De volta à ilha da morte
Virche Evermore é uma visual novel otome, tendo assim uma protagonista feminina e múltiplos interesses românticos masculinos. Apesar do tópico romance suscitar a expectativa de algo mais meloso por parte de muitas pessoas, o jogo está longe disso, sendo uma experiência bem dramática e edgy.
Na verdade, a obra conta a história de Ceres, uma jovem que viu várias pessoas queridas morrerem. Mesmo morando em Arpéchélé, uma ilha na qual as pessoas não vivem mais do que 23 anos, a garota era julgada pelos moradores locais como “A Morte”, como se fosse sua culpa a maldição a que eles estavam submetidos.
No jogo original, Ceres se envolve com vários rapazes e acaba descobrindo mais sobre as verdades mais sombrias da ilha graças a isso. Uma parte importante de Virche Evermore -ErroR: Salvation- era o fato de que não podíamos ter um final bom com os pretendentes antes de experimentar o gosto amargo de ver a garota e seus potenciais namorados sofrerem.
Quem esperava poder ter mais momentos de tranquilidade em EpiC: Lycoris se enganou bastante. Não seria Virche sem o toque edgy de estar sempre diante de situações tensas de morte e sofrimento, então essa perspectiva da ambientação continua aqui, embora o jogador já possa explorar as novas tramas de forma mais livre.
Uma expansão de possibilidades
Ao todo, temos cinco subgrupos de histórias, cada um dos quais expandindo a trama de formas diferentes. Primeiramente, temos Side Story - Interlude -, que inclui várias mini-histórias que se passam durante os eventos do jogo anterior. Elas retratam momentos bem diversos envolvendo os rapazes ou até mesmo com foco quase exclusivo em personagens secundários mais relevantes.
Já Side End - Encore - traz uma versão alternativa das rotas dos pares românticos. Nelas, os eventos mudam e determinados tópicos vêm à tona, afetando o desenvolvimento da trama. Em geral, são histórias tão trágicas quanto as do jogo original, mas revelando um pouco mais sobre os personagens.
Em Virche de la Coda -Émotion-, temos epílogos para as histórias originais, que é um tipo de conteúdo comum em fandisks. Porém, em vez de seguir apenas os finais bons, temos também sequências para os “Despair Endings”, nos oferecendo um mergulho ainda mais fundo nas tragédias de ErroR Salvation.
Por fim, as duas últimas histórias são interconectadas. Primeiramente, temos Tradition - Drifter -, que detalha como foi a vida do personagem que ficou conhecido na ilha como “Drifter”, por ter vindo de fora e trazido informações às quais a população nunca teve acesso antes. Ela explica também um pouco sobre a relação dele com Ankou, apresentando detalhes importantes de backstory.
Após concluir essa trama, o jogador pode acessar Virche de la Salut - Ankou -, que é uma rota exclusiva para o personagem, que não teve o mesmo nível de desenvolvimento romântico dos outros rapazes. Essa adição é o carro-chefe do jogo, trazendo um momento de destaque para a relação entre Ceres e Ankou.
As limitações de um fandisk
Por se tratar de um fandisk, EpiC Lycoris não é recomendado de nenhuma forma para quem não jogou a obra original. Esse tipo de conteúdo é uma expansão narrativa que só vale a pena se o jogador já conhece a trama e é fã do jogo e seus personagens. É inclusive daí que vem o nome “fandisk”, que indica um conteúdo extra feito para os fãs.
Infelizmente, mesmo em comparação com outros jogos desse tipo, EpiC Lycoris traz dificuldades adicionais. Falta aqui um bom resumo para destacar eventos, elementos da trama e outros detalhes que até quem jogou a VN há alguns meses já esqueceu. Há alguns momentos de introspecção dos personagens para explicar um pouco do que passaram, mas isso não é suficiente para contextualização.
Apesar dessa ausência, as histórias ainda conseguem ser repetitivas ocasionalmente e trabalhar com mudanças que pouco agregam à narrativa como um todo. O resultado é que há uma sensação geral de menos relevância do jogo em relação à sua base. Detalhes pouco verossímeis também continuam sendo parte da trama.
Por outro lado, voltar ao universo de Virche traz também as forças do jogo original. Temos aqui uma ambientação muito interessante com um toque macabro no qual dor, sofrimento e morte estão sempre à espreita. Isso não apenas é visível na trama, como também nos aspectos audiovisuais, com algumas cenas em que ambientes e personagens ficam cobertos de sangue e uma trilha sonora que abusa do lado emocional e soturno.
Também preciso destacar que todos os recursos básicos necessários para esse tipo de obra estão disponíveis. É muito cômodo explorar as histórias, que são separadas desde o início no menu, e usar saves e ferramentas de skip e leitura automática para rapidamente avançar pelo texto.
Por fim, gostaria de destacar que há um estranho uso de caixas de diálogo brancas para algumas conversas e para o log. Como o texto também usa a cor branca, isso pode dificultar a leitura, mesmo que as letras possuam contornos pretos.
Um fandisk interessante, mas limitado
Virche Evermore -EpiC: Lycoris- é um fandisk que nos leva de volta ao mundo de Arpéchélé com algumas adições curiosas à trama. Infelizmente, como usual desse tipo de produção, ele acaba sendo muito dependente do original para valer a pena para jogadores em geral. Porém, para fãs de Virche Evermore, temos aqui uma forma interessante de vivenciar mais alguns momentos com Ceres e seus belos namorados.
Prós
- Tramas alternativas, prólogos e epílogos que exploram bem as possibilidades do universo;
- Curiosa ambientação em uma ilha na qual a morte está sempre à espreita;
- Apresentação audiovisual de alta qualidade que reforça bem a ambientação;
- Todos os recursos básicos necessários para explorar a trama rapidamente e de forma cômoda.
Contras
- Trama totalmente dependente do jogo original;
- Ausência de um bom resumo para relembrar dos pontos centrais do original;
- Algumas histórias acabam sendo repetitivas e agregando pouco à narrativa;
- Alguns detalhes da trama são inverossímeis;
- O uso de fundo branco para algumas caixas de diálogo junto com letras brancas dificulta a leitura.
Virche Evermore -EpiC: Lycoris- — Switch — Nota: 7.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aksys Games