Eis que em 2024, a publisher e a Deck Nine (atual responsável pela série) decidiram trazer Max de volta em Life is Strange: Double Exposure. Na nova história, Max agora é uma fotógrafa convidada em uma universidade prestigiada, mas um caso bizarro leva a personagem a ter que lidar novamente com poderes misteriosos.
Entre dois mundos
Double Exposure se passa anos após os eventos do primeiro Life is Strange. Max agora já não é mais aquela adolescente cheia de medos e esperanças para o futuro, mas o seu passado em Arcadia Bay ainda deixa marcas. Independente de qual escolha ela tomou ao final do jogo, a perda foi incomensurável.
Agora, com novos amigos e uma nova vida na Universidade de Caledon, Max tem criado novos laços. Infelizmente, a vida dela irá novamente virar de ponta-cabeça com a morte misteriosa de sua atual melhor amiga, Safi.
Esse evento é o pontapé inicial para que a personagem descubra uma nova habilidade: viajar entre duas realidades paralelas. Na versão alternativa do seu mundo, Safi ainda está viva, levando Max a procurar respostas e bisbilhotar a vida de várias pessoas, usando seu novo poder para resolver pequenos puzzles.
Sem entrar em detalhes além desses elementos que haviam sido divulgados antes do lançamento, a trama tem um mistério central interessante e reviravoltas inesperadas. Infelizmente, boa parte das escolhas acaba afetando de forma mínima a progressão, apenas alterando um pouco os diálogos e tendo um impacto que acaba quase se resumindo aos relacionamentos com outros personagens apenas.
Uma história sobre pessoas
No fim das contas, o ponto central das escolhas está nos relacionamentos com os indivíduos e na forma como queremos ser vistos por eles. O jogo tem um elenco universitário carismático e conhecemos um pouco das suas vidas não apenas na trama, mas também em uma rede social disponível no celular in-game.
Além dos trejeitos e detalhes das animações faciais dos personagens nos encontros cara-a-cara, é divertido ler os comentários e ver as dinâmicas entre eles. Flertes, conflitos, fofocas contadas pela metade, indiretas claras o suficiente para as pessoas notarem de quem está falando... São interações que soam bem naturais.
O que ajuda a deixar tudo melhor é o fato do jogo contar com legendas em português do Brasil, algo presente em todos os títulos da franquia. Embora o áudio não tenha a mesma opção, a tradução é majoritariamente satisfatória, tendo raríssimos casos de escolhas ruins na adaptação, que acaba sendo feita para melhor se adequar ao contexto jovem e a uma escrita que soe natural na nossa língua.
Um erro fatal
Quando se fala de jogos rodando no Switch, especialmente agora já sete anos após seu lançamento, o tópico performance é inevitável. De forma geral, esse não é um problema tão grande em si. Caso o jogador não o compare diretamente com uma versão de hardware superior (como a de PC), o título é bonito, rico em detalhes e roda bem no Switch.
Porém, há dois pontos em particular que podem ser inconvenientes. O primeiro deles é o loading das cenas, que demora bastante, e ainda é possível ver algumas texturas carregando depois de forma muito clara. O outro problema é o uso de um efeito de desfoque, que deixa detalhes da tela muito borrados e atrapalha muitas cenas.
Na prática, esses detalhes são fáceis de relevar durante a jogatina, mas eles infelizmente estão longe de ser os piores problemas. A verdade é que o jogo conta com vários bugs e encarei vários deles durante a minha jornada, incluindo um que levou à perda total dos meus dados salvos.
Alguns bugs foram apenas defeitos visuais engraçados, como um celular voando sem ninguém porque o personagem estava sem modelo ou ver objetos e pessoas sendo transportados de um ponto a outro da tela durante uma conversa. Porém, também tive que forçar o jogo a fechar porque havia congelado no menu de pause após horas em stand-by no Switch e o meu save foi corrompido em um crash no final do penúltimo capítulo.
Enquanto a primeira situação foi facilmente contornada, a segunda me forçou a recomeçar a experiência do zero. Afinal, assim como alguns outros jogos narrativos similares, o título opta por obrigar o jogador a ser refém do auto-save. Sem liberdade para criar saves manuais e sem um arquivo de “dados de sistema” como o que existe em várias visual novels de múltiplas ramificações, a perda acaba se tornando ainda mais grave.
Acessibilidade e qualidade de vida
Outro ponto importante de se destacar é a grande quantidade de elementos de acessibilidade do jogo. É possível pular trechos de gameplay mais complexos, ajustar o tamanho e os fundos das legendas, modificar a frequência com que Max realiza monólogos sobre o que fazer e ativar alertas para situações que podem ser gatilhos para alguns jogadores.
Infelizmente, mesmo no tamanho máximo, o texto ainda pode ser pequeno para alguns jogadores. É notável em particular que os menus poderiam aproveitar melhor os espaços disponíveis em tela.
Em termos de controles, podemos ajustar os botões, mas o jogo estranhamente altera várias ações associadas ao mesmo botão junto mesmo quando elas não têm nenhuma conexão real com a que mudamos. Também não temos suporte a toque, o que poderia deixar os menus mais intuitivos.
Por fim, não temos um log para registrar os diálogos vistos nem quaisquer opções para acelerar ou saltar um pouco as falas (embora haja a funcionalidade no modo exploração). Essas funcionalidades são interessantes para jogos narrativos e é uma pena a sua ausência, mas, de forma geral, Double Exposure possui opções boas de acessibilidade.
Um jogo que merece mais polimento
Life is Strange: Double Exposure é uma aventura bem interessante e curti bastante o meu tempo explorando a sua narrativa. Infelizmente, a versão do Switch possui problemas graves, especialmente nos bugs que podem levar à total perda de progresso. Tomara que isso seja corrigido em atualizações o mais rápido possível, pois é uma obra agradável e que valeria a pena explorar sem medo.
Prós
- O mistério central é envolvente e cheio de reviravoltas curiosas;
- Bom trabalho de construção de mundo, com subnarrativas e personagens carismáticos;
- Tradução em português do Brasil bem adaptada e natural com expressões adequadas ao contexto;
- Em geral, o jogo é bastante rico em opções de acessibilidade.
Contras
- Boa parte das escolhas acabam tendo impactos rasos na trama principal, embora afetem os relacionamentos e reações dos personagens;
- Bugs variados, que vão desde pequenos erros de animação a crashes que corrompem o save;
- A presença exclusiva de autosave e inexistência de um save global de sistema agravam os potenciais problemas com o save;
- O uso de efeitos de desfoque acaba deixando várias cenas muito borradas;
- Apesar de ter opções de tamanho de letra, vários textos continuam pequenos para o modo portátil do Switch;
- Ausência de suporte a toque e configuração de botões desnecessariamente limitada;
- Loadings podem ser um pouco demorados e é possível ver texturas carregando durante as cenas;
- Ausência de log e skip.
Life is Strange: Double Exposure — Switch/PC/PS5/XSX — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix