Análise: Star Overdrive mira nas estrelas, mas peca na execução

O aguardado lançamento exclusivo do Nintendo Switch tem pontos positivos, mas falha em aspectos cruciais que impedem uma recomendação mais ampla.

em 15/04/2025
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Anunciado durante o Nintendo Direct: Partner Showcase de agosto de 2024, Star Overdrive logo me cativou por dois motivos: sua proposta ousada, que mesclava ambientes sci-fi exploráveis com alta velocidade, e o lançamento (até o momento) exclusivo para Nintendo Switch. Agora, finalmente disponível para o público desde o último dia 10, é possível ver que este interessante jogo independente se destaca pela ambição, porém peca na execução, falhando em se destacar frente às opções similares na biblioteca do console da Big N.

Guardiões da galáxia

Em Star Overdrive, assumimos o controle do protagonista BIOS, um jovem explorador galáctico que está relaxando com games e música em sua nave espacial (soa familiar?), quando, inesperadamente, recebe um estranho pedido de socorro, diretamente do planeta Cebete.

Não é preciso muito tempo para descobrir que o sinal de ajuda partiu de ninguém menos que NOUS, jovem exploradora que compartilha um laço especial com o protagonista e que, infelizmente, está há bastante tempo desaparecida após uma expedição.

Logo, dada a urgência da mensagem, BIOS parte imediatamente para Cebete para salvar NOUS e, talvez, descobrir o que está por trás de seu misterioso desaparecimento. Munido de sua Keytar — um versátil equipamento que lembra tanto uma guitarra quanto um sintetizador — e uma prancha voadora, o que não faltará é estilo para combater os vários desafios que o aguardam no mundo desenvolvido pela Caracal Games.

Um sopro da natureza espacial

Logo nos primeiros momentos de jogo, é possível ver que Star Overdrive é altamente inspirado em duas obras-primas bem conhecidas para os donos de um Nintendo Switch: The Legend of Zelda: Breath of the Wild e a sua sequência direta, Tears of the Kingdom. A inspiração é tamanha que engloba desde o ícone do jogo no menu do console (repare abaixo na paleta de cores e no protagonista olhando para o horizonte da mesma forma que Link fita o Hyrule Castle) até elementos da gameplay, como a mecânica de conseguir poderes especiais após resolver puzzles em áreas dedicadas.

Até aí tudo bem — independentemente do ramo, o que seria de um artista ou uma obra sem referências, por exemplo? —, mas o problema é que essa idealização acaba evidenciando logo cedo que falta à Star Overdrive o mesmo refino que Zelda tem. Uma das primeiras missões do jogo, por exemplo, requer que o protagonista energize uma das torres de mapeamento de Cebete. Para isso, é necessário viajar a três pontos de energia distintos e ligá-los.

Na prática, a tarefa é uma chance de ouro de se acostumar com os controles do jogo e adquirir os primeiros poderes da Keytar, assim como quando Link é orientado pelo espírito do Rei Rhoam, no início de BoTW. Porém, é precisamente nesse momento que percebemos que Star Overdrive infelizmente peca em aspectos cruciais para qualquer jogo, desde a movimentação do personagem até o sistema de combate.

Andou na prancha, ah ah…

Começando pelos pontos positivos do título, Cebete é um planeta lindo e vibrante e que realmente se destaca visualmente no Switch, tanto no modo portátil quanto com o console conectado à TV. Passear em alta velocidade usando a prancha voadora de BIOS também tem seus momentos divertidos, e a taxa de quadros (uma das minhas grandes preocupações para este lançamento) se mantém estável, mesmo durante as sequências mais ágeis.

Porém, para cada acerto da obra, há praticamente um deslize: impressionantemente, quando se está sobre a prancha, o analógico direito é usado para fazer manobras e ganhar velocidade, enquanto a câmera é ajustada automaticamente pelo jogo. Essa decisão de design até parece interessante na teoria, mas, na prática, acaba acarretando um incômodo descontrole sobre a direção em que o personagem se move, especialmente em alta velocidade (ou seja, na maior parte do tempo).

Não foram poucas as vezes, por exemplo, em que me percebi usando a prancha e mexendo no analógico direito para ver o que estava ao meu redor até cair na real e perceber que esse comando não surtiria o efeito desejado. Para piorar, com essa falta de controle sobre os rumos da prancha voadora, vêm as inevitáveis colisões com montanhas e afins, nas quais o protagonista cai e demora para se levantar de uma forma que deixaria o Neymar da Copa do Mundo de 2018 orgulhoso.

Aliás, por tocar no assunto, é impossível não reparar o contraste bizarro entre a velocidade da prancha e a lentidão do andar de BIOS, que praticamente torna qualquer segmento do jogo realizado a pé uma verdadeira tortura. Contrariando todos os avanços em jogos 3D ao longo das últimas décadas, nosso jovem explorador não consegue correr e mesmo as tarefas triviais como andar de lado são um grande desafio para sua morosidade.

Mas o pior de tudo talvez seja o sistema de combate, no qual o protagonista orgulhosamente empunha sua Keytar como se fosse uma espada — há até um golpe carregado ao segurar o “Y”, igual em… ah, você já sabe a essa altura do texto. Ocorre que, além da simplicidade perigosamente infantil das mecânicas, há a ausência completa de um sistema de lock-on (travamento de mira), o que torna enfrentar mais de um inimigo ao mesmo tempo um verdadeiro e desnecessário pesadelo.

Para ser justo, é bem verdade que desbloquear novas ferramentas para a Keytar nas Minas do jogo (os lugares equivalentes às shrines de Zelda) consegue tornar o combate um pouco menos tedioso, graças à possibilidade de atirar nos inimigos ou arremessá-los. Mas, mesmo com esses upgrades, é difícil não jogar Star Overdrive e notar um potencial que não foi realizado. Um sistema de travamento de mira e uma mecânica de combos que não envolvesse somente martelar o botão Y, por exemplo, já ajudariam a tornar os segmentos de combate mais interessantes. Uma pena.

Eu gravei uma fita para você

Outro ponto que me incomodou bastante foi a parte sonora do título. Para um jogo que apresenta uma temática musical (vide a Keytar e os logs sonoros em forma de fita cassete espalhados por Cebete, que ajudam a construir a narrativa), a trilha sonora e, principalmente, a mixagem de Star Overdrive estão em um nível muito abaixo do aceitável.

Mesmo jogando em um Switch OLED (que, de acordo com a Nintendo, possui alto-falantes melhores que os dos modelos V1, V2 ou Lite), quase não consegui escutar os sons e efeitos do jogo. Usar fones de ouvido com qualidade de estúdio também não resolveu a situação, que suspeito estar atrelada a uma severa compressão do áudio, então me sinto obrigado a relatar isso nesta análise, pois talvez seja algo que possa ser resolvido em um update.

É honestamente complicado para mim escrever tudo isso, pois eu adoraria ter gostado mais de Star Overdrive. Seu universo é interessante e, de fato, impressionante para um estúdio indie com pouco mais de dez pessoas na equipe. As referências à série Zelda, apesar de um pouco excessivas, também podem agradar quem já fez de tudo e mais um pouco em BoTW e ToTK e busca um jogo um pouco parecido para explorar.

Também há suporte a PT-BR e o valor atual na eShop brasileira é relativamente justo para a quantidade de conteúdo oferecido, então, se você gosta de jogos de mundo aberto, vale experimentar a demo disponível e, para além desta análise, formar suas próprias conclusões. Há alternativas melhores, mas, temperando as expectativas e moldando a paciência, ainda é possível se divertir em Cebete e, finalmente, descobrir o que de fato aconteceu com NOUS.

Mirando as estrelas

Star Overdrive ousa em sua proposta, porém peca ao entregar uma experiência cuja ausência de polidez em quesitos cruciais como a movimentação e o combate impede uma recomendação mais ampla. Com uma boa dose de paciência, é, sim, possível se divertir com a história de BIOS e NOUS, mas é difícil não olhar para este criativo universo e notar um potencial que não foi completamente realizado. Logo, por mais atrativa que pareça, a viagem para Cebete infelizmente não é um destino imperdível — quem sabe na próxima?

Prós

  • Apresenta um intrigante universo sci-fi, cuja narrativa incentiva a continuar jogando para descobrir o que aconteceu com NOUS;
  • Visuais vibrantes e boa performance, mesmo nas sequências com alta velocidade;
  • Apesar de alternativas melhores, é uma escolha relativamente segura para quem busca um novo jogo de mundo aberto no console da Nintendo;
  • Suporte a PT-BR.

Contras

  • Tenta emular a criatividade e os desafios dos títulos open-world da série The Legend of Zelda, mas falha consideravelmente no processo;
  • O contraste entre a alta velocidade da movimentação com a prancha e a lentidão do andar do protagonista é simplesmente irritante;
  • As mecânicas de combate são rasas e acabam frustrando sem um sistema de travamento de mira;
  • Para um jogo que ostenta uma temática musical, a trilha sonora e a mixagem estão muito aquém do que poderiam (e deveriam) ser;
  • Faltam motivos para explorar o mundo, além da narrativa.
Star Overdrive — Switch — Nota: 6.5
Revisão: Alessandra Abreu
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dear Villagers
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Alan Murilo
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