Análise: American Arcadia traz reviravoltas distópicas para a vida de um pacato cidadão americano

A aventura distópica da Out of the Blue Games já está disponível no Switch.

E se a sua vida fosse uma mentira televisionada? Essa é a premissa de American Arcadia, uma aventura com elementos de plataforma, furtividade e puzzles que chegou ao Switch em 15 de maio.

Uma cidade artificial

Trevor Hills era apenas um rapaz comum que morava em Arcadia, uma “cidade dos sonhos” americana. A sua vida era simples e mundana até demais, seguindo sempre a mesma rotina de acordar e ir ao trabalho nas torres gêmeas da INAC, onde ele envia relatórios através de tubos.

Porém, eventos estranhos têm acontecido ao redor dele. Em particular, seu colega de trabalho Gus desapareceu misteriosamente, tendo sido selecionado para um suposto programa de viagens. Um indivíduo misterioso entra em contato com ele afirmando que a verdade é muito mais cruel e ele precisa tomar cuidado.

Sem entrar em muitos detalhes além da premissa para evitar spoilers, a Arcadia não passa de um programa de TV de larga escala. Um reality show em que boa parte de seus participantes nem sabem da verdade pois nasceram e cresceram dentro da sua estrutura. E Trevor Hills e sua rotina são extremamente desinteressantes para o programa.

Percebendo que o indivíduo misterioso parece estar falando a verdade, Trevor começa então uma corrida desesperada para fugir desse lugar. Cabe ao jogador alternar entre as perspectivas dele e de “Kovacs”, o indivíduo de fora da cidade que o ajuda, para que ele possa escapar.

Gameplay em alternância

Junto com a mudança de perspectiva do jogador, temos também mudanças no formato de gameplay. Inicialmente, apenas controlamos Trevor andando de um lado para o outro em perspectiva de plataforma com visão sidescroller. O personagem nem mesmo pula até começar a sua corrida implacável.

Durante a fuga, teremos trechos em que não podemos ser vistos pelos membros da “agência de viagem”, pois eles chamam drones para eliminá-lo. Nesses trechos, temos que guiar o personagem para se manter nos pontos cegos dos inimigos, escondidos por objetos ou grupos de pessoas.


Em alguns momentos-chave, Kovacs poderá hackear os sistemas de Arcadia para ajudá-lo a abrir portas, movimentar objetos e realizar outros feitos que ajudem Trevor a seguir em segurança. Nesses momentos, geralmente ainda estamos controlando Trevor e precisamos coordenar bem o timing das ações de ambos os personagens.

Porém, as coisas também podem ficar mais complicadas do lado desse colaborador, e então passamos a controlar Kovacs diretamente. Um detalhe interessante é que, enquanto Trevor se movimenta sempre no plano 2D, a perspectiva de Kovacs é em 3D com visão em primeira pessoa. Temos que explorar essas áreas tridimensionais, interagir com objetos variados e resolver puzzles enquanto buscamos uma forma de lidar com o seu problema atual.

Francamente falando, essa mudança de perspectiva, que consegue manter múltiplos estilos de gameplay de forma intuitiva, é um dos pontos mais legais da experiência, ficando lado a lado com as instigantes reviravoltas do roteiro. Em comparação, os momentos de plataforma podem acabar sendo pouco estimulantes devido à repetição e à simplicidade quando elas não envolvem alguma gimmick específica.

Os detalhes técnicos

Outro elemento curioso é a forma como a experiência é apresentada, como se fosse um documentário. Temos os dois protagonistas contando um pouco das suas respectivas situações, igual àqueles momentos em que deixam participantes de reality show contarem sobre o que sentiram.

Há também vídeos sobre a construção de Arcadia e alguns bastidores de produção, como palestras e entrevistas oficiais. Esse material complementa a trama principal e ajuda o jogador a entender em detalhes toda a situação distópica por trás da metrópole artificial televisionada.

O jogo conta com legendas em português e a tradução é de alta qualidade, sabendo tanto manter o nível de humor quanto a coloquialidade das falas. Embora a fluidez e qualidade do texto seja inquestionável, vale destacar que o tamanho das legendas pode extrapolar os limites da tela, deixando vários trechos de diálogo ilegíveis quando optamos pelo tamanho máximo em português.

A performance do jogo também sofre com ocasionais problemas, sendo isso especialmente nítido no carregamento de cenas que acabam quebrando o ritmo de transição. Também notei alguns engasgos nas animações dos personagens, mas felizmente essas situações não acabam atrapalhando a gameplay de fato, sendo apenas em trechos narrativos.

Uma experiência frenética de fuga

American Arcadia é um jogo de aventura frenético que consegue explorar as perspectivas de seus dois personagens principais de forma instigante, especialmente quando exige que o jogador combine as ações de ambos ao mesmo tempo. Em uma narrativa distópica que parece cada dia mais perturbadoramente próxima da realidade, o jogo é uma fácil recomendação para quem se interessa por esse tópico.

Prós

  • Narrativa distópica interessante explorada em um esquema pseudodocumental;
  • Os múltiplos estilos de gameplay e perspectiva 2D e 3D são explorados de forma intuitiva;
  • Tradução de alta qualidade para o português.

Contras

  • As legendas em português de tamanho grande extrapolam o limite da tela com frequência, ficando ilegíveis;
  • Os trechos de plataforma às vezes são muito simples, repetitivos e pouco interessantes;
  • Alguns engasgos de performance e loading no Switch.

American Arcadia — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury

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Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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