Análise: The Thing: Remastered é um clássico revivido intocado, para o bem ou para o mal

Considerado um dos melhores jogos baseados em filmes, remaster tem qualidade, mas marcas do tempo visíveis.

Jogos baseados em filmes são uma roleta russa. Existem muito mais exemplos de adaptações terríveis do que boas. Para cada GoldenEye 007 ou Alien Isolation, existem dezenas de Fast & Furious Crossroads.


No meio deles, está The Thing, baseado no filme homônimo (em português, O Enigma do Outro Mundo), que foi super bem-recebido por sua jogabilidade forte e sua ambientação atmosférica, digna do filme que adapta. Mas será que seu relançamento como The Thing: Remastered captura a mesma emoção ou revela sua aparência verdadeira? Se confia em mim, venha comigo.

Among Us antes de Among Us

O jogo é situado pouco depois dos eventos do filme, com dois times das forças especiais dos Estados Unidos chegando às ruínas do Posto 31, destruído com toda comoção provocada pelo alienígena. O líder do time Bravo, Blake, descobre a sucata inacabada do OVNI criado pela Coisa-Blair, o corpo congelado de Childs, um dos sobreviventes do desastre, e uma fita gravada por MacReady, detalhando o processo de duplicação e cujo corpo estava faltando.

A mando de seu superior, Whitley, Blake e seu time armam bombas para destruir todo Posto, mas o protagonista quer saber como está o time Alpha. Assim, ele vai até o posto mais próximo, uma base norueguesa, e cai numa extensa teia conspiratória, sem conseguir discernir quem é humano e quem é alienígena.

Ladrão de rostos

The Thing: Remastered opera de uma forma bastante simples. Controlando Blake, o jogador pode correr, agachar e atirar com diferentes tipos de armas, como pistolas, escopetas e lança-chamas. Além disso, existe uma variedade boa de itens para usar, como kit de primeiros socorros, sinalizadores e vacinas de adrenalina para manter seu time na linha, sendo que Blake pode ter até três membros na equipe, divididos em três categorias: engenheiro (reparando mecanismos quebrados), médico (podendo curar Blake e o resto da equipe sem precisar de kit de primeiros socorros) e soldado (a melhor classe para atacar os alienígenas).

Um dos temas mais importantes da franquia The Thing é confiança. Como o alienígena pode assumir a forma de qualquer ser vivo, é difícil adivinhar quem é pessoa e quem é monstro a olho nu.

Com isso, Blake precisa ficar de olho na sua equipe e manter a confiança deles alta com o tenente, seja usando o teste de sangue para provar a humanidade dos membros, protegendo-os dos ataques alienígenas e dando armamentos para se sentirem seguros. Com confiança alta, o time segue Blake melhor e opera em melhor sinergia.

Se a confiança estiver baixa, não apenas eles não vão seguir corretamente o jogador, mas também podem até se rebelar e tentar atacar uns aos outros.

O Monstro era–

Antes de jogar The Thing Remastered, eu assisti às três adaptações cinematográficas e li a novel que inspirou a criação delas. Além de serem projetos que sempre tive vontade de conferir, eu quis ter uma visão geral do jogo em cima dos dois primeiros filmes e me apaixonei pelos dois primeiros longas e estou adorando a novel.

Com isso, eu posso dizer que o jogo é uma adaptação boa do material original. A ambientação no início é espetacular, emanando o horror e tensão do clássico de John Carpenter, com uma recriação fiel dos postos 31 e norueguês. Senti certa recompensa pessoal em notar detalhes como a forca na cabana de Blair ou o corpo congelado com a garganta cortada; além disso, existem conquistas para desbloquear, o que é sempre divertido em um jogo.

No entanto, o sentimento de terror absoluto é substituído ao longo da jogatina por frenesi de tiro, algo que poderia funcionar se tivesse mantido o clima tenso como na série Dead Space. Jogando, eu senti que o jogo estava tentando se aproximar mais de Resident Evil do que The Thing, o que poderia ser bom e ruim ao mesmo tempo. Existiam momentos que transmitiam medo, mas a maior parte do tempo era tiroteio e ação.

E sobre o combate, é aí que as coisas se complicam. Por bem ou por mal, o jogo opera como quando foi lançado, com uma mira bem travada e movimentos artificiais.

Certos jogos fazem sua jogabilidade propositalmente difícil para desafiar o jogador (como Metal Gear, Resident Evil e Silent Hill); em The Things Remastered, no entanto, eu senti que os comandos estavam duros por descaso mesmo. Começou a ficar bastante irritante tentar matar os alienígenas e impedir que meus colegas fossem infectados, ao ponto que era completamente inútil tentar salvá-los.

O erro mais crasso do jogo, no entanto, jaz em seu tempo de carregamento. São longos e torturantes minutos entre fases, carregar o save e até para renderizar propriamente os modelos dos personagens na tela de seleção.

O jogo também está completamente em inglês, sem nem legendas para o português, inibindo a imersão do jogador com a história. Mesmo as escolhas do roteiro tirando boa parte do charme do mistério da história original, ainda é insultante que existem jogos que não são traduzidos para nosso idioma.

Por fim, em análises passadas, eu disse que todo relançamento que se preze deve incluir rascunhos e desenvolvimento de seus jogos para fins de preservação e curiosidade. Esse meu pensamento se estende inclusive para ports de remakes, e The Thing Remastered segue moderadamente esse conceito.

Estão disponíveis algumas artes conceituais e modelos de personagens para poder visualizar, além do trailer do jogo (entregando completamente o vilão “secreto” da narrativa). São pequenos agrados e uma oportunidade desperdiçada por não adicionar mais como elementos dos dois primeiros filmes ou até da novel para preservação, mas são coisas ainda legais de se ver.

Sangue na neve

The Thing: Remastered não é um jogo ruim, muito menos uma adaptação ruim. Comparado a aberrações da natureza como certas “pérolas” da época do PS2, ele é superefetivo e seu sistema de confiança e combate é bastante revolucionário — e respeita bem o legado de O Enigma do Outro Mundo (melhor que a prequela de 2011).

Porém, seria inocência dizer que ele é infalível ou até uma das melhores adaptações de filmes em jogos já feitas. Francamente, um remake teria sido melhor do que um simples remaster, mas não é algo que arruinou o meu dia. Ele continua sendo uma adaptação muito boa.

Tirando o tempo de carregamento abusivo, a priorização de ação ao invés de terror e alguns problemas de gameplay, eu me diverti jogando, mas com certeza é algo que eu não tentaria saber quem é o impostor tão rapidamente.

Prós

  • Gráficos remasterizados bem-feitos;
  • Bônus de relançamento legais;
  • Conquistas disponíveis na versão Switch;
  • Clima de terror tenso e fiel ao material original;
  • Sistema de confiança interessante que instiga o cuidado com os colegas de time.

Contras

  • Comandos arcaicos que não envelheceram tão bem;
  • Falta de tradução para português brasileiro;
  • Tempo de carregamento absurdamente longo;
  • História destrói boa parte do mistério interessante do filme.
The Thing: Remastered - Switch/PS4/PS5/PC/XBO/XSX - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nightdive Studios
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Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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