Análise: Pocket Bravery: um pequeno gigante brasileiro chega ao Switch

O jogo de luta conta com boa variedade de modos e combates robustos.

Desenvolvido pela brasileira Statera Studio, Pocket Bravery é um jogo de luta colorido com personagens em estilo “chibi”/SD. Lançado no PC em 2023, o jogo finalmente chega aos consoles no dia 9 de abril e mostra grandes qualidades que o fazem brilhar dentro de seu gênero.

Profundidade mecânica e acessibilidade

Pocket Bravery é um jogo de luta 2D inspirado em clássicos como os títulos da SNK no Neo Geo Pocket. Ao todo, temos quatro botões de ataque básico: soco leve, soco pesado, chute leve e chute pesado. Por padrão, os analógicos são formas rápidas de executar combinações de dois botões básicos.

Ao apertar os botões de soco e chute leves, é possível agarrar o inimigo. Já as versões fortes combinadas permitem ativar um Breaker para contra-atacar. Além de se movimentar pelo cenário, é possível defender apertando na direção oposta à do oponente, mas a guarda é limitada e pode ser quebrada se o jogador ficar exclusivamente defendendo.

Dessa forma, idealmente o jogador deve abusar dos períodos de vulnerabilidade nos padrões de ataque dos inimigos para punir seus movimentos e ativar combos devastadores. Saber o momento ideal para atacar e defender é fundamental, assim como abusar das diferenças de alcance e agilidade de movimento.

Como é comum em jogos de luta, podemos executar golpes especiais variados ao executar certos movimentos combinados, como a famosa “meia-lua” junto com um botão. Além de golpes “elementais” específicos de cada um dos personagens e ataques especiais que consomem a barra no canto inferior da tela, temos um ataque ultrapoderoso que só pode ser ativado quando a vida do nosso lutador está quase acabando.

Para jogadores novatos que gostariam de uma experiência mais casual, há uma opção de comandos acessíveis, que associa a liberação dos golpes ao uso dos gatilhos. Porém, infelizmente, isso não se aplica ao Modo História, que necessariamente precisa ser jogado com os controles padrões.

Vale destacar que é possível mudar os controles no menu de opções, o que deve ajudar alguns jogadores a terem experiências mais confortáveis. Esse menu também conta com configurações de acessibilidade, como ajustes de cor para lidar com condições de daltonismo e aumento do tamanho da fonte das legendas.

Diversidade de modos

Pocket Bravery conta com uma quantidade robusta de modos de jogo, cobrindo opções tradicionais do gênero como História, Arcade, Versus, Online (Casual e Ranqueado) e Treino. No menu Modos Extras, temos também Sobrevivência, Contra o Tempo, Desafios, Rodoviária e Busca Implacável.

Enquanto a maioria dos modos é algo conhecido de fãs do gênero, os dois últimos são bastante peculiares. Em Busca Implacável, temos uma espécie de minigame no qual é necessário desviar de golpes fantasmagóricos de Ximena para persegui-la pelo espaço como o guerreiro Daisuke. Já em Rodoviária, o jogo brinca com o conceito de estar em uma máquina de arcade de rodoviária com mudanças na interface e um boss final alternativo para o modo Arcade.

No modo Sobrevivência, enfrentamos vários inimigos consecutivos, recuperando 10% da vida após o fim da batalha e tendo a dificuldade aumentada a cada rodada completa, até perder. Enquanto isso, o Contra o Tempo envolve tentar eliminar os inimigos o mais rápido possível para obter pontuações mais altas, e causar dano ao oponente pode levar ao aparecimento de orbes que deixam os personagens mais fracos ou fortes.

Já o modo Desafios é uma forma de aprender combos específicos de cada personagem. Além dele, temos o Tutorial, que é mais geral e pode ser útil até mesmo para quem é um total novato em jogos de luta, e o Treino, que permite checar as possibilidades do combate de forma mais livre com recursos bem detalhados.

Há ainda o Combo Factory, que permite criar seus próprios combos para ver se eles funcionam ou testar algumas variações já destacadas no jogo. Com um sistema de tempo, que permite deixar os golpes em câmera lenta, é possível aprender o timing exato da transição de uma animação para outra ou até se uma sequência é na prática impossível. Trata-se de um recurso extremamente útil para elaborar novas estratégias e conhecer a fundo as opções que o jogo possui.

Uma história detalhada

O modo História traz uma proposta um tanto ousada. Com foco prioritário no protagonista Nuno, um jovem de Portugal que decide se vingar do líder da gangue da qual fazia parte, a obra explora a jornada de crescimento dele. Além de Nuno, acompanhamos alguns outros lutadores que também querem parar Hector e os mercenários da Matilha, que estão roubando artefatos preciosos no mundo todo.

Em vez de apenas colocar esses detalhes como uma espécie de interlúdio entre batalhas, como é usual do gênero, temos de fato uma história bastante desenvolvida e totalmente escrita em português, embora haja alguns erros, geralmente de ortografia e acentuação, que chamam a atenção. Com visual inspirado em quadrinhos, a trama segue um formato de visual novel até os momentos em que é necessário enfrentar algum desafio, mas este nem sempre é uma luta da forma tradicional.

Há momentos em que precisamos realizar certos movimentos para lidar com obstáculos vindo em nossa direção, por exemplo. Em outros, temos batalhas contra múltiplos inimigos ou é necessário ficar de olho em personagens que aparecem no fundo e podem nos atacar para ajudar um oponente. Também é possível que múltiplas batalhas consecutivas sejam realizadas e os valores de vida dos personagens sejam mantidos entre as lutas.

De modo geral, trata-se de um modo história ousado por essa experimentação com vários desafios diferentes. Porém, junto com isso, também temos algumas questões técnicas que o afetam, como o fato de desafios consecutivos levarem o jogador de volta ao início de tudo ao perder.

Para piorar a situação, o modo história não conta com opção de dificuldade. Por padrão, os inimigos são muito fortes para novatos, sendo capazes de executar muitas vezes combos extensos que podem deixá-los completamente sem opções de ação. Com isso, é muito fácil ter que encarar várias vezes a tela de loading, que é um pouco demorada no Switch.

Há ainda casos em que retornamos não apenas ao início dos desafios, mas a específicas cenas animadas que usam os personagens em seu modelo de luta em vez das artes de quadrinhos. Essas cenas não tem skip e o diálogo em alguns casos passa automaticamente de forma lenta em vez do jogador poder avançar de forma manual.

Nas vezes em que há transição automática, notei a ausência de efeitos sonoros e músicas, tirando um pouco de vida desses momentos. Isso é especialmente gritante porque a direção sonora das cenas em quadrinhos é fantástica, mas ver os personagens se batendo sem sequer um som de porrada perde totalmente o impacto.

Da mesma forma, gostaria de destacar que visualmente o jogo é muito charmoso. Tanto os personagens quanto os vários cenários baseados em localidades diferentes do mundo possuem identidades bem marcantes e suas animações são de alta qualidade. As cutscenes podem causar um pouco de estranheza em um primeiro momento porque as proporções dos personagens causam uma sensação cômica, mas são lindamente animadas e repletas de detalhes, incluindo referências a vários elementos da cultura pop.

É do Brasil

Pocket Bravery
é um jogo de luta brasileiro de altíssima qualidade e uma ótima opção para quem busca uma experiência do gênero no Switch. Com bastante variedade de modos e sistemas robustos de aprendizado, vale investir várias horas no jogo para tentar dominar os seus ágeis combates.

Prós

  • Boa variedade de modos;
  • Os recursos de aprendizado, com especial destaque para o Combo Factory, são extremamente úteis tanto para novatos quanto para quem deseja dominar o jogo;
  • Visualmente deslumbrante com personagens e ambientes repletos de identidade, animações de qualidade e sequências detalhadas de cutscene;
  • Modo história que explora de forma bem diversa os seus desafios;
  • Boa direção sonora que ajuda a deixar várias cenas de histórias e o combate bem dinâmicos.

Contras

  • Perder no modo história pode forçar o jogador a ter que repetir grandes porções de cutscene sem skip e batalhas consecutivas;
  • Algumas cenas da história possuem sequências animadas sem efeitos sonoros ou trilha adequada;
  • Modo história com dificuldade elevada para novatos e inimigos que fazem combos muito longos;
  • O texto em português conta com alguns errinhos, especialmente em acentuação e ortografia.

Pocket Bravery — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube Games
Siga o Blast nas Redes Sociais
Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).