Quando o mundo dos games parecer sombrio, olhe para o horizonte ao raiar do dia e veja as tropas indies prontas para o socorro. Mais uma vez, neste ano de 2024, os jogos independentes mostraram sua vitalidade artística e disposição encantadora.
Joguei mais de 50 títulos este ano e, dentre os disponíveis no Switch, nove dos meus dez favoritos são independentes. Ironicamente, justamente o primeiro lugar foi para uma franquia clássica, desenvolvido por um estúdio de currículo longo e respeitável, sob a propriedade de uma grande empresa. Ao menos a obra foi uma reformulação inusitada cujo formato se distancia dos grandes blockbusters, mostrando que há vida fora do perfil AAA.
Vamos logo para a lista!
10 - Cat Quest 3
A série Cat Quest cativou seu público com uma jogabilidade simples e eficiente, sustentada principalmente pelo grande carisma. Com essa confiança em mente, aproveitei o terceiro título em cooperação com meus filhos, desbravando a proposta de levar os gatos para os mares em um navio pirata. Além de dar um salto na parte visual em relação aos anteriores, Cat Quest 3 é uma aventura concisa, fofa e divertida, com direito a muitos trocadilhos bobos.
9 - O Escudeiro Valente (The Plucky Squire)
A metaficção do guerreiro Pontinho e seus amigos Batera e Violeta pode até ter saído um tanto mais simples do que eu esperava em termos da gameplay, que é bem variada, mas não profunda. No entanto, o carisma vibrante e a criatividade mágica não apenas atenderam às minhas expectativas como também as superaram: O Escudeiro Valente é uma delícia de aventura maravilhosamente lúdica.
É importante uma ressalva: a grande beleza do jogo é ofuscada por forçar os limites do Switch em termos de resolução e performance, sendo melhor jogado em qualquer outra plataforma. Para quem só joga no híbrido, as atualizações deram mais estabilidade e a resolução fica mais agradável no modo portátil do que em uma TV, então o bom proveito dependerá da exigência de cada um em relação a esses aspectos.
8 - Nikoderiko: The Magical World
Gosta de Donkey Kong Country? E se misturar partes de Crash Bandicoot? Se sua resposta for positiva, não há motivos para hesitar em testar Nikoderiko: The Magical World, pois suas inspirações nos macacos e marsupiais são muito claras e bem-feitas. Admito que tive uns bugs aqui e ali, mas a experiência de plataforma é eficiente e os visuais coloridos e cartunescos são verdadeiramente lindos. O modo cooperativo para duas pessoas completa suas muitas qualidades. Se você achar que parece demais com DKC, é porque Nikoderiko cumpriu seu objetivo com sucesso.
7 - Bo: Path of the Teal Lotus
Bo: Path of the Teal Lotus pode ir pro lado mais linear dos metroidvanias, mas o movimento fluido com mecânica de pogo (atacar para baixo para saltar no ar) dá grande satisfação de ter o controle da raposinha nas mãos, levando a empolgantes lutas contra chefes. E o visual? Basta ver um trailer qualquer para ter uma noção da grande beleza desse jogo. Se Hollow Knight e Okami tivessem um filho, seria este.
6 - Crypt Custodian
Se você jogou Islets ou Sheepo, talvez baste dizer que Crypt Custodian veio das mãos do mesmo desenvolvedor solo, Kyle Thompson. Desta vez, ele leva suas tendências de clima tranquilo e cativante, visão de mundo humanista e humor irônico e inocente para uma aventura horizontal com visão de cima. Os chefes empolgantes são pontos altos da jornada do gato Pluto como o novo zelador do além em suas desventuras com Kendra, a gerente passivo-agressiva local.
5 - Ynglet
Mesmo tendo sido originalmente lançado em 2021, Ynglet entra para a lista porque só chegou ao Switch em 2024. Este jogo de visual abstrato e som dinâmico é agradável de ver e bom de jogar, subvertendo o gênero de plataforma com a física de se mover por fluidos e ricochetear em paredes de linhas coloridas. O que começou como uma campanha humilde, logo passou a me surpreender cada vez mais com sua criatividade e níveis bem feitos.
4 - Promenade
O quarto lugar pode parecer o demérito de ficar fora do pódio, mas isso não é verdade. Promenade foi apaixonante em sua simplicidade, criatividade vibrante e eficiência. Sabe quando um jogo diverte e encanta por toda a sua duração, sem um único minuto de tédio, enrolação ou design ruim? Minha experiência com Promenade foi assim. O jogo usa uma estrutura típica de plataforma 3D, dividindo-se em grandes mundos repletos de tarefas para reunir colecionáveis, e faz uma aventura lúdica e vibrante que faz meus filhos cantarolarem a música-tema até hoje.
O pódio
Os três seguintes formam o pódio e podem ser considerados em qualquer ordem. São três metroidvanias, mas bem diferentes entre si, e defini a ordem baseando-me no que considero que seja maior abertura ao público. Isto é, o menos voltado a um nicho tem mais poder de alcance e, por isso, ficou acima no “desempate”.
3 - Animal Well
Às vezes, nós só queremos ver genialidade em ação e, se possível, pegar carona nela ao sentir que somos capazes de ver os detalhes e entender a obra-prima que essa inteligência construiu. É claro que fiquei longe de decifrar tudo de Animal Well, mas poucas coisas em 2024 me empolgaram mais que partir no escuro e desbravar os mistérios maravilhosos do poço dos animais até chegar ao fim da jornada. Certamente, é um dos melhores metroidvanias de todos os tempos.
2 - Nine Sols
O ano de 2024 teve tantos jogos incríveis para mim que até me surpreendo em Nine Sols estar apenas no oitavo lugar. Pode até parecer que está longe, mas, na verdade, está bem na cola dos primeiros. A estética é excelente, a construção de mundo taopunk é marcante, o combate é intenso e as opções de ajuste de dificuldade o tornam mais acessível. Certamente, é um dos melhores metroidvanias de todos os tempos (esta afirmação ainda será repetida duas vezes nesta lista).
1- Prince of Persia: The Lost Crown
Uma boa surpresa foi a qualidade de Prince of Persia: The Lost Crown. Pode não ser um jogo revolucionário, mas reúne tudo o que há de melhor em metroidvanias e executa com excelência. Certamente, é um dos melhores metroidvanias de todos os tempos.
Jogos de anos recentes
Se Tunic fosse de 2024 e não de 2022, estaria no topo do topo da minha lista. Sua beleza é apaixonante, seus mistérios são sedutores, sua perspicácia é maravilhosa. Um jogo único, que levarei para sempre na memória.
Blasphemous 2 foi uma questão de correção do passado. Isto é, não dei atenção ao jogo em 2023, mas o anúncio da expansão Mea Culpa o fez entrar no meu radar da curiosidade, que logo virou certeza. Joguei a versão completa e admito que estava errado em negligenciar um exemplar tão competente do meu querido gênero metroidvania.
O que ainda quero jogar de 2024 e expectativas para 2025
Para finalizar, fica um jogo que me chamou bastante atenção e ainda espero jogar no futuro: The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom. A aventura de Zelda é um belo paradoxo de fazer mais do mesmo sem cair na mesmice, misturando o familiar com uma renovação profunda.
E 2025? Janeiro já vem cheio com Citizen Sleeper 2: Starward Vector, Ender Magnolia: Bloom in the Mist, Tails of Iron 2: Whiskers of Winter e Mark of the Deep. O resto do ano depende do sucessor do Switch dar as caras e mostrar a que veio, provavelmente com algum peso-pesado first party. Creio em Metroid Prime 4 crossgen, mas não poderia ser só ele. Mario Kart 9 seria tiro e queda. Consegue imaginar um Mario 3D Maker? E o coitado do primo desdenhado, Donkey Kong? Por enquanto, só podemos aguardar pelo alvorecer do novo ano.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
