Para minha surpresa, mesmo com mecânicas que geralmente não me atraem tanto, como progressão baseada em quests, minha experiência foi extremamente positiva. O jogo entrega uma quantidade impressionante de conteúdo, tanto na campanha principal quanto nas missões secundárias, garantindo um excelente nível de imersão, mesmo que a performance no Switch deixe a desejar em alguns aspectos.
Uma história que instiga curiosidade
Como nunca joguei os outros 25 jogos, é difícil fazer um comparativo direto quanto à trama apresentada em Atelier Yumia, então vou descrevê-la sob a minha ótica. No continente de Aladiss, onde os resquícios de uma civilização arruinada ainda contam a história de seu colapso, a órfã Yumia Liessfeldt, uma alquimista a serviço da Equipe de Pesquisa de Aladiss, busca entender o que levou à queda do outrora próspero Império de Aladiss e por que a alquimia se tornou um tabu, a ponto de ser uma arte considerada perigosa e destrutiva e, dessa forma, rejeitada pelas pessoas.Ao longo de sua jornada, a jovem se relaciona com outros personagens improváveis — os irmãos Viktor e Isla von Duerer; Rutger Arendt; Nina Friede; e Lenja. Além deles, a protagonista conta com Flammi, um pequeno e espirituoso artefato alquímico e única herança que a garota tem de sua mãe, que oferece tanto assistência prática quanto um toque de humor à narrativa.
O que pude perceber no enredo é que, apesar de ser considerada um tabu, a alquimia, para o bem ou para o mal, está presente na vida de todos os personagens, até mesmo vilões, dando a eles mais profundidade e uma motivação palpável para se aliar ou se opor às convicções da protagonista. Desse modo, o jogo consegue construir um mistério que vale a pena ser investigado até o fim, sempre colocando em xeque a dualidade em torno da “arte proibida” — inclusive, os tensos conflitos entre aliados e inimigos leva Yumia a se questionar constantemente se a alquimia é realmente a vilã da história ou apenas uma ferramenta mal utilizada.
Uma jogabilidade realmente completa
Sendo meu primeiro Atelier, confesso que esperava algo bem mais tradicional e focado na alquimia, mas Yumia me surpreendeu com um sistema de combate muito mais dinâmico do que eu imaginava, chegando a se assemelhar a RPGs de ação. Em vez do clássico combate por turnos, o jogo aposta em batalhas totalmente em tempo real, com direito a esquivas, contra-ataques, ataques conjuntos (chamados de Friend Actions) e alternância entre ataques corpo a corpo e a distância.Outra coisa que me chamou a atenção nos combates é a possibilidade de usar magias para explorar a vulnerabilidade dos inimigos. No começo, apenas criar uma sequência de golpes é o suficiente para derrotar os oponentes, mas, conforme avancei na trama, percebi quão essencial é abusar das mecânicas de combate que nos são oferecidas, especialmente saber quando se esquivar ou se defender.
Para além do combate, outra coisa que me cativou foi a exploração. Mesmo que seja uma progressão baseada em realizar missões e mais missões, o continente de Aladiss é vasto e quase sem barreiras, fazendo com que o RPG tenha um mundo praticamente aberto. Claro, em alguns pontos é nítido que exploração e progressão devem estar em sincronia, mas é difícil não querer tirar um tempo para fazer as milhares de missões secundárias e descobrir todos os segredos escondidos em Aladiss — em determinado momento da história, Yumia até consegue uma moto!
A navegação pode até ser confusa por vezes, dada a geografia de cada região do continente, mas o mapa não deixa de ser funcional, especialmente ao oferecer vários pontos de viagem rápida. Fora isso, certas ações, como abrir baús, restaurar Ziplines (uma espécie de “tirolesa mágica”) ou explorar dungeons, requerem soluções de quebra-cabeças, que, apesar de simples em sua maioria, ajudam a quebrar um pouco o foco do jogo.
Por fim, temos três árvores de habilidades para Yumia, com técnicas que melhoram sua performance durante sínteses, combates e momentos de exploração. Como os pontos de habilidades são conseguidos apenas completando missões e desbravando Aladiss, o próprio jogo nos incentiva a não deixar a aventura de lado.
A síntese agora tem um papel ainda mais estratégico — ou pelo menos deveria
Se tem uma coisa que eu esperava de Atelier Yumia era que a alquimia fosse intuitiva, ainda mais por ser o cerne de toda a franquia. Infelizmente, a verdade é que não entendi quase nada do sistema de síntese, mesmo depois de ler os tutoriais várias vezes.Como Ivanir me explicou, a série Atelier está sempre criando experimentações no sistema de alquimia. Então, nesta 26ª entrada, temos a introdução dos Alchemy Cores, que nos permitem modificar os atributos dos itens durante a criação, e partículas de Mana que afetam a qualidade final do que produzimos, mas, para ser bem sincera, todas essas informações só me deixaram mais confusa.
No começo, tentei experimentar manualmente esse sistema e entender melhor como ele funcionava, porém, acabei desistindo de tentar fazer isso e recorri ao modo de síntese automática. Não que eu não goste de sistemas complexos, mas senti que faltaram explicações mais claras sobre como as mecânicas se conectam e qual a melhor forma de otimizar minhas criações.
A alquimia aqui não serve só para criar armas e poções, mas também para desbloquear novos caminhos e interagir com o ambiente, então, recorrer ao automático faz com que eu sinta que estou perdendo uma parte importante da experiência ao não entender bem o sistema. No fim das contas, a síntese em Atelier Yumia parece ser um prato cheio para quem gosta de personalizar e otimizar tudo nos mínimos detalhes — só que eu definitivamente não serei esse tipo de pessoa até conseguir entender o sistema de síntese.
Brincando de “casinha”
Depois de tanto explorar e batalhar, é necessário parar e descansar um pouco, correto? Pensando nisso, Atelier Yumia nos oferece uma faceta mais casual, possibilitando a construção de não apenas um ateliê central, mas de vários espalhados por Aladiss. Podemos personalizá-los com receitas de elementos que obtemos em baús, missões e até mesmo negociando com NPCs — e, para a minha surpresa, a mecânica também ajuda a melhorar sua alquimia e o desempenho da equipe, além de desbloquear novas missões.Dependendo do que, onde e como construímos e posicionamos móveis e outros elementos, podemos ganhar bônus na criação de itens, na recuperação de status da equipe ou até na velocidade de deslocamento. Passar um tempo nessas bases de operações também libera diálogos e interações entre os personagens — este último é um detalhe bem bacana na minha opinião, porque torna a equipe mais tridimensional e realista, em vez de serem só NPCs que lutam ao seu lado.
Mas como tudo tem um porém… Senti falta de um guia mais intuitivo ou modelos prontos que facilitassem a montagem sem precisar posicionar cada detalhe manualmente (sério, eu sou muito ruim com mecânicas de construção). Até tentei erguer umas paredes aqui e ali, subir um telhado e fazer uma base com mais de um cômodo, mas, depois de tentativas falhas, acabei não investindo tanto na personalização das bases.
No fim, mesmo que cada ateliê possa oferecer benefícios, não senti que essa personalização fez tanta diferença no meu estilo de jogo. Entretanto, o conceito é legal e tenho certeza de que quem gosta de simuladores de construção vai se divertir bastante com o sistema.
Sempre tem notícias ruins...
Apesar das melhorias, há um ponto que pode incomodar: o grinding pode ser excessivo em alguns momentos, tornando o progresso mais lento do que o esperado. Além disso, no Switch, o jogo sofre com sérios problemas de performance, tanto no modo TV quanto no portátil.Mesmo ajustando a configuração para priorizar o desempenho, experimentei quedas bruscas de fps e até mesmo travamentos que pareciam que iam fechar o jogo a qualquer momento, mas, pelo lado bom, isso só ocorreu durante a exploração, nunca durante combates ou síntese. Por fim, quero destacar que a apresentação audiovisual, em especial a dublagem integral em japonês (com nomes de peso no elenco, inclusive), e a localização para o inglês são de uma qualidade ímpar.
Um JRPG moderno que não perde a identidade da série e é uma excelente porta de entrada
Mesmo com as limitações nítidas de hardware, Atelier Yumia: The Alchemist of Memories & The Envisioned Land é extremamente bonito no console híbrido e merece ser conferido tanto por quem já conhece a franquia Atelier ou para quem, assim como eu, tem curiosidade de conhecê-la. Com um mundo mais interativo, combate renovado e a adição da mecânica de construção, é uma excelente entrada da série, sem deixar de lado sua já conhecida identidade.A quantidade de conteúdo disponível também impressiona, garantindo várias horas de jogo e muitas formas diferentes de abordagem para quem gosta de explorar tudo o que um título tem a oferecer. Se o próximo jogo conseguir redimir os defeitos de Atelier Yumia, a série da Gust com certeza ganhou uma nova fã.
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Ilustração oficial de Benitama, artista da série, utilizada para a capa |
Prós
- História que traz personagens e vilões bem desenvolvidos, além de dilemas morais sobre a alquimia, por vezes fazendo a própria protagonista duvidar de seus dons;
- Combate dinâmico e estratégico com batalhas em tempo real, esquivas, contra-ataques, Friend Actions e magias que exploram vulnerabilidades dos oponentes;
- Exploração estimulante em um mundo quase sem barreiras, com navegação fluida e facilitada por diversos meios, além de diversas missões secundárias e segredos escondidos;
- Variedade de mecânicas que ampliam a imersão na história como um todo, como a construção de ateliês, a influência do ambiente com alquimia e o desbloqueio de novas áreas;
- Ótima apresentação audiovisual, especialmente a dublagem em japonês;
- Para quem gosta de otimizar itens e equipamentos, o novo sistema de síntese é altamente personalizável e oferece inúmeras possibilidades para os produtos derivados da alquimia.
Contras
- Sistema de síntese pouco intuitivo para iniciantes, com tutoriais insuficientes que tornam a alquimia difícil de entender, levando ao uso excessivo da síntese automática;
- A construção dos ateliês poderia ser mais prática, então a falta de modelos prontos ou guias torna a personalização cansativa para quem não quer ajustar cada elemento manualmente;
- A exploração pode ser confusa em certos momentos, com geografia complexa que dificulta a navegação e exige backtracking desnecessário;
- O grinding pode ser excessivo, tornando o progresso da história mais lento devido à necessidade de repetir batalhas e missões para coletar materiais;
- Desempenho limitado no Switch, com quedas bruscas de fps e travamentos ocasionais que afetam a fluidez da exploração.
Atelier Yumia: The Alchemist of Memories & The Envisioned Land — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida por Koei Tecmo