Análise: 1f y0u're a gh0st ca11 me here! é uma experiência de call center assombrado

O jogo da Furoshiki Lab chega aos consoles com o apoio de publicação da KEMCO.

Projetado por Kotaro Dendaira e desenvolvido pela Furoshiki Lab, 1f y0u're a gh0st ca11 me here! é um jogo de aventura textual com uma premissa um tanto exótica que chega à eShop do Switch no dia 5 de junho. Enquanto usualmente uma obra do gênero buscaria focar estritamente na imersão no texto, temos aqui uma experiência de atendimento rápido em um call center sobrenatural.

Conexões após a vida

Vanitas Vanitatum era uma empregada na casa de uma das figuras mais influentes do pós-vida, mas ela recebe uma proposta peculiar. Nossa protagonista é convidada a participar de um recém-criado sistema de call center para ajudar a guiar fantasmas a serviços essenciais.

O contexto sobrenatural do pós-vida do jogo é bastante peculiar, envolvendo um sistema que aparentemente separa as pessoas por classes. Cada grupo geralmente se conecta apenas com seus pares, tendo os Gr1ms (de “Grim Reaper”, ou ceifador de almas) como uma cobiçada posição na sociedade.

São os Gr1ms que são tipicamente responsáveis por guiar os mortos para esse mundo inferior. Porém, a introdução desse sistema de call center pode ser uma grande revolução tecnológica para esse mundo.

De forma geral, sem entrar em spoilers, a trama envolve um curioso desenvolvimento pessoal para Vanitas, que, apesar de sua personalidade radiante, possui baixa autoestima. Conforme a história avança, aprendemos mais sobre a constituição do mundo e o quão peculiar e especial nossa protagonista é.

Infelizmente, a trama é curta e, mesmo com alguns capítulos adicionais liberados com o tempo, o nosso entendimento do mundo acaba sendo superficial. É uma pena que isso acabe levando a um subdesenvolvimento da trama, pois dá vontade de conhecer melhor as suas nuances.

Servindo bem para servir sempre

O núcleo de gameplay do jogo envolve o nosso trabalho como atendente de um call center. Ao longo dos dias de expediente, temos que dar conta de múltiplas ligações que recebemos de fantasmas que precisam de ajuda. Alguns deles estão perdidos e precisam de um mapa, outros podem estar feridos e necessitam de uma ambulância e há ainda os que estão sendo exorcizados e só poderão ir em segurança se a polícia dispersar os agressores.

Cabe então ao jogador prestar atenção nas falas dos fantasmas, que irão discorrer sobre o seu problema, explicando as suas necessidades. É importante então ficar de olho nas informações que são repassadas, com detalhes mais relevantes geralmente recebendo destaque (que pode ser em cor rosada ou em negrito, dependendo da configuração que o jogador preferir).

De acordo com as falas, é possível definir para quem devemos enviar aquele indivíduo, o que podemos fazer diretamente pela tela de toque ou marcando o balão desejado e usando os botões do controle. Há até mesmo casos em que é melhor desconectar-se porque humanos ainda vivos estão usando a linha. Quando isso acontece, não há nenhum destaque na conversa e muitas vezes é possível notar que o contato é um trote ou uma simples curiosidade.

Porém, as coisas não são tão simples, pois dois fatores em particular adicionam dificuldade ao processo: o tempo limitado e a simultaneidade das ligações. Todas as conversas possuem um limite específico de tempo e não responder, mesmo quando não são fantasmas, é tratado como erro.

Como temos que lidar com múltiplas ligações em paralelo ocupando posições diferentes da tela, nossa habilidade de atenção é testada. Os balões avançam em ritmos diferentes, alguns podem ser mais enrolados ou mais sucintos, é possível que eles parem de fornecer informações importantes na última fala ou comecem a fazer isso só mais tarde.

Também vale destacar que há uma geração procedural das falas, então temos diferenças para o posicionamento, a ordem e quantos balões acontecem de forma simultânea toda vez que jogamos. Apesar disso, a memória pode ajudar a tornar o processo mais fácil com o tempo, já que as falas ainda se repetem e é possível gravar a resposta, especialmente para as pegadinhas (diálogos que parecem indicar outra necessidade numa leitura superficial).

Como resultado, a experiência após repetições pode começar a lembrar o tradicional jogo japonês Karuta. Ou seja, começamos a ter uma noção da resposta a partir da memorização dos segmentos e reagir mais rapidamente, evitando que a situação vire uma grande bola de neve.

Os detalhes do entorno

De forma geral, a obra é bem diferente do usual, mas é importante ter em mente algumas questões. Primeiramente, trata-se de um jogo bem simples de forma geral com elementos visuais e sonoros bem repetitivos e um universo interessante, mas explorado de forma superficial.

A história é apresentada em capítulos e há um menu de fluxograma que os conecta e também inclui trechos opcionais secundários. A nossa performance em cada capítulo (“dia”) é avaliada e isso é claramente indicado nesse menu, sendo possível rejogar esses trechos para melhorar nossa pontuação. Porém, ao fazer isso, perderemos todo o progresso futuro, tendo que rejogar as etapas seguintes.

Por conta disso, o jogo é projetado de forma que a forma mais confortável de aproveitá-lo é não errar nas performances desde o início e tentar novamente se falhar. Porém, não temos um botão de rejogar, sendo necessário voltar para o menu do fluxograma para tentar novamente. Além disso, a animação de liberação de novos pontos é um tanto lenta, deixando esse processo desnecessariamente moroso.

Para piorar a situação, mesmo o jogo sendo relativamente curto, há uma grande quantidade de errinhos de digitação, ortografia e gramática em inglês, tendo apenas a opção de jogar nessa língua ou em japonês. Felizmente, isso não acaba interferindo tanto na experiência central da gameplay, mas acaba chamando a atenção de forma negativa junto com a escolha estética de usar números no lugar de algumas letras como gírias de internet antigas.

Para quem gostar da experiência no geral e quiser se desafiar mais, há ainda um modo chamado The Hundred Call Run. Liberado após concluir a história, ele faz com que o jogador tenha que atender a uma centena de gravações para tentar selecionar o direcionamento correto para as falas. Só é possível errar três vezes, caso contrário é game over, então é um desafio bem mais intenso do que os capítulos da história.

Guiando o futuro dos mortos

1f y0u're a gh0st ca11 me here! é uma obra peculiar com um conceito único no mercado. O seu nível de polimento deixa a desejar, mas, especialmente para fãs de obras narrativas em busca de experiências nada ortodoxas, ainda pode valer a pena adentrar na experiência.

Prós

  • Gameplay narrativo de atendimento caótico de call center é uma proposta única;
  • O conceito de mundo sobrenatural e o desenvolvimento da protagonista são curiosos;
  • O Hundred Call Run é uma forma interessante de desafio adicional.

Contras

  • Rejogar os desafios da história é desnecessariamente demorado;
  • Para uma obra relativamente curta, o jogo conta com uma quantidade perceptível de erros de digitação/ortografia;
  • Detalhes interessantes da trama acabam sendo subdesenvolvidos.

1f y0u're a gh0st ca11 me here! — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch

Análise produzida com cópia digital cedida pela KEMCO

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Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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