Análise: Xenoblade Chronicles X: Definitive Edition — dá aula de como se faz um jogo de mundo aberto

Xenoblade Chronicles X Definitive Edition é a prova de que o Switch, mesmo em seu último ano solo, ainda tem grandes títulos a oferecer.

em 18/03/2025
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Xenoblade Chronicles X: Definitive Edition é um dos jogos mais esperados do ano para o Switch e certamente a expectativa pelo título foi correspondida. O port remasterizado entrega uma aventura imensa com uma narrativa empolgante e cheia de desdobramentos, profundidade de jogabilidade e um mundo aberto gigantesco para explorar.

Mesmo sendo um título originalmente lançado em 2015, continua  servindo de exemplo de como um jogo de mundo aberto deve ser: intigante, divertido e orgânico sem excesso de elementos apenas para encher linguiça. Em suma, para criar um mundo aberto gigante é preciso de fato ter o que colocar nele e conteúdo não falta aqui.

Em busca dos sobreviventes


Começamos nossa jornada assumindo o papel de um sobrevivente de aparência personalizável da White Whale, uma arca interestelar lançada após uma guerra entre facções alienígenas que forçou os humanos a abandonarem a Terra, que foi destruída. Para o azar dos sobreviventes, os alienígenas alcançam a White Whale e ela faz um pouso forçado no surpreendentemente vibrante planeta de Mira. 

Após ser resgatado de sua cápsula de sobrevivência, você logo se encontra em Nova Los Angeles, uma cidade improvisada e cheia de energia construída ao redor da unidade de habitat da arca caída. Você é rapidamente recrutado para se juntar à unidade militar BLADE de Nova LA sob o comando da Coronel Elma e recebe a missão de explorar Mira, erradicar ameaças e como sua missão principal: descobrir a localização do Life Hold da White Whale, que se diz conter muitos outros sobreviventes. 

White Whale abatida por aliens!

Não bastasse encarar os riscos desse novo e misterioso mundo selvagem de Mira, os sobreviventes precisarão lidar com os alienígenas que os perseguiram até o planeta. Resgatar os sobreviventes, sobreviver aos ataques dos aliens que parecem querer exterminar a humanidade e fazer do novo planeta um lar, e tudo sendo mais difícil do que se parece.

E essa aventura em Mira é recheada com uma imensidade de missões e objetivos secundários que vão desde aumentar a profundidade da relação entre os personagens, enriquecer a história da população em Nova LA e do mundo que os cerca, até missões que vão nos permitir aprimorar os personagens, equipamentos e Skells, os robôs gigantes que eventualmente liberamos. Todas essas atividades tornam Xenoblade Chronicles X: Definitive Edition um jogo gigantesco, mas sem perder a sua qualidade ou deixá-lo entediante.

Mira é gigantesca, assim como o jogo


Aquilo que mais me impressionou nesse título da Monolith Soft foi sua escala. De início o jogo se mostrava, sim, ser um jogo grande e com um mapa extenso, só não consegui perceber logo de cara o quanto. Quanto mais explorava e avançava, mais o jogo parecia se expandir e abrir. E isso vai para além do término da campanha principal.

A quantidade de criaturas e ambientes únicos, como podemos interagir lidar com eles e os superar também é muito grande. E como teremos que abordar os desafios que se vão apresentando depende tanto de nossa experiência com o jogo, como qual o objetivo de nossas missões.

O mundo contempla diversos biomas, com sua fauna e flora adaptados habitando e dando vida a esses ambientes. É um planeta inteiro composto, profundo, mas também interligado. Apesar da escala gigantesca de Mira, não há a sensação de que algo está apenas jogado lá para ocupar um espaço vazio, tudo é orgânico e passível de despertar a curiosidade, e a exploração quase sempre gera recompensas, senão com itens de aprimoramento, personalização, ou então uma paisagem da qual vale a pena vislumbrar.
 


Agora voltando para Mira e a jornada em si, eles mostram a expertise da Monolith Soft na construção de grandes mundos abertos. Não à toa a desenvolvedora também tem sua participação em Breath of the Wild e Tears of Kingdom, nos quais é possível sentir o DNA da empresa, tal qual em qualquer jogo Xenoblade Chronicles.

O salto gráfico da Definitive Edition


Mencionei brevemente a melhoria visual do jogo, mas agora é hora de nos aprofundarmos nesse aspecto. A versão de Switch traz um aprimoramento gráfico notável em relação ao original. Não apenas os modelos dos personagens estão mais refinados, como o continente de Mira ganhou ainda mais profundidade com os novos visuais.

Os modelos dos personagens exibem detalhes mais marcantes, desde suas roupas até elementos individuais como cabelos e cicatrizes, que agora estão mais definidos. No entanto, é nas armaduras que vestimos que a evolução gráfica se torna ainda mais evidente. Os detalhes personalizados estão em uma resolução muito maior, com texturas mais refinadas e convincentes. O mesmo vale para os Skells, que claramente receberam atenção especial — tanto em suas formas humanoides quanto na transformação em veículos. Além disso, os efeitos visuais de suas ações são um espetáculo à parte.

O avanço mais impressionante, porém, está na construção do mundo e das criaturas. Os diversos ambientes de Mira e os seres selvagens que os habitam agora contam com texturas mais nítidas e ricas em detalhes. A iluminação e a água também receberam melhorias notáveis, elevando a imersão visual.


Entretanto, nem tudo foi polido com o mesmo esmero. A cidade de Nova L.A. e alguns de seus elementos parecem destoar do restante do jogo. Prédios e veículos, por exemplo, não apresentam o mesmo nível de detalhamento, o que se torna ainda mais evidente ao compará-los com os cenários externos.

O desempenho gráfico, no geral, é sólido tanto no modo dock (1080p) quanto no portátil (720p). O jogo flui bem e mantém uma boa performance, mesmo com um grande número de inimigos e vida selvagem na tela. Contudo, especialmente nos momentos finais, podem ocorrer algumas inconsistências gráficas, como falhas em sombras e texturas. Felizmente, nada disso acontece de forma constante ou impacta negativamente a experiência.

Quase dois jogos em um 

Um dos maiores diferenciais de Xenoblade Chronicles X reside nas mecânicas de combate, especialmente quando se trata da diferença entre a utilização dos Skells, enormes máquinas de combate, e as lutas sem eles. A maneira como as batalhas se desenrolam no jogo muda drasticamente dependendo de você estar em combate com um Skell ou no campo com seu personagem a pé. Curiosamente, apesar de esses robôs gigantes serem parte da identidade única do título, eles só ficam disponíveis de fato mais adiante no jogo.


Os Skells quase transformam o jogo por completo
Quando o combate acontece dentro de um Skell, o jogo entra em um território completamente diferente. Em vez de ser uma experiência ágil e baseada em posicionamento rápido, a luta com um Skell é mais pesada, mas também muito mais grandiosa. Os Skells, com suas armas poderosas e habilidades especiais, oferecem um combate que lembra mais os jogos de ação com mechas, mas ainda mantendo a complexidade das batalhas de RPG.


No Skell, o jogador tem acesso a uma gama ainda maior de Arts, muitas das quais podem causar grandes danos em áreas amplas, além de habilidades exclusivas para cada modelo de Skell. Esse tipo de combate é marcado por mais força bruta, mas também exige uma boa administração de recursos, como a energia do Skell, que se esgota conforme o uso de ataques e habilidades. 

A jogabilidade com os Skells abre novas possibilidades de exploração, nos dando acesso a áreas que não conseguimos a pé, acrescentando ainda mais na liberdade que o jogo proporciona. Correr ou voar por aí com o Skell é uma das partes mais divertidas da experiência proporcionada pelo título. Enfrentar inimigos que normalmente causam dificuldades, com o mecha proporciona uma satisfação incrível, ou mesmo lutar contra aqueles que é simplesmente impossível sem o auxílio da máquina.

É tático, É RPG, é ação!


Uma das marcas registradas de Xenoblade Chronicles X é a profundidade de sua jogabilidade, o que pode ser intimidador no início. O número de opções e possibilidades de personalização do combate pode parecer excessivo, mas, uma vez dominadas, transformam o jogo em uma das experiências mais completas dentro do gênero.

O posicionamento dos personagens influencia diretamente as vantagens e desvantagens contra os inimigos, assim como o uso estratégico das Arts (habilidades especiais). O tempo certo para ativá-las também é fundamental, graças à mecânica de Soul Voices, que adiciona uma camada tática ao combate. Isso evita a repetitividade comum de ARPGs e RPGs tradicionais do estilo "atacar, atacar, magia, cura, atacar", tornando a jogabilidade muito mais dinâmica e estratégica.

Outro ponto interessante é a forma como a progressão dos personagens faz diferença, especialmente na primeira metade do jogo. Não é incomum falhar em uma missão e, após aprimorar equipamentos, habilidades e completar algumas missões secundárias, conseguir superá-la com mais facilidade. O jogo equilibra bem seu ritmo, deixando claro o nível e a dificuldade tanto das missões quanto dos inimigos no mapa. Isso permite que o jogador tome decisões estratégicas — a menos que esteja pilotando um Skell, porque, nesse caso, a regra é outra: ataque como se não houvesse amanhã. Mas cuidado! Se perder seu robô gigante, a coisa pode complicar.

Fica o aviso: evite atacar criaturas muito mais poderosas por engano. Isso pode ser fatal — falo por experiência própria.

A alta quantidade de opções de personalização dos elementos de batalha como as Arts, Soul voices e depois habilidades pode parecer assustador no inicio dado sua quantidade e complexidade, mas vale a pena explorar tudo. 

Missões e objetivos secundários que valem a pena

Nova L.A. A "última" cidade humana

Em nossa jornada em Mira encontraremos uma quantidade de possibilidades além da missão principal e vamos nos ocupar com a instalação de Data Probes, o resgate de tesouros pelo planeta Mira, a catalogação da fauna e flora do planeta, inúmeras chances de encontrar itens de personalização, o desenvolvimento dos relacionamentos entre os personagens e muito mais.

Esse último ponto em especial é um dos que mais me agradou e surpreendeu. Apesar de toda a aventura e todas as missões que levam a combates épicos e memoráveis, o jogo se dá a permissão de oferecer pequenas missões que expandem, não a história, não o senso de grandeza, mas ao contrário, algo mais íntimo e mundano e que dá personalidade e senso de risco.

Tatsu: amigo ou alimento?

Mesmo após confrontos intensos e extensas explorações, somos apresentados a pequenas missões que nos colocam em contato com a realidade dos cidadãos comuns de Nova LA. Desde problemas com a violência local, revolta de indivíduos contra o sistema da BLADE e o Governo, personagens em crise com seus empregos, até diversos questionamentos morais.

Por que deveríamos nos preocupar com uma personagem que está tendo dificuldades em seu emprego numa cafeteria? Bom, talvez não tenhamos. Mas a preocupação em criar um mundo em que as pessoas estão tentando levar suas vidas na cidade, mesmo em uma situação de risco de extinção da humanidade, dá um senso de risco e responsabilidade imenso para nossa jornada em Mira, fazendo com que de fato nos preocupemos com a aventura. Mais um ponto para a imersão, mas tem algo que poderia deixar tudo ainda melhor.

Missões de afinidade: Aprofundando relações

Elma: A verdadeira protagonista do jogo 

Se nosso personagem parece deslocado na narrativa principal de início, fazendo de Elma, Lynlee, entre outros parecerem os verdadeiros personagens principais, dado a suas ações, falas e interações nas cutscenes, dando pouco espaço para nosso personagem. As missões de afinidade ajudam a redefinir isso e nos integrar mais ao mundo.

Ao fazer as missões de afinidade são missões secundárias que realizamos com os personagens que, em geral, podemos recrutar para nosso esquadrão. Ao fazê-las não só aumentamos a quantidade de interações e possibilidades em combate, mas também temos a chance de entender ainda mais a personalidade, criar um vínculo maior e estarmos mais envolvidos no enredo do game em geral.

Assim como as missões secundárias mais simples que nos fazem conhecer a população de Nova LA, assim nos envolvendo mais nesse mundo. As missões de afinidade não se sentem como encheção de linguiça, dão personalidade ao universo do jogo e fazendo com que tanto o nosso personagem quanto os muitos personagens sejam parte integral desse mundo.Afinal de nada adiantaria um jogo com um mapa gigantesco se fosse vazio de carisma. — E deixe-me dizer, a personalidade dos personagens desse game são únicas e muito bem trabalhadas.

Conteúdo extra para um jogo que já era imenso


A versão de Xenoblade Chronicles X para Wii U já se destacava pelo seu conteúdo vasto, tanto no lançamento japonês com DLCs quanto na versão ocidental, que trouxe todo esse material incluído. A Definitive Edition para Switch, por sua vez, amplia ainda mais essa grandiosidade.

Mesmo quem já finalizou o jogo no Wii U pode se surpreender com as novas adições. Após os créditos, a versão definitiva apresenta um conteúdo inédito de história, acompanhado de uma nova área — e, como tudo em Xenoblade Chronicles X, ela não poderia ser pequena. Além disso, novas missões, personagens, equipamentos e Skells foram adicionados a essa expansão.

Se você é daqueles, assim como eu, que passaram boas horas se se locomovendo por aí com o Skell em modo veículo ou de só aproveitar o poderio da máquina como um todo. O conteúdo inédito pós-game vai te deixar ainda mais preso ao jogo. A maior parte desse pós-game é focado particularmente no uso dos robôs, tanto para combater como para chegar nas novas áreas extras do game. Sendo uma boa forma de aproveitar alguns dos novos Skells.

As novidades, no entanto, não se limitam ao pós-game. Durante a campanha principal, novas sidequests e missões de afinidade podem ser encontradas ao explorar Mira e interagir com Nova L.A. Isso significa que tanto veteranos quanto novos jogadores encontrarão uma experiência completa e aprimorada, garantindo ainda mais horas de imersão nesse mundo gigantesco.

Um dos RPGs mais ambiciosos por aí


Seja por sua temática que difere do tradicional dos RPGs, abraçando a ficção científica mais que o gênero de fantasia, seja pelo gameplay múltiplo e único, Xenoblade Chronicles X Definitive Edition é de longe uma das experiências mais originais e ambiciosas do gênero até hoje.

Infelizmente, um dos maiores pontos negativos com relação ao jogo é a falta de legendas ou localização. Isso faz com que muitos fãs não possam aproveitar ao máximo a narrativa, diálogos e dilemas que a história desse título tem a oferecer.

E lembrar que um título tão magnífico foi lançado originalmente para Wii U, prova que o console, apesar de ter sofrido comercialmente, era, sim, recheado de jogos de uma qualidade inegável. E a versão de switch simplesmente aprimora tudo o que o original oferecia.
E vai aí algo que não digo sempre — Xenoblade Chronicles X: Definitive Edition é um jogo que precisa ser jogado por todo fã de RPG.

Prós: 

  • Mira é gigante, rico e diverso, fugindo de grandes ambientes genéricos que muitos jogos de mundo aberto acabam tendo;
  • A direção de arte do jogo é impecável com relação ao mundo e ao som;
  • A narrativa expansiva e que vai se tornando cada vez mais profunda e interessante;
  • Personalização e mecânicas profundas são profundas e muito divertidas;
  • Um dos melhores mundos abertos por aí afora.

Contras:

  • É mais um grande título que não ganha legendas ou localização para português, e para piorar o título não receberá mídia física no Brasil;
  • Há tanta coisa e tanto o que fazer no jogo que é fácil ficar sobrecarregado e esquecer de tipos de missão e aprimoramentos que foram mostrados brevemente no início do jogo;
  • Apesar de haver uma melhoria na disponibilidade de informações sobre as muitas mecânicas do jogo e como ficam categorizadas no menu, muita coisa fica muito pouco clara ou escondida.

Xenoblade Chronicles X: Definitive Edition — Switch — Nota: 9.5

Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

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Fernando Lorde
Fernando Paixão Rosa, normalmente referenciado por Lorde, está escrevendo pela internet afora há mais de dez anos e com alguns livros publicados. Escutando música 24h/dia, fã de cultura pop em suas muitas manifestações e mais fã ainda das IP's da Nintendo. Registrando as aventuras nos games no Instagram (@lordeverse) e Twitch (@lordeverso).
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