Voidwrought é um metroidvania desenvolvido pela Powersnake e distribuído por Kwalee, que se destaca por sua direção de arte singular e uma estética sombria, inspirada em elementos lovecraftianos e na visceralidade de Cronenberg.
O jogador é introduzido a um universo decadente e misterioso, onde a missão é coletar o Icor, a essência dos deuses, assumindo o papel do Simulacro. Desde o início, a narrativa é fragmentada, incentivando a exploração cuidadosa de painéis e diálogos para revelar a rica lore escondida nas profundezas deste mundo desolado.
Desperte
Um prenúncio de nova era desponta com uma estrela vermelha no céu, e um casulo se rompe para dar vida ao Simulacro, que prontamente aceita sua missão: coletar o Icor, essência dos deuses, nas ruínas da Primeira Civilização, eliminando os falsos deuses ao longo do caminho. Essa é toda a informação inicial sobre o protagonista e a jornada que ele deve empreender.
Assim como diversos jogos com narrativas descentralizadas, a lore de Voidwrought é revelada gradualmente, por meio de diálogos e painéis escondidos. Essa abordagem complementa a atmosfera sombria e enigmática do jogo e acentua o tom lovecraftiano: há entidades além da compreensão humana, cujas existências só conduzem ao horror e à loucura.
No entanto, a narrativa, apesar de promissora, corre o risco de se perder em diálogos e textos enigmáticos. Sem a devida atenção, o jogador pode acabar desorientado e, após um tempo, esquecer o propósito de sua missão.
Lovecraft encontra Cronenberg.
Sem dúvida, um dos maiores pontos fortes de Voidwrought é sua direção de arte e estética. O design dos cenários, personagens e ambientes é meticulosamente trabalhado e muito inspirado — exceto, curiosamente, o personagem principal, que aparenta ser um tanto genérico. Os cenários transmitem de maneira eficaz o tom sombrio, com superfícies devastadas por estrelas sinistras, templos esquecidos e os vestígios de uma expedição condenada.
As criaturas e chefes do jogo têm um visual marcante e grotesco. É como se seres divinos, indiferentes e incompreensíveis de Lovecraft se unissem à criatividade horripilante de Cronenberg: criaturas biomecânicas com vísceras expostas e fundidas a mecanismos diversos, máquinas assassinas e corpos reanimados. Cada encontro revela um grotesco de forma visceral.
Os chefes se destacam ainda mais, intensificados por uma trilha sonora cuidadosamente composta, que acentua o tom imersivo dos combates, evocando solidão, desconforto e perigo no momento certo.
Combate frenético e mais veloz entre os metroidvanias
Outro ponto positivo em Voidwrought é sua progressão e jogabilidade. Ele segue a progressão tradicional de metroidvanias, onde o jogador inicialmente é limitado por falta de habilidades que vão sendo desbloqueadas ao longo da campanha, permitindo o acesso a novas áreas.
Muitas características clássicas do gênero estão presentes, como a habilidade de se agarrar em bordas, o dash, e curas limitadas. Destaca-se o uso dessas habilidades em desafios de plataforma, especialmente durante alguns combates com chefes.
O Simulacro pode obter almas e relíquias para aprimorar seu arsenal, se tornando altamente customizavel. As relíquias funcionam como armas secundárias versáteis, enquanto as almas fornecem atributos extras. Combinadas com a alta velocidade dos ataques básicos, essas mecânicas tornam os combates intensos e satisfatórios. No entanto, o movimento "down stab" é excessivamente eficaz, permitindo derrotar diversos inimigos, inclusive chefes, com facilidade.
Contudo, a dificuldade aqui é relativamente baixa para o gênero. Chefes interessantes têm padrões fáceis de decifrar, o que torna as batalhas mais fáceis, principalmente para jogadores experientes. Além disso, o jogo facilita o deslocamento por meio de teletransportes abundantes, o que pode comprometer a exploração, um elemento crucial para a imersão e a busca por segredos em jogos do gênero.
Impossível escapar à comparação
Voidwrought é claramente inspirado em Hollow Knight. Embora não seja um mero “hollow-clone”, as escolhas de mecânicas e a atmosfera misteriosa se assemelham a ele, mas com menor eficiência e carisma.
O jogo introduz boas ideias que poderiam ter sido melhor aproveitadas, como a área do santuário, para onde NPCs se dirigem e desbloqueiam alguns itens. Essa área poderia ter oferecido mais mistérios e segredos, aprofundando ainda mais a lore.
A habilidade de possessão de certos objetos, por exemplo, é subutilizada e serve apenas para ativar mecanismos, mas seu potencial poderia ter sido explorado de outras formas, especialmente em um universo tão grotesco e visceral.
Tem qualidades, mas poderia ter sido muito mais
Voidwrought é um metroidvania competente, com ótimas mecânicas, visual impactante e estilo artístico excepcional. No entanto, o jogo fica preso demais às suas inspirações, especialmente Hollow Knight, e acaba sendo mais fácil no geral, tanto na exploração quanto no combate.
Com um mundo rico em visuais e locais inspiradores, o jogador é convidado a explorar mais profundamente e a descobrir segredos sombrios, mas oferece menos desafios do que o esperado.
Embora as criaturas grotescas e ameaçadoras tenham um impacto visual, carecem do desafio esperado. Em resumo, Voidwrought, apesar de ser uma experiência interessante, acaba aquém de seu potencial pleno devido às suas limitações de originalidade, compensando na qualidade do combate e bons desafios de plataforma.
Mas com certeza é um jogo que deve ser experimentado.
Prós:
- Direção artística de encher os olhos e ótima trilha sonora;
- Quantidade impressionante de reliquias e almas;
- Combates satisfatórios e boa jogabilidade em geral;
- Tem alguns elementos que garantem originalidade em meio a um gênero saturado.
Contras:
- Se prende demais ao padrões básicos do gênero;
- Poderia oferecer mais desafio e dificuldade;
- A narrativa é obscura a ponto de se tornar ignorável.
Voidwrought—PC/Switch — Nota: 8Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Kwalee