Análise: Cabernet é uma sedutora narrativa sobre vampiros na era Vitoriana

Apesar de problemas de performance, Cabernet se destaca por trama complexa e interessante.

Normalmente, quando vampiros são parte de uma história, eles estão sempre em dois espectros: ou são forças imparáveis de poder e fome, ou são simplesmente peões de um poder maior, nunca além de seu instinto insaciável por sangue.


Cabernet vai na contramão dos estereótipos e apresenta dilemas complexos na vida dessas criaturas da noite com uma ambientação bastante cativante. Voe comigo, vamos dar uma volta à luz do luar.

Morreu, mas passa bem

Liza está morta. Com uma jovem vivendo na Europa Vitoriana, o jogo logo começa com seu falecimento e uma breve eulogia, de onde podemos adicionar alguns pontos de experiência para algumas categorias que serão úteis no futuro. Algum tempo depois, ela acorda no porão sujo de uma mansão onde, após fazer um pacto que não deveria, é liberta de seu cárcere por uma figura misteriosa e logo conhece a Duquesa, uma aristocrata influente da região, que explica o óbvio: Liza agora é uma vampira.

Com isso, começa a nova vida da garota, aprendendo a controlar seus poderes, conhecendo a nova cidade que está morando enquanto tenta descobrir quem é seu novo amor, a causa de sua morte e entrar no dilema de manter sua humanidade ou abraçar sua natureza monstruosa.

Reflexo invisível 

O maior atrativo de Cabernet está em sua apresentação. Os modelos de personagens e ambientação fazem tudo parecer mais sofisticado e extremamente fiel à época que o jogo se passa. Além disso, sua história é bastante interessante e com múltiplos finais, dependendo das inúmeras escolhas e interações que Liza pode fazer, como roubar moedas para poder dar gorjeta a um cocheiro amigável ou descobrir os segredos de um casamento falido.

Seus personagens são bastante carismáticos e cada um deles tem personalidade própria e modos específicos para poder conversar. Algo bastante legal são os personagens vampiros que, em contramão das inúmeras interpretações, são seres inteligentes que não veem humanos como simples pedaços de carne, tendo seus problemas internos, sonhos e objetivos. “Gente como a gente”, como diria o ditado.

Voo da meia-noite 

A jogabilidade de Cabernet é bastante diferente de outros RPGs. Liza pode explorar a pequena cidade que mora livremente pela noite, dividida em quatro períodos, e precisando voltar ao seu caixão antes do nascer do sol. Certas atividades levam tempo, mas boa parte dos afazeres não consome os períodos, dando bastante liberdade para fazer muitas coisas.

Liza ainda tem quatro capacidades em seu personagem, sendo Ciência, História, Literatura e Política. Estas são necessárias para poder interagir com o mundo ao seu redor, seja ter conversas mais complexas com os personagens ou interagir com o ambiente, como entender a história da cidade e desmascarar um trapaceiro em um jogo de 21. Uma das formas mais legais de melhorar as habilidades é lendo livros reais que fazem paralelos com o jogo como Carmilla, O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde e até Memórias Póstumas de Brás Cubas, do nosso Machado de Assis.

Além da progressão de nível e das capacidades listadas, Liza tem dois termômetros de moralidade, atuando com ela e fazendo ações boas e interações saudáveis (Humanidade) ou abraçar o lado sombrio e sua nova monstruosidade, como matando para chupar sangue e fazendo ações antiéticas (Niilismo). O jogo tem bastante favoritismo pela Humanidade, visto que algumas das inúmeras missões são interrompidas com ações ruins, mas é ainda muito legal ver como a vida de Liza muda com essas escolhas.

Queimando no sol

Cabernet, no entanto, comete alguns erros bastante idiotas em sua execução. O tempo de carregamento inicial é um tanto demorado, apesar de não haver carregamento nenhum nas transições do jogo. Além disso, aconteceram dois crashes, além da demora para fazer algumas ações, como se o jogo engasgasse em sua performance. A falta de tradução para português brasileiro também é bastante sentida, considerando a complexidade da história. 

A falta de polimento nos menus também é bastante vulgar, com todos os menus precisando ser manipulados com um cursor lento e minúsculo ao invés de simplesmente selecionar com a tela touch ou com o analógico. Mas o pior erro está em sua animação. Os gráficos são muito bonitos e a atuação de voz é excelente, mas a forma travada que os personagens andam, o caminhar extremamente lento de Liza e especialmente as expressões travadas fazem tudo parecer um jogo em flash do começo de 2010, mostrando um certo amadorismo em mostrar as emoções e ações dos personagens.




Dedicatória: Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.

Cabernet, mesmo com seus problemas, é uma aventura extremamente interessante e carismática, uma visão bastante legal na sociedade de vampiros e como pode haver camadas em monstros tão icônicos.

Espero que haja atualizações para corrigir esses erros bobos porque eles não tiram o mérito da diversão e complexidade do pós-vida de Liza e seus dilemas. Está amanhecendo, melhor voltar para seu caixão.

Prós

  • História complexa e bastante interessante, revelando um lado mais humano de vampiros que é pouco explorado em mídias;
  • Sem carregamentos entre transições de cenários;
  • Liza é uma protagonista cativante, com seus problemas, dilemas e objetivos bem explorados;
  • Enorme variedade de tarefas e afazeres, inclusive com menção a Machado de Assis;
  • Excelente dublagem em inglês;
  • Designs de personagens muito bem feitos e ambientes bonitos.

Contras

  • Certos problemas técnicos como crashes inesperados e ícones de ações que não aparecem;
  • Carregamento inicial um tanto demorado;
  • Animações travadas e mal feitas, sem falar do andar extremamente lento de Liza;
  • Os menus são manipulados apenas pelo cursor móvel, sem aproveitar os recursos dos controles, 
  • Falta de tradução para português brasileiro.
Cabernet — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Vitor Tibério 
Análise produzida com cópia digital cedida pela Akupara Games
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Fábio Castanho Emídio (StarWritter)
Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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