Takaya Imamura, designer de Star Fox e F-ZERO, explica por que saiu da Nintendo em 2021

O artista disse que começou a explorar a possibilidade de se tornar independente ao chegar aos 50 anos.

em 01/02/2025
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Imagem de Takaya Imamura, um senhor de idade japonês, em frente ao prédio da Nintendo no Japão.

O desenvolvedor, ilustrador e mangaka, Takaya Imamura, publicou um texto em sua conta no site japonês note em que explica os motivos de ter saído da Nintendo em 2021, após trabalhar na empresa por 32 anos, sendo o responsável pelo design de jogos das séries Star Fox, F-ZERO e The Legend of Zelda.


Imamura diz que, ao entrar na Nintendo em 1989, acreditou que trabalharia no desenvolvimento de jogos até sua aposentadoria. Porém, seu ponto de vista começou a mudar ao chegar aos 50 anos. Mudanças no ambiente interno da Big N também o fizeram repensar sobre o que gostaria de buscar em seus próximos anos.

Comentando sobre a Nintendo, o artista diz que a companhia ainda está em boas mãos, graças aos seus desenvolvedores. Porém, somente basear o sucesso pela popularidade de suas IPs é um engano, segundo ele. Para o desenvolvedor, é preciso lembrar dos indivíduos que asseguram o valor dessas marcas.

Confira o texto completo publicado por Imamura, traduzido para o português:
"Eu me considero muito sortudo por ter conseguido entrar na empresa que admirava e com a qual estava familiarizado desde a infância. Além disso, poder trabalhar como desenvolvedor por tantos anos foi uma experiência incrível — algo que realmente aprecio agora.

Quando entrei na empresa, não havia um sistema de idade para aposentadoria. Eu estava determinado, pensando: "Tudo bem, continuarei fazendo jogos e brinquedos mesmo quando me tornar um veterano!" Eventualmente, uma idade para aposentadoria foi introduzida, e decidi: "Ok, trabalharei duro como desenvolvedor até a aposentadoria!"

No entanto, depois de completar 50 anos, minha perspectiva sobre o restante da minha vida começou a mudar. Junto com as mudanças no ambiente da empresa, comecei a sentir: "Algum dia, vou sair e me arriscar a começar meu próprio negócio". Mas depois de pensar um pouco, percebi que administrar um negócio enquanto era um criador provavelmente estava além das minhas capacidades. Em vez disso, comecei a explorar a ideia de me tornar um freelancer, onde eu poderia me concentrar apenas no trabalho criativo que realmente queria fazer e aproveitar minha segunda vida.

A partir dos meus 40 anos, trabalhei com mais frequência com empresas de desenvolvimento externas, o que me permitiu interagir com muitos criadores diferentes. Embora fôssemos de empresas diferentes, rapidamente nos unimos por meio de hobbies e discussões relacionadas ao trabalho. Nos últimos anos, eu costumava dizer às pessoas: "Estou planejando me tornar independente algum dia, então vamos trabalhar juntos quando isso acontecer!" — essencialmente me promovendo para oportunidades futuras.

No entanto, houve dias em que pensei: "Não tem como deixar a Nintendo. Ainda há muito que quero realizar!" E outros dias em que me preocupei: "Se eu ficar, estarei apenas perdendo tempo! Preciso me tornar independente e começar a trabalhar em meus próprios projetos!" Esse vaivém de emoções continuou por um tempo.

Gerenciar uma empresa com muitos criadores não é uma tarefa fácil. Todas as pessoas envolvidas no desenvolvimento têm um orgulho forte, e manter esse orgulho está intimamente ligado à sua identidade como criadores. Liderar e organizar esses indivíduos para trabalhar em equipe é um desafio enorme. Em vez de apenas um "chefe bem-humorado", um líder carismático é essencial para manter as coisas funcionando sem problemas.

A Nintendo ainda está em boas mãos, graças aos muitos desenvolvedores carismáticos que criaram grandes sucessos. Mas a ideia de que "enquanto tivermos IPs populares, estaremos bem!" é um grande erro. É crucial não esquecer os indivíduos talentosos que defendem o valor dessas IPs.

No meio da minha incerteza, recebi uma oferta: "Uma nova universidade será aberta em breve. Você estaria interessado em participar?" Era uma universidade de ciências e engenharia que estava estabelecendo um departamento para ensinar CG e desenvolvimento de jogos.

Para ser honesto, eu sempre detestei pessoas chamadas "professores". Minhas memórias do Ensino Fundamental e Médio eram cheias de disciplina rígida, e minhas obras de arte cuidadosamente desenhadas eram frequentemente descartadas com comentários como: "É muito parecido com mangá, então não é bom". Eu não tinha boas lembranças dos meus anos escolares. No entanto, ao ouvir a proposta, percebi que, mais cedo ou mais tarde, eu me aposentaria em alguns anos de qualquer maneira. A universidade também permitiu empregos secundários, o que significava que eu podia continuar trabalhando em projetos criativos."
Como relata ao final do texto, Imamura trabalha atualmente como professor do Departamento de Entretenimento Digital da Universidade Internacional de Tecnologia de Osaka, além de realizar projetos paralelos.

Desde sua saída da Nintendo, ele já fez comentários sobre as séries Star Fox e F-ZERO. Um jogo baseado em seu manga, OMEGA 6, também será lançado em 28 de fevereiro.

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Daniel Morbi
Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)