Pokémon Unite: entrevistamos Dizinho, CEO do time AegisFlames eSports

Conheça um pouco mais sobre a primeira organização de Pokémon Unite brasileira a ter CNPJ.

em 18/12/2024

Pokémon Unite foi lançado para o Nintendo Switch em julho de 2021, e desde então, conquistou uma legião de fãs ao redor do mundo. Em setembro do mesmo ano, o jogo chegou para celular e atingiu picos de downloads nunca antes visto na franquia Pokémon.

De lá para cá, inúmeros times foram formados para disputar campeonatos da própria comunidade ou oficiais, com o segundo sendo mais importante por acumular pontos para o tão sonhado campeonato mundial. Em 2025, a competição será disputada em Anaheim, cidade do estado da Califórnia, nos Estados Unidos.

Por ter jogado competitivamente durante dois anos, sempre estive ligado às atividades do cenário, acompanhando o lançamento de novos Pokémon e jogadores buscando novos horizontes nas diversas equipes formadas.

Recentemente, um dos times brasileiros deu um passo à frente: deixou de ser um “simples” time para ser uma empresa ao abrir o CNPJ, ou Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, e com isso, se tornou a primeira em nosso cenário a realizar tal feito. Seu nome? Aegis Flames.

Tendo isso em mente, batemos um papo com Diego Richene, ou Dizinho, como é conhecido no cenário, CEO e um dos membros fundadores da Aegis Flames eSports. Tive também a oportunidade de jogar algumas partidas com a equipe para conhecer mais sobre a organização e reviver meu espírito competitivo, ainda que brevemente. A seguir, você pode conferir a entrevista na íntegra. Boa leitura!


NB: Como surgiu a organização (ideia, motivação, frustração talvez?)? Existe algum patrocinador por trás da organização?

Dizinnho: A organização surgiu pela fome de empreendedorismo minha e da esposa (GabyMEW). Além da Aegis Flames, temos outras seis empresas. Minha esposa é funcionária pública e professora universitária no Amapá, e tem o título de doutora. A linha de pesquisa do doutorado é sobre jogos, e isso motivou a criação da organização. 

Inicialmente, surgiu como um time para diversão (for fun) dois anos atrás. Em abril de 2024, decidimos disputar os campeonatos oficiais da Pokémon Company e, para isso, efetuamos a contratação de técnico, Manager (gerenciador do time), psicólogo e toda e estrutura.

Quanto aos patrocinadores, a manutenção financeira era feita pelo casal no começo. Após esse período, dois sócios se juntaram e, agora, patrocínios de terceiros. Atualmente, há patrocínios fechados e conversas com outros 25 que apoiam o projeto. A Aegis Flames hoje não é só uma organização que nasceu para competir. Também temos uma proposta clara com duas vertentes:

Parte social: Temos no quadro competitivo pessoas com TDAH, de condição sócio-econômica um pouco vulnerável, e isso gera uma inclusão real. Ainda, o cenário de Pokémon Unite no Brasil tem um público LGBTQIA+ enorme.

Parte educacional: O time serve como ferramenta para pesquisa de campo para o doutorado e exemplos para as aulas na faculdade ministradas pela minha esposa.

NB: O que motivou a abertura de CNPJ e ser a primeira a fazer isso no cenário brasileiro de Pokémon Unite?

Dizinho: Orgulho de ser a primeira. Afirmo que não foi com intenção nenhuma de lucro ou exploração comercial. Isso é consequência do trabalho. O motivo principal é a profissionalização, tanto que a decisão de abrir CNPJ foi feita há três meses (Setembro).

Tenho conversas diárias com técnico e manager sobre o comportamento dos jogadores. Nosso treinador sempre levantou a bandeira da profissionalização e, com isso, mudar o mindset dos jogadores em geral. 

A ideia é ser uma vitrine para a profissionalização, ou seja, conhecimento sobre o jogo e suas nuances e principalmente o comportamento dos jogadores, seja pessoalmente ou na internet.

O MrGlako, nosso técnico, é muito fã de League of Legends e frequentemente mostra conteúdos sobre como as organizações (dentro e fora do Brasil) operam. Eu também gosto dessa parte de gestão e comprei a ideia de organizar de forma real, ou seja, legalmente falando, abrir o CNPJ.

Houve um grande choque da comunidade com a notícia por conta do impacto que a atitude reflete. No Brasil, há pouquíssimas organizações que seguem esse padrão. A resposta foi bem clara: mostrar para o cenário (e para as pessoas que atuam diretamente) que é possível profissionalizar os jogadores, se divertir com o jogo, mas com seriedade e compromisso.

Dito isso, podemos ter contratos de exploração comercial, direito de imagem dos jogadores, loja que comercializa produtos da organização etc. 

Nós vemos muito potencial de crescimento no Pokémon Unite no Brasil, e ainda que esteja no estágio embrionário, largar na frente é um grande benefício, pois quando se é o pioneiro, os ajustes são pontuais, diferente de quando se entra em uma esfera com muitas organizações estabelecidas.

NB: Os jogadores já assinaram contratos? 

Dizinho: No exato momento da entrevista, os contratos estão em confecção e, posteriormente, passados aos jogadores, que irão ler e assinar. Como a maioria está envolvida no projeto há muito tempo e já conhece a gestão, temos confiança em todos eles.

Tivemos que fazer, inclusive, entrevistas com as famílias dos jogadores, pois muitas delas nem sabiam que os filhos participavam de uma organização dessa magnitude. Não posso revelar os detalhes (risos), mas basicamente envolve remuneração, prazos, eventuais metas e uma série de outros fatores que são comuns em contratos.

NB: Os jogadores são todos maiores de idade?

Dizinho: Essa pergunta foi excelente. Nosso time principal são todos +18 e porque: esta é uma exigência da própria The Pokémon Company para participação dos eventos oficiais organizados aqui no Brasil.

Surgiu também a necessidade de montarmos um Academy (jogadores -18). Além de sermos a primeira empresa real no cenário brasileiro, e me orgulho disso por termos nascido dentro do Unite, criamos a Academy para construirmos uma base sólida (pro cenário e para a organização), e também revelação de novos talentos.

NB: Você concorda com essa política de proibir menores de idade? É uma barreira ou para prevenção de danos?

Dizinho: Acredito que seja para prevenção e entendo a posição da TPC de limitar a atuação de menores de idade. Aqui no Brasil, uma pessoa atinge a maioridade civil e penal aos 18 anos. Ao ver essa limitação, a TPC optou por permitir apenas jogadores maiores de idade.

Em outros países, como Estados Unidos e na Europa, as normas são mais brandas e jogadores a partir de 16 anos podem participar dos eventos. Todavia, torneios de comunidade — e é bom deixar isso claro — permitem a participação de jogadores de todas as idades. Recentemente, presenciamos em um torneio, jogadores com 12 e 13 anos.

NB: Na sua visão, por que não há muitas organizações tradicionais do cenário brasileiro, como a Pain e INTZ, também no Pokémon Unite?

Dizinho: Basicamente, acredito em três grandes motivos:

1 -  Jogo novo, apenas três anos de mercado. League of Legends, por exemplo, existe há mais de uma década. Outros jogos mobile, inclusive, estão há mais tempo no mercado, e com isso, essas empresas ainda não olharam para o Unite com carinho, digamos assim.

2 - A The Pokémon Company é muito conservadora, e no Brasil, não há sistema de franquias. Isso não atrai as organizações por conta do investimento ser alto e com pouco retorno. Como gestor, entendo essa posição; não vou entrar em um cenário apenas com investimento e sem retorno. Até pouco tempo, tivemos a Legacy por três anos e ganhando tudo, porém, o retorno financeiro desse período não compensou. Isso sem falar na falta de incentivo da TPC;

O time da Luminosity, duas vezes campeão mundial, opera em um mercado imensamente maior. A Fennel, atual campeã e com base no Japão, é bem similar; no país, há investimentos pesados, sistema de franquias em fase de testes e os jogadores buscam esse cenário para atuar;

3 - Nosso cenário ainda é muito amador. Não existe um respeito em relação à hierarquia entre os jogadores e staff. Os jogadores e os técnicos brasileiros não têm a mesma dedicação e o mesmo afinco em estudar o jogo. 

O pensamento é: jogar, jogar e jogar. Isso parte muito de como é a cultura do jogador brasileiro de Pokémon Unite. Talvez, assistir o replay da partida, pensar no macro game e menos em micro game ajudariam mais do que simplesmente apertar botões. Quando acaba o split, muitas organizações acabam encerrando as atividades por não ter como se sustentar.

NB: Qual é o critério de busca/contratação de novos jogadores?

Dizinho: Houve uma reformulação no time, inclusive no processo de contratação. Hoje, tem processo seletivo. A proposta de profissionalização vai ao encontro disso, até para que outras empresas vejam esse modelo e sintam-se atraídas. Nós seguimos os seguintes critérios:

Busca - Procuramos jogadores acostumados com o formato competitivo, de histórico na comunidade, que entendam o jogo, tenham obtido boas colocações em times de destaque, seja em torneios oficiais ou da comunidade. Analisamos também as estatísticas consultando a API do Unite

Ou seja, se estamos em busca de um jogador na posição de carregador (carry), avaliamos seus números dentro de um recorte para identificar se o resultado está dentro do esperado.

Desse modo, se estamos em busca de um Defender e no teste aparece um jogador que, pelo histórico da API, joga apenas de carry, não condiz com o teste. Sendo assim, ou esse(a) jogador(a) é defender ou é carry, os dois ao mesmo tempo não tem como, ainda mais no cenário competitivo em que cada jogador é, basicamente, especialista na sua posição. Nosso manager é responsável pela captação de jogadores, que direciona para o analista e coach.

Além disso, consideramos muito a imagem do jogador tanto quanto sua habilidade. Como o jogador cuida/cuidou da imagem. Logo, jogadores que podem ser extremamente habilidosos e com certeza teriam chance de jogar pela AF, acabam parando nesse filtro. 

Depois da triagem tem a entrevista com psicólogo (identificar em que ponto está a saúde mental, comportamento sob pressão). Os torneios, em sua grande maioria, geram ambientes de pressão, e se o jogador não sabe ou aprendeu a lidar com esse tipo de situação, o desenrolar do campeonato será comprometido.

Há também o teste prático em jogo junto com o treinador. Análise macro, micro, jogar com diversos Pokémon de sua posição.

Por fim, uma entrevista com os gestores da organização para expor os nossos valores. Assim como acontece em toda empresa, os colaboradores representam a imagem da organização e suas atitudes refletem diretamente em como essa empresa é vista no mercado.

NB: Vocês possuem Game House/Office ou os treinos acontecem de forma online?

Dizinho: Hoje é somente online, via Discord, com servidor próprio. Nossos planos futuros envolvem a existência de uma Game House. Nosso planejamento é composto por três fases a curto, médio e longo prazo.
  • Curto: praticamente todos os objetivos atendidos: estruturação da organização, abertura de CNPJ, contratos, salários, torneios de comunidade.
  • Médio: para os próximos dois anos temos três grandes metas: 
  1. Equipe fortemente competitiva (dna de campeão), top 1 cenário;
  2. Academy rodando forte, principalmente nos campeonatos de comunidade; 
  3. Gaming House/Office (em SP por conta da experiência do LAIC).
Por exemplo, as picuinhas, discussões e outras situações que ocorrem na comunicação online, estando cara a cara 100% não acontecem porque os jogadores estão olhando um no olho do outro. 

Outro ponto importante sobre isso é como os jogadores e a comissão técnica enxergam o jogo e discutem sobre as jogadas, personagens e composições. Enfim, o presencial é uma meta a ser batida.

NB: Qual a projeção da organização AegisFlames no cenário de Unite para os próximos anos? Expandir para outros jogos da franquia Pokémon ou, até mesmo, outros jogos de eSports?

Dizinho: No cenário de Pokémon Unite a intenção é essa: consolidar entre as três maiores organizações do jogo. Especificamente, é a principal meta/objetivo. Inclusive, esperamos que o sistema de franquia chegue no BR para que, quando começar, tenhamos bagagem e experiência para nos posicionarmos bem para atrair a atenção da TPC.

Faz parte do planejamento também expandir para outros jogos dentro do universo Pokémon. Hoje, há uma produtora de conteúdo de TCG, a CleffanGirl, que também é competidora. Ainda, estamos buscando outros jogadores para montar um squad e vestir a camisa da AegisFlames.

Pokémon GO tem como representante o produtor de conteúdo Pokémon +GO, com amplo alcance no Tiktok. Mesmo seguindo uma linha mais casual, a produção de conteúdo pode atrair novos jogadores. 

Eu mesmo, Dizinho, vou competir na modalidade Pokémon GO, juntamente com outro sócio, ou no regional do Rio Janeiro agora no mês de Janeiro ou no regional de Fortaleza. Confesso que minha paixão é o Pokémon GO. Hype violento (risos). É uma das minhas prioridades essa expansão.

Estamos com planos de expansão para o VGC. Aqui em casa, todos jogam as versões Scarlet/Violet com afinco: Raids, Pokémon Shiny, Pokedex completa... é uma febre (risos). Buscamos para 2025 jogadores para representar nossa camisa

Futuramente em 2025, projetamos além da franquia Pokémon, outros jogos estilo MOBA para aproveitar a expertise do Unite. Não posso revelar quais são os jogos, mas para bom entendedor, meia palavra basta (muitos risos).

NB: Recado para a galera que quer se tornar profissional.

Dizinho: O principal recado é: comprometimento. Não adianta você começar a jogar apenas com o desejo de ser profissional. Isso exige dedicação, respeito com a organização e horários de treino; disciplina com os seus próprios horários e encarar o Unite como uma profissão. 

Muitos pensam que, por não ganharem nada inicialmente, não se dedicam com o mesmo afinco. Busque conhecimentos sobre gestão de pessoas (relacionamento interpessoal), comunicação e do próprio jogo.

Nosso time é um grande exemplo disso: começamos como uma organização for fun, e que, com o tempo, passou a ser uma organização séria e que tem em seu quadro pessoas dedicadas e comprometidas com o projeto.

NB: Qual é o seu Pokémon favorito do Unite? Tem algum favorito de modo geral?

Dizinho: Tenho um Pokémon favorito para todos os jogos e para todas as gerações. No Unite, tenho dois que amo e jogo sempre que posso: Azumarill e Goodra.

Minha geração favorita é a segunda, que contempla as versões Gold/Silver/Crystal. Participei dos campeonatos organizados pela extinta revista Pokémon Club e também no fórum Pokeland, no início dos anos 2000. 

Na época, contribuía para o site fazendo review dos episódios lançados no Japão. Participava ativamente das discussões sobre builds e movesets competitivos. Tudo isso graças a uma pessoa: Lorde Noga. Pode ser que ele não se lembre de mim, mas não tem problema. Sempre tratou todos com muito carinho e respeito, ou seja, um verdadeiro "Lorde" (risos). Um abraço enorme para ele!


Fora do Unite, desde as primeiras gerações é Lugia, assim como 95% dos jogadores. Amo esse Pokémon. Quando era mais novo, tinha um grupinho de colegas na escola, fazia com meus colegas uma fanfic de Pokémon, nós éramos líderes de ginásio. Não me pergunte como, mas era a Lugia, saindo do mar. 

Meu ginásio era em cima do oceano e quando falava a frase clássica "Lugia, escolho você", ela aparecia, mais ou menos nos moldes do segundo filme (Pokémon 2000).
NB: Qual Pokémon que ainda não foi lançado você gostaria de ver no Unite?

Dizinho: Vaporeon. Seguindo a linha das Eeveelutions, só não temos o trio de Kanto (Jolteon, Flareon e Vaporeon). Vejo no Pokémon bolha um perfil mais para suporte/defender. A temática de água seria perfeita para suporte, e como temos Umbreon como defender, faz mais sentido tê-lo como suporte.

Aegis Flames eSports

Ficou curioso em saber quem joga pela AegisFlames? Acompanhe seus perfis nas redes sociais. Find your flame!

Dizinho (CEO);

GabiMEW (Patroa da AF);

MrGlako (Coach/Técnico);

Luna (Jungler/Central Area);

Volcano (Suporte/Bottom Area); 

Brunout (Defender/Top Area); 

Brenno (Attacker/Bottom Area);


Revisão: Beatriz Castro
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Fã de carteirinha da franquia Pokémon desde os oito anos de idade, teve seu primeiro contato com os monstrinhos de bolso no Game Boy Color e de lá para cá, são mais de 25 anos de alegria. Fanático por vídeo-games, gostaria de poder jogar mais tempo do que trabalha.
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