Desenvolvido pela Dotemu lançado em 5 de novembro de 2024, Metal Slug Tactics é uma tentativa ousada de revitalizar a clássica franquia de Arcade, Metal Slug, trazendo-a para um RPG tático.
O mesmo velho mundo
Metal Slug, em todos seus anos em serviço, nos levou para diversos lugares e situações. Da luta contra tiranos ditadores, por maldições e mutações, até invasões alienígenas. Sempre com sacralidade, caos, mas com sua roupagem de bom humor e comédia. Aqui, Metal Slug Tactics não se força a dar passos para longe de suas tradições, trazendo o eterno vilão e rival dos protagonistas de volta.
Nosso esquadrão está novamente tendo que lidar com o General Donald Morden, que não apenas escapou, como tem libertado seus antigos aliados e está novamente saindo em busca da conquista. A missão é simples, pará-lo. Simples na teoria, nada fácil na prática.
Visualmente nostálgico
Quem jogou Metal Slug nos arcades, com certeza vai olhar com nostalgia para Tactics. O jogo tenta manter o charme visual da série original com gráficos em pixel art aprimorados, que capturam a essência dos títulos anteriores enquanto introduzem novas animações e detalhes. Os ambientes são bem elaborados, cheios de referências aos jogos clássicos, mas com um toque moderno que explora o potencial gráfico das plataformas atuais, sem abandonar o teor cômico e a beleza de artes que parecem ter sido feitas a mão.
Os designs de personagens, máquinas, cenários, inimigos e chefes remetem completamente à versão clássica dos primeiros jogos, o que foi um grande alívio, já que a versão de outros jogos recentes da série, como Metal Slug: Awakening, não me agradou nenhum pouco.
Um Metal Slug Como nenhum outro
Metal Slug Tactics é completamente diferente dos jogos tradicionais da série em sua essência: ele não é um run and gun, muito pelo contrário. Se é possível dizer que tem um gênero inverso à ação frenética dos títulos run and gun de Metal Slug tradicional, esse é o RPG tático, que é exatamente o que Tactics é.
Ele introduz novas mecânicas de jogo que se encaixam bem no gênero de estratégia tática, RPG tático e também roguelite. É cadenciado, precisando de bastante atenção e tempo para observar e saber como se posicionar para ter o máximo de vantagens. Se sair na rapidez e impulsividade como nos jogos run and gun, não vai longe.
Algumas das mecânicas novas são muito interessantes e divertidas, mas que pressupõem ações e tomadas de risco maiores. A movimentação dos personagens é crucial, pois quanto mais longe eles se movem em um turno, maior é a pontuação de esquiva, o que reduz o dano recebido dos inimigos e mais recursos o personagem obtém, impedindo o jogador de ficar realizando movimentações curtas para chegar no adversário, dando mais dinâmica aos turnos.
Além disso, o sistema de cooperação entre personagens, onde ataques sincronizados podem ser realizados, adiciona uma camada de complexidade e recompensa muito boa ao jogo. É muito divertido ver os nossos personagens clássicos realizando ações em conjunto e aprimorando seus status após isso. Ao mesmo tempo que nos força a pensar estratégias de como colocá-los na melhor posição possível para conseguir o máximo de danos e benefícios contra os inimigos.
Aqui a estratégia, a movimentação, o posicionamento dos seus personagens de fato conta, trazendo benefícios e malefícios, afinal, por exemplo, uma bomba aliada pode ferir seus demais personagens, mesmo na sincronização.
Veículos, elementos no mapa e resets
Um elemento marcante e interessante na gameplay de Metal Slug Tactics é o uso de certos elementos do cenário, como barris explosivos e barricadas, que podem ser incorporados à estratégia durante os combates, além dos Metal Slugs, os tradicionais veículos blindados da série, que aparecem ocasionalmente em algumas fases. Esses elementos ampliam a variedade de ações e opções estratégicas disponíveis para o jogador.
O recurso de reset também é muito útil para corrigir decisões equivocadas, seja por falta de atenção ou por uma estratégia que não deu certo. Com o reset, é possível voltar ao início do último turno e tentar uma abordagem diferente, o que, embora nem sempre resolva a situação, ainda oferece uma chance adicional de acerto.
É um roguelite!
Curiosamente, Metal Slug Tactics abraça características de outro gênero além do RPG tático, como elementos de roguelite: áreas geradas proceduralmente, recompensas por missão (substituindo salas tradicionais de roguelites), upgrades permanentes mesmo depois de perder e ter que recomeçar as runs. Esse último ponto é muito importante, pois o jogo não é fácil, tanto pela dificuldade quanto pela sua complexidade, acarretando muitas derrotas e recomeço de runs.
Os mapas gerados proceduralmente ajudam, sobretudo, a prolongar a longevidade do jogo, reduzindo em parte a sensação de repetitividade que poderia surgir caso, a cada derrota, o jogador precisasse recomeçar enfrentando o mesmo desafio, mudando apenas a estratégia.
Apesar da mudança de gênero, o jogo consegue traduzir a experiência dos jogos originais para o novo formato. A mecânica run and gun é bem representada, e o uso de armas especiais e veículos é fiel ao espírito da série.
Complexidade sem necessidade
Este sequer é também um RPG tático comum. Embora todos os RPGs táticos impliquem pensamento estratégico por si só, Tactics vai além graças às suas diversas mecânicas e propriedades únicas. O jogo apresenta um grau de desafio interessante, especialmente nas batalhas contra chefes, que exigem muitas vezes gerenciar posição e movimentação de uma forma muito mais intensa.
No entanto, a falta de variedade nas missões e a dependência de habilidades de adrenalina para cumprir objetivos rapidamente podem diminuir a sensação de desafio ao longo do tempo.
Mas o maior incômodo com o jogo foi a quantidade de informações colocadas da forma mais estranha possível. Para verificar informações, saber sobre efeitos, habilidades ou mesmo o que determinados elementos são, é preciso ficar abrindo painéis de informação, que liberam mais painéis e mais painéis de texto — pequenos demais, aliás, ainda mais no modo portátil do Switch.
Além disso, alguns elementos bem importantes e que seriam de grande ajuda em determinados momentos, ou não foram explicados explicitamente, ou estavam ocultos nesses guias espalhados aleatoriamente entre os menus e descrições de habilidade, tornando as primeiras horas muito arrastadas. O jogo poderia ter ensinado o essencial de forma mais dinâmica. Some tudo isso ao esquema de botões de ação mal escolhido e temos elementos que passam a tornar o game cansativo e frustrante.
Muitos problemas de desempenho
Mas o principal problema em Metal Slug Tactics, sem sombra de dúvidas são seus problemas de desempenho. O jogo sofre quedas de quadros em diversos momentos sem motivos aparentes, ainda mais para um jogo do gênero, e perde a sincronização do áudio com alguma frequência, deixando a minha experiência do jogo frustrante em vários momentos.
Quando dá trabalho superar a frustração e encontrar a diversão
Metal Slug Tactics é uma adição interessante à franquia Metal Slug, trazendo uma nova abordagem que mistura nostalgia com inovação. Embora não revolucione o gênero de estratégia tática, o jogo oferece uma experiência divertida e desafiadora que faz jus ao carisma e à dificuldade tradicionais da série.
No entanto, problemas de desempenho e a falta de coesão quanto às informações dentro do game acabaram quebrando a minha imersão muito mais vezes do que acharia aceitável.
Se você é fã da série original e está disposto a experimentar algo novo, Metal Slug Tactics pode ser uma oportunidade, mas levando em conta que ele não é um jogo nada frenético como nos arcades.
Prós:
- Artes e efeitos visuais são ótimos, nostálgicos, porém modernos;
- O game se adapta bem para os novos gêneros, usando bem seus elementos, tanto de RPG tático quanto de roguelite;
- Os elementos de gameplay de movimentação e sincronia são muito divertidos.
Contras:
- Tutorial lento e informações difíceis de encontrar;
- Escolhas de botões de ação é pouco intuitiva.
- Diversos problemas de desempenho.
Metal Slug Tactics — PC/Switch — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dotemu