De volta a Felghana
No novo jogo, acompanhamos a jornada do aventureiro Adol Christin pela região de Felghana, terra natal de seu parceiro de longa data, Dogi. Antes uma terra mais próspera e tranquila, a ilha foi tomada por monstros e se tornou muito menos aconchegante.
Adol e Dogi chegam à ilha e começam a ter que viajar para suas várias localidades para ajudar os moradores da cidadezinha de Redmont. Em pouco tempo, é possível notar que a situação toda não tem nada de natural e uma grande lenda local se torna central para a trama.
De forma geral, o que temos aqui é o mesmo The Oath in Felghana do PC, apenas remasterizada e com alguns ajustes. Em primeiro lugar, se destaca a possibilidade de alternar entre novas ilustrações de personagens e as originais, cujo traço remete a um estilo de anime mais antigo com os personagens menos arredondados. Ambos os estilos são bonitos e interessantes de usar, então é apenas uma questão de preferência pessoal, mas é bem-vindo que o jogo mantenha o design de personagens original como opção.
Outra novidade é o fato de Adol ter voz e ser possível eliminar a dublagem do narrador. Porém, não é como se o jogo tivesse adicionado momentos para o personagem falar durante a trama. A única diferença é que agora temos também os barulhos guturais, enquanto toda vez que atacamos, no jogo original, escutamos apenas o som da espada.
Além desses dois pontos, o título ainda inclui turbo para acelerar a exploração e a opção de trilha sonora que já estava inclusa no lançamento ocidental de PC, permitindo trocar as faixas originais por aquelas presentes nas versões anteriores de Ys III (PC-8801 e X68000). Temos também uma galeria que, fora as ilustrações desbloqueadas ao terminar o jogo, inclui um prólogo em formato visual novel detalhando os eventos de Adol e Dogi antes de sua jornada.
Um mundo de progressão linear
Felghana é uma ilha marcada pela presença de dungeons espalhadas por seus quatro cantos. A exploração é bloqueada a princípio, sendo necessário avançar a trama e conseguir certos itens para ir a cada um dos lugares, seguindo uma estrutura linearizada.
Começamos em uma mina tomada por monstros e depois vamos explorar ruínas, uma caverna repleta de lava, uma montanha nevada, etc. Essas áreas são repletas de inimigos e elementos de plataforma para prestarmos atenção, sendo interessante explorar com cuidado para encontrar os tesouros que estão espalhados pelo caminho.
Há dois tipos de tesouros: os baús mais básicos feitos de madeira geralmente contêm Raval Ore, enquanto os itens importantes são guardados em caixas vermelhas. Neles, temos upgrades bem significativos, alguns dos quais se mostrarão necessários para avançar.
Ao longo do jogo, teremos a chance de encontrar ou comprar equipamentos mais poderosos. Na loja de armas de Redmont, também é possível fazer um upgrade nos equipamentos ao gastar dinheiro e Raval Ore, mas a defasagem das armas é bem notável e não há vantagens em usar uma das versões mais fracas.
Com isso, equipamentos velhos perdem totalmente a sua utilidade com o progresso e o sistema de melhorias na loja acaba não compensando tanto quanto a exploração. Nesse sentido, é importante destacar que, mesmo na dificuldade “normal”, os picos de dificuldade são bem nítidos, fazendo com que trocar de equipamento para um melhor importe bastante.
Nesse sentido, é uma pena que não seja possível trocar de dificuldade após começar, exceto pela redução de dificuldade dos chefões caso o jogador repita o mesmo desafio várias vezes.
Dinamismo e embate
Ys é uma série de RPGs de ação criada pela Falcom em 1987 e que se mantém como uma de suas franquias mais longevas, tendo novos lançamentos até hoje. Oath in Felghana não foge desse conceito, sendo um dos títulos isométricos da série junto com Ys Origin e Ark of Napishtim. A empresa também utiliza esse mesmo estilo visual nos primeiros jogos da série Trails, embora eles sejam RPGs de turno.
Para enfrentar os inimigos, podemos usar inicialmente apenas uma espada com combos em terra e técnicas associadas ao pulo. Se atacarmos assim que pulamos, podemos atingir criaturas voadoras, mas, com um timing posterior, Adol enterrará a sua espada no chão em um ataque que pode deixar inimigos atordoados (especialmente em combinação com o pulo duplo).
Além do ataque básico, temos um sistema de Boost, que é uma barra que enche com o tempo e o uso de golpes no combate. Quando ela está cheia, é possível ganhar mais ataque, agilidade e defesa, mas, depois de liberar o “Double Boost”, também temos acesso a um golpe de energia que atinge o nosso redor e recuperamos HP no processo.
O uso eficiente desse sistema faz uma grande diferença no combate, sendo especialmente fundamental no enfrentamento dos chefões. Esses grandes inimigos que encerram com chave de ouro as dungeons são um dos pontos altos do jogo, oferecendo grandes desafios que testam a habilidade do jogador em avaliar padrões de ataque e conseguir se desviar no momento preciso.
Os três poderes elementais
Em particular, um aspecto de Oath in Felghana que chama a atenção para a exploração são os braceletes mágicos. Ao todo, temos três poderes elementais: fogo, vento e terra. O primeiro arremessa uma bola de fogo à distância, o segundo serve para criar um redemoinho que nos mantêm mais tempo no ar, e o último funciona como um impulso no chão que garante invulnerabilidade temporária.
Usar esses poderes consome MP e precisamos encontrar pedras preciosas espalhadas pelas dungeons para liberar níveis mais avançados dessas técnicas ao carregarmos o botão de magia. Saber usar esses golpes faz a diferença para o combate, mas também para a exploração, especialmente no caso do bracelete de vento, cujo ataque é útil para alcançar áreas mais altas em conjunto com o pulo. Por conta disso, ele acaba se tornando mais relevante durante boa parte do jogo e o de fogo fica com a utilidade mais limitada a chefões que se mantêm distantes.
Além deles e dos equipamentos (armas, armaduras e escudos), podemos alternar entre acessórios com funcionalidades variadas. Em especial, há um amuleto para andar na lava sem tomar dano, outro que ilumina áreas escuras e um terceiro que deixa Adol andar em territórios escorregadios sem deslizar. Esses itens acabam se tornando bem relevantes para a exploração em alguns momentos, valendo a pena encontrá-los.
Outros aspectos técnicos
Apesar de todos os pontos que mencionei, vale a pena destacar que alguns inimigos podem se camuflar nos ambientes de forma não-intencional. Isso acontece em especial no início do jogo, com oponentes cujas cores se mesclam com o fundo, não tendo um contraste nítido entre eles, algo que poderia ser resolvido com um contorno ou padrões diferentes de coloração.
Outro elemento negativo é a ausência de um log para registrar os diálogos. Embora seja um RPG relativamente curto, podendo ser terminado em menos de 15 horas, há uma boa quantidade de falas e não poder rever o texto é um incômodo que poderia ter sido resolvido na nova edição. Por outro lado, a funcionalidade de pular inteiramente as cenas de diálogo obrigatórias existe, o que é especialmente bem-vindo para quem quiser rejogar de forma consecutiva nas dificuldades mais altas.
No lado positivo, destaca-se a trilha sonora, como é comum para os jogos da Falcom. Em particular, o embalo das músicas de rock ajuda a dar uma energia extra aos momentos de ação da trama, embora haja também trilhas mais calmas de qualidade.
Além disso, uma vez terminado o jogo, além da galeria já mencionada, liberamos o New Game+ e um modo Time Attack. No New Game+, podemos recomeçar o jogo em quaisquer dificuldades e contamos com pontos para gastar em benefícios adicionais opcionais dependendo de qual dificuldade jogamos anteriormente. Já no Time Attack, devemos enfrentar os chefões de forma consecutiva em busca dos menores tempos possíveis com um equipamento pré-definido adequado àquele ponto do jogo.
Cumprindo a promessa de qualidade
Ys Memoire: The Oath in Felghana é mais uma ótima entrada em uma série de RPGs de ação de alta qualidade. Com um combate bem dinâmico que exige movimentação precisa e entendimento das mecânicas e dos padrões dos inimigos (especialmente os chefões), é uma fácil recomendação para quem busca um jogo divertido do gênero.
Prós
- Combate dinâmico com mecânicas interessantes nos padrões de combo;
- Os três braceletes elementais adicionam opções de magia que fazem uma enorme diferença no combate e na exploração;
- Chefes inspirados cujos padrões de ataque oferecem bons desafios;
- New Game+ e Time Attack são ótimos extras para fazer o jogo render ainda mais;
- Trilha sonora dinâmica e cheia de energia com três versões para selecionar;
- Galeria de ilustrações repleta de conteúdos e que incentiva explorar mais o jogo, além de trazer um prólogo ótimo para a aventura.
Contras
- Algumas áreas, especialmente no início do jogo, podem se misturar visualmente com os inimigos, camuflando-os de forma não-intencional;
- Mesmo nas dificuldades mais baixas, há picos consideráveis de desafio e não é possível alternar entre elas sem começar do zero;
- Equipamentos velhos perdem totalmente a utilidade após a obtenção de novos;
- Ausência de log para os diálogos.
Ys Memoire: The Oath in Felghana — Switch/PS4/PS5 — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games