Quando você pensa em videogame, quais são suas principais referências? Sucessos como Crash, Spyro, Sonic, Mario, Donkey Kong, Banjo-Kazooie, Rayman, Yoshi’s Island, Prince of Persia, The Lion King, Aladdin e a série Castle of Illusion marcaram sua época. Estou falando especialmente dos anos 90, no qual os jogos de plataforma, quase sempre representados por algum mascote, eram o grande destaque.
E mesmo que um ou outro jogo não cumprisse as expectativas do público, sempre tinham desenvolvedoras tentando emplacar nesse gênero, seja com personagens originais ou adaptações de animações e afins.
Voltando os olhos para 2025 e a chegada de um novo console da Nintendo, fiquei pensando em como seria bom ter de volta esse boom de jogos de plataforma para saber o que mais pode ser feito nesse gênero que talvez não tenhamos visto ainda.
A moda dos Metroidvanias
Para quem acredita que jogos de plataforma “já deram o que tinham que dar”, a ascensão dos jogos Metroidvania pode fazer você pensar diferente. Esse gênero de jogos surgiu lá atrás com o primeiro Metroid em 1986. Na época, era considerado como um jogo de “busca e ação” e teve seus grandes sucessos, encabeçados principalmente por Super Metroid no Super Nintendo e Castlevania: Symphony of the Night no Playstation.
No início dos anos 2000, jogos como esses, além de sequências dessas franquias, continuaram surgindo. No entanto, mesmo com obras excelentes como Metroid: Zero Mission e Castlevania: Aria of Sorrow, além de estreias no gênero com Kirby & the Amazing Mirror e Shaman King: Master of Spirits, os Metroidvanias eram colocados em um nicho um tanto distante do grande público.
Um exemplo é que todos os títulos citados são de jogos feitos para portáteis, que eram na época sinônimos de “lugar de jogar Pokémon”. Consoles de mesa não deram muita atenção para esse estilo de jogo. Apesar disso, tivemos novas tentativas com Metroid Prime e Metroid Prime 2: Echoes no GameCube, mas a segunda aventura da Samus nem sequer chegou ao top 30 de maiores vendas do console.
Era inegável que existiram bons jogos. Esses títulos inspiraram diversos estúdios independentes que fizeram o Metroidvania explodir de sucesso na década de 2010-2019 e que se mantêm até hoje.
Hollow Knight, Blasphemous, Ori, Bloodstained, Guacamelee, The Messenger, Gato Roboto, vários projetos inspirados por esse passado de “joias perdidas” conseguiram trazer o Metroidvania ao grande público. Em especial Hollow Knight, considerado até mesmo como o melhor Metroidvania já feito e criando altíssimas expectativas para sua sequência, Hollow Knight: Silksong.
E, novamente, tiveram aqueles projetos medianos e ruins no meio dessa pilha de jogos, mas é inegável que hoje vivemos uma grande fase do Metroidvania. Há, inclusive, jogos que já se inspiram nesses projetos mais recentes para criar novos mundos e mecânicas.
Jogos de plataforma estão “presos” na nostalgia?
Certamente os jogos de plataforma têm um fator muito nostálgico no público. E talvez isso tenha sido o calcanhar de Aquiles que nos impede de apreciar novos projetos. Um exemplo é a franquia Yooka-Laylee.
Existe um carinho muito grande por Banjo-Kazooie, principalmente por parte de quem teve um Nintendo 64. Porém, mesmo com Yooka-Laylee sendo desenvolvido pela Playtonic Games, um estúdio que conta com diversos nomes que trabalharam na Rare e que ajudaram a desenvolver Banjo e Donkey Kong Country, o reconhecimento não veio.
O primeiro título pode ser considerado algo mais experimental, uma primeira tentativa de fazer a nova franquia vingar. Mesmo assim, a sequência Yooka-Laylee and the Impossible Lair continuou um tanto sem destaque. Agora, e se o jogo fosse Banjo-Kazooie and the Impossible Lair? Quase certo que os elogios seriam muito maiores só por ter aqueles personagens familiares na tela.
Além desse fator, franquias como Sonic também acabam buscando trazer certa nostalgia como se não bastasse o próprio personagem. Claro, não vou defender Sonic Forces, mas Sonic X Shadow Generations e Sonic Mania também parecem ficar um tanto presos ao passado, tendo que invocar visuais de 16 bits ou fases antigas com gráficos novos.
O polêmico The Game Awards de 2024
A presença e vitória de Astro Bot no The Game Awards de 2024 talvez tenha deixado essa questão do fator nostalgia um tanto mais aparente. Aqui, não vou ficar discutindo o merecimento das indicações, pois não é meu objetivo. Inclusive, a equipe da Team ASOBI deixou claro que Mario foi uma referência importantíssima no trabalho deles. O que é interessante observar é que, mesmo sendo um personagem totalmente novo, o Astro traz a nostalgia pela marca Playstation em si.
Mesmo que quem o jogador controle não seja familiar para ele, o resto do ambiente e os visuais o são de alguma forma. Isso inclui aspectos de gameplay também, que são bem semelhantes a jogos 3D do Mario.
Como a Nintendo pode ajudar num possível novo ciclo de jogos de plataforma
Falando da Big N, a própria Nintendo tem deixado uma parcela de suas franquias meio de lado quando paramos para pensar em novidades.
É claro, Super Mario Odyssey e Super Mario Bros. Wonder são dois marcos gigantescos do Nintendo Switch, mas não é como se Mario fosse a única opção para trazer alguma novidade nesse aspecto.
Donkey Kong Country no Switch infelizmente só recebeu relançamentos de consoles passados, Yoshi passou a ser da linha de jogos infantis da empresa e Princess Peach: Showtime é um projeto recente, mas que não parece ter feito um grande barulho.
Considerando o sucesso de jogos como Pizza Tower em 2023, talvez trazer de volta Wario Land, com novas ideias como Mario Wonder fez, seja uma boa para fomentar projetos nesse estilo.
Ou então, quem sabe, reviver franquias como Kid Icarus, Ice Climber e Game & Watch e explorar o que elas podem agregar no novo console.
E, por último, por que não criar um jogo/franquia totalmente novo?
Por mais que possa parecer estranho e que “a Nintendo nunca faria outros jogos de plataforma, pois isso iria canibalizar as IPs dela”, na verdade, seria interessante pensar que um jogo poderia ajudar o outro a crescer. Na época do Nintendo 64, como comentei, tinha Banjo-Kazooie, além de Donkey Kong 64. Não bastasse isso, a Nintendo permitiu que a Rare criasse um jogo de Kart do Diddy Kong mesmo já tendo Mario Kart 64.
Já que a Nintendo é a grande referência que todos sabemos no quesito plataforma, pode ser que exista uma certa “pressão” em desenvolvedores menores, o que não existiu em relação aos metroidvanias. No entanto, penso que apesar de todas essas questões difíceis de responder e de prever, podemos, sim, viver uma nova era de jogos de plataforma que traga ainda mais títulos memoráveis para todos os jogadores.
Revisão: Beatriz Castro