Análise: The Legend of Heroes: Trails Through Daybreak II refina a fórmula da jogabilidade de seu antecessor

Apesar de conter problemas de ritmo relacionados ao enredo, o título da Falcom traz personagens incríveis e um sistema de combate de alto nível.

em 12/02/2025
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Com lançamento previsto para o dia 14 de fevereiro, The Legend of Heroes: Trails Through Daybreak II é o mais recente título da extensa franquia de RPGs da Nihon Falcom e a sequência direta de Trails Through Daybreak. Embora apresente alguns problemas de ritmo na narrativa, o jogo traz uma evolução notável nos elementos de gameplay.

Uma trama interessante, mas com ritmo irregular

A história de Trails Through Daybreak II se passa poucos meses após os eventos do game anterior. Desta vez, uma onda de assassinatos, supostamente causada por uma besta carmesim, começa a ocorrer na República de Calvard, levando o já conhecido protagonista e Spriggan (uma espécie de faz-tudo que aceita trabalhos mediante pagamento), Van Arkride, a investigar o caso.

Além desse mistério, o enredo gira em torno da busca de Agnès Claudel pela última Genesis, um artefato que faz parte de uma série que pertenceu à sua família e desempenhou um papel importante no primeiro jogo. Como não poderia ser diferente, diversos aliados se unem à dupla, incluindo o retorno de rostos conhecidos e a chegada de novos integrantes.

Infelizmente, a maior fragilidade de Trails Through Daybreak II está justamente em sua história, que, apesar de ser interessante, sofre com um ritmo inconsistente. Esse problema se torna ainda mais incômodo na segunda metade da campanha, que apresenta momentos excessivamente enrolados.

A despeito dessa ressalva, é importante destacar que o elenco de personagens de Trails Through Daybreak II é extremamente carismático, e as interações entre eles são muito satisfatórias, com o jogo dando ainda mais tempo de tela aos indivíduos secundários do o que seu antecessor fazia.

Muito disso se deve ao fato de a campanha ser dividida em capítulos com mais de um “lado”, nos quais diferentes investigações ocorrem dentro de um mesmo período, mas em locais e com grupos de heróis distintos. Ainda que o jogador possa escolher a ordem, todas as linhas precisam ser concluídas.

Um aspecto interessante é o fato de a trama utilizar um artifício relacionado ao tempo, resultando em diferentes linhas de desfechos. Diferentemente de outras obras com abordagem semelhante, o jogador não pode escolher o caminho a seguir, mas deve visitar obrigatoriamente os trechos "errados" antes dos corretos. Essa abordagem resulta em algumas situações interessantes e extremamente chocantes, incluindo algumas cenas trágicas explícitas.

Lamentavelmente, considerando que o jogo conta com muitas horas de diálogos e que um dos seus pontos mais positivos é a interação entre os indivíduos, a ausência de legendas em português acaba se tornando uma limitação significativa.

Para finalizar, é importante destacar que Trails Through Daybreak II oferece um resumo interessante dos eventos do primeiro título. Embora certamente não substitua a experiência de jogar e não seja suficiente para criar uma conexão com esses personagens, trata-se de uma forma bem-vinda de relembrar os principais pontos ocorridos até o momento.

Um mundo agradável e recheado de minijogos

A República de Calvard é composta por diversas áreas abertas, que exploramos sob uma perspectiva em terceira pessoa e podemos visitar por meio de um sistema de viagem rápida. Nesses mapas, os objetivos das missões principais e secundárias são claramente demarcados.

Assim como em seu antecessor, um dos pontos mais positivos de Trails Through Daybreak II é a qualidade de suas quests opcionais. Em muitas delas, é possível escolher uma abordagem para lidar com a situação, o que resulta em desfechos diferentes para os NPCs envolvidos.

Mesmo que essas subquests sejam extremamente simples em termos de mecânicas, geralmente envolvendo diálogos e batalhas, a esmagadora maioria delas é relevante para a construção do mundo, desenvolvendo mini-arcos extremamente interessantes que revelam detalhes sobre o povo de Calvard.

Outro elemento interessante é a presença de minijogos, sendo que alguns deles são completamente opcionais, como basquete, pesca e um jogo de cartas, enquanto outros são inseridos de forma orgânica no meio da campanha ou em missões secundárias, como usar um robô para hackear sistemas ou perseguir alguém.

Ainda que esses elementos não tragam muitos desafios e não sejam tão elaborados (a inteligência artificial do alvo perseguido, por exemplo, é ridiculamente baixa), essas mecânicas ajudam a dar variedade à jogabilidade, impedindo que ela se resuma apenas a conversar e batalhar.

Combates divertidos e personalização profunda

Outro ponto que retorna do primeiro jogo e é aprimorado aqui é a mescla entre combate por turnos e toques de ação. Aqui, somos capazes de visualizar os inimigos navegando pelos cenários e podemos enfrentá-los em tempo real, dispondo de comandos para ataques padrão, esquivas e uma investida mais forte, capaz de atordoar.

Embora esses elementos já estivessem presentes no primeiro game, Trails Through Daybreak II introduziu a possibilidade de utilizar uma habilidade mágica básica (Art) nesses combates em tempo real, além de uma mecânica chamada Cross Charge, que funciona como uma espécie de contra-ataque realizado por um segundo personagem e pode ser ativada por meio de um comando simples quando realizamos uma esquiva perfeita.

Nos combates por turnos, que podem ser iniciados ao apertar o botão Y, somos capazes de movimentar os heróis dentro de uma área determinada e visualizar o alcance de suas habilidades, bem como as dos inimigos e as suas fraquezas — elementos que tornam o título mais intuitivo, mas não mais fácil.

Neste jogo, o posicionamento é muito importante, pois ataques pelas laterais e costas podem ter efeitos diferentes. Além disso, aliados próximos são capazes de utilizar golpes em conjunto, com destaque para o Ex Chain, habilidade em dupla que pode ser ativada quando um inimigo está atordoado.

Além dos ataques padrão, os personagens podem utilizar Arts, que são magias ofensivas e defensivas de diversos elementos e que consomem EP (que funciona como o tradicional MP); e Crafts, que são habilidades individuais dos heróis e consomem CP, uma barra que é preenchida conforme desencadeamos ou sofremos dano.

No jogo, temos uma customização bastante ampla por meio de um sistema denominado Orbments. A grosso modo, com ele, podemos modificar o Driver de um indivíduo, alterando assim as suas Arts. Também somos capazes de alterar os Holo Cores, que influenciam a afinidade de um indivíduo com determinados tipos de ação, como maior eficácia em talentos restaurativos. Por fim, também podemos customizar os Plugins, que oferecem efeitos passivos variados.

Além de todos esses elementos, temos à nossa disposição transformações de alguns personagens e ataques extremamente poderosos conhecidos como S-Break, que consomem uma grande quantidade de CP.



O sistema de combate por turnos de Trails Through Daybreak II é bastante amplo em termos estratégicos e oferece grande liberdade de customização. Já as batalhas em tempo real, apesar de adicionar apenas algumas novidades, tornaram-se significativamente mais dinâmicas e úteis.

Isso se deve principalmente à introdução do Ex Chain e do Cross Charge, com o primeiro sistema aumentando os benefícios de atordoar os adversários antes de iniciar um combate por turnos e o segundo incentivando e recompensando a esquiva perfeita, o que acaba tornando os confrontos em campo mais envolventes.


Um desafio opcional (ou quase)

Outra novidade de Trails Through Daybreak II em comparação ao seu antecessor é o Marchen Garten, que funciona basicamente como uma grande masmorra com uma função narrativa própria. Ela é composta por vários andares, que, por sua vez, são divididos em áreas.

Cada região desse local possui um objetivo específico, como derrotar uma quantidade determinada de monstros grandes ou destruir certos objetos, além de oferecer diferentes tipos de recompensas, como a escolha de um acessório ou Plugin dentre várias alternativas.

Em tese, esse conteúdo é opcional e pode ser acessado a qualquer momento; no entanto, na prática, se o jogador optar por ignorá-lo completamente, é provável que seus personagens fiquem com níveis inferiores aos necessários para enfrentar os desafios da campanha principal, uma vez que os itens e recompensas adquiridos no Marchen Garten são mantidos pelos heróis e o salto de nível dos inimigos entre um capítulo e outro é considerável.

Vale destacar que, embora a campanha traga separações entre os grupos de personagens, aqui temos uma liberdade muito maior para definir as equipes que desejamos usar, com apenas os indivíduos efetivamente utilizados recebendo pontos de experiência.

Ainda que suas mecânicas sejam bem simples e os cenários se apresentem um tanto repetitivos, as recompensas adquiridas nesse local são bem expressivas e fazem com que explorá-lo valha a pena e seja um pouco viciante, especialmente para aqueles jogadores que possuem certa inclinação ao grinding.

Um RPG de alta qualidade

The Legend of Heroes: Trails Through Daybreak II é uma sequência que refina e expande a fórmula da jogabilidade do primeiro título, oferecendo uma experiência de combate profunda e altamente customizável. No entanto, apesar de contar com personagens incríveis e interações cativantes, o jogo peca bastante em termos de ritmo, o que acaba limitando um pouco a sua altíssima qualidade. 


Prós

  • A história, apesar dos problemas de ritmo, é interessante e traz personagens muito carismáticos, os quais possuem interações agradáveis de acompanhar;
  • Sistema de combate por turnos divertido e muito estratégico, trazendo uma personalização profunda por meio do sistema de Orbments;
  • As mecânicas Cross Charge e Ex Chain incentivam a esquiva perfeita e o atordoamento dos inimigos, tornando os combates no campo mais interessantes do que eram no jogo anterior;
  • A República de Calvard é um cenário fascinante, com atividades variadas e missões secundárias que ajudam a desenvolver o mundo e trazem arcos narrativos satisfatórios e desfechos variados para os NPCs envolvidos;
  • O Marchen Garten, embora simples, oferece boas recompensas e pode ser viciante para jogadores que gostam de grinding.

Contras

  • A história sofre com momentos excessivamente arrastados, o que compromete a qualidade e a fluidez do enredo e do jogo como um todo;
  • Ausência de legendas em português.
The Legend of Heroes: Trails Through Daybreak II — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America
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Lucas Oliveira
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