Análise: The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom é uma ótima estreia de Zelda como heroína jogável

Este é o primeiro título em duas dimensões totalmente inédito da franquia desde 2013.

em 08/10/2024


A franquia Zelda deve completar em breve seus 40 anos de existência, uma marca da sua enorme longevidade. Foram exatamente esses quase 40 anos, todavia, o tempo necessário até finalmente ganharmos uma aventura principal em que a titular é a protagonista jogável.

The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom representa tanto a aguardada estreia da princesa quanto o retorno ao estilo de jogabilidade com a visão de cima — após mais de dez anos desde o último título totalmente original do segmento — e aproveita disso para oferecer uma experiência que esbanja carisma.

Fuja, Zelda!




Ao abrir Echoes pela primeira vez, você imediatamente tomará o comando de um Link totalmente capaz, com muitos corações e todo seu clássico arsenal em mãos. Em um calabouço que poderia servir como último ponto de alguma aventura passada, o escudeiro encontra seu inimigo Ganon e derrota-o para salvar Zelda, sequestrada e presa dentro de um bloco flutuante.

A partir da vitória de Link, no entanto, tudo muda. Zelda é salva, porém o garoto é engolido por uma fenda que surge repentinamente e passa a sugar tudo à sua volta — por pouco, a princesa também não é sugada e consegue escapar. O que vem a seguir é uma vista panorâmica da Hyrule da vez, tão familiar, mas ao mesmo tempo diferente daquela que vimos em A Link to the Past. O título da aventura então aparece, no que é uma forma de recriar o momento inicial de Breath of the Wild, porém com Zelda no centro dessa vez.



O estopim da história ocorre com Zelda descobrindo que essas fendas vêm atingindo Hyrule em diversas regiões e, por tabela, fizeram reféns pessoas próximas da princesa , como o rei e seus fiéis ajudantes do castelo. Entretanto, não só eles foram engolidos, como também tiveram réplicas distorcidas de si surgindo no mundo com claras más intenções.

São essas réplicas que mandam a princesa para o calabouço de seu próprio castelo e gera o primeiro encontro importante da jornada de Zelda. Tri é um ser místico que possui a habilidade de fechar tais fendas e provê à princesa uma forma de fugir daquela prisão — entregando a ela o Cetro de Tri, um artefato capaz de criar cópias de quaisquer objetos e inimigos, formando ecos deles. A partir do uso desse cetro, junto de estratégias de furtividade, a protagonista consegue fugir dos guardas e sua longa jornada em busca de resgatar os afetados pelas fendas para salvar seu reino começa.

Ecos pelos ares



Criatividade e liberdade vêm sendo os motes dos títulos mais recentes da franquia, algo que fomos relembrados ano passado com Tears of the Kingdom, por exemplo. A mecânica de copiar elementos do cenário e utilizá-los a seu favor faz Echoes complementar essa visão dos jogos contemporâneos em estilo “open air”.

Tudo vale, desde criar um amontoado de camas para atravessar desfiladeiros até estrategizar combinações de criaturas, como um Moblin e uma cobra rápida, para derrotar inimigos ao redor. A maioria dos desafios pode ser superada de inúmeras formas e isso ficou pessoalmente evidente ao conversar com amigos que haviam jogado ao mesmo tempo que eu — e descobrimos vários modos de solucionar um mesmo problema.



A habilidade dos ecos faz esta nova aventura funcionar de uma forma completamente diferente de seus antecessores. Se Link possuía uma atitude mais ativa, de engajar no combate a curto alcance, com Zelda, a regra é incentivar um uso  maior da tática, além de se manter mais distante do caos da batalha.

Quando essa novidade foi logo apresentada como o diferencial da princesa em material de pré-lançamento, surgiu-me um receio que tal passividade poderia tornar o jogo menos engajante que seus antecessores. Todavia, Echoes desvia de tal armadilha ao trazer nuances nas possibilidades de como dominar a invocação de ecos de forma mais efetiva. 




Por exemplo, você pode se manter totalmente passivo e deixar que seus inimigos copiados lutem totalmente por ti, mas isso não necessariamente é a estratégia mais eficaz. Esses monstros normalmente demoram a atacar, o que pode tornar as batalhas lentas caso você decida depender totalmente das ações deles. Ao invocá-los, deixá-los atacar uma primeira vez e invocá-los mais uma vez em seguida (reposicionando-os ou não), a situação fica mais dinâmica e traz um envolvimento maior do jogador no calor da batalha. 

A forma como encaramos o mundo de Hyrule também é alterada com a mecânica dos ecos. A sensação é de que estamos vendo aquele mapa como uma região de Pokémon, pensando em seus biomas e locais, e em que tipos de monstros podem viver ali, já estrategizando possíveis novos aliados de combate ou exploração a serem capturados para sua coleção.



As opções são inúmeras, já que Echoes contém um total de 127 ecos, contabilizando tanto objetos quanto inimigos. Infelizmente, a grande quantidade não casa bem com a interface de usuário de seleção deles, que herda o mesmo problema do menu de materiais de Tears of the Kingdom — todos são dispostos em uma enorme fileira horizontal, com poucas opções de filtro.

Conforme o jogador progride pela aventura, a navegação por este menu fica menos confortável, já que a fila cresce muito em tamanho. Durante minha jogatina, utilizei o filtro de “utilizados recentemente”, que, embora útil para acessar rapidamente minhas principais opções, não me incentivava a testar outras que pudessem estar escondidas na longa lista, principalmente no calor frenético de um combate.

Liberdade em diversos eixos



O mapa de Echoes of Wisdom, uma versão expandida da Hyrule de A Link to the Past, é oito vezes maior que o do remake de Link’s Awakening e, ainda assim, não chega a ter o tamanho necessário para que possamos chamá-lo de um mundo aberto como seus conterrâneos do Switch. Todavia, há elementos de exploração mais aberta que são aplicados dentro deste espaço mais contido e que tornam a jornada mais livre que outros títulos com visão de cima da série.

O pequeno pulo de Zelda, uma das primeiras habilidades que você identifica ao assumir controle da princesa, é fundamental para que essa Hyrule seja mais vertical. É possível subir em caixas, subir em pedras, subir em árvores e escalar desfiladeiros que em outros jogos da vertente 2D seriam apenas bloqueios de passagem. Com tal verticalidade, Echoes se torna um verdadeiro playground, sempre aguçando a curiosidade para investigar todo canto possível e encontrar cavernas, segredos, algumas sidequests ou coletáveis.



Une-se a isso a liberdade de escolha na progressão, também herdada da duologia Breath of the Wild. Echoes marca o retorno dos calabouços mais tradicionais e permite que o jogador escolha, por maior parte da aventura, qual deles encarar primeiro. As opções não são todas liberadas de uma vez, mas o mundo se abre cedo para que você possa explorar os cantos de Hyrule que quiser — e para, inclusive, aproveitar e encontrar ecos que possam ser mais fortes e raros.

As dungeons, por sua vez, funcionam exatamente como nos jogos clássicos, então você ainda terá uma série de quebra-cabeças mais lineares envolvendo abrir e fechar de portas e eventuais encontros de combate. As masmorras estão no Mundo Inerte, uma área paralela dentro das fendas de Hyrule em que o espaço é todo distorcido e onde as pessoas sugadas eventualmente desaparecem.



É nessa mistura do retorno dos calabouços com a liberdade dentro de Hyrule que o choque do novo e do antigo ocorre. Echoes pega o que a série vinha experimentando e coloca elementos de uma aventura mais tradicional, realizando um casamento agradável de ambos os estilos de jogos.

Isso é também notável com a inclusão da forma espadachim de Zelda, uma habilidade em que a princesa consegue temporariamente ganhar os movimentos e itens comuns a Link, como utilização de espada, escudo, bombas e um pulo mais acrobático. Tal mecânica faz com que jogadores mais antigos ainda consigam um pouco do gosto da jogabilidade clássica, sem remover o foco do arsenal próprio da Zelda.

Tropeços pelo caminho



Ainda falando de habilidades, a princesa também consegue utilizar outros métodos para auxílio em sua jornada. De sucos para recuperar seus corações a acessórios que possuem efeitos extras, há diversos meios para que a campanha funcione de forma mais agradável e que são, algumas vezes, necessários — alguns são até visuais, como roupas que trazem uma nova aparência à protagonista e por vezes possuem efeitos próprios.

Entretanto, um desses auxílios, os Autômatos, infelizmente não casaram bem como os outros. Eles são liberados a partir da metade da campanha e funcionam como pequenos robôs com habilidades próprias, que podem quebrar e devem ser reparados para serem utilizados novamente.



Apesar de possuírem funções únicas, os Autômatos operam de forma muito similar aos ecos e são implementados tão tarde durante a aventura que não há muito o que ganhar ao incluí-los em seu arsenal. Devido às suas limitações, como a possibilidade de quebra e o fato de que o jogador necessita girá-los antes que eles comecem a operar, utilizar esses robôs acaba sendo mais desajeitado do que apenas invocar algum dos mais de 100 ecos disponíveis por Hyrule.

Eles, todavia, não são o único elemento que não cai bem em Echoes of Wisdom. É necessário notar que o jogo sofre de severas quedas de performance, assim como seu antecessor, Link’s Awakening, porém com maior frequência.

Em muitos momentos, seja em vilarejos ou quando há muitos ecos em tela, a taxa de quadros cai bruscamente de 60 a 30 quadros por segundo, o que pode atrapalhar a imersão inúmeras vezes — fica o questionamento se não teria sido mais eficiente manter o jogo a 30 quadros por segundo para que não houvesse tanta instabilidade durante a gameplay.

Criando novos fãs



Mesmo com esses pequenos contrapontos, Echoes consegue manter um charme que prende o jogador durante a jornada. Parte disso vem da inclusão de Zelda como a protagonista jogável pela primeira vez, algo que era pedido há muitos anos e que, convenhamos, demorou muito para acontecer!

A princesa sempre esteve no foco das histórias e no nome da franquia, o que torna louvável trazê-la aos holofotes com uma jogabilidade única e criativa, distinta de Link, realçando uma identidade própria. O movimento por trás dessa decisão artística ressalta a necessidade de termos mais figuras femininas no centro das atenções, algo que vem melhorando aos poucos nos últimos anos — temos algumas grandes séries como The Last of Us e Horizon, atualmente chefiadas por mulheres, como alguns exemplos —, o que só traz benefícios em incluir mais pessoas a se sentirem representadas ao jogar essa experiência.

Essa inclusão de Echoes também se estende à localização brasileira — a primeira em um título da franquia. Ela ocorre em um momento que vários jogos da Nintendo têm sido traduzidos ao nosso idioma e esbanja de uma alta qualidade. São inúmeros os momentos que podem te fazer soltar um esboço por alguma expressão ou frase que foi feita pensando no nosso povo — de um nome engraçado como Atacaxi ao uso de termos locais como “vai catar coquinho”.

Um futuro com muita sabedoria



The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom incentiva a criatividade e traz uma liberdade de escolhas dentro de um escopo mais limitado dos jogos 2D, com Zelda tomando o posto de protagonista. É uma grande fusão do que funciona e do que é novo, ressaltando a habilidade da franquia em se reinventar sem ignorar seu passado. Fica aqui minhas preces ao futuro para que esta seja apenas a primeira de muitas aventuras em que a princesa é a titular e verdadeira dona da lenda.

Prós

  • Alto incentivo à criatividade com inúmeras opções de ecos;
  • Combate repleto de nuances graças às novas habilidades da Zelda;
  • Uma maior verticalidade do mundo, com menos barreiras e muitas possibilidades de navegação;
  • Retorno de dungeons tradicionais e sua ordem de progresso não totalmente linear;
  • Exploração recompensante, com muitas sidequests e coletáveis;
  • Localização em português brasileiro de boa qualidade, com muitas referências e expressões locais.

Contras

  • Menu de seleção de ecos não é disposto de uma forma agradável ao usuário;
  • Autômatos poderiam ter tido uma melhor implementação;
  • Quedas gráficas constantes da taxa de quadros por segundo, o que pode afetar a imersão do jogador.
The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom — Switch — Nota: 9.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida por Nintendo
Siga o Blast nas Redes Sociais

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).