Uma sequência aguardada por muito, muito tempo
Para não dizer que é impossível, é muito difícil falar do lançamento original de Donkey Kong Country Returns — e do seu impacto e importância no portfólio da Big N — sem citar a trilogia desenvolvida para o Super Nintendo pela empresa britânica Rare (hoje, propriedade da Microsoft e parte fundamental do Xbox Game Studios).
Isso porque, entre 1994 e 1996, a série Donkey Kong Country superou as expectativas dos jogadores entregando jogos de plataforma de altíssimo nível e capazes de algo que parecia impossível, em teoria: rivalizar com Super Mario World e sua sequência Yoshi’s Island como os mais criativos e divertidos do console 16-bits.
Dos inúmeros segredos e colecionáveis à trilha sonora meticulosamente criada por David Wise, passando pelos gráficos pré-renderizados que pareciam reais, foram muitos os motivos pelos quais a trilogia Country se tornou referência de qualidade em seu gênero. Sem exageros, também se pode afirmar que é graças a ela que Donkey Kong se firmou de vez como um dos personagens-símbolo da Big N, ao lado de Mario, Link e Samus, por exemplo.
Logo, com todo o sucesso de crítica e público alcançado, é difícil acreditar que demoraria tanto tempo para os fãs receberem uma sequência para os clássicos do SNES. No entanto, foi exatamente isso o que aconteceu: Donkey Kong 64 à parte, o gorilão e sua trupe foram sendo relegados a títulos cada vez mais experimentais no GameCube e até no Game Boy Advance — quem aí se lembra de Donkey Konga ou de King of Swing? Pois é…
Para piorar a situação, com o anúncio da compra da Rare pela Microsoft em 2002, o sonho de uma sequência direta para os clássicos parecia cada vez mais distante. Afinal, que estúdio seria capaz de assumir as rédeas da série e, ao mesmo tempo, honrar o legado da empresa britânica? Além disso, haveria interesse suficiente do mercado, caso isso acontecesse?
Todas essas respostas vieram em 2010 com Donkey Kong Country Returns, título 2.5D desenvolvido pela Retro Studios e inspirado nos clássicos 16-bits. O surpreendente — mas aguardadíssimo — retorno às origens foi um completo sucesso no Wii, rendendo mais de 6 milhões de cópias vendidas, um port para 3DS e uma sequência direta (Tropical Freeze) para Wii U e Switch.
Agora, mais de 14 anos após seu lançamento original, finalmente temos em mãos aquela que pode ser considerada a versão definitiva de Donkey Kong Country Returns, em alta definição e com melhorias de qualidade de vida — incluídas principalmente para acolher as novas gerações de jogadores.
O retorno do rei, em sua melhor forma
É preciso deixar algo claro: Donkey Kong Country Returns HD é um port fiel do título do Nintendo Wii. Se, por um lado, isso significa que não há conteúdo novo propriamente dito (falarei mais sobre isso em breve), por outro, todas as mais de 70 fases originais estão aqui, com sua jogabilidade divertida e diversos colecionáveis e atalhos prontos para encantar tanto quem jogou no passado quanto quem vai jogar agora pela primeira vez.
Porém, sendo este o segundo relançamento do jogo — como mencionado, um port para 3DS foi produzido pela Monster Games e lançado em 2013 —, convém mencionar que as melhorias da versão 3D também foram implementadas nesta remasterização. O destaque, nesse caso, fica para o suporte completo aos controles por botões, além da revisão da dificuldade e de oito níveis extras no pós-jogo.
Aliás, esse é um dos principais motivos, além dos visuais, pelos quais esta pode ser considerada a edição definitiva de Returns. É que, por incrível que pareça, até agora, não havia um consenso entre os fãs sobre qual era, de fato, a sua melhor versão.
De um lado, o título original, no Wii, sofreu com a moda dos controles de movimento (inimigos totais da precisão em um jogo que a exige com muita frequência); do outro, a adaptação para o 3DS consertou esse problema e ainda trouxe conteúdo novo, mas ficou limitada a 30 quadros por segundo, com a fluidez sacrificada no altar do efeito estereoscópico.
Felizmente, no Switch, já não precisamos mais escolher uma vantagem em detrimento de outra; é finalmente possível aproveitar a aventura da Retro em 60 fps usando tanto os botões quanto os controles de movimento (sim, a opção ainda está aqui, para quem gosta dela!). Para a nossa sorte, as melhorias não param por aí, com a alcunha “HD” antecipando um show à parte tanto no modo TV quanto no modo portátil do console.
Um port digno do Switch e de seu legado…
Sim, é verdade: fazendo jus às expectativas, Donkey Kong Country Returns nunca esteve tão bonito quanto agora. As texturas e sombras originais foram aprimoradas para este relançamento e, juntamente com a resolução nativa — 1080p no modo TV e 720p no modo portátil —, garantem um verdadeiro espetáculo visual, digno de estar entre os melhores do Switch no fim da geração.
Toda essa beleza é complementada pela fluidez na gameplay, com os já citados 60 quadros por segundo se mantendo estáveis e proporcionando uma jogabilidade ágil, agradável e responsiva, mesmo nas fases mais intensas e com dois jogadores ao mesmo tempo.
Aliás, por falar no multiplayer, os comandos também foram adaptados para passar a oferecer suporte a um único Joy-Con (inclusive com o HD Rumble), aproveitando a versatilidade do Switch e facilitando as sessões multijogador quando não há tantos controles à disposição.
Há ainda a inclusão do Modern Mode (modo moderno, em tradução livre), que deixa DK com três corações por padrão e adiciona mais itens para compra na loja do Cranky Kong, tornando a aventura mais acessível e retificando, em grande parte, a íngreme curva de dificuldade do jogo — um dos principais pontos atacados pela crítica especializada, lá em 2010.
Aos mais puristas, fiquem tranquilos que o desafio ainda existe; é, sim, possível jogar no modo original, com dois corações somente, mas o Modo Moderno e o Super Guide (uma espécie de tutorial in-game, que mostra como passar uma fase e é ativado após morrermos várias vezes em um mesmo estágio) são bem-vindos, até para garantir que ninguém, principalmente os mais novos, pare de progredir desnecessariamente.
…mas pouco ousada para os padrões atuais
Dito isso, mesmo com todas essas melhorias, confesso que, tendo jogado o título no Wii, me peguei por vezes pensando se esta remasterização não poderia ter ido um pouco mais além, talvez adicionando um novo personagem jogável (como no caso de Tropical Freeze) ou mais fases, como foi feito na época do 3DS.
Não me entenda mal, caro leitor: Returns continua divertido como há mais de uma década e é prova cabal de que jogo bom não envelhece — até arrisco dizer que, se fosse lançado hoje, seria tão elogiado quanto em sua estreia. É só que, há tanto tempo sem uma aventura propriamente nova, DK merecia um pouquinho mais para esse retorno, creio eu.
Essa falta de ousadia, infelizmente, também se manifesta na ausência de suporte ao português brasileiro. Embora Returns HD tenha pouquíssimos diálogos e menus (e seja plenamente possível jogar sem entendê-los, até por conta da natureza animalesca dos protagonistas), seria, sim, interessante que eles estivessem em nossa língua, concorda?
Quando até mesmo produtores independentes e com orçamentos limitados conseguem adicionar PT-BR aos seus jogos, não consigo compreender ou defender a falta de consistência da Nintendo nesse ponto. Títulos como Super Mario Party Jamboree e Mario & Luigi: Brothership deveriam ser a regra, não a exceção, quando o assunto é o suporte à nossa língua. Logo, fica aqui registrada a esperança que um patch futuro ajeite esse deslize e dê ainda mais motivos para esta ser, inquestionavelmente, a versão definitiva de Returns também para o nosso público.
A versão definitiva de um clássico atemporal
Hoje, em sua reta final, não há como negar que a geração do Switch foi extremamente proveitosa para a Nintendo: do estrondoso sucesso do seu console híbrido ao bem-sucedido resgate de franquias que há muito tempo não recebiam novas entradas, é difícil achar defeitos crassos neste período, que certamente ficará marcado na história da empresa japonesa como um de seus melhores, em todos os aspectos.
Quase no apagar das luzes entre uma geração e outra, Donkey Kong Country Returns HD chega para encorpar o calendário de lançamentos e provar que jogos bons não envelhecem, valendo-se, para isso, de uma remasterização impecável do ponto de vista técnico, ainda que pouco ousada em outros aspectos. Não obstante, se os últimos anos se provaram aquém das expectativas para os fãs do gorila mais famoso do mundo dos games, 2025 começou muito bem. Enquanto o futuro não revela suas maiores surpresas, a diversão está garantida (de novo) na DK Island.
Prós
- Unindo o melhor das versões de Wii e 3DS, consagra-se como a rendição definitiva de um título importantíssimo para a franquia Donkey Kong;
- A atualização visual impressiona tanto no modo TV quanto no modo portátil, com as novas texturas, sombras e resolução produzindo um verdadeiro espetáculo técnico no Switch;
- A presença do Modern Mode (modo moderno) corrige um dos grandes problemas do lançamento original, tornando a aventura mais balanceada e acessível sem comprometer o desafio para quem o procura;
- Mais de uma década após o seu lançamento, continua divertido como nunca, o que torna este relançamento ainda mais especial para os fãs de jogos de plataforma e da série Donkey Kong Country.
Contras
- Poderia ter sido mais ousado em sua proposta, oferecendo conteúdo inédito, como mais fases ou personagens jogáveis;
- A ausência de suporte ao português brasileiro representa um retrocesso frente aos jogos recentes da mesma empresa, como Super Mario Party Jamboree e Mario & Luigi: Brothership.
Donkey Kong Country Returns HD — Switch — Nota: 8.5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo