Lunar Remastered Collection é uma coletânea que reúne versões atualizadas de Lunar: Silver Star Story e Lunar 2: Eternal Blue, remakes lançados originalmente para Sega Saturn e PlayStation e que são baseados nos dois RPGs quase homônimos do Sega CD.
Embora esta remasterização seja bastante simples e pouco acrescente ao valor das obras originais, a chance de revisitar esses títulos em plataformas modernas é mais do que bem-vinda. Afinal, estamos falando de duas histórias fascinantes e repletas de personagens carismáticos.
Dois jogos com elencos memoráveis
Em Lunar: Silver Star Story, acompanhamos a trajetória de Alex, um jovem que nutre profunda admiração por Dyne, um dos lendários Dragonmasters que salvaram o mundo no passado. Sonhando em seguir seus passos, Alex embarca em sua primeira aventura em uma caverna próxima, ao lado de seu amigo Nall e de sua companheira de infância Luna.
Lá, eles encontram o dragão branco Quark, que enxerga potencial em Alex e lhe propõe um desafio: encontrar os demais dragões e enfrentar seus testes para se tornar um verdadeiro Dragonmaster. A partir daí, o trio inicia uma jornada que, ao longo do caminho, revela uma ameaça muito maior.
Já em Lunar 2: Eternal Blue, a história se passa séculos após os eventos do primeiro jogo e nos apresenta Hiro, um jovem aventureiro e aspirante a arqueólogo. Junto de seu avô Gwyn, ele parte em direção à misteriosa torre Blue Spire após testemunhar uma luz estranha descendo sobre o edifício.
No local, Hiro conhece Lucia, uma jovem enigmática que afirma desesperadamente que precisa encontrar a deusa Althena para impedir o suposto retorno de Zophar, uma entidade maligna. Embora muitos duvidem de sua história, Hiro e os aliados que encontramos ao longo da jornada decidem ajudá-la em sua missão.
Ainda que haja algumas reviravoltas capazes de surpreender, e mesmo considerando a época de seus lançamentos originais, ambos os jogos apresentam histórias bastante simples. No entanto, Lunar e Lunar 2 se destacam por seus elencos extremamente carismáticos, cujas interações conseguem manter o jogador envolvido e interessado no desenrolar dos eventos.
Essa característica é ainda mais evidente em Eternal Blue, que traz um protagonista mais expressivo e um desenvolvimento emocional e humano muito sensível para Lucia, cuja dificuldade inicial em compreender os sentimentos das pessoas dá lugar a diversas situações tocantes ao longo da aventura.
Um aspecto que eleva ainda mais a experiência narrativa (e da coletânea como um todo) é a presença de inúmeras e belíssimas cenas animadas que surgem em momentos importantes das histórias, todas completamente dubladas. Infelizmente, esta é mais uma remasterização que não oferece suporte ao nosso idioma.
Vale a pena interagir com todo mundo
Em Lunar Remastered Collection, temos dois jogos que seguem a estrutura tradicional dos RPGs da época: navegação por um mapa-múndi com acesso a cidades, florestas, cavernas e outros locais internos. A particularidade aqui é que não há batalhas aleatórias no mapa exterior e os inimigos são visíveis dentro das masmorras.
Em Silver Star Story, há uma boa variedade de desafios nas dungeons. Para exemplificar, logo no início do game, precisamos atrair a atenção de inimigos para que eles quebrem blocos de gelo e liberem as passagens. Já em outra situação, o jogador explora uma floresta repleta de baús, sendo que alguns deles aplicam confusão, invertendo os comandos e dificultando a nossa movimentação em meio a pisos venenosos.
Por sua vez, Eternal Blue apresenta dungeons menos criativas durante a maior parte da campanha, focando mais na exploração de caminhos um tanto labirínticos e na ativação de mecanismos espalhados por diversas áreas das masmorras para liberar as saídas.
Por ter um sistema de combate um tanto limitado, o que veremos mais adiante, o primeiro jogo não recompensa tanto a exploração minuciosa, já que os itens encontrados raramente impactam significativamente nas batalhas. Ainda assim, graças aos comentários sempre interessantes dos personagens principais sobre as mais diversas situações, conversar com cada NPC pelo caminho acaba sendo uma experiência muito divertida e recompensadora.
Um incentivo adicional à exploração são os Bromides, que nada mais são que itens que desbloqueiam ilustrações especiais dos personagens. Enquanto em Silver Star Story essas imagens são focadas nas personagens femininas, Eternal Blue também traz fotos de alguns dos rapazes.
Um sistema de combate limitado e outro mais interessante
Os confrontos em ambos os títulos ocorrem apenas dentro das dungeons e se iniciam quando nos aproximamos dos inimigos. Aqui, o sistema de combate é baseado em turnos, com a ordem dos ataques sendo determinada pela velocidade de cada personagem, embora todas as decisões do grupo sejam tomadas simultaneamente no início da rodada.
Um dos diferenciais está no posicionamento prévio aos confrontos, que nos permite ajustar a posição dos personagens no campo. Essa característica é relevante porque, se um inimigo estiver distante, o herói pode gastar um turno inteiro apenas para se mover até ele. Vale destacar que, além dos ataques básicos, cada indivíduo conta com habilidades únicas, sejam elas físicas, mágicas ou de suporte.
Infelizmente, mesmo quando comparado a RPGs mais antigos, Silver Star Story apresenta um sistema de combate limitado, sem grandes possibilidades estratégicas ou de customização. Neste jogo, a progressão está totalmente centrada no ganho de níveis e na aquisição de novos equipamentos a cada cidade visitada, sendo que a maioria dos itens oferece apenas melhorias básicas de atributos, como ataque e defesa. Apesar disso, a individualidade dos personagens ajuda a manter as batalhas minimamente interessantes.
Eternal Blue, por outro lado, introduz os Crests, acessórios que podem ser equipados em pares por cada personagem. Esses objetos ainda oferecem melhorias básicas nos atributos, mas muitos deles também concedem efeitos passivos interessantes, como o aumento do alcance dos ataques.
Além disso, certos Crests desbloqueiam habilidades ofensivas poderosas, como magias de fogo em área ou ataques de pedra. Por fim, há diversos efeitos especiais que só se ativam quando combinamos corretamente dois Crests sinérgicos no mesmo personagem, o que incentiva o jogador a explorar o mundo em busca desses itens e a testar diferentes possibilidades nas batalhas.
Um relançamento muito válido, mas que não atenua nenhuma das falhas dos jogos originais
Embora seja ótimo rever ou conhecer esses dois clássicos em plataformas modernas, Lunar Remastered Collection oferece poucas adições de fato relevantes. As principais novidades incluem os gráficos em alta definição, que trazem uma apresentação mais polida sem comprometer o charme clássico; a possibilidade de acelerar batalhas; e a mudança no gerenciamento de inventário do primeiro jogo, que antes exigia controle individual para cada personagem.
Outras adições incluem uma nova dublagem em inglês, ainda inferior à japonesa; ajustes na IA, com mais opções de comandos automáticos para os personagens; e a possibilidade de alternar entre as versões original e remasterizada utilizando o mesmo save. No entanto, se comparada a outras remasterizações de destaque lançadas nos últimos anos, esta obra acaba deixando a desejar.
Além de não contar com extras, como galerias de artes ou materiais promocionais, a coletânea peca por não trazer melhorias que realmente revitalizem os jogos originais. Para exemplificar, não houve qualquer esforço para ajustar o limitado sistema de combate do primeiro título ou para resolver a estranha limitação de corrida em Eternal Blue, que interrompe a disparada após poucos segundos e dificulta a fuga de inimigos.
Ainda nesse sentido, outras escolhas questionáveis também permanecem, como o incômodo reposicionamento automático da direção dos personagens ao encostarmos em paredes, algo que, por vezes, atrapalha interações com NPCs atrás de balcões ou com itens no cenário. Outro exemplo é o curioso retrocesso na interface de aquisição de equipamentos em Lunar 2, que abandona as tradicionais setas grandes e coloridas, utilizadas no primeiro game para indicar se um item é mais forte ou mais fraco, em favor de indicadores confusos e um simples escurecimento no rosto dos personagens, que apenas mostra se o item é equipável ou não.
Dois RPGs ainda encantadores, mas pouco ousados em suas novas formas
Apesar do visual em alta definição, Lunar Remastered Collection peca por não oferecer novidades relevantes ou ajustes que verdadeiramente revitalizem as experiências originais. Ainda assim, trata-se de dois RPGs muito divertidos, com histórias cativantes que continuam encantadoras mesmo após tantos anos. No fim das contas, esta coletânea é, acima de tudo, uma forma acessível de revisitar dois títulos extremamente marcantes em plataformas modernas.
Prós
- Ambos os RPGs continuam oferecendo experiências altamente cativantes, com narrativas envolventes e personagens carismáticos;
- Os gráficos em alta definição proporcionam uma apresentação mais polida, sem comprometer o charme clássico dos jogos;
- A presença de inúmeras cenas animadas totalmente dubladas adiciona força emocional à narrativa e eleva a qualidade visual da experiência;
- O sistema de Crests enriquece o combate em Lunar 2, trazendo variedade e opções estratégicas interessantes;
- Os Bromides e os divertidos comentários dos protagonistas incentivam a exploração e a interação constante com NPCs, efeito que os Crests também cumprem em Lunar 2.
Contras
- A coletânea oferece poucas adições, não trazendo conteúdos extras ou novidades relevantes que ampliem a experiência original;
- Com a ausência de ajustes significativos, diversos problemas antigos permanecem, como a movimentação imprecisa em ambos os títulos e o sistema de combate superficial do primeiro jogo;
- Ausência de legendas em português.
Lunar Remastered Collection — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela GungHo