A Compile é uma das desenvolvedoras queridinhas de um nicho específico do público retrogamer. A desenvolvedora japonesa lançou diversos títulos para fliperamas, computadores como MSX e PC-88, e consoles da Sega nos anos 1980 e 1990, sendo os “jogos de navinha” (shoot ‘em ups ou shmups) uma de suas maiores especialidades.
Nos consoles da Nintendo, sua presença foi discreta, com títulos como Lunar Ball e versões de Madou Monogatari. No gênero shmup, a desenvolvedora investiu em 1992 com Super Aleste, seu único título do tipo no console.
A IA e a humanidade
Ambientado em 2047, Super Aleste conta a história de Raz, um ás da caça, que precisa proteger a Terra de uma misteriosa Esfera que começou a ameaçar o planeta. No meio de uma invasão do ser na América Latina, Raz estava com sua nave Aleste destruída, mas acabou sendo recuperada após uma “consciência” ter saído da Esfera.
Essa mente acabou encontrando a nave, restaurando-a e fundindo sua consciência com a máquina. Identificando-se como Thi, ela quis ajudar Raz na missão de acabar com a Esfera e livrar o planeta da ameaça.
Super Aleste também tem outra versão dessa história, apresentada na versão ocidental — chamada de Space Megaforce. Simplificando bem mais a trama, um OVNI veio do espaço e começou a causar o caos na Terra. Para revidar a ameaça, a Força de Defesa da Terra mandou sua nave mais poderosa, a ED-057, para lidar com os misteriosos invasores.
Independentemente da versão regional, devemos passar por 12 fases destruindo todos que se opõem à nossa ofensiva. Super Aleste é um shmup de rolagem vertical que, a princípio, é bem tradicional, com inimigos vindo em padrões especiais e cenários equipados com armadilhas para nos destruir.
O que deixa as coisas mais interessantes é o sistema de armas, que é bastante completo. Temos nove tipos de tiros ao todo, indo de rajadas simples de projéteis e barreiras rotatórias a lasers que atravessam tudo pela frente e bolas de energia que explodem ao contato.
Cada arma pode ser evoluída até seis vezes, e dá para alternar a forma de disparo ou comportamento de uma delas a qualquer momento com o apertar de um botão. Por exemplo, o tiro padrão pode ser configurado para atirar para frente, nos lados e atrás de nossa nave. Já a arma de esferas fica parada ao segurar o L ou R, sendo uma boa opção para lidar com inimigos que contam com algum tipo de barreira.
A quantidade de opções e as possibilidades de deixar nossa nave poderosa faz Super Aleste ser um dos jogos de navinha mais acessíveis dos 16-bits. Cada arma pode ser evoluída até o nível seis, e levar um tiro com a nave melhorada apenas diminui parte do poder. Ou seja, no nível 6 precisamos levar dano três vezes para perder uma vida.
Mesmo que a campanha em si tenha seus picos de dificuldade, é mais fácil lidar com o desafio aqui do que em M.U.S.H.A. no Mega Drive, jogo da mesma franquia. O lado negativo é que o ritmo das fases é bem lento, o que pode entediar aqueles que gostam mais do frenesi do jogo da Sega.
O "blast processing" do Super Nintendo
No meio da guerra dos 16-bits, o Super Nintendo sempre foi criticado pelo seu processador mais lento comparado aos concorrentes, deixando-o para trás na preferência entre os jogos de nave. Entretanto, Super Aleste demonstrou que era mais uma limitação que podia ser contornada com boa programação.
Mesmo com a tela cheia de tiros, inimigos, obstáculos e explosões ao mesmo tempo, o SNES aguentava Super Aleste com impressionante estabilidade. Momentos de lentidão e efeito flickering são raríssimos, até nas cenas mais caóticas.
E não é como se a Compile tivesse economizado na qualidade gráfica. Cenários detalhados, chefes complexos, efeitos de parallax, transparência e até o uso de Mode 7 por uma fase inteira são alguns dos exemplos visuais que o título apresenta ao longo da campanha.
O impacto das explosões é acompanhado por efeitos sonoros satisfatórios, ainda que abafados. A parte engraçada do som fica para as vozes, que são tão comprimidas que parece que foram gravadas de dentro de um banheiro. A versão americana conta com outra voz que fala qual arma pegamos, cuja qualidade é bem alta para o Super Nintendo, mas para mim acaba perdendo o charme do “Engrish” com a baixa qualidade da edição japonesa.
Já a trilha sonora é fantástica e pouco comum para um shoot ‘em up. As músicas são um tanto atmosféricas por serem mais lentas, e de fato podem não combinar tanto com as fases em si. Apesar disso, são memoráveis e algumas até dão um clima mais “pessoal” para a missão.
Space Plataform
Rock Downfall
Um clássico obscuro de uma biblioteca subestimada
Em meio a jogos mais populares como Gradius III, Axelay e R-Type III, Super Aleste merece seu posto como um dos títulos mais distintos da plataforma, especialmente por sua conquista técnica. Além disso, é um título que recomendo para quem não está muito familiarizado com shmups, sendo divertido o suficiente também para veteranos.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli