Análise: I*CHU: Chibi Edition é um gacha offline de idols masculinos

Adaptação de console do jogo de ritmo mobile traz uma experiência curiosa, mas picotada.

em 07/01/2025
Adaptado do mobile, I*CHU: Chibi Edition é um jogo que combina ritmo e visual novel para contar a história de idols em formação. No papel de uma produtora que gerencia múltiplos grupos de rapazes, vemos como esses personagens e suas respectivas equipes crescem juntas e lidam com várias adversidades.

Um caleidoscópio de personalidades

A história de I*CHU gira em torno de um grupo de rapazes que estudam na Escola Etoile Vie para idols. Tudo começa com a chegada da terceira geração, incluindo em especial o otimista estrangeiro Seiya Aido, que sonha em se tornar um “idol samurai” e logo se mostra um impulso positivo para seus companheiros e rivais.

Ao todo, os novatos acabam se distribuindo em quatro grupos bem distintos. Seiya (que é dublado por KENN) se junta a Kanata e Akira no grupo F∞F, enquanto os gêmeos travessos Satsuki e Mutsuki formam a dupla Twinkle Bell. Os outros grupos, I♥B e ArS, reúnem ainda mais membros, com o primeiro sendo formado exclusivamente de estrangeiros e o segundo de indivíduos excêntricos envolvidos em outras áreas de arte, como pintura ou mangá.

Durante o jogo, também conhecemos grupos liderados por veteranos, como POP’N STAR, Lancelot e Tenjo Tenge. Cada um deles possui uma temática própria e todos possuem tanto momentos de destaque na trama quanto músicas que podemos conhecer na gameplay rítmica.

Embora não se destaque em particular em comparação com outras obras do mesmo estilo no quesito narrativo, I*CHU traz uma ótima variedade de personagens com personalidades bem diferentes. É realmente interessante ver como as dinâmicas entre esses indivíduos vai evoluindo com o tempo na trama.

De forma geral, porém, é importante ter em mente que a narrativa é um tanto fragmentada. Em vez de adaptar a história para um formato mais conveniente para o console, temos uma estrutura do jogo mobile: capítulos curtos e fragmentados que rendem recompensas para o jogador, em vez de uma estrutura mais orgânica. Em certos pontos, pode ser necessário inclusive ir ao menu de músicas e concluir um desafio específico para poder progredir.

A estrutura gacha

A primeira coisa que precisa se ter em mente quanto a I*CHU: Chibi Edition é que o jogo é um port de um gacha mantendo a estrutura da forma mais intocada possível. Não há sistemas de stamina nem microtransações, que são substituídas pelo uso de uma moeda in-game (discos) obtida ao concluir os capítulos ou jogar as músicas (quanto maior o nível de dificuldade, mais discos).

Um elemento interessante do jogo é a presença dos banners de eventos para que o jogador possa obter versões alternativas dos personagens. Cada “temporada” conta com minigames e desafios específicos e é necessário concluí-los para liberar as próximas temporadas e conseguir mais banners que no jogo mobile durava apenas por tempo limitado.

Infelizmente, apesar desse esforço de preservação dos eventos e cartas, o mesmo não acontece com a narrativa. Ao contrário do lançamento japonês, a Chibi Edition removeu totalmente algumas cenas da história original, especialmente aquelas que eram obtidas nesses eventos ou ao conquistar níveis de afeição com os personagens.

Por conta disso, o jogo acaba ficando com a impressão de ser apenas um esqueleto incompleto. Afinal, sem os eventos especiais, o sistema de corações não tem nenhum sentido, mas continua no jogo, como lembrança de algo que não existe mais.

No ritmo da música

Além da estrutura de novel para conhecer melhor os personagens, o cerne da experiência está na mecânica de ritmo. Ao longo da música, círculos que representam “notas musicais” caem do topo da tela e é necessário apertar o botão correspondente na tela no timing correto.

As notas podem ser classificadas de Miss (quando o jogador erra totalmente o timing) a Perfect (quando ela é atingida no momento exato). Ao final, recebemos uma pontuação que leva em conta os acertos, o combo mais longo e os personagens utilizados (quanto mais raros e poderosos, mais pontos eles dão).

É possível usar a tela de toque, como no jogo mobile, ou apertar um dos quatro botões no Joy-Con. Embora seja possível mudar o input de acordo com o que o jogador preferir, as opções são restritas aos quatro direcionais digitais, X, Y, A ou B.

Além de apertar uma nota, pode ser necessário segurá-la por um tempo até que apareça uma outra nota para terminar uma espécie de rastro luminoso. Mesmo nas dificuldades mais altas, só é necessário usar dois dedos para jogar, mas o ritmo mais rápido e a discrepância de comandos entre os dois lados da tela logo tornam a experiência muito mais complexa.

Para avançar a trama, apenas as músicas no nível fácil são necessárias, fazendo com que o jogo seja bem aberto para novatos. Porém, jogadores experientes do gênero também encontrarão bons desafios e, uma vez que alcancem o combo completo na música, poderão ativar o modo “Maniac” que permite alterar a velocidade, inverter posições das notas, tomar dano de qualquer coisa que não seja “Perfect”, entre outros desafios.

De forma geral, as músicas dos grupos são bem divertidas e se diferenciam bem entre si, mesmo se enquadrando todas em um estilo pop. Existem músicas mais agitadas, dançantes, com trechos que parecem ser leitura de poesia e até mesmo um pouco melancólicas. O resultado final é bem positivo e há muitas músicas para desbloquear ao longo da experiência completa.

Pegando todos

Ao interagir com o sistema gacha, conseguimos novas cartas dos personagens, cujo nível de raridade varia do R ao LE. Assim como em outros jogos do gênero, conseguir mais de uma versão da mesma carta é positivo, com a repetida podendo ser usada como forma de evoluir a que você já tinha.

Com o menu Change, você pode aproveitar as duplicatas para criar uma carta mais rara e poderosa da sua atual. Já o Lesson permite aumentar o nível das cartas sem alterá-las, subindo a sua força diretamente. Por fim, também podemos usar Graduation para vender as cartas e conseguir moedas no lugar, o que é necessário para realizar as operações dos outros dois menus.

Com as suas melhores cartas em mãos, você pode montar equipes diretamente ou deixar o sistema criar formações automaticamente com base no melhor valor possível dos atributos Wild, Pop ou Cool. Embora isso garanta pontuações mais altas para as músicas do mesmo atributo, é interessante experimentar com o sistema manual para abusar das habilidades especiais de cada personagem.

Por exemplo, a carta UR Miraculous Voice do Noah pode transformar notas julgadas “Miss” em “Perfect” 20 vezes ao longo de uma música. Porém, para isso ser feito, ele precisa ser colocado como líder e ter todos os seus amigos da banda I♥B no mesmo grupo. Numa situação como essa, pode ser interessante enfraquecer um pouco a equipe só para poder ativar a habilidade.

Brilho apagado

De forma geral, o jogo conta com sistemas bem interessantes de explorar, como os que mencionei anteriormente, mas eles acabam sendo mal explicados de forma geral. Isso é ainda piorado pela tradução em inglês que acaba deixando várias mensagens de sistema muito ruins de ler e complicadas de entender.

Os erros também se propagam para a escrita das cenas de história, com especial destaque para o prólogo, cujos problemas são bem notáveis, seja em frases mal escritas, erros de digitação ou inconsistências. Em ocasiões de frases muito longas, o tamanho da letra também muda para que tudo possa caber na mesma caixa de diálogo, o que piora consideravelmente a leitura, especialmente no modo portátil.

Outro ponto que pode desagradar fãs do gênero é a dublagem, já que as cenas de diálogo não são de fato dubladas. Em vez disso, temos grunhidos onomatopeicos e algumas raras frases de fato lidas, uma economia que pode ser negativa para a imersão na história.

Além de todos esses pontos, o jogo ainda conta com artes borradas das cartas. Isso foi parcialmente corrigido em um patch pós-lançamento, já que antes até a sequência de obtenção da carta tinha imagens borradas. Agora esse problema só pode ser visto quando se dá zoom no menu da carta, que inclusive só conta com os nomes dos ilustradores em japonês.

Uma performance fraca

I*CHU: Chibi Edition é um gacha rítmico divertido, mas que acaba chegando de forma incompleta ao Ocidente. O resultado é uma sensação de um jogo que poderia brilhar muito mais, mas que acabou não tendo o tratamento que merecia.

Prós

  • Músicas pop bem divertidas;
  • Sistema rítmico simples e que pode ser aproveitado por jogadores mais inexperientes, mas com bons desafios em níveis mais altos;
  • Boa variedade de rapazes com personalidades e dinâmicas interpessoais interessantes.

Contras

  • O texto em inglês conta com muitos erros, especialmente no prólogo e em mensagens de sistema;
  • Alguns sistemas acabam sendo mal explicados;
  • A narrativa é cortada de formas desnecessárias para um jogo de console;
  • Artes borradas dos rapazes no menu das cartas;
  • A dublagem “onomatopeica” e ausência dos eventos especiais de relacionamento com os personagens deixam o jogo com uma aparência de incompletude;
  • O tamanho variável do texto deixa frases longas muito menos legíveis.

I*CHU: Chibi Edition — Switch — Nota: 5.0

Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube Games

Siga o Blast nas Redes Sociais
Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).