Análise: Dragon Quest III HD-2D Remake é a versão definitiva de um clássico atemporal

O primeiro capítulo cronológico da trilogia Erdrick retorna em uma edição atualizada e imperdível para qualquer fã de RPGs.

em 13/11/2024
Desenvolvido pela Square Enix em parceria com a Artdink, Dragon Quest III HD-2D Remake é uma versão repaginada do clássico lançado em 1988 para Famicom, o qual se destacou como um dos RPGs mais influentes da história. Além de um impressionante aprimoramento visual, o jogo incorpora diversos elementos que o tornam convidativo para iniciantes e uma escolha obrigatória para fãs de longa data, não somente da série, mas do gênero como um todo.

Um verdadeiro e belíssimo Dragon Quest

A história de Dragon Quest III se passa vários anos antes dos eventos do primeiro título da série. Aqui, assumimos o papel de um jovem (ou uma jovem) que é filho de Ortega, um lendário guerreiro que partiu em uma missão para impedir a crescente ameaça representada por um demônio chamado Baramos.

Infelizmente, Ortega nunca voltou para casa, deixando a comunidade crente de que ele está morto. Em seu décimo sexto aniversário, nosso protagonista assume a missão inacabada de seu pai e parte em sua própria jornada para salvar o mundo. Já de início, vale destacar que o título não conta com legendas em português, uma falha que vem sendo cometida com frequência pela Square Enix.

Logo no início da campanha, o jogador pode recrutar e personalizar até três mercenários que o acompanharão nessa aventura. Uma das novidades deste remake é a possibilidade de customizar a aparência desses indivíduos, escolhendo entre quatro opções visuais e ajustando alguns detalhes, como cabelo e voz.

Nesse sentido, Dragon Quest III pode causar diferentes impressões, pois esses heróis de apoio não possuem motivações próprias e nem participação direta na trama. Embora eu aprecie bastante a trilogia Erdrick (DQI, II e III), pessoalmente prefiro o estilo narrativo introduzido em DQIV e em grande parte das sequências, no qual os personagens possuem individualidades e anseios mais claros.

A despeito dessa ressalva, que reflete mais um gosto pessoal do que uma falha propriamente dita, essa entrada traz elementos narrativos característicos da série, como a simplicidade da história, o humor leve e NPCs que, mesmo com diálogos curtos, dão bastante vida ao mundo. Embora o enredo central não seja complexo, cada cidadezinha apresenta uma situação interessante, envolvendo o jogador em seus curiosos eventos locais.

Outro ponto encantador são os variados estilos arquitetônicos de cada região, além dos dialetos distintos dos diferentes povos, criando uma verdadeira sensação de que estamos em um mundo vasto e culturalmente diverso. A estética HD-2D não só moderniza o visual, como realça essas nuances regionais. O jogo também introduz alguns novos cenários e personagens, adicionando um pouquinho de frescor à experiência, ainda que não tão impactante.

Vale mencionar que a trama de Ortega também foi ampliada, oferecendo mais detalhes sobre sua jornada e o impacto que esse indivíduo deixou em algumas áreas pelas quais passou. Por fim, embora a ausência de dublagem nunca tenha sido um problema para a maioria dos games da série, Dragon Quest III certamente ficou ainda melhor com esse recurso. As vozes conferem mais peso aos momentos dramáticos e tornam os combates mais imersivos, com os indivíduos gritando ao atacar, reagindo ao receber dano e pronunciando o nome de algumas magias.

Um jogo muito mais acessível, ainda que com uma ressalva

Dragon Quest III HD-2D Remake mantém o padrão de exploração clássico, no qual viajamos por um vasto mundo exterior repleto de ambientes internos, como cidades, cavernas e castelos. As batalhas permanecem por turnos e se iniciam de forma aleatória em quase todos os lugares, exceto nas áreas urbanas, que são pontos seguros.

Embora eu não tenha problemas em jogar RPGs antigos que utilizam esse recurso e o faça com frequência, acredito que encontros aleatórios já não se encaixam tão bem em jogos modernos. Em minha opinião, essa é uma das maiores falhas dos excelentes Octopath Traveler e sua sequência, também da Square Enix. Mesmo sendo um remake de uma obra antiga, DQIII HD-2D Remake ainda é um produto de 2024, e a ausência de monstros visíveis nos cenários, ao menos dentro das masmorras, é algo que realmente faz falta. 

Corrijam-me se eu estiver errado, mas, refletindo rapidamente, dentre os inúmeros excelentes RPGs de turnos deste ano, incluindo relançamentos, nenhum deles apresenta encontros aleatórios. Dragon Quest III HD-2D Remake é a grande exceção, enquanto Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes é um exemplo de título recente que ainda adota esse tipo de encontro, mas que, certamente, está longe de figurar entre os melhores do ano. 

A despeito dessa ressalva, Dragon Quest III HD-2D Remake apresenta diversos recursos que o modernizam e o tornam mais acessível para novos jogadores, inclusive aqueles sem muita experiência no gênero. Uma das principais adições é a visibilidade do próximo objetivo, algo que é implementado de forma discreta (sem poluir a interface e o mapa) e opcional, permitindo ao jogador decidir se deseja ativá-la ou não.

Além disso, o jogo oferece três opções de dificuldade: a normal (Dragon), que já proporciona um desafio equilibrado e muito satisfatório; a difícil (Draconian), ideal para aqueles que já dominam o sistema há bastante tempo e querem se colocar à prova; e a fácil (Dracky), voltada para quem deseja apenas aproveitar a história.

Um dos receios mencionados em nosso texto de impressões foi a distribuição do nível de adversidade ao longo da campanha, já que a necessidade de grinding é algo bastante comum na série. No entanto, os obstáculos foram bem agradáveis, e eu pausei o avanço em algumas oportunidades não devido a picos de dificuldade impostos por chefes, mas por querer personalizar as classes dos meus heróis, algo que exploraremos mais adiante.

Ainda no que diz respeito à exploração, o mundo de DQIII Remake é extremamente rico e recompensa generosamente os jogadores curiosos, seja com itens consumíveis, equipamentos, monstrengos recrutáveis, mais contexto sobre o mundo ou as tradicionais Mini Medals, que podem ser trocadas por objetos valiosos. No mundo exterior, os artigos coletáveis brilham, despertando constantemente nossa curiosidade.

Sistema de combate simultaneamente simples e profundo

Entrando no campo de combate, DQIII HD-2D também traz melhorias no sistema, sendo a primeira delas visual: os monstros agora estão completamente animados, com ótimos movimentos de ataque. Além disso, embora a visão dos nossos golpes ainda seja em primeira pessoa, a câmera se afasta para mostrar os nossos heróis durante a seleção de ataques, exibindo também a arma que estamos equipando, um detalhe muito bacana.

Além dos golpes padrão, temos habilidades corpo a corpo e talentos mágicos, que são organizados em abas próprias (Abilities e Spells). Devido à raridade dos itens de recuperação de MP, esse recurso se torna de extrema importância, incentivando o jogador a utilizá-lo com cuidado, pois, ainda que não se trate de um jogo muito difícil, qualquer desatenção pode resultar em derrota.

Outro elemento útil é o recurso dos salvamentos automáticos, que ocorrem com frequência e certamente ajudarão aqueles que se aventurarem na dificuldade mais alta. Por falar em salvamento, o remake traz um recurso muito interessante, no qual um sujeito pode ser registrado em um espaço de salvamento e recrutado em outro, permitindo que iniciemos uma nova campanha com um aliado já poderoso, com a ressalva de que ele não poderá aumentar o nível, nem ter seus equipamentos alterados.

Quanto aos mercenários, ao recrutá-los, devemos atribuir uma classe a cada um. No entanto, temos a opção de mudar a profissão de um personagem quando ele atinge o nível 20. Essa ação reinicia completamente o seu nível, mas mantém as habilidades adquiridas. Assim, o jogador que se dedicar a entender os pontos fortes e fracos de cada job poderá criar combinações estratégicas e poderosas.

Outro elemento de customização diz respeito às personalidades, no qual cada indivíduo possui uma característica única que influencia o crescimento de seus atributos. Embora cada sujeito comece com uma individualidade predefinida e o herói principal adquira a sua por meio de um questionário no início do jogo, é possível alterá-las com o uso de livros, sendo esse mais um motivo para explorar cada cantinho do mundo.

Antes de finalizar, precisamos mencionar ainda mais dois elementos novos deste remake. O primeiro deles é a mudança nas arenas de monstros. Enquanto no DQIII original podíamos apostar em alguma criatura, nesta versão, conseguimos recrutar nossos próprios bichinhos e competir com eles em busca de prêmios extremamente úteis.

O outro aspecto está diretamente relacionado ao primeiro e diz respeito à introdução do sistema Tactics, que apareceu pela primeira vez em Dragon Quest IV. Com esse recurso, podemos definir comportamentos gerais e automáticos para os personagens, como determinar que alguém não use MP ou que se concentre em curar o grupo.

Além de ajudar a agilizar muito o grinding, essa mecânica é implementada de forma obrigatória nos combates de monstros na arena, não permitindo que forneçamos mais do que instruções gerais aos nossos bichinhos. Assim, conhecer as habilidades e selecionar as criaturas adequadas para cada situação é essencial para ter êxito nesses campeonatos. Vale destacar que também é possível modificar as animações das lutas em três níveis de velocidade.

Dragon Quest é repleto de elementos recorrentes, como a cura de status negativos em igrejas; a possibilidade de falha ao tentar reviver personagens com magias; os inventários individuais; e os confrontos contra grupos de inimigos, nos quais nem sempre podemos escolher um alvo específico. Embora esses aspectos possam parecer estranhos para jogadores não familiarizados com a franquia, eles ajudam a caracterizar a série e torná-la o que ela é. Para aqueles que lhe derem uma chance, tenham certeza de que será difícil não se apaixonar.

Não é nada difícil entender como funciona o sistema de combate em Dragon Quest III HD-2D Remake, e as opções de dificuldade certamente vão ajudar aqueles com pouca experiência no gênero; contudo, o game possui uma boa profundidade para quem realmente deseja se dedicar. Embora o nível de desafio seja bem equilibrado durante a campanha, o conteúdo pós-game é extremamente difícil e exigirá muito conhecimento, estratégia e dedicação para aprimorar os heróis. Felizmente, a recompensa por explorar essa adversidade é bastante alta e até emocionante.

Por favor, que venham mais remakes

Dragon Quest III HD-2D Remake respeita suas origens enquanto incorpora melhorias que tornam a experiência mais acessível e envolvente para o público moderno. Com inúmeras adições agradáveis e um aprimoramento visual impressionante, o título moderniza com eficiência o clássico de 1988, despertando em nós uma grande empolgação para conferir os já anunciados remakes do primeiro e do segundo capítulos numerados da trilogia, além de criar a esperança de que os demais jogos 2D da franquia também recebam atualizações nesses moldes.

Prós

  • Como tradicional na série, a narrativa é simples, mas divertida e imersiva, e a ampliação da trama de Ortega é uma adição bem-vinda;
  • A inclusão de vozes para os personagens dá mais peso aos momentos dramáticos e torna os combates mais envolventes;
  • A nova estética visual moderniza o jogo de forma eficaz, realçando os detalhes regionais e proporcionando animações de combate mais dinâmicas e atraentes;
  • Com opções de dificuldade ajustáveis, indicação do próximo objetivo e salvamentos automáticos, trata-se de uma obra muito amigável a novos jogadores no gênero;
  • O mundo é rico e incentiva a exploração, recompensando a curiosidade do jogador com itens, equipamentos e contextos adicionais sobre o universo do jogo;
  • O sistema de combate é acessível para iniciantes, mas oferece profundidade aos veteranos, com várias opções de habilidades que nos permitem criar inúmeras estratégias;
  • A possibilidade de mudar as classes e personalidades dos personagens adiciona uma camada extra de profundidade estratégica, e o sistema Tactics, além de divertido, facilita o nivelamento dos heróis;
  • Para jogadores que buscam um desafio adicional, o conteúdo pós-game exige um nível avançado de estratégia e dedicação, recompensando adequadamente aqueles que se empenham em dominar completamente o jogo;
  • A introdução da mecânica de recrutar monstros e competir com eles nas arenas é divertida e adiciona ainda mais nuances estratégicas ao combate.

Contras

  • A presença de encontros aleatórios não se encaixa bem com as expectativas de RPGs modernos, contrastando com os novos recursos de acessibilidade e a fluidez do restante do jogo;
  • Os mercenários recrutados não têm arcos, motivações ou qualquer linha de história própria, o que pode incomodar jogadores que preferem personagens melhor desenvolvidos;
  • Ausência de legendas em português.
Dragon Quest III HD-2D Remake — PC/PS5/XSX/Switch —  Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix
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