Análise: Tomb Raider IV-V-VI Remastered é a preservação da era sombria de Lara Croft

Remasterização da trilogia polêmica da icônica exploradora funciona, mas não surpreende.

Uma das verdades da vida é que todo conteúdo midiático vai, um dia, ter uma “fase sombria”, em que a fadiga pelo produto vai ser enorme e a qualidade será inferior à dignidade desta. Podemos ver, por exemplo, o cenário atual do UCM, em que filmes estão longe do ânimo do público e suas histórias são de medianas para ridículas.


Tomb Raider sofreu deste mal no final do ciclo do PS1 e no começo de suas aventuras no PS2. Anteriormente esquecidos em cavernas escuras, estes três títulos estão juntos na Tomb Raider IV-V-VI Remastered. Visto que eu analisei os primeiros títulos da saga de Lara Croft ano passado, nada mais justo que seja eu a encarar esta jornada insólita. Venha comigo nesta odisseia.

Lá e de volta outra vez

Antes de mais nada, tal como ano passado, hora de uma rápida história sobre a narrativa dos três jogos. The Last Revelation começa em 1984, em que uma jovem Lara está acompanhando seu mentor, Werner Von Croy, em uma expedição ao Camboja. Após Von Croy ter sumido na jornada, saltamos para 1999, quando Lara acidentalmente liberta o Deus egípcio do caos, Seth, e ainda tem que lidar com a vingança de seu antigo mentor. 

Chronicles se passa pouco depois do jogo anterior, com Lara sendo declarada morta e uma cerimônia sendo feita em sua honra. Winston, o mordomo da garota, e mais dois amigos recontam quatro aventuras de Croft, lembrando seu legado. Por fim, The Angel of Darkness, revela que Lara estava viva em melhores termos com Von Croy. Encontrando-o em Paris, os dois discutem sobre uma série de artefatos chamados Pinturas Obscuras. De repente, eles são atacados, Lara é nocauteada, Von Croy é assassinado e a garota é culpada por um crime que não cometeu, cabendo a ela limpar seu nome, descobrir o que aconteceu e coletar as pinturas.


Um longo e demorado voo 

Comparando com os jogos anteriores, as narrativas são bem menos ambiciosas, demonstrando a fadiga que a série apresentava, se esforçando para evoluir e manter a atenção. Isso se estende para a jogabilidade e performance (rodando a sólidos 60 fps), sendo que Revelation e Chronicle operam da mesma forma que a trilogia anterior, seja com a jogabilidade tanque ou a opção moderna, mantendo a jogabilidade precisa, mas sem apresentar nada de especial.

Ainda no tópico de estender fatores da trilogia anterior, tanto a opção de gráficos remasterizados quanto originais (basta apertar o botão pausa) e o modo foto (pressionar L3 e R3) estão de volta e continuam muito bons e divertidos de operar. Além disso, os jogos continuam traduzidos em português muito bem adaptado e um detalhe bem legal: Angel of Darkness foi o primeiro título dublado em português brasileiro e a opção de voz tupiniquim está disponível, o que é muito legal, especialmente em questão de preservação artística. 

Não só isso, mas Angel também teve melhoras em sua gameplay, restaurando áreas cortadas no desenvolvimento do jogo, melhora de sua performance, falas cortadas e habilidades únicas para o segundo jogador Kurtis Trent. A ambientação dos jogos continua muito boa, com músicas em pontos precisos para aumentar a imersão e ambientes detalhados e legais de se explorar.

Chamado do Destino

Infelizmente, o agrado dessa coletânea rui rapidamente com a qualidade dos jogos e sua apresentação. Para começar, inexplicavelmente, o tempo de carregamento inicial é bem longo, inclusive para selecionar qual jogo se aventurar. Revelation e Chronicles não sofrem tanto com carregamentos em suas jogabilidades, o que é um grande alívio.

Analisando separadamente, dá para ver exatamente a descida de qualidade da franquia. Revelation é um jogo bem sólido. Inferior aos jogos anteriores, mas ainda bem divertido e justificando sua existência (inclusive contendo o nível bônus Times Exclusive, anteriormente exclusivo da versão PC, que foi lançado celebrando o 75º aniversário do descobrimento da tumba de Tutankamon). Chronicles, por outro lado, pouco faz sentido para a história e cheira a ideias recicladas e parece mais como uma seleção de níveis extras. Ruim? Não. Inútil? Com certeza.

Por fim, temos Angel of Darkness, este temido por sua mediocridade tão profana que quase matou a franquia. Mesmo com os pequenos ajustes e uma história interessante, a jogabilidade continua atroz, o polimento é praticamente nulo, a mecânica de furtividade é inútil e o tempo de carregamento é repugnante, demorando meia eternidade para simplesmente entrar e sair do menu de pausa. Nos três jogos, a câmera é bem temperamental e a jogabilidade pode até ser um tanto desafiadora, mas a mediocridade de Angel é em um novo nível, sendo um jogo que tenta sabotar o próprio jogador. Seu valor histórico de preservação existe puramente para mostrar o que acontece quando um estúdio é forçado a fazer um jogo que não precisa existir.

Para acabar meu pensamento, em análises passadas, eu disse que todo relançamento que se preze deve incluir rascunhos e desenvolvimento de seus jogos para fins de preservação e curiosidade. Esse meu pensamento se estende inclusive para ports de remakes e, mais uma vez, Tomb Raider deixa a desejar neste aspecto, trazendo absolutamente nada para agradar fãs de longa data ou apresentar deleites a novos fãs.

Cavalgando no horizonte 

Resta a pergunta: vale a pena esta trilogia? A resposta é complexa. Se for para jogar separadamente, alienado do que veio antes, não vale nem o pensamento. Agora, se já tiver experimentado as aventuras de Lara anteriormente, eu digo que sim, mas com cautela. São jogos que não tem medo de mostrar seus defeitos e rugas do tempo, sempre a sombra das suas origens gloriosas e evidenciando seu cansaço.

Tomb Raider IV-V-VI Remastered é um final agridoce para as aventuras clássicas de Lara Croft, trazendo um jogo muito bom, um mediano e um medíocre, aquém do legado da musa britânica. Porém, o valor histórico de sua preservação é inegável, reconhecendo os erros do passado para arquitetar um futuro belo, como a franquia recuperando seu fôlego anos depois. Mesmo no seu pior, é bom te ver de novo, Lara.

Prós:

  • Três jogos inclusos remasterizados;
  • Times Exclusive é um nível bônus divertido e bem vindo;
  • Legendas em português, com dublagem brasileira de Angel of Darkness recuperada;
  • Divertido Modo Fotografia;
  • Opção de mudar entre gráficos antigos e remasterizados;
  • Controles de fácil aprendizado;
  • Atmosfera imersiva;
  • The Last Revelation é uma boa adição à franquia.

Contras:

  • Câmera temperamental;
  • Falta de bônus especiais;
  • Cutscenes continuam com CGI ultrapassado mesmo na opção moderna;
  • Carregamento inicial absurdamente longo;
  • Chronicles não tem motivo para existir;
  • The Angel of Darkness continua sendo uma ofensa em questões de performance e jogabilidade.
Tomb Raider IV-V-VI Remastered — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Beatriz Castro 
Análise produzida com cópia digital cedida por Aspyr
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Fábio Castanho Emídio (StarWritter)
Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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