Análise: Stories from Sol: The Gun-Dog: um thriller sci-fi que homenageia os clássicos dos anos 1990

Mesmo com uma narrativa simples, o jogo cumpre com o que promete: evocar a sensação de jogar um clássico adventure do século XX.


Inspirado pelos clássicos do gênero adventure, sobretudo os lançados no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, Stories from Sol: The Gun-Dog combina elementos de visual novel e point-and-click para criar uma experiência imersiva e repleta de suspense. Desenvolvido pela Space Colony Studios, o jogo nos transporta para um futuro militarista no qual a exploração espacial é cercada por mistério e perigo.

A paranoia como companheira de bordo

A trama de Stories from Sol nos coloca na pele de um jovem soldado das forças jovianas, cujo nome e gênero podem ser escolhidos por nós. Inicialmente treinado para ser um piloto, sofremos nas mãos de um fantasma do passado: durante um intenso combate, os membros do esquadrão Kalyke são dizimados sem que sequer tenhamos a possibilidade de agir.

Devido a isso, logo recebemos uma transferência para trabalhar como chefe de segurança a bordo da JFS Gun-Dog, uma nave militar que, junto com a O’Brien, está a caminho de investigar um sinal misterioso que está sendo emitido nos confins do espaço sideral. Porém, conforme a viagem avança, pequenos incidentes começam a se acumular, aumentando a sensação de que algo está prestes a sair do controle em breve.


Apesar de a história ser um tanto linear, mesmo com a possibilidade de fazer algumas escolhas ao longo da campanha, o jogo se aproveita muito bem desse contexto para abordar temas como estresse pós-traumático, hierarquia militar e o impacto emocional de uma vida dedicada às forças armadas. Além disso, a atmosfera consegue reforçar a cada instante um senso constante de tensão, urgência e incerteza, mesmo que não existam finais ruins propriamente ditos.

Outro ponto de destaque da narrativa é a relação interpessoal entre as pessoas a bordo da Gun-Dog: enquanto a tenente-comandante Cassandra Quinn, nossa namorada, é suportiva e está pronta para nos defender, Hans Crwys, um exímio piloto que sobreviveu ao massacre de Kalyke, nos trata com escárnio. Todos esses relacionamentos contribuem positivamente para a intensificação da atmosfera, às vezes nos fazendo questionar a moral de meros NPCs.

Exploração e sobrevivência

A jogabilidade de Stories from Sol: The Gun-Dog segue a estrutura de um adventure clássico com elementos de point-and-click e visual novel. Por meio de um menu na lateral direita da tela, podemos escolher ações básicas: movimentar-se pela nave, examinar o ambiente, interagir com objetos, conversar com a tripulação e usar itens.

Essa escolha é simples, intuitiva e funcional, embora possa causar uma sensação de repetição e progresso lento para quem não tem familiaridade com esta abordagem do gênero adventure. Para contornar a situação, temos à disposição o Datapad, um dispositivo que funciona como um hub de informações.


Esse recurso nos auxilia na exploração ao oferecer um mapa para viagem rápida, objetivos e informações sobre o universo do jogo, que pode ser inicialmente confuso para pessoas que não estão acostumadas com uma história focada no militarismo sci-fi — o que é meu caso, vale ressaltar.

Soa até irônico eu analisar um jogo que não cai tanto no meu gosto, mas, curiosamente, a história me lembrou das tardes que eu passava vendo desenhos como Cyborg 009, Gundam Wing, Martian Successor Nadesico e muitos outros da temática. Muito disso se dá graças à escolha audiovisual, sobre a qual comento a seguir.

Um estilo retrô e nostálgico

Visualmente, Stories from Sol: The Gun-Dog aposta em um estilo retrô reminiscente dos jogos do PC-98, que foi considerado o “lar de visual novels” à época. Neste aspecto, podemos escolher três opções de filtro gráfico e dois tipos de fontes — elementos que podem ser alterados a qualquer momento sem afetar a progressão na campanha —, deixando a experiência ainda mais personalizada.

As animações, tanto dos personagens quanto das cenas de ação (sobretudo destas), também são bem-feitas, ajudando a dar ainda mais ênfase aos momentos mais importantes da aventura espacial. Infelizmente, os elogios não conseguem ser estendidos em sua totalidade para o campo sonoro do jogo.


Se por um lado a trilha sonora traz faixas em estilo chiptune que ajudam a compor a atmosfera incerta da aventura, por outro, elas são poucas e extremamente repetitivas, de modo que chegaram a me irritar por certas vezes. Ao menos, os efeitos sonoros foram usados corretamente e cumprem bem seu papel de reforçar a atmosfera da nave. 

Para finalizar este tópico, a vantagem de jogar no Switch é a compatibilidade com a tela de toque. Este é um modo mais cômodo para aproveitar o jogo no console, mas fiquei com a impressão de sofrer com alguns atrasos nos comandos, principalmente ao lidar com o Datapad — de todo modo, é uma adição bem-vinda. 

Escolhas existem, pero no mucho

Anteriormente, comentei que a história de Stories from Sol traz algumas escolhas em determinados momentos; porém, de modo geral, a estrutura narrativa é majoritariamente linear. Algumas opções impactam no relacionamento com os demais personagens e podem alterar certas cenas, mas muitos eventos-chave ocorrem independentemente do que decidirmos.

Ainda assim, essa possibilidade de influenciar pequenos momentos é suficiente para gerar uma sensação de imersão e controle sobre a narrativa, além de nos convidar a revisitar o jogo para descobrir o que perdemos. Quando iniciamos uma nova campanha após completar a primeira, passamos a ver detalhes adicionais que revelam mais informações sobre a história.

Contudo, há um desapontamento, que meu colega Ivanir também percebeu ao jogar no PC: o desfecho dá a entender que os perrengues que vivenciamos na Gun-Dog são apenas a primeira parte de um enredo ainda maior. Claro, uma sequência é muito bem-vinda, mas o jogo merecia um final menos aberto.

To be continued…

Quando pensamos em narrativas sci-fi, a combinação entre ficção militarista e o desconhecido do espaço sempre rende boas histórias. Stories from Sol: The Gun-Dog se insere — e muito bem — nesse meio-termo entre técnica e mistério, utilizando elementos de visual novel e point-and-click para criar uma aventura bastante imersiva. 

Se você gosta de ficção científica e histórias de suspense, vale a pena embarcar na Gun-Dog — apenas se prepare para enfrentar algumas turbulências até chegar ao próximo destino.

Prós

  • Narrativa sci-fi imersiva que combina ficção científica militarista com mistério e suspense;
  • Personagens bem-desenvolvidos, com relações que influenciam a atmosfera da história;
  • Estilo visual retrô inspirado nos jogos do PC-98, com opções de personalização tanto nos gráficos quanto na fonte do texto;
  • Mecânicas intuitivas de point-and-click e visual novel que facilitam a exploração;
  • Possibilidade de escolhas que alteram pequenos momentos e incentivam a rejogabilidade;
  • Animações bem-feitas, especialmente nas cenas de ação, que ajudam a dar mais impacto à história;
  • O Datapad facilita a exploração e a compreensão do universo do jogo;
  • Compatibilidade com a tela de toque no Switch, proporcionando uma experiência mais cômoda.

Contras

  • Trilha sonora limitada e repetitiva, o que pode cansar após algumas horas de jogo;
  • Progressão um pouco lenta e repetitiva, especialmente para quem não tem familiaridade com o gênero adventure;
  • A linearidade da narrativa limita o impacto das escolhas, deixando a sensação de que certos eventos aconteceriam de qualquer forma;
  • Alguns atrasos nos comandos ao usar a tela de toque;
  • Final abrupto e com um forte gancho para continuação, o que pode frustrar quem espera uma conclusão mais fechada.
Stories from Sol: The Gun-Dog — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida por Astrolabe Games
Siga o Blast nas Redes Sociais
Juliana Paiva Zapparoli
Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).