Com a revelação oficial do Nintendo Switch 2, a internet pareceu se dividir entre pessoas frustradas com uma aparente falta de inovação por falta da Nintendo e a empolgação pela nova geração de um dos consoles mais impactantes da história.
A evolução tecnológica é marcada por ciclos de inovação disruptiva seguidos por períodos de consolidação. Quando uma tecnologia atinge um ponto de maturidade, as mudanças tornam-se incrementais, e a busca por novos formatos cede espaço ao aperfeiçoamento do que já existe.
Essa lógica é evidente em dispositivos como computadores e smartphones, que parecem ter atingido seu “formato definitivo”. Mas será que o mesmo está acontecendo com os videogames?
Nos últimos anos, os consoles de videogame evoluíram de forma significativa, mas o formato básico de uma unidade central conectada a uma tela, com controles físicos, permanece essencialmente inalterado desde os anos 1980.
Smartphones e PCs: a maturidade dos formatos tecnológicos
Os smartphones são um exemplo claro de uma tecnologia que atingiu um estado de maturidade. Desde o lançamento do primeiro iPhone em 2007, houve uma revolução inicial com a introdução de telas sensíveis ao toque, eliminação de teclados físicos e integração de câmeras e sensores.
Hoje, no entanto, os avanços concentram-se em melhorias incrementais, como processadores mais rápidos, câmeras com mais megapixels e telas com taxas de atualização mais altas. Ou seja, os esforços são mais concentrados no aumento de desempenho ao invés da busca por um novo formato.
O mesmo vale para os computadores. Desde a popularização dos laptops ultrafinos e desktops compactos, as mudanças físicas foram mínimas. Os avanços se concentram em componentes internos, como processadores mais eficientes e armazenamento SSD mais rápido, enquanto o formato básico e experiência de uso permanecem praticamente os mesmos.
Esses dispositivos exemplificam como a tecnologia, após um período de experimentação e inovação, pode chegar a um formato consolidado que atende às necessidades do consumidor sem a necessidade de grandes mudanças físicas.
A trajetória dos consoles de videogame
Os videogames seguiram uma evolução semelhante. Os primeiros consoles, como o Atari 2600, apresentavam designs simples, voltados para conectar o usuário à TV e oferecer uma experiência de jogo básica. Com o tempo, a indústria experimentou com diferentes formatos: o Nintendo Entertainment System (NES) trouxe controles mais ergonômicos, o PlayStation popularizou o uso de CDs, e o Wii introduziu controles de movimento.
Apesar dessas inovações, o formato geral dos consoles — uma unidade central conectada a uma tela e controlada por periféricos — permanece constante. Os consoles modernos, como o PlayStation 5 e o Xbox Series X, priorizam melhorias técnicas, como suporte a ray tracing e tempos de carregamento quase inexistentes graças ao uso de SSDs ultrarrápidos. No entanto, o design físico desses dispositivos não representa uma ruptura com o passado. E mesmo a escala de aumento de poderio e evolução gráfica em ficado cada vez mais sucinta comparada se comparado com o passado.
A Nintendo, por sua vez, é conhecida por desafiar convenções. O Switch, lançado em 2017, combinou as funcionalidades de um console doméstico e portátil, oferecendo uma flexibilidade inédita e que se mostrou um sucesso. Mesmo assim, a essência do Switch remonta a ideias já exploradas pela empresa, como o seus portáteis e até mesmo o Wii U.
Nintendo Switch 2: a consolidação de um formato?
O recém — oficialmente — apresentado Nintendo Switch 2 parece ter incomodado boa parte do público, que a despeito dos vazamentos que se mostraram reais esperava um console com uma proposta completamente nova e inovadora. Fato é que o próprio Nintendo Switch acabou por suprir o papel dos portáteis da empresa, bem como também supriu as necessidades com relação a consoles de mesa: um sucesso irrevogável.
Abandonar um formato que supre as duas linhas principais, satisfazendo a necessidade de seu consumidor, o que se traduz em números do sucesso da plataforma, era mais que improvável. Então o caminho mais lógico e provável se parece com o da consolidação da tecnologia dos computadores e smartphones, fazer aprimoramentos tecnológicos baseados no padrão existente, permitindo aumento de poder e capacidade, mas mantendo o formato e a experiência de sucesso.
Embora pouco se saiba oficialmente da tecnologia e do poderio do Switch 2, o apoio direto de empresas como a Microsoft, reafirmando a presença de títulos Xbox no aparelho, aponta para a capacidade de rodar jogos de peso e títulos aguardados como Call of Duty e outros jogos da atual geração.
Entre as novidades esperadas, destaca-se o suporte à tecnologia DLSS da Nvidia. Essa tecnologia utiliza inteligência artificial para melhorar a qualidade gráfica dos jogos, permitindo que eles sejam exibidos em resoluções mais altas sem sobrecarregar o hardware. Para um console portátil, isso representa uma solução ideal: melhores gráficos com eficiência energética, algo essencial para preservar a duração da bateria.
O futuro dos videogames
Embora seja tentador afirmar que os consoles atingiram seu formato definitivo, é importante lembrar que a tecnologia é imprevisível. Avanços em áreas como inteligência artificial, interfaces neurais e tecnologias de display podem transformar a forma como interagimos com os videogames.
As tecnologias de videogame em realidade virtual são um exemplo de outro formato que vem, ano após ano, tentando consolidar um papel nesse mundo. No entanto, é provável que essas mudanças ocorram dentro do formato atual, em vez de substituí-lo completamente.
O formato definitivo dos videogames pode não ser apenas um console físico, mas uma experiência integrada que combina hardware, software e serviços online. A escolha da Nintendo por manter a abordagem híbrida reflete uma maturidade tecnológica que prioriza a experiência do usuário sobre mudanças radicais no design ou saltos de poderio.
Formatos consolidados não matarão a criatividade
Um pensamento tentador pode acabar surgindo: então é o fim das ideias revolucionárias ou fora da caixinha da Nintendo (ou dos videogames em geral)? A resposta só pode ser que é improvável que isso aconteça.
Outro desafio que se tornou evidente é a durabilidade das gerações. Com as empresas acostumadas a lançarem uma nova geração a cada sete ou oito anos aproximadamente e ao mesmo tempo o custo e tempo de produção de jogos cada vez mais expressivos.
Diante desse possível platô tecnológico, as empresas precisarão buscar formas inovadoras para se manterem relevantes, encontrar novas formas de jogar ou aprimorar a experiência dos jogos mesmo que dentro do formato consolidado de seus produtos. Talvez a presença de Joy-Con com sensores de mouses ou mesmo o botão misterioso seja o indício de uma nova experiência nas plataformas Nintendo.
Revisão: Vitor Tibério