Análise: Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered é o retorno glorioso de dois clássicos do PS1

Os dois primeiros capítulos da saga vingativa de Raziel contra Kain agora com visuais polidos e uma tonelada de conteúdo extra.

Caro leitor, eu lhe pergunto: você já teve algum filme, brinquedo, jogo ou comida que queria muito ter experimentado quando mais novo, mas não conseguiu até chegar na fase adulta? Legacy of Kain é um desses exemplos para mim, uma vez que a mera arte na caixa do meu PS1 me deixou com muita vontade de jogar, mas nunca chegou ao meu alcance.


Até o anúncio de Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered, despertando memórias nostálgicas e desejos enterrados na minha alma. Após quase duas décadas de espera, vale a pena cumprir um desejo antigo ou a realização é inferior à expectativa? Bom, levante-se nesta terra desolada e venha comigo.

A desolação de Kain

Nosgoth, no passado, era uma terra gloriosa e próspera. Até que o maligno vampiro Kain tomou controle e corrompeu tudo. Entre os soldados do lorde está Raziel, poderoso e respeitado. Quando este revela suas asas para seu senhor, Kain fica com inveja de sua evolução e teme por seu poder.

Assim, ele corta as asas de Raziel e o joga no Abismo, ficando lá por centenas de anos. Revivido por uma entidade misteriosa chamada Elder God, Raziel consegue agora transitar entre o mundo físico e o astral, partindo em uma jornada para enfrentar seus antigos conterrâneos e se vingar de Kain.

No segundo jogo, a saga de Raziel contra Kain continua, mas tomando um rumo inesperado quando Raziel decide que está cansado de ser manipulado por aqueles que lhe rondam, procurando liberdade absoluta e relembrar seu passado como humano, antes de toda matança.

Um dos pontos mais altos de Legacy of Kain sempre foi sua história bem escrita, com personagens extremamente interessantes, temas profundos e lore ainda mais profunda e, dado como esta é uma remasterização, a narrativa continua massiva e gloriosa.

Estaca no coração

A Aspyr (o estúdio responsável pela remasterização, tal como do relançamento da grandiosa trilogia de Tomb Raider para PS1), prezou em manter a jogabilidade a mais fiel possível, então ambos os jogos estão como eram quando foram lançados 20 anos atrás, o que é uma coisa boa e ruim ao mesmo tempo. O combate de Soul Reaver é como se fosse um constante puzzle pois, devido a natureza vampiresca dos inimigos, eles precisam ser afogados, queimados ou empalados para morrerem definitivamente, além de terem suas almas sugadas, ou irão voltar.

É bastante satisfatório despachar essas criaturas bastardas de volta à escuridão de onde vieram, mas também mostra o quão rudimentar essa mecânica era, com um sistema de mira não muito eficaz e o combate parecendo lento e travado. Não apenas no combate que os comandos podem ser um tanto frustrantes de lidar, mas na própria exploração do universo.

Raziel pode andar, pular, se agachar, planar e mover blocos para solucionar puzzles. Na maioria das vezes, esses comandos funcionam muito bem, mas também podem causar frustração, como tentar andar até o limite de uma plataforma para poder fazer um salto preciso, mas Raziel corre um pouco mais rápido e cai na água. Ou a simples tarefa de levantar um bloco até o objetivo, mas é preciso tomar o caminho mais longo.

Sem contar a câmera temperamental, que não consegue simplesmente ficar atrás de Raziel e precisa ficar alternando ângulos em diversos momentos.

Em questão de performance, não tive muitos problemas enquanto jogava, com carregamentos bastante rápidos e sem engasgos na jogabilidade. Notei alguns bugs visuais (como modelos transpassando uns pelos outros), mas assumo que é para deixar a experiência tão fiel quanto a original. Eu tive, no entanto, o desprazer de experimentar dois crashes enquanto jogava, forçando o software a fechar automaticamente. Ainda bem que eu tinha salvo antes, senão teria sido um problema enorme. Seria interessante se, pelo menos, tivessem adicionado a opção de salvar a qualquer momento em Soul Reaver 2 (opção disponível apenas no primeiro jogo) e salvamento automático para melhor experiência.

Anjo da morte

Mas não é apenas de frustrações que Soul Reaver é composto. Como dito antes, apesar de seus problemas na jogabilidade, ainda é bastante satisfatório controlar Raziel e derrotar inimigos. Não só isso, como coletar as almas dessas criaturas nefastas serve mais do que apenas curar as feridas de Raziel.

Como dito por Elder God, a forma física que Raziel toma no Plano Terreno é frágil e efêmera, sendo necessário consumir essas essências para se manter vivo, ou então ser levado de volta ao Plano Espectral. Transitar entre os dois planos funciona também como soluções de puzzle, onde partes de um mundo se encaixam são diferentes de outras. Uma mecânica comum nos dias atuais em certos jogos, porém isso foi bastante revolucionário na época do seu lançamento.

Além disso, como na coleção de Tomb Raider, é possível alterar os gráficos a qualquer momento com o apertar do R3, alternando entre os visuais clássicos e remasterizados. A mudança não é tão perceptível como na outra coleção da Aspyr, mas é sempre legal poder ter essa opção em relançamentos. Também tem a opção de um modo fotografia (apertando L3 e R3 juntos) que sempre é bem vindo.

Por mais que a seleção de jogos excelentes seja bastante agradável, no entanto, me deixa confuso por serem apenas dois de uma saga de cinco títulos. Não apenas isso, mas os títulos omitidos, são bastante importantes para a série. Blood Omen (o primeiro jogo) é focado em Kain e mostra sua jornada inteira, levando aos eventos de Soul Reaver. Blood Omen 2 (o quarto jogo) relata mais sobre a odisseia de Kain e, por fim, Defiance é a conclusão épica da rivalidade entre Raziel, Kain e Moebius.

Pelo menos a coleção consegue ser um dos melhores exemplos de relançamentos que já vi em um aspecto muito importante. Em análises passadas, eu disse que todo relançamento que se preze deve incluir rascunhos e desenvolvimento de seus jogos para fins de preservação e curiosidade. Esse meu pensamento se estende inclusive para ports de remakes, e Legacy of Kain Remastered é um exemplo glorioso desse meu pensamento. Uma tonelada de extras para acessar como Lore de Nosgoth, perfis dos dubladores, fanarts e cosplays de fãs, artes conceituais e níveis cortados, é uma seleção muito bela que mostra o carinho e amor que Legacy of Kain tem na sua produção e com os fãs. Infelizmente, o jogo todo está em inglês, então a acessibilidade de compreensão é afetada, mas ainda assim é um prato cheio de preservação.

Cain e Abel – Digo, Kain e Raziel

Depois de 20 anos ansiando por esses jogos, como me sinto? Aliviado e satisfeito, honestamente. Mesmo com seus erros vulgares e rugas do tempo, Legacy of Kain é uma aventura singular e poderosa. Personagens carismáticos, história rica e universo imersivo, com ótima ambientação e trilha sonora fantástica, são produtos de uma era longínqua que deixaram sua marca como narrativas sombrias, mas com ar de esperança.

Agora só resta a expectativa do relançamento dos títulos restantes para trazer a glória de Nosgoth de volta.

Prós

  • Personagens complexos e carismáticos, com atuação de voz de ponta;
  • História interessante, com universo único e lore imersiva;
  • Excelente trilha sonora e ambientação gótica, sem ser embaraçosa;
  • Dois títulos de qualidade, trazidos com gráficos intercambiáveis;
  • Fantástica seleção de bônus de relançamento;
  • Adição de mapa para melhorar na exploração do primeiro jogo.

Contras

  • Falta de salvamentos automáticos e salvamentos manuais, o que pode prejudicar a experiência;
  • Apenas dois jogos inclusos, comparados a outras coletâneas;
  • Comandos datados, podendo deixar o combate tedioso;
  • Ausência de português brasileiro.
Legacy of Kain Soul Reaver 1&2 Remastered — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aspyr Media
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Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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