Vidas em paralelo
Em SaGa Frontier 2, acompanhamos inicialmente a história de dois protagonistas ao longo de suas vidas. De um lado, temos o jovem Gustave, um príncipe que acaba sendo exilado junto a sua mãe após falhar na Firebrand Ceremony, que é usada para determinar o herdeiro do trono de Finney. A sua inabilidade de usar magia o leva a uma vida bem diferente do que era esperada para o sucessor de sua linhagem.Do outro lado, temos Wil Knights, um jovem escavador, que explora ruínas perigosas em busca de itens mágicos conhecidos como Quells. Um dia, ele descobre mais detalhes sobre o seu passado e o seu pai, começando uma investigação sobre um misterioso ovo que se tornará central para a trama.
A trama é apresentada como uma lista de eventos históricos em um menu, sendo eles ordenados por data e região. Conforme concluímos trechos da trama, liberamos novas partes, sendo possível focar mais em um dos dois protagonistas ou tentar seguir a cronologia.
Há tanto eventos que são puramente focados no roteiro e no avanço da trama quanto aqueles que envolvem também explorar dungeons e encarar inimigos em batalhas. Uma vez que uma parte da história é concluída, não é possível refazê-la, deixando mais espaço ocupado no menu de eventos.Francamente falando, apesar das qualidades da trama, a estrutura de Frontier 2 é bem simplória e passa a sensação de que poderia ser melhor explorada, especialmente tendo em vista as tendências não-lineares da franquia. A fragmentação em pequenos trechos de história pouco faz para dar liberdade de verdade ao jogador antes do New Game+, mesmo que o remaster traga alguns eventos adicionais para melhor detalhar a trama.
Duelos e batalhas em equipe
SaGa Frontier 2 é um RPG baseado em turnos com elementos bem peculiares. Primeiramente, em várias batalhas, é possível optar entre duelos 1v1 ou usar a equipe principal. Caso o jogador opte por fazer com que um de seus personagens encare o inimigo sozinho, a batalha pode ser mais difícil, mas também é mais fácil desbloquear novas habilidades.Em batalha, nossas possíveis ações dependem dos itens que temos equipados, sendo possível variar armas e acessórios. Boa parte dos equipamentos possuem durabilidade limitada, sendo consumido um ponto a cada ataque. É possível restaurar esse valor na loja gastando dinheiro, algo que não é algo corriqueiramente obtido em batalhas contra inimigos como seria em outros RPGs.
De forma geral, existem dois tipos de ataque: físicos e mágicos. Os físicos consomem WP enquanto os mágicos demandam SP. A cada rodada, o nosso personagem recupera uma certa quantidade de ambos de acordo com seus equipamentos, então o jogador deve escolher entre realizar golpes mais poderosos que passam do seu valor recuperado turno-a-turno ou jogar de forma mais cautelosa para não ficar sem pontos em uma eventual disputa mais complexa.
Sem um tradicional de nível global de experiência, o jogo segue um esquema de proficiências: quanto mais um personagem usa um determinado equipamento, mais habilidade terá. Os indivíduos possuem tendências específicas que facilitam esse crescimento para certas armas e magias, embora nada impeça que o jogador ignore esse elemento.Ao usar uma técnica específica, temos a chance de ativar um “Glimmer”, descobrindo uma habilidade ainda mais poderosa relacionada à mesma linha de armas ou magias. Quando lutamos em equipe, os personagens também podem ativar combos dependendo dos ataques selecionados por pelo menos dois integrantes focados no mesmo inimigo. Esses fatores são todos parte do DNA da franquia, embora sejam atípicos quando falamos de RPGs no geral.
HP, LP e planejamento de equipe
Ao vencer a batalha, recuperamos um pouco de HP, mas há um outro medidor, o LP, que é ainda mais importante, já que ele define a “morte” de um personagem. Embora zerá-lo possa levar a um game over, é possível restaurar LP ao descansar em uma estalagem em SaGa Frontier 2. Além disso, dá para trocar LP por cura de HP, uma estratégia válida para lidar com algumas situações complicadas, ou atacar caso o WP ou SP remanescente não seja suficiente para o ataque desejado.Outro uso dos LP é para escapar das batalhas, garantindo 100% de certeza para a fuga em troca de um pouco da energia de todos os membros da equipe. Essa não é a única forma de fugir, mas as outras geralmente dependem de estar em condições de negociar com o inimigo após pelo menos um turno de combate.
Ao pensar na equipe, ainda há outros elementos para se ter em mente. Um desses detalhes é o “papel” de cada personagem. Cada indivíduo que entra na equipe vem equipado com um Role, que traz potenciais passivos para ele e pode ser substituído com o de outro personagem, incluindo aqueles que não estão na equipe no momento. Eles podem melhorar o dano das magias, deixar o personagem mais rápido, aumentar a chance de combos e interferir em várias outras coisas.
Um detalhe inteiramente novo do remaster é o sistema de Parameter Inheritance. Graças a ele, é possível herdar valores de outros personagens que não estão ativos, deixando a equipe mais poderosa rapidamente. Com esse sistema, o treino feito em qualquer trecho da história nunca é perdido, já que é possível garantir que o crescimento será útil para um aliado.
Há ainda muitos outros fatores que podem influenciar o planejamento da equipe e o combate, como a distância, o uso dos ambientes e a possibilidade de definir estritamente a ordem de ataque dos personagens. Se por um lado, a quantidade de elementos para explorar dá bastante riqueza de possibilidades para o jogador, por outro os tutoriais acabam deixando a desejar. Os sistemas não são nada intuitivos e ter informações apresentadas de forma puramente textual não ajuda a reduzir a dificuldade de entrada.
Junta-se a isso também o fato de que os inimigos de uma mesma área podem ter dificuldades muito discrepantes. Em uma hora, o jogador pode estar eliminando com tranquilidade os monstros e não tomando quase nada de dano, só para pouco depois esbarrar em um inimigo que arranca mais da metade do seu HP em um único ataque. Sem nenhum fator para alterar a dificuldade, há outros jogos da série em que a entrada é mais tranquila sem ficar devendo em nada na complexidade mecânica.
Aspectos da remasterização
SaGa Frontier 2 é um jogo muito bonito, com um estilo de arte colorido e vibrante inspirado em pinturas de aquarela impressionista. Na remasterização, é nítido que os ambientes ficam um pouco borrados e os personagens pixelados, mas o estilo de arte continua impecável. A trilha sonora composta por Masashi Hamauzu também é muito boa para expressar o senso de aventura e jornada épica.Como mencionei anteriormente, a nova edição inclui novos trechos de história que expandem um pouco a experiência que já estava disponível originalmente. Essas adições, assim como alguns ajustes de gameplay, podem ser totalmente ignoradas se o jogador quiser uma experiência mais próxima do original e depois adicionadas em New Game+ (embora não seja possível removê-las).
Outro detalhe interessante é que o menu in-game inclui o minigame Dig! Dig! Digger, que antes era uma exclusividade do Pocketstation, um acessório do PlayStation. Nele, o jogador pode obter equipamentos variados enviando um escavador para obter itens em uma região por um tempo definido. Esse sistema inclusive permite a obtenção da espada mais poderosa do jogo, embora dependa da sorte.Há um modo turbo para a exploração e para o combate que permite acelerar cada uma das partes individualmente em até três vezes a velocidade normal. Também é possível fazer vários ajustes envolvendo a interface, embora nos aspectos visuais só seja permitido mudar o brilho e realizar um pequeno ajuste de texturas que é praticamente imperceptível no modo portátil no Switch.
Um bom retorno
SaGa Frontier 2 Remastered traz de volta um clássico do PlayStation de forma satisfatória, embora o jogo não seja indicado para quem não está aberto a um RPG nada ortodoxo em sua estrutura. Fãs da franquia, porém, poderão aproveitar mais uma experiência vibrante e única dentro do gênero, especialmente se não tinham explorado o jogo em sua versão original.
Prós
- Sistemas de combate em turnos e formação de equipe complexos e repletos de elementos para explorar;
- Estilo artístico colorido e vibrante;
- Novos conteúdos de história expandem um pouco a experiência do original, mas é possível retirar as adições também se o jogador preferir;
- Galeria com ilustrações, músicas e abertura para acessar no menu inicial;
- Minigame Dig! Dig! Digger é uma forma interessante de obter itens enquanto o jogador continua sua jornada.
Contras
- Embora haja tutoriais, a experiência é complexa e os seus detalhes não são apresentados de forma clara;
- A dificuldade dos inimigos em uma mesma área pode variar muito;
- Estrutura de desbloqueio narrativo subexplorada ao compararmos com outros títulos da franquia.
SaGa Frontier 2 Remastered — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix