A franquia Mega Man já apresentou várias versões desse personagem, mas a série Battle Network, em particular, trouxe, além de um novo universo, um combate que vale a pena ser relembrado, pois se trata de uma combinação inusitada de diferentes gêneros que fogem do habitual estilo pelo qual a franquia é conhecida.
A série Mega Man Battle Network
Lançado pela Capcom para Game Boy Advance, a série Battle Network se tratava de uma nova iteração com o robozinho da empresa.
Nesse novo mundo, ainda se mantinham alguns elementos tradicionais da franquia, como as sociedades desenvolvidas tecnologicamente, com máquinas e robôs auxiliando as pessoas em suas rotinas, mas dessa vez havia um foco maior na parte virtual, onde muitos desses eletrônicos agora eram controlados e monitorados pelos chamados NetNavis, programas de computador autônomos que ajudam os humanos a trabalhar com todas essas novas tecnologias.
Não só isso: a internet agora conecta todo tipo de aparelho, além de computadores, criando um enorme ciberespaço que acaba agindo como um paralelo ao mundo real, onde eventos em um podiam afetar o outro.
O Mega Man desse universo é um desses NetNavis, que ajuda o seu operador Lan Hikari, um jovem do ensino fundamental, em suas atividades diárias. Juntos, eles acabam se envolvendo em diversas aventuras, incluindo combater uma organização criminosa que se utiliza de seus próprios NetNavis para causar o caos pela sociedade.
Para explorar melhor esse novo mundo, o jogo deixa de lado o estilo plataforma de ação e adota uma curiosa forma de gameplay.
Um novo jogo, uma nova forma de jogar Mega Man
A gameplay de Mega Man Battle Network pode ser dividida em duas partes: a exploração e o combate.
Na parte da exploração, somos apresentados a um mapa com visão isométrica, onde controlamos Lan para navegá-lo, conversando com NPCs para progredir a história ou conseguir novos equipamentos e melhorias para Mega Man.
Durante esses trechos, podemos encontrar aparelhos que podem ser investigados por Mega Man, trocando nossa perspectiva para o personagem dentro da máquina, no mundo virtual. Nesse momento, o jogo ainda funciona igual à navegação do mundo real, mas com seus próprios estilos visuais e NPCs para interagir e realizar ações semelhantes.
É durante a exploração do ciberespaço que podemos encontrar a segunda parte da gameplay.
Do combate em plataformas para combate em tabuleiro?
Durante a exploração do mundo virtual, Mega Man pode ser atacado por alguns vírus ou outros NetNavis, mudando a tela para uma nova perspectiva.
Agora ficamos diante de um "tabuleiro" de 6x3 painéis, metade azul e metade vermelho. Essa divisão de cores indica o limite de movimentação tanto de Mega Man quanto de seus inimigos, e o combate ocorre em tempo real nessa estrutura. Tanto a movimentação quanto o alcance dos ataques são delimitados por esses painéis, semelhante aos jogos de RPG tático.
Em meio à ação, Mega Man dispõe de sua clássica Mega Buster, usada para dar tiros rápidos ou concentrar um ataque mais forte, mas ela não é tão efetiva quantos nos outros jogos da franquia, servindo mais como uma fonte secundária de dano.
Seu verdadeiro arsenal de habilidades está nos Battle Chips, um tipo de cartão de memória que pode ser enviado a Mega Man para lhe conceder os mais diversos tipos de poderes, tanto de ataque quanto de defesa.
Eles são colecionados durante sua gameplay, seja derrotando inimigos, comprando em lojas ou até como prêmio em sidequests. Os Chips variam desde um simples tiro de canhão, um golpe de espada, uma bomba ou até coisas um pouco mais inusitadas, como um vírus estrela-do-mar que prende os inimigos em bolhas. A variedade de opções é imensa.
É hora do... Netbattle?
Como citado anteriormente, durante os confrontos contra inimigos, chamados de NetBattle, sua principal fonte de ações vem dos Battle Chips. Eles agem como as cartas de jogos de coleção, como Yu-Gi-Oh ou Magic: The Gathering, onde você constrói seu Deck (chamado Folder no jogo), que deve conter 30 de uma centena de opções, moldando sua estratégia de luta.
Cada um funciona como uma ação única, seja um ataque, defesa ou outra função. Eles são disponibilizados no combate através da Custom Screen, um menu que surge logo no início de um confronto, apresentando 5 Battle Chips aleatórios. O jogador deve decidir quais deles e em que ordem irá usá-los, sabendo que essas decisões não podem ser mudadas ao fechar esse menu.
Encerrando essa seleção, o menu some e o jogador é liberado para enfrentar seus inimigos no tabuleiro. Caso não consiga finalizar seus inimigos e fique sem Battle Chips, ele deve aguardar o carregamento da Custom Bar, um cronômetro indicado por uma barra no topo da tela. Quando ela enche, o jogador pressiona um dos botões (normalmente o L ou R) e reabre a Custom Screen, onde pode selecionar novos Battle Chips.
Deve-se ter muito cuidado com o uso dos chips em combate, pois, durante uma luta, o jogador está restrito aos 30 previamente selecionados. Eles não irão retornar para sua mão até que o confronto tenha sido finalizado.
Tudo isso cria um estilo de luta inusitado, combinando a ação da luta em tempo real, mesmo com tudo restrito ao sistema de painéis, ao mesmo tempo que abre espaço para planejamento e organização durante a abertura da sua Custom Screen.
Confrontos para além do single player
Tudo isso ainda pode ser aproveitado em um cenário de multiplayer, onde, ao conectar dois GBAs, é possível fazer trocas de Battle Chips e, principalmente, realizar combates entre os jogadores, cada um se utilizando de seu próprio Folder construído durante a gameplay.
Os primeiros jogos da série não exploravam muito esse modo de jogo, mas, a cada novo título, mudanças e melhorias voltadas ao combate iam enriquecendo as possibilidades estratégicas e criando um campo fértil para um cenário mais competitivo e balanceado.
Uma linha do tempo
A série Mega Man Battle Network teve um total de seis jogos principais, onde, em cada novo título, novas mecânicas eram introduzidas e outras melhoradas e expandidas. Vamos rever brevemente algumas dessas adições ao combate.
Mega Man Battle Network 1
Foi o responsável por iniciar esse estilo de jogo e, como o primeiro, apresentava vários problemas, como variedade de Battle Chips um tanto limitada e pouca customização de Mega Man fora do Folder, mas, sem ele, a série poderia nunca ter existido.
Mega Man Battle Network 2
Além de melhorar o jogo anterior em vários aspectos, introduziu o primeiro sistema de transformações à série, o Style Change. Essa transformação era obtida ao lutarmos várias vezes seguindo um modo específico de luta, mudando Mega Man para se adaptar a esse "estilo" de combate.
Por exemplo: ao lutar várias vezes focando em usar sua Buster, ele ganhava o Guts Style, dobrando o dano da Mega Buster e ganhando Super Armor, uma habilidade que impede de Mega Man sofrer recuo de ataques inimigos.
Ao focar em combos de Battle Chips, ganhava-se a Custom Style, que expandia a Custom Screen com 7 Chips aos invés de 5.
Mega Man Battle Network 3 - White/Blue
Aqui tivemos a padronização dos Battle Chips em três categorias: Standard, Mega e Giga. A categoria Standard abrangia a maioria dos Chips, existindo mais como uma forma de separar eles das duas outras categorias.
Os Mega Chips continham poderes que, nas condições certas, poderiam causar danos imensos ou conceder algum outro benefício de grande valor. Por conta disso, por padrão, um Folder só poderia ter 5 desses Chips, impedindo a criação de Folders muito desbalanceados.
Por fim, os Giga Chips abrigavam habilidades que por si só eram devastadoras e, combinados com outros Chips, poderiam literalmente garantir a vitória. Só era possível possuir um Chip dessa categoria no folder.
Nesse título, também foi introduzido o Navi Custom, um sistema de equipamentos curioso. Você tinha acesso a um tabuleiro de 4x4 quadros (podendo ser expandido no decorrer do jogo), que poderiam ser preenchidos com peças, cada uma representando alguma habilidade ou melhora de atributo. Existe uma série de regras a serem seguidas nesse quebra-cabeça para evitar efeitos colaterais como Bugs, representados na forma de malefícios a Mega Man em combate.
Mega Man Battle Network 4 - Red Sun/Blue Moon
Aqui, o Style Change foi trocado pelo chamado Double Soul, onde, ao sacrificar um Chip de um certo elemento, Mega Man poderia receber as habilidades de outros NetNavis que ele tenha conhecido e "aprendido o poder de seu espírito".
Essa transformação era limitada a três turnos (um turno é contado a cada nova abertura de Custom Screen), mas os benefícios ganhos nesse tempo eram poderosos o suficiente para valer a pena essa restrição.
As habilidades incluíam mudar o ataque concentrado de Mega Man, ganhar bônus de dano em certos Battle Chips e até afetar sua Custom Screen com habilidades de manipular seus Chips.
Foi nesse jogo também que foram introduzidos os Dark Chips, uma categoria de Chips com poderosas habilidades, mas que traziam consequências drásticas a Mega Man, como reduzir permanentemente seus pontos de vida ou te impedir de usar certos Chips considerados "puros".
Mega Man Battle Network 5 - Team Protoman/Team Colonel
No geral ele trouxe inúmeras melhorias aos sistemas introduzidos nos jogos anteriores, principalmente para as transformações de Double Soul, que agora interagiam mais diretamente com o sistema do Navi Custom, com peças próprias para isso.
Eles também criaram as chamadas Liberation Missions, onde se controlava um time de NetNavis junto de Mega Man para resgatar áreas do Ciberespaço dominadas por inimigos, através de um novo sistema de exploração de mapa que trazia inúmeras mecanicas dos RPGs táticos.
Mega Man Battle Network 6 - Cybeast Falzar/Cybeast Gregar
Aqui, tivemos a troca do sistema Double Soul por não uma, mas duas novas formas de transformação. A primeira foi o Cross System, que, semelhante ao Double Soul, permitia Mega Man obter os poderes de outros NetNavis para utilizá-los em combate, mas agora sem a necessidade de sacrificar um Chip para ser ativado e sem limite de duração.
A outra transformação foi o Beast Out, na qual Mega Man libera o poder de uma poderosa criatura para aprimorar suas habilidades, lhe garantindo poderes como bônus de dano em Chips de elemento neutro, a capacidade de saltar em direção ao inimigo para alinhar ataques automaticamente e até ataques específicos ao sacrificar um Battle Chip, mas ela era limitada á três turnos de duração.
Essas duas trasnformações podem ser combinadas para criar o Cross Beast, unindo as habilidades das duas tranformações e ganhando um poderoso ataque sacrificando um Battle Chip.
Um curioso combate ainda acessível
O combate de Mega Man Battle Network pode ser definido como um "RPG Tático de Ação com Coleção de Cartas (ou Battle Chips)", uma combinação que pode soar estranho, mas que possui uma série inteira para mostrar que é possivel.
Se por acaso você ficou interessado em testar pessoalmente esse combate, saiba que a Capcom lançou Mega Man Battle Network Legacy Collection para Switch, PC e PS4. Essa coletânea possui todos os jogos principais da série e foi incluido um sistema de multiplayer online, permitindo trocas e batalhas entre jogadores. A versão de Switch ainda conta com um sistema de multiplayer local, permitindo experienciar o combate como na época do Game Boy Advance.
Espero que vocês tenham aprendido algo novo com esse texto, e comentem aí, já conheciam esse curioso estilo de combate?
Revisão: Davi Sousa
Narração: Anderson Kroeff
