Ao longo dos anos, a Nintendo nos apresentou personagens femininas icônicas que desafiaram padrões e abriram espaço para mais diversidade dentro da indústria dos games. Nomes como Samus Aran, Peach, Daisy, Zelda e Lucina estão entre as mais lembradas, mas há uma personagem que, apesar de nem sempre ser celebrada como deveria, teve um impacto significativo: Kris, a protagonista feminina de Pokémon Crystal.
A primeira trinadora jogável
Voltemos ao início de tudo: quando Pokémon Red & Blue foram lançados, em 1996, assumíamos o controle de um treinador masculino, sem qualquer opção de escolha a não ser de seu nome. Isso não era surpreendente, considerando que os RPGs da época costumavam ter personagens fixos, e a escolha de gênero não era um padrão. No entanto, em 2000, Pokémon Crystal mudou esse panorama ao introduzir Kris, a primeira treinadora jogável da franquia.Essa não foi uma mudança pequena: finalmente as garotas podiam se ver refletidas diretamente no jogo, escolhendo uma protagonista feminina para embarcar em sua jornada Pokémon. Embora hoje isso pareça algo trivial, na virada do milênio, era um passo significativo para a inclusão de mulheres no universo da franquia.
A concepção de Kris não aconteceu por acaso: a Game Freak percebeu que a base de fãs feminina estava crescendo e que existia uma demanda real por mais representação nos jogos da franquia. O principal destaque é o design da personagem, pensado para transmitir independência e atitude: seu cabelo azul vibrante e sua roupa prática refletem uma treinadora determinada, pronta para enfrentar qualquer desafio.
Além disso, a escolha de cores e estilo de Kris refletia um afastamento das protagonistas femininas genéricas da época. Diferentemente de muitas personagens, que eram caracterizadas por vestidos ou acessórios excessivamente delicados, Kris usava um traje esportivo, destacando-se como uma treinadora preparada para a ação e a aventura, também reforçando sua identidade como uma personagem forte e sem estereótipos limitantes.
Desse modo, pudemos ver uma desenvolvedora importante dar um passo concreto na inclusão de mulheres dentro do universo Pokémon — a presença de Kris não era apenas uma alternativa estética.
A precursora das protagonistas femininas em Pokémon
A introdução de Kris abriu caminho para futuras protagonistas femininas na franquia. Após sua estreia, jogos subsequentes passaram a oferecer a escolha de gênero para as pessoas, promovendo maior inclusão e representatividade. Só tivemos May, Leaf, Dawn, Lyra, Hilda, Rosa, Serena, Selene, Elaine, Gloria, Akari e Juliana, cada uma trazendo características únicas e fortalecendo a presença feminina nos jogos dos monstrinhos que tanto amamos, porque Pokémon Crystal deu esse primeiro passo.
Se hoje é natural que Pokémon ofereça a escolha de gênero ao iniciar uma nova jornada, isso só foi possível porque Kris provou que havia espaço para protagonistas femininas dentro da franquia. Seu legado ressoa em cada nova treinadora que é introduzida na série, consolidando sua importância como um marco na representatividade dos videogames.
Como curiosidade adicional, a presença feminina na franquia se tornou ainda mais forte, tanto no protagonismo jogável quanto nas personagens coadjuvantes. Cynthia, por exemplo, foi a primeira Campeã feminina da Liga Pokémon, algo que só foi possível porque Kris ajudou a pavimentar esse caminho, que depois foi ampliado com Iris e Diantha.
Se hoje é natural que Pokémon ofereça a escolha de gênero ao iniciar uma nova jornada, isso só foi possível porque Kris provou que havia espaço para protagonistas femininas dentro da franquia. Seu legado ressoa em cada nova treinadora que é introduzida na série, consolidando sua importância como um marco na representatividade dos videogames.
Como curiosidade adicional, a presença feminina na franquia se tornou ainda mais forte, tanto no protagonismo jogável quanto nas personagens coadjuvantes. Cynthia, por exemplo, foi a primeira Campeã feminina da Liga Pokémon, algo que só foi possível porque Kris ajudou a pavimentar esse caminho, que depois foi ampliado com Iris e Diantha.
O impacto de Kris na representatividade feminina
Apesar da importância histórica de Kris, seu legado foi abruptamente apagado nas gerações seguintes. O ultraje, contudo, aconteceu em Pokémon HeartGold e SoulSilver, remakes dos jogos da segunda geração, nos quais Kris foi substituída por Lyra, uma personagem completamente nova, sem qualquer referência à sua predecessora.
Essa decisão não passou despercebida pela comunidade e muitas pessoas se perguntaram por que Kris não havia retornado, especialmente considerando sua importância como a primeira protagonista feminina da série. Enquanto algumas teorias sugerem que a Game Freak queria um design mais “fofo e acessível”, a escolha de apagar uma personagem pioneira e tão despojada mais me pareceu um retrocesso.
Mesmo com sua exclusão dos jogos oficiais, ao menos Kris permaneceu viva. Ela se tornou uma personagem cultuada, aparecendo em outros materiais, como fangames, spin-offs, artes de fãs e discussões sobre a evolução da representatividade na franquia Pokémon.
Essa decisão não passou despercebida pela comunidade e muitas pessoas se perguntaram por que Kris não havia retornado, especialmente considerando sua importância como a primeira protagonista feminina da série. Enquanto algumas teorias sugerem que a Game Freak queria um design mais “fofo e acessível”, a escolha de apagar uma personagem pioneira e tão despojada mais me pareceu um retrocesso.
Mesmo com sua exclusão dos jogos oficiais, ao menos Kris permaneceu viva. Ela se tornou uma personagem cultuada, aparecendo em outros materiais, como fangames, spin-offs, artes de fãs e discussões sobre a evolução da representatividade na franquia Pokémon.
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Design de personagem de Crystal (mangá). Fonte: Serebii.net |
Além disso, ela ainda está presente em Pokémon Masters EX, formando dupla com Totodile e em uma versão especial com Suicune. No entanto, quero dizer quão importante é Kris no mangá baseado na franquia da Game Freak — Pokémon Adventures —, no qual ela foi rebatizada como Crystal.
Diferentemente de sua contraparte nos games, Crystal tem uma personalidade ainda mais forte e focada, sendo uma treinadora especialista em capturar monstrinhos. Para mim, é importante destacar que ela não apenas é determinada e habilidosa, mas também mostrando — ainda mais para os meninos da saga — que seu talento vai além das batalhas tradicionais.
Se Kris já era importante nos jogos e ganhou voz no mangá, preciso mencionar que ela também teve uma breve aparição como Marina na animação A Lenda do Trovão!, um especial de três partes focado nas feras lendárias de Johto. Embora tenha sido uma participação pequena, foi mais uma prova de que Kris era considerada um ícone importante da segunda geração.
Um legado eterno em Pokémon
Se a Nintendo e a Game Freak quisessem corrigir essa injustiça, trariam Kris de volta em um remake de Pokémon Crystal ou pelo menos reconheceriam sua existência em algum jogo futuro. Até lá, ela continua sendo um símbolo da importância da representatividade e da inclusão dentro da franquia Pokémon.
Revisão: Cristiane Amarante
Capa: Juliana Paiva Zapparoli