Uma fantasia clássica de RPG japonês
Fantasian conta a história de Leo, um jovem rapaz que acaba perdendo a memória em um misterioso mundo mecânico. Após encontrar uma máquina de teletransporte, ele volta ao mundo humano, que está sendo tomado por uma corrupção maquínica chamada de mechteria, e parte em uma jornada para recuperar a sua memória.
Ao longo do caminho, ele irá conhecer vários aliados e aprender a verdade sobre questões mais complexas do mundo em que vive. Em particular, a ambientação combina elementos de magia, tecnologia avançada e disputas entre deuses para criar uma história relativamente simples, mas bem estruturada e instigante.
Um detalhe que chama a atenção no jogo é o fato de que tramas secundárias, como memórias dos personagens, são apresentadas como pequenos contos. Essas sequências incluem ilustrações muito bonitas para dar vida às cenas do passado e sua composição remete a essa sensação de estar abrindo um livro de contos de fada.
Em particular, os personagens são muito charmosos e com bastante carisma. Não é necessário gastar muito tempo os apresentando para adicioná-los à jornada e fazer com que, mesmo assim, eles tenham uma aura de personalidade e relevância junto com boas motivações para que os jogadores se interessem por eles.
O jogo também conta com dublagem em inglês e japonês para os personagens durante os trechos principais da narrativa e as batalhas. Infelizmente, a escolha de voz só pode ser feita no menu principal, então é necessário sair do jogo para alternar entre inglês e japonês se o jogador quiser testar as diferenças. Além disso, as vozes japonesas podem sair em linhas diferentes, não acompanhando o texto em inglês.
Conflitos vetoriais
Fantasian Neo Dimension é um RPG baseado em turnos, dando ao jogador a chance de planejar suas jogadas com tranquilidade. Temos até três personagens à nossa disposição, mas há mais aliados disponíveis com algumas variações em momentos específicos da trama.
Cada personagem possui uma lista própria de habilidades, sendo possível usá-los de formas diferentes no combate. Alguns são mais alinhados ao ataque, à cura ou possuem algumas peculiaridades. Um bom exemplo disso é Ez, cujas técnicas são baseadas em consumo de itens.
Ao escolhermos uma habilidade, temos opções que variam em alinhamento elemental, poder, consumo de MP/HP/itens e trajetória. É fundamental saber explorar as fraquezas dos inimigos e o seu posicionamento em combate para poder derrotá-los. Essa avaliação é ainda mais importante para lidar com os chefões, cujas lógicas de combate podem variar bastante ao longo do jogo.
O que chama atenção em particular no combate é lidar com as trajetórias dos nossos golpes. Assim como na série Trails ou em Death end re;Quest, os golpes podem afetar uma área específica, sendo importante que o jogador avalie qual trajetória seria mais indicada para eliminá-los.
Porém, ao contrário dos outros jogos que mencionei, nossos personagens são posicionados em uma fileira fixa. Com isso, os ângulos que podemos atingir são mais limitados, e a ordem da equipe faz diferença.
Os ataques podem ser voltados a atingir um único inimigo, penetrantes ou em área. Um golpe com os dois primeiros tipos pode ter formato de trajetória em arco ou em reta, alterando drasticamente seu alcance. Além disso, alguns inimigos específicos bloqueiam golpes perfuradores, sendo importante planejar como contorná-los.
No canto inferior da tela é possível ver a ordem dos turnos, outro elemento importante para a avaliação do jogador. Em certos momentos, pode ser melhor focar em um inimigo para eliminá-lo rapidamente e evitar que o seu turno chegue.
Dimengeon: a máquina de grinding
Uma mecânica bastante interessante do jogo é a Dimengeon. A ideia é que podemos usar essa máquina para juntar monstros e, depois, enfrentá-los. A quantidade que pode ser reunida é limitada e seremos forçados a um encontro caso ultrapassemos o valor máximo.
Graças a esse sistema, podemos reduzir os combates temporariamente e controlar um pouco o momento em que queremos enfrentar batalhas. Apenas lutas contra criaturas já vistas anteriormente (e que não sejam especiais) são afetadas, reduzindo um pouco da repetição.
Uma vez que o número máximo seja atingido ou que o jogador abra a Dimengeon manualmente, enfrentamos uma larga horda de criaturas. Quando o grupo é muito grande, nem todos aparecem de uma vez, fazendo com que a batalha tenha um sistema de “ondas”.
Vale destacar ainda que podemos ajustar nossos equipamentos e recuperar HP e MP antes de encarar o desafio. Além disso, a partir de um ponto avançado da trama, liberamos uma árvore de habilidades que podemos ajustar à vontade para abusar dos sistemas e testar combinações diferentes.
Dos céus aos infernos
Outro fator que precisa ser levado em conta é o fato de termos um mundo todo feito em dioramas. A estética é maravilhosa como conceito e entrega ambientes verdadeiramente únicos, mas há um estranho borramento que os deixa um pouco artificiais e ruins de olhar.
Também temos como ponto negativo a forma como a câmera fixa é alterada ao longo da experiência. O ângulo muda de forma brusca em vários momentos da exploração, e isso, por algum motivo, atrapalha os controles, deixando a movimentação com o analógico confusa. É muitas vezes melhor simplesmente soltar o analógico para poder usá-lo só depois de resetar o seu posicionamento.
Nesse sentido, é uma pena que o jogo simplesmente descarte o controle de toque, que era o padrão de sua versão de iOS. No Switch, em modo portátil, seria uma ótima forma alternativa de interagir com menus e ajustar as trajetórias dos golpes em combate. Também não temos um log de diálogos, embora seja possível rever as cenas das memórias desbloqueadas e ler um resumo dos eventos anteriores.
Uma nova dimensão para a fantasia clássica
Prós
- Sistema de turno curioso em que devemos levar em consideração a trajetória dos golpes;
- Chefões e inimigos com lógicas variadas que exigem um bom domínio do combate;
- Curiosas tramas secundárias apresentadas como pequenos contos;
- Personagens carismáticos;
- Trilha sonora de altíssima qualidade composta por Nobuo Uematsu;
- O sistema de Dimengeon é uma forma inovadora e confortável de controlar o grinding;
- Ambientes visualmente impactantes e únicos em estilo diorama.
Contras
- A mudança abrupta de câmera dificulta a exploração ao mudar o referencial de controle direcional do jogador;
- Ambientes muito borrados;
- Ausência de suporte à tela de toque e log de diálogos (embora seja possível rever as cenas de “memórias”);
- Necessidade de sair para o menu principal para trocar a dublagem.
Fantasian Neo Dimension — Switch/PC/PS4/PS5/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix
