Análise: Sonic x Shadow Generations — dose dupla de aventuras que exploram o passado e o futuro

Sonic Generations retorna aliado a uma campanha recheada de ação ao estilo de Shadow.

em 07/11/2024


Se Sonic x Shadow Generations fosse apenas um remaster de Sonic Generations, um clássico do aniversário dos 20 anos da franquia na época, o valor agregado já seria grande, pois seria a primeira vez que teríamos sua versão HD disponível em um console Nintendo. O pacote que este título oferece, no entanto, também inclui uma nova aventura paralela focada em Shadow, uma experiência tão bem-construída que deixa o produto completo ainda mais interessante e nos intriga com os rumos futuros da franquia.

Duas aventuras, dois Sonics




Sonic x Shadow Generations funciona como uma coleção de duas experiências e garante que o jogador esteja ciente disso cedo — logo na primeira tela, podemos selecionar se gostaríamos de iniciar Sonic Generations ou o novo Shadow Generations, ambos com seus saves e configurações totalmente à parte. Essa disposição lembra a de Super Mario 3D World + Bowser’s Fury, outro remaster que apresentava uma aventura paralela como extra.

Ao selecionar Sonic Generations, somos apresentados ao jogo de 2011 de forma praticamente intacta ao original. Sua história ainda continua simples — um monstrengo aparece e perturba a festa de aniversário de Sonic, teletransportando todos os seus amigos para um mundo atemporal em que tudo é branco. Resta ao ouriço, junto de sua versão clássica do passado, resgatar seus amigos e restaurar o espaço-tempo danificado pela nova ameaça.

Apesar de a trama continuar a mesma, os diálogos do jogo foram todos redublados e, em algumas vezes, alterados. As alterações são pequenas e quase supérfluas, algumas servindo para recontextualizar alguns personagens com suas personalidades atuais — um exemplo é Amy, que recentemente tem se distanciado da sua personalidade obsessiva a Sonic e o remaster altera suas falas para criar maior coesão a tal mudança.

Muitas gerações



Quanto à aventura, o jogo ainda consiste em explorar fases recriadas de diversos jogos antigos da série. Cada estágio contém dois atos, o primeiro dedicado a uma gameplay 2D que simula as aventuras do Mega Drive com o Sonic Clássico e o segundo voltado à jogabilidade 3D de alta velocidade com o uso do turbo pelo Sonic Moderno, inspirada em títulos como Sonic Unleashed e Sonic Colors.

Ambos os estilos se complementam bem, mesmo que no caso dos primeiros atos, diferentemente de Sonic Mania, a recriação da jogabilidade clássica não seja totalmente fiel aos jogos dos anos 90. As fases são sempre muito coloridas, recheadas de bifurcações e complexidade, além de reinterpretarem momentos icônicos de suas inspirações, como a perseguição do caminhão da G.U.N de City Escape do Sonic Adventure 2 ou a queda do terreno da Sky Sanctuary de Sonic & Knuckles.

Os jogadores devem progredir através de um simples hub 2D no chamado “Espaço Branco”, um mundo criado por Time Eater, o vilão monstrengo, em que o tempo está em pausa. Há muitos coletáveis espalhados pelo espaço, como músicas e artes conceituais da franquia, que podem ser resgatados ao completar desafios extras pelos estágios. Os desafios variam de qualidade, mas, no pior dos casos, não prolongam muito sua estadia.




Ainda sobre coletáveis, em termos de novidade do remaster, temos a inclusão de diversos Chao espalhados pelas fases para serem coletados. Cada ato possui três bichinhos e eles preenchem uma enciclopédia na sala de coleção ao serem resgatados. Como estão bem escondidos, os Chao servem como incentivo para os jogadores explorarem áreas distintas dos estágios, mas sua recompensa é pouco interessante para que haja um interesse contínuo na busca.

Outra novidade é a introdução da habilidade Drop Dash, proveniente de Sonic Mania, para ambas as versões de Sonic. Enquanto que para o ouriço clássico ela funciona bem como um impulso extra, mesmo que não tão poderoso quanto o Spin Dash, poucos são os casos de uso para o Sonic Moderno, já que seu turbo cobre uma alta velocidade instantânea e torna a adição supérflua.




A maior novidade para os brasileiros, no entanto, é a inclusão de uma localização em português brasileiro, para ambos os Generations, que continua a tradição recente da Sega com seus títulos. A tradução aqui ainda deixa um pouco a desejar, com decisões estranhas como a insistência em não traduzir certos termos como “Rings”, mas a inclusão é bem-vinda.

Infelizmente, as maiores novidades de Sonic Generations param por aí. Problemas do jogo original, como a luta final que é confusa, desajeitada e pouco divertida, não foram consertados e seguem presentes, o que é uma oportunidade perdida. Isso ressalta que quase todo o esforço deste pacote foi direcionado para a outra aventura – Shadow Generations.

A forma de vida suprema



Do outro lado do Espaço Branco, temos a grande novidade deste remaster. O “Ano do Shadow”, como vem sendo chamado pelo marketing, colocou o ouriço anti-herói de volta aos holofotes a fim de reintroduzi-lo a tempo de vermos sua estreia nas telonas de Sonic 3 – O Filme. Shadow Generations, como parte desta campanha, cumpre bem esse objetivo e vai muito além.

A nova aventura revisita encontros e fases do passado – e futuro – de Shadow, assim como reconta sua história de origem. A trama tem seu estopim paralelamente a Sonic Generations: enquanto os amigos de Sonic estão participando de sua festa de aniversário, Shadow chega à antiga estação da A.R.K no espaço, a fim de investigar movimentações estranhas detectadas pela agência governamental G.U.N.



Após atravessar a colônia, a forma de vida suprema logo descobre que quem está por trás de tais movimentações é Black Doom, seu antigo arqui-inimigo primeiramente apresentado em seu jogo solo de 2005. Antes mesmo que o ouriço possa assimilar o que descobriu, ele é sugado pelo Time Eater para o mesmo espaço atemporal que trancafiou Sonic e seus amigos, e agora terá que deter a ameaça de seu nêmesis, assim como achar algum jeito de sair desta situação.

Pela sua jornada, Shadow reencontrará amigos que também estão dentro daquele universo criado pelo monstrengo do tempo. Omega e Rouge, seus velhos companheiros da formação Team Dark, marcarão presença, porém, é com Maria e Gerald Robotnik que o ouriço ficará tocado.



O cientista, avô de Eggman, foi seu criador, e Maria por muito tempo viveu ao seu lado, quase como uma irmã, mas teve sua vida interrompida em um ataque militar — um evento que marca a história e ira de Shadow por muito tempo. A trama reexplora interações entre esses personagens enquanto o protagonista lida com a nova velha ameaça.

Embora o roteiro não seja complexo, e é até previsível, a qualidade dos diálogos e das animações em cenas impressionam e superam à qualidade apresentada por Sonic Generations, o que torna a história mais interessante de acompanhar.

Uma jogabilidade refinada



Shadow, de início, tem acesso à sua própria versão do Espaço Branco, porém seu hub é mais extensivo – é totalmente tridimensional e inspirado nas “Open Zones” de Sonic Frontiers. Você poderá navegar por plataformas, molas e até mesmo cumprir pequenos desafios de coletas de anéis dentro daquela área, a fim de encontrar os diversos coletáveis espalhados pelo mundo que variam de artes a folhas do diário de Gerald, um item voltado para a “lore” por trás da criação do personagem.

Diferentemente das áreas de Frontiers, as plataformas deste hub não possuem problemas de “drop distance”, ou seja, não aparecem e desaparecem totalmente a pouca distância do jogador. Dado o escopo menor, o polimento é visivelmente maior na forma como elas se encaixam ao ambiente, evitando a sensação de estarmos vendo blocos espalhados pelo ar colocados por um editor de níveis, outro problema do jogo anterior.

Seus estágios também são acessíveis dentro deste Espaço Branco e apresentam lugares icônicos de outros títulos da série. Rail Canyon de Sonic Heroes e Kingdom Valley de Sonic 2006, por exemplo, são algumas das inclusões, mas há algumas estranhezas na lista, como a falta na representação de algum estágio do jogo solo de Shadow e a inclusão de Chaos Island de Sonic Frontiers, jogo em que o personagem sequer aparece. Ao todo são seis fases, três a menos que Sonic Generations, e elas também são divididas em dois atos, um totalmente tridimensional e o outro em 2D.



Os estágios 3D de Shadow Generations funcionam de forma similar aos do Sonic Moderno — são grandes maratonas de reação rápida, desafios de plataforma e o uso sábio da habilidade turbo. As diferenças, entretanto, começam com a construção dos níveis, que aqui são mais extensivos horizontalmente e por muitas vezes mais abertos, contendo muitos caminhos alternativos e alto fator replay. Até mesmo as fases 2D estão recheadas de rotas paralelas, acompanhadas de jogos de câmera que as tornam mais dinâmicas e complexas.

Os controles do ouriço também diferem — seu turbo possui uma velocidade limite menor que Sonic, porém em troca há um maior controle de sua movimentação horizontal. Unindo isso à inclusão de um pulo duplo, Shadow consegue ter um controle mais preciso em momentos mais voltados à plataforma, um problema que é muito comum nos jogos de estilo Boost.

Os novos poderes de Shadow

O maior frescor de jogabilidade, no entanto, é ressaltado com as habilidades únicas que o protagonista tem a seu dispor. Chaos Control, por exemplo, pausa completamente o tempo por alguns segundos e permite que o ouriço alinhe plataformas móveis, pause elementos do cenário para usá-los a seu favor ou então reduza a contagem de tempo para facilitar a conquista de um bom rank ao fim do percurso.




Outras de suas habilidades são desbloqueadas gradativamente pela campanha e tratam-se de poderes únicos com a influência de Black Doom, chamados de Doom Powers. Eles funcionam de forma similar aos Wisps de Sonic Colors, pois são mais situacionais e possuem estágios mais dedicados ao seu uso.

É possível, por exemplo, surfar pelas águas com o Doom Surf ou então mandar um inimigo à distância e projetar-se junto a ele com Doom Blast. As Doom Spears, por sua vez, permitem o uso de diversas lanças para atingir vários inimigos ou objetos a distância simultaneamente, e o Doom Wing, um dos mais radicais, dá asas a Shadow e a habilidade de voar por todo o cenário a custo da barra de turbo.

Não só essas habilidades extras servem para modificar o fluxo dos estágios, como elas também conseguem trazer um aumento do fator replay. Muitos caminhos e segredos estão atrás de seu uso adequado e, além disso, para o Doom Wing há uma contagem de Rank separada caso você escolha habilitar o poder ao entrar no estágio, o que incentiva a rejogar as fases de uma outra forma.



O único poder que podemos dizer que é um pouco mal explicado é o Doom Morph — ele torna Shadow numa espécie de lula que pode percorrer por espaços preenchidos por um líquido roxo e permite utilizar uma espécie de cipó. O que o jogo pouco explica é que se usarmos o cipó e cancelarmos seu uso antes de completar a trajetória, o ouriço é projetado à direção oposta para qual está apontando, e isso é um conhecimento essencial para alguns caminhos alternativos.

Claro que há a presença de lutas de chefes para complementar a jornada do ouriço preto, assim como em Sonic Generations, porém elas estão ainda melhores. Os desafios estão bem-construídos, por vezes fazendo bom uso dos Doom Powers, e possuem uma apresentação ímpar — é divertido ver a qualidade das animações e as pequenas cenas visuais que intercalam fases da luta ou simplesmente fecham as batalhas.

All Hail Shadow



Sonic x Shadow Generations é um pacote de duas joias da franquia, uma clássica e uma moderna. Com Shadow Generations, os desenvolvedores demonstraram a capacidade de aproveitar novos conceitos pouco polidos de Sonic Frontiers e entregá-los em maior qualidade aqui, evoluindo a série. O futuro da franquia está em boas mãos se o próximo jogo estiver no mesmo páreo do conteúdo que esta miniaventura entregou.

Prós

  • Duas experiências de alta qualidade dentro de um único pacote;
  • Estreia da versão HD de Sonic Generations em um console da Nintendo;
  • Animações e cenas de alto polimento que deixam a história em Shadow Generations mais interessante;
  • Os chefes de Shadow possuem maior espetáculo visual e aproveitam os poderes novos;
  • Apesar do escopo menor, o hub de Shadow é bem integrado e com menos problemas visuais se comparado ao de seu antecessor, Sonic Frontiers;
  • Estágios complexos e, com a ajuda dos Doom Powers, repletos de fator replay em Shadow Generations;
  • Inclusão de localização em português brasileiro.

Contras

  • Persistência de defeitos de Sonic Generations que não foram corrigidos com o remaster, como o confronto final;
  • Adição supérflua do Drop Dash ao Sonic Moderno;
  • A recompensa fraca dos Chao torna sua coleta pouco interessante em Sonic Generations;
  • A habilidade Doom Morph possui uma função pouco explicada dentro do jogo;
  • Infelizmente, a localização em português brasileiro varia em qualidade.
Sonic x Shadow Generations — Switch — Nota: 9.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA
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