Neste Blast from the Trash temos um jogo que vai tirar seu fôlego! Voando com tudo em direção à zona de perigo dos jogos licenciados de fi... (por Thomas Schulze em 27/03/2013, via Nintendo Blast)

Neste Blast from the Trash temos um jogo que vai tirar seu fôlego! Voando com tudo em direção à zona de perigo dos jogos licenciados de filmes, Top Gun foi lançado para o Nintendinho em 1987, alcançando enorme popularidade graças ao sucesso avassalador que o filme homônimo fazia nos cinemas. Mas se a aventura de Tom Cruise como o piloto de caça Maverick diverte muito e mostra o melhor do cinema de ação dos anos 1980, o game inspirado nele pode ser mais frustrante que competir com o Iceman pelo posto de piloto Top Gun.

Ases intragáveis

Opção de carreira para jovens
dos anos 1980.
Admito: como uma criança dos anos 1980, cresci assistindo filmes como Top Gun, Rambo, Rocky e O Exterminador do Futuro, o que me rendeu expectativas surreais e me fez sonhar em crescer e virar um piloto de caça, soldado, pugilista ou robô, o que fosse mais fácil. Mas graças aos jogos miseráveis que foram influenciados por esses filmes (e também devido aos lentos avanços da ciência no campo da transformação de humanos em robôs) acabei abrindo mão desses sonhos e aceitando o cargo de redator do Nintendo Blast, onde ao menos posso me vingar desses jogos que destruíram minha infância e mataram meus sonhos.

Sempre que me deparo com um jogo muito ruim, espero encontrar estampado em sua caixa o logotipo de uma desenvolvedora lixosa, como a LJN ou a Titus, e até mesmo quem sabe a Acclaim ou a Ocean, mas nunca em sã consciência poderia imaginar encontrar a marca da Konami em um jogo podre (todos concordamos em fingir que Castlevania Judgement nunca foi lançado, certo?). Afinal, eles são o lar de grandes jogos como Metal Gear e Contra, e mesmo quando se aventuram pelo mundo dos jogos licenciados acabam entregando títulos muito bons como os Tiny Toon Adventures de Nintendinho e Super Nintendo e os fliperamas de Teenage Mutant Ninja Turtles e The Simpsons. Mas quando assumiu a missão de desenvolver Top Gun, a Konami errou feio o alvo.

Os bons jogos da Konami marcaram muita gente. Em alguns casos, literalmente.


Um voo turbulento

Quando você olha para essa tela,
seu coração se enche de otimismo...
Top Gun é um daqueles jogos que eu costumo comparar com um Kinder Ovo. Depois de comer um bom chocolate não demora muito para encontrar uma surpresa infeliz no meio. Do mesmo modo, num primeiro momento você insere o cartucho no seu NES e tudo parece lindo: a música tema do filme toca em uma versão bem agradável, o visual do jogo parece muito bom, e os controles respondem de forma razoavelmente correta. Mas assim como o Kinder sempre esconde um quebra-cabeças idiota de quatro peças no meio, Top Gun também não tarda para revelar seus grandes defeitos ocultos.

Quando estava desenvolvendo Top Gun, a Konami tomou uma decisão ousada e resolveu se inspirar num gênero até então exclusivo dos computadores, o de simuladores de voo. Essa decisão é bastante irônica, já que o filme Top Gun é possivelmente o retrato menos realista do mundo da aviação e do combate militar, mas tudo bem. Acho que seria muito mais legal um jogo de navinha exagerado na linha de Life Force ou Gradius, e provavelmente até teria sido mais fácil tentar desenvolver algo assim. Mas é como dizem, de boas intenções o inferno está cheio.

...mas basta olhar para esse horizonte pintado no Paint Brush para cair na real.


“Você é perigoso, Maverick!”

O que diabos está acontecendo
nessa tela?
O jogo se divide basicamente em três esquemas de jogabilidade, mas apenas um deles funciona de modo aceitável. Logo que você inicia sua campanha, Maverick está numa missão de treinamento e precisa apenas desviar dos tiros e abater os caças inimigos. Metade da sua tela de jogo consiste em painéis que não servem para absolutamente nada além de consumir um valioso espaço que você poderia estar utilizando para mirar com mais precisão, mas tudo bem, porque ainda assim até é possível se divertir um pouco pilotando. A verdadeira lixosidade do game aparece quando você precisa realizar manobras realísticas, como pousar o jato no porta-aviões ou reabastecê-lo em pleno ar.

Tenho esse jogo há mais de vinte anos e nunca consegui aprender a pousar ou a abastecer de modo seguro. Sempre perdi valiosas vidas nesse processo e graças a isso nunca terminei o jogo. Claro que algumas vezes dava certo após muita tentativa e erro (leia: tardes inteiras de frustração e arrependimento por estar jogando). Já tive pesadelos com o visor do caça piscando a mensagem “to landing sequence” (“para a sequência de aterrissagem”, em tradução livre) , pois sabia que minha hora estava chegando e logo faria companhia ao personagem Goose na lista de baixas do programa Top Gun.

Quando a sequência de pouso ou reabastecimento tem início, o visor começa a piscar enlouquecidamente o que você precisa fazer para que o caça realize o procedimento em segurança. Inclinar a aeronave um pouco para a esquerda ou para a direita, aumentar ou diminuir a velocidade, as dicas são muitas e não param de aparecer, e não importa o quão fielmente você as siga, parece que é sempre um processo de loteria.Ok, talvez essa comparação não tenha sido muito justa, já que na Mega Sena pelo menos você tem uma chance de acertar.

Você vai acertar a água tantas vezes que era mais fácil
chamar o jogo de "Batalha Naval".

Tire o meu fôlego... e tire esse jogo da minha frente

Nem adianta dar joinha, Maverick,
seu jogo recebeu nosso
selo lixoso de qualidade!
Se por algum milagre você conseguir sobreviver às sequências de aterrissagem e reabastecimento, seu prêmio é descobrir que o jogo se torna extremamente repetitivo. Depois de vinte minutos você já vai estar de saco cheio de fazer as mesmas coisas várias vezes, pois o máximo de variedade que você vai encontrar nas fases são mudanças no tom do céu, já que há fases com fundo azul escuro ou preto. Sempre bacana quando o pessoal da equipe de desenvolvimento se dá ao trabalho de produzir diversidade, não é mesmo?

No fim das contas, talvez o fim mais digno para um jogo que se passa tanto tempo no ar seja a defenestração, atirando o cartucho pela janela num último e glorioso voo rumo ao esquecimento.

Revisão: Samuel Coelho
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