Triforce: simbolismo e símbolos

Item central de diversos jogos da franquia Zelda, a Triforce não é apenas um mero triângulo dourado.

em 11/12/2024

No reino de Hyrule, além das raças como Hylians, Gorons, Zoras, Ritos, Gerudos e afins, uma força rege o lugar, e nenhuma criatura é capaz de fazer frente a suas deusas. Peça central de vários embates nos jogos da franquia The Legend of Zelda, a Triforce desempenha um papel de equilíbrio desde sua criação, conforme mostrado em Ocarina of Time.



Força, Sabedoria e Coragem: são essas as qualidades de Din, Nayru e Farore, as principais deusas de The Legend of Zelda, que esperam que o portador da Triforce tenha para poder realizar seu desejo.

Diversas vezes foi dito que quem tocar o triângulo dourado terá sua vontade realizada e, por consequência, levará o mundo a uma era de paz ou um período de terror determinado pelo coração de quem deseja.

Algumas das pessoas que tiveram seus pedidos realizados foram:

Ganondorf

O Rei Ladrão dos Gerudos e representação da Triforce do Poder é muito mais do que a simples personificação do ódio de Demise. Embora destinado ao mal devido ao ciclo eterno de perseguição às encarnações do heroi e da deusa Hylia, Ganondorf revela em The Wind Waker que seu desejo vai além da dominação. Ele não busca apenas a terra de Hyrule, mas também almeja levar prosperidade ao seu povo, os Gerudos.

Esse desejo, no entanto, é permeado por um sentimento de inveja em relação à abundância que as deusas concederam aos descendentes de Hylia, criando um contraste poderoso entre suas ambições e suas ações, que, sempre que são bem-sucedidas, levam Hyrule a uma época de guerra e a distorções de mundos, como a Terra Dourada se tornando Dark World em A Link to the Past.
"Meu país ficava em um vasto deserto. Quando o sol subia ao céu, um vento ardente castigava nossas terras, queimando o mundo ao redor. E quando a lua ascendia na escuridão da noite, um vento gélido atravessava nossos lares. Não importava o momento, o vento sempre trazia a mesma coisa... a morte. Mas os ventos que sopravam pelos campos verdes de Hyrule traziam algo diferente, algo além de sofrimento e destruição. Acho que eu cobicei aquele vento."  (Ganondorf, em The Legend of Zelda: The Wind Waker)

Rei Daphnes Nohansen Hyrule

 Além do Rei do Mal, outro membro da realeza, desta vez originário de Hyrule, fez um pedido no mesmo jogo, disfarçado de Rei dos Leões Vermelhos. Durante toda a jornada, ele serviu como guia para Link, inicialmente, seu desejo era reerguer o reino caído, mas, ao ver os esforços do Herói dos Ventos e de Tetra, a “nova” Zelda da era, ele repensou suas intenções e, assim, clamou às deusas por uma nova era, reconhecendo que o tempo do antigo reino já havia passado e que era chegada a vez da nova geração criar seu próprio caminho. Assim, ele abriu o caminho para Nova Hyrule nascer na linha do tempo em que o heroi sumiu.

“Eu vivi lamentando o passado. E eu enfrentei esses arrependimentos. Se eu pudesse fazer as coisas de novo... Não passou um dia da minha vida sem que meus pensamentos retornassem ao meu reino de antigamente. Eu vivi preso a Hyrule. Nesse sentido, eu era o mesmo que Ganondorf.” ( Rei Dapnes Nohansen Hyrule em The Legend of Zelda: The Wind Waker)
Em retrospecto, esses desejos eram, em sua essência, egoístas, um em mérito de apenas uma raça que já nem existia mais e outro almejando a restauração de uma glória que já havia passado, mas esse último acabou se tornando um clamor de esperança após a era sem um heroi.

Entretanto, não só de egoísmo se fazem esses desejos; muitas vezes, o triângulo sagrado é usado por bons portadores, que precisam de seu poder para dar a normalidade ou uma era dourada para os habitantes do seu mundo.

Link e Zelda

Os protagonistas da série frequentemente utilizam a Triforce não para buscar riquezas, mas para restaurar o que foi perdido, como a paz ou até mesmo reinos inteiros. Um dos pedidos mais emocionantes da franquia ocorre em The Legend of Zelda: A Link Between Worlds. Neste jogo, Link e Zelda, diante da Triforce restaurada, fazem um pedido que comove profundamente a Princesa Hilda de Lorule. Ao lado de Ravio, ela observa o retorno da Triforce ao seu reino, destruído pelas guerras, agora simbolizando um futuro promissor, semelhante ao nascer do sol que iluminava seu território.

Embora não tão intensos quanto os desejos dos reis que tiveram seus pedidos atendidos, os desejos de Link e Zelda são mais altruístas e frequentemente responsáveis por resolver conflitos. Isso faz com que a Triforce se torne um poderoso catalisador, trazendo o equilíbrio de volta ao reino.

Embora o presente das deusas sempre seja cobiçado junto, suas partes separadas não são de se jogar fora. Quando alguém desequilibrado, como Ganondorf, faz o pedido para ela, embora seu desejo seja atendido, há uma consequência: a Triforce se quebra em pelo menos três (iremos falar um pouco mais disso adiante). A parte que o indivíduo mais cobiça fica para si e as outras duas vão para aqueles que melhor representam esses traços, geralmente indo para a princesa e seu herói.

Caso isso aconteça, cabe a quem desejou buscar as outras partes para evitar ter seu desejo desfeito ou  não fazê-lo; no caso de Ocarina of Time, isso rendeu uma dor de cabeça de 7 anos para o Rei do Mal.

Acontecendo das partes se esconderem na palma da mão dos seus hospedeiros aparecendo em momentos de perigo (como quando Link se tornou lobo pela primeira vez em Twilight Princess) ou reunidos como na imagem a seguir:
"Meu único erro foi subestimar um pouco o poder desse garoto... Não... não era o poder do garoto que eu subestimei, era o poder da Triforce da Coragem! Mas, com a Triforce da Sabedoria que a Zelda possui... Quando eu obtiver essas duas Triforces... Então, me tornarei o verdadeiro governante do mundo!!" (Ganondorf em The Legend of Zelda: Ocarina of Time)

Unidas, elas são a representação do poder dourado das deusas, entretanto mesmo separadas, elas ainda são artefatos poderosos sendo estes:

Triforce do Poder

 

Protegida pela deusa Din, que, com seus fortes e flamejantes braços, cultivou e criou a terra vermelha, representa a força pura que dá ao portador, sempre sendo associada ao fogo. Por sua natureza dominante e reativa, é a parte que geralmente fica em posse de Ganondorf.

É importante ressaltar que, embora usada majoritariamente por motivos egoístas pelo Rei Gerudo, a Triforce do Poder se mantém neutra, apenas agindo como o portador quer. Além disso, quem a carrega é marcado por uma extraordinária vontade de viver. Isso é evidente ao observarmos os danos massivos sofridos pelo Rei Gerudo ao longo dos anos e sua surpreendente resiliência. Desde Ocarina of Time, Ganondorf permanece como a mesma encarnação do vilão, resistindo a inúmeras derrotas, desafiando os limites da mortalidade e sofrendo suas derrotas por meios muito específicos, como a Espada Mestre e as Flechas de Prata.

Por muitas vezes, sua essência é vinculada ao fogo, tanto que, em Ocarina of Time, um dos presentes da Grande Fada para ajudar Link em sua jornada é Din´s Fire, um círculo de fogo essencial para prosseguir no jogo.

Triforce da Sabedoria

Traço de Nayru, fonte das leis fundamentais que governam o mundo, a Triforce da Sabedoria traz conceitos como espaço-tempo em sua onipotência, dotando seu mestre de uma parte da grande sabedoria da deusa e sendo comumente associada ao elemento da água. Nayru também pode ser reverenciada como a deusa do tempo. 

Sendo um traço tão mutável como o rio do tempo, a Triforce da Sabedoria garante habilidades místicas e até de transformações, como podemos ver por sua principal portadora, a Princesa Zelda, que, por seu enorme dever de proteção, já chegou a se disfarçar de Sheik, Tetra e a dividi-la em 8 partes no jogo original ou passá-la provisoriamente para Midna, mantendo-a em segurança.

Seus presentes geralmente não são ofensivos, como Nayru's Love, que serve como uma defesa mágica. Ao utilizar esse poder, Link fica imune a danos por um curto período de tempo, o que é particularmente útil em batalhas difíceis ou em áreas repletas de inimigos poderosos.

Triforce da Coragem


O presente de Farore. Fonte de toda a vida do reino, a Triforce da Coragem é sempre o símbolo de Link e, por consequência, do jogador. Embora ela não aparente ser tão grandiosa como suas outras partes, tem um papel fundamental, protegendo seu usuário de forças malignas, não permitindo recuar, por pior que seja a ameaça, além de garantir habilidades místicas, — não como os protegidos de Nayru, mas necessárias para o combate ao mal.
Suas dádivas costumam ser ágeis, como Farore´s Wind, habilidade de transporte rápido que leva seu usuário a um ponto estabelecido ou à entrada das fortalezas. Sua preferência é por espadachins justos que trazem consigo um forte senso de dever para levar a paz ao mundo em épocas de guerra.

Além disso, a Triforce da Coragem pode conceder ao portador a capacidade de dominar os diversos espólios colocados à disposição do herói escolhido pelas deusas. Isso é particularmente evidente em Breath of the Wild, onde Link demonstra habilidade em utilizar todas as armas disponíveis no jogo, adaptando-se a diferentes estilos de combate com maestria.

Além dos já citados herois e vilão da franquia, há outras figuras homônimas às deusas de Hyrule que carregam suas essências: os Oráculos. Com os mesmos nomes das divindades, elas desempenham um papel central nos jogos Oracle of Ages e Oracle of Seasons. Nessas aventuras, Link é enviado pela Triforce aos reinos de Labrynna e Holodrum, onde precisa enfrentar desafios e restaurar o equilíbrio, exibindo toda a coragem necessária que um portador de um dos pedaços da Triforce pode ter.

Din, Oráculo das Estações

Introduzida como uma dançarina talentosa e vibrante, Din é capaz de alegrar qualquer ambiente em Holodrum com sua energia contagiante e carisma. Apesar de sua natureza festiva, ela demonstra grande responsabilidade em seu papel como Oráculo das Estações, optando por não usar sua habilidade de manipular o clima para interferir no equilíbrio natural, permitindo que as estações sigam seu curso.
Din vive com uma trupe de artistas, usando a vida itinerante como forma de se esconder do perigoso General Onox, que ameaça seu reino. Consciente da importância do Cajado das Estações, ela confia em Link para recuperá-lo e utilizá-lo para restaurar a ordem em Holodrum, uma tarefa crucial após sua captura.
Além de sua determinação e senso de dever, Din é marcada por sua personalidade calorosa e envolvente. Sempre disposta a celebrar, ela frequentemente convida aqueles ao seu redor a se juntar a ela em suas danças, como mostrado no início do jogo, quando chama Link para dançar antes de os eventos que abalam Holodrum terem início.

Nayru, Oráculo das Eras

Com uma natureza profundamente pacífica, Nayru irradia serenidade, uma qualidade tão marcante que até os animais ao seu redor permanecem tranquilos em sua presença. Esse dom de apaziguar é evidenciado no início do jogo, quando ela encanta a todos com sua apresentação, refletindo sua harmonia com o reino de Labrynna, terra que depende de sua sabedoria e equilíbrio.
Além de sua personalidade cativante, Nayru é a guardiã da poderosa Harpa das Eras, um artefato mágico que dá ao seu usuário o poder viajar no tempo. Esse objeto desempenha um papel fundamental na restauração da estabilidade de Labrynna, ao permitir que Link atravesse as eras para resolver problemas que ameaçam o futuro do reino.

No entanto, Nayru não está imune ao perigo. Ela se torna vítima de Veran, que a possui e utiliza sua aparência e comportamento para enganar a todos ao seu redor, incluindo seus aliados mais próximos. Sob o controle de Veran, Nayru passa a ser uma ferramenta para os planos nefastos da vilã, obscurecendo a linha entre a verdade e a ilusão enquanto o caos se espalha pelo reino.

Essa situação coloca ainda mais em evidência a importância de Nayru, cuja libertação não é apenas essencial para derrotar Veran, mas também para restaurar o equilíbrio de que Labrynna tanto precisa, reafirmando seu papel como símbolo de sabedoria e harmonia.

Farore, Oráculo dos Segredos

Embora Farore não seja protagonista de um título na série, sua importância não deve ser esquecida. Diferentemente das oráculos Nayru e Din, ela não está no centro das tramas principais de Oracle of Ages e Oracle of Seasons, mas desempenha um papel indispensável como a Oráculo dos Segredos, conectando os reinos de Labrynna e Holodrum e auxiliando Link em sua jornada.
Farore é responsável pelo sistema de senhas que liga os dois jogos, permitindo ao herói compartilhar segredos entre os mundos, desbloquear novos desafios e enfrentar perigos extras. Esse papel, embora discreto, é fundamental para o desenrolar completo das histórias. Sua contribuição vai além dos olhos imediatos, sendo essencial para que os jogadores alcancem o verdadeiro final dos jogos gêmeos, enfrentando o confronto derradeiro contra os vilões.

Mesmo fora dos holofotes, assim como Link, Farore carrega a essência da coragem, alinhando-se à Triforce que ela representa.

Embora os Oráculos das Eras, Estações e Segredos não detenham a Triforce em si, eles carregam o peso das qualidades das deusas em seus corações. Como mediadores entre os reinos e as forças cósmicas, eles representam a continuidade do equilíbrio que a Triforce busca preservar, sendo igualmente capazes de influenciar destinos, guiar heróis e restaurar o que foi perdido.

Mais que uma preciosidade

Além de um tesouro sagrado, a Triforce é um presente que as deusas deixaram como um símbolo de criação e renovação. Seu papel vai além da simples obtenção de domínio, sendo uma força que molda o destino e preserva o equilíbrio entre os mundos, sempre refletindo os desejos mais profundos de quem a empunha.

A história da Triforce é a história de Hyrule e de seus habitantes. Cada pedaço de sua essência molda o destino dos que buscam sua grandeza. Mas, em última instância, a verdadeira lição que a Triforce nos oferece não é sobre a obtenção de poder, mas sobre o uso do poder com sabedoria, coragem e, principalmente, equilíbrio. Que, como Link, possamos sempre usar os dons das deusas para restaurar a harmonia, seja em Hyrule ou nos outros reinos que precisam de equilíbrio.

Revisão: Davi Sousa
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