Análise: Loco Motive: um trem do barulho

Assassinato no Expresso Oriente bate de frente com LucasArts para entregar um point and click do barulho.

Nos anos 90, duas empresas reinavam com punho de ferro no PC: a Id Software, com aventuras FPS cheias de ação graças a DOOM e Quake…, e LucasArts, uma subsidiária da LucasFilm, fazendo todos rirem com seus point and click geniais e hilários.


Day of the Tentacle, Monkey Island, Full Throttle e toda a odisseia da dupla Sam & Max, o gênero não foi o mesmo desde que a empresa foi fechada. Então chegamos a Loco Motive, pegando a mesma vibe desses clássicos engraçados. Mas será que vale a pena entrar nesse trem ou esperar o próximo? Pegue seu ticket e venha comigo, já estamos zarpando.

Apertem os cintos: A véia morreu!

Como uma boa história, começa com um assassinato. Lady Unterwald, dona de um império de ferrovias, convida diversas pessoas (entre amigos e familiares) para seu trem mais avantajado, o Reuss Express, para fazê-los ansiosos diante de um anúncio importante referente ao seu legado.

À sua disposição está Arthur Ackerman, seu advogado de enorme confiança, que está redigindo as atualizações recentes de seu testamento… até que ele, acidentalmente, deixa a papelada voar pela janela. Quando Unterwald está prestes a revelar o herdeiro de suas posses, as luzes se apagam e a idosa é assassinada, causando enorme comoção nos convidados. Assim, cabe a Arthur encontrar o testamento no trem e descobrir quem é o assassino.

E não é apenas com Arthur que a história se desenrola. Herman Merman, autoproclamado detetive (e escritor de qualidade duvidosa), fora chamado também por Unterwald ao trem de luxo, pouco depois de conseguir publicar seu mais novo livro (nada mais do que um plágio de uma narrativa escrita por um detetive realmente experiente e competente), caindo em 1001 trapalhadas e loucuras para espiar um insistente moço, determinado em comprar o império de Unterwald. Por fim, Diana, uma agente secreta, infiltra-se na locomotiva para desmascarar uma conspiração que ameaça o império da Lady Unterwald.

Corre que o maquinista vem aí!

Loco Motive contém uma jogabilidade bastante simples, mas interessante como jogo point and click. Controlando um dos personagens, é possível andar livremente pelos espaços 2D e conferir praticamente tudo no ambiente, seja conversando com pessoas ou surrupiando objetos “deixados” por aí, como desentupidores, imãs e cabides.

Todo e qualquer item tem uma utilidade, basta desvendar com um pouco de senso comum (ou ingenuidade) para ver as consequências de suas ações. Além disso, é possível combinar certos itens para atingir os objetivos, tudo com muita velocidade e simplicidade. É de extrema importância conversar com as pessoas, seja para descobrir mais sobre elas/sobre o mundo ou simplesmente conseguir ótimas tiradas de sarro.

Tá todo mundo louco!

O jogo roda muito bem no Switch, tendo apenas um longo carregamento para começar o jogo de fato e pouquíssimos bugs que travam o game, bem raros. De resto? Sem engasgos entre cenas, respostas rápidas para os objetos e pouca enrolação de linguiça entre conversas. Seus puzzles são bastante simples, mas sem insultar a inteligência do jogador e, nas poucas vezes que podem acontecer um empecilho, o telefone na parede é a solução certa, praticamente oferecendo a resposta na lata.

O grande trunfo de Loco Motive, no entanto, jaz em sua apresentação. Seus gráficos pixelados são belíssimos e cheios de expressão, oferecendo boas gargalhadas com as diferentes situações absurdas, como o nervosismo de um chef diante de um ratinho ou as animações close up dignas do espírito LucasArts. Além disso, sua trilha sonora baseada em jazz é bastante legal, evocando forte o sentimento de mistério, ao mesmo tempo sendo cômica.

Fora dos trilhos!

Sua história é muito boa, com reviravoltas mirabolantes e um mistério genuinamente intrigante, além dos personagens bastante charmosos e divertidos, inclusive com referências geniais (um personagem visualmente idêntico a Orson Welles e bêbado como no famoso comercial de champanhe?! Absolutamente genial) e piadas extremamente engraçadas. Nada soa forçado, e Loco Motive consegue ter identidade própria, bebendo do suco LucasArts, porém conseguindo ser seu próprio produto.

Seu maior defeito, no entanto, é a ausência de legendas em português brasileiro. A dublagem em inglês é excepcional, igualmente louca e hilária, mas a quantidade de texto e história pode assustar aqueles que não são familiarizados com inglês. Atualmente, não existem planos para mais idiomas, mas o time de desenvolvimento assegurou que vai se atentar ao feedback que receberem.

Fim da linha!

Loco Motive chegou de repente, sem muito anúncio e estardalhaço, não prometendo nada e entregando tudo. Uma história pitoresca, personagens coloridos, jogabilidade firme e visuais gloriosos, é um dos melhores point and click atuais.

Na ausência dos projetos da LucasArts (exceto por Sam & Max, que continuam loucos com novos lançamentos e remasters), este é um herdeiro digno da herança do estilo belo e insano de ricos como Guybrush e Ben. Espero que tenham gostado de nosso expresso, voltem sempre.

Prós 

  • História muito bem escrita, com um mistério genuinamente intrigante;
  • Personagens coloridos e marcantes;
  • Trilha sonora excelente e evocando bastante o clima noir;
  • Gráficos pixelados belíssimos e expressivos;
  • Praticamente sem carregamentos;
  • Puzzles divertidos e que não subestimam a inteligência do jogador.

Contras

  • Carregamento inicial absurdamente demorado;
  • Raros bugs que travam o jogo;
  • Uso do recurso touch desperdiçado;
  • Falta de localização em português brasileiro.
Loco Motive - PC/Switch - Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Chucklefish
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Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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