Em 2009, o mundo via nascer uma nova heroína que logo se tornaria icônica: Bayonetta. Com seu estilo único, combate frenético e narrativa envolvente, Bayonetta não apenas mostrou que o gênero hack and slash estava vivo e podia se inovar, mas também conquistou uma legião de fãs que acompanham a série até hoje.
A bruxa encontrou um lar na Nintendo.
A franquia Bayonetta, desenvolvida pela Platinum Games, começou como um título disponível em múltiplas plataformas, mas com o passar dos anos, encontrou um lar especial nos consoles da Nintendo. Bayonetta 2, lançado em 2014, e Bayonetta 3, lançado em 28 de outubro de 2022, são exclusivos que expandiram o universo e os conceitos de Bayonetta de maneiras inovadoras.
A chegada de Bayonetta como exclusivo nos consoles da Nintendo, especialmente com Bayonetta 2 para Wii U e, mais tarde, com Bayonetta 3 no Nintendo Switch, desempenhou um papel significativo na transformação do estigma de que a Big N seria uma plataforma voltada apenas para jogos infantis.
Conhecida por suas personagens provocantes, uma narrativa adulta e batalhas intensas, a série trouxe uma maturidade rara ao catálogo da Nintendo, mostrando que a plataforma também pode abrigar títulos mais complexos e direcionados a uma audiência madura.
Bayonetta foi um divisor de águas ao provar que a Nintendo estava disposta a abraçar jogos de ação voltados para públicos mais velhos, oferecendo, ao lado de franquias icônicas como Zelda e Mario, uma experiência radicalmente diferente que expandiu a percepção do que pode ser encontrado em um console da Nintendo. Essa parceria ajudou a fortalecer a imagem da Nintendo como uma plataforma abrangente e diversificada, capaz de atrair jogadores de todas as idades e preferências.
A decisão de tornar Bayonetta 2 e 3 exclusivos da Nintendo foi inicialmente recebida com ceticismo, mas logo se provou ser uma aposta certa. A Nintendo não apenas financiou a continuação da saga, mas também proporcionou um lar onde Bayonetta poderia prosperar. Sob a supervisão de Kamiya, a série expandiu os conceitos do jogo original, elevando a ação e a narrativa a novos patamares.
Quebrando tabus na Nintendo
A temática de Bayonetta explora de forma ousada e envolvente o conflito entre o Céu e o Inferno, abordando elementos religiosos que raramente aparecem em jogos da Nintendo, muito menos com a intensidade e liberdade vistas nesta franquia. A protagonista Bayonetta é uma bruxa de Umbra, um clã fictício que, em tempos antigos, lutava contra os Lumen Sages, guerreiros representantes da luz. Essa dualidade de "luz" e "trevas" explora um imaginário entre forças celestiais e demoníacas que, ao longo dos jogos, se desenrola com batalhas épicas contra anjos e criaturas infernais. Bayonetta, com sua estética provocante e personalidade irreverente, representa uma figura que transita entre esses mundos, unindo o poder das trevas com um senso de moralidade próprio, o que a torna uma heroína incomum e cativante.
Essa escolha de temas é surpreendente e, de certa forma, revolucionária para a Nintendo, uma empresa historicamente cautelosa em relação a símbolos religiosos e temas de conotação mais adulta. Vale lembrar que, em jogos como The Legend of Zelda, muitos elementos religiosos foram suavizados ou removidos em lançamentos fora do Japão, como a cruz no escudo de Link ou referências explícitas a divindades. Já Bayonetta desafia essa tradição: a série traz representações de anjos em formas grotescas e combate celestial, que subverte a típica associação de anjos com figuras puramente benevolentes, abrindo caminho para uma narrativa em que as forças celestiais e demoníacas possuem moralidades e intenções complexas.
Uma figura inovadora e controversa
A série é conhecida por sua protagonista carismática, que combina uma estética glamourosa com habilidades de combate extraordinárias. Bayonetta é uma bruxar com poderes que desafiam a realidade, capaz de invocar demônios e manipular o tempo. Esses elementos, combinados com um design de níveis criativo e inimigos memoráveis, criam uma experiência de jogo que é ao mesmo tempo desafiadora e recompensadora.
A influência de Bayonetta pode ser vista em diversos aspectos da cultura pop, desde cosplays até referências em outros jogos e mídias. A personagem principal tornou-se um ícone, representando a força e a independência feminina dentro de um gênero muitas vezes dominado por protagonistas masculinos, que embora muitos contestem pelo uso da sensualidade da personagem.
Um Hack and Slash único
E mesmo em um gênero que inflou e passou a gerar jogos que eram como pastiches de si mesmos, sem nenhum tempero e pouca vontade de inovação, apenas seguir sua fórmula,. Bayonetta se diferencia dos outros jogos de ação e Hack and Slash principalmente por sua abordagem estilizada e profundamente única, que combina combate técnico com uma estética ousada e um humor sarcástico inigualável.
Enquanto muitos jogos do gênero focam em mecânicas de combate brutais e épicas, Bayonetta adiciona uma camada de espetáculo visual e de complexidade com seu sistema de combos fluidos e movimentos especiais, como o Witch Time, que permite à protagonista desacelerar o tempo e executar movimentos extremamente precisos em um instante de pura ação cinematográfica. Além disso, a protagonista carrega uma identidade marcante e uma confiança que transforma cada combate em uma performance.
Bayonetta abraça uma narrativa cheia de irreverência e exagero, misturando elementos de moda, música e temas sobrenaturais com a intensidade dos combates, de um modo tão integrado que fazem aquele universo parecer coeso, criando uma experiência vibrante e memorável que a destaca no universo dos jogos de ação.
Conquistando o mundo para além dos jogos
A série Bayonetta, além de ser um marco nos videogames, também foi uma das franquias de ação que mais rapidamente cruzou a fronteira dos jogos para conquistar o espaço no audiovisual. Em 2013, apenas quatro anos após o lançamento do primeiro jogo, a protagonista ganhou uma adaptação em filme animado intitulada Bayonetta: Bloody Fate, produzido pelo estúdio Gonzo.
Essa animação permitiu aos fãs revisitar a história de Bayonetta em um formato totalmente novo, capturando com fidelidade o carisma e a ação visceral da protagonista enquanto expandia o universo da série. O filme trouxe cenas de combate estilizadas e reproduziu com precisão o estilo visual do jogo, sendo bem recebido por fãs e por aqueles que estavam conhecendo Bayonetta pela primeira vez.
Spin-offs e futuro
Outra adição importante ao universo da franquia veio em 2023, com o lançamento de Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon. Este spin-off é uma experiência única e distinta dos jogos principais, apresentando uma Bayonetta muito mais jovem e focando na narrativa das origens da personagem, antes de ela adotar o nome Bayonetta. Com uma estética de livro de conto de fadas e um estilo de jogo mais voltado à exploração e resolução de puzzles, Bayonetta Origins mostrou a versatilidade da franquia ao se aventurar em novas mecânicas e explorar uma história mais sensível e introspectiva como um jogo com cara mais infanto-juvenil, quase o oposto da série original.
Cereza and the Last Demon não apenas enriqueceu o lore da série, mas também permitiu que novos jogadores, talvez menos familiarizados com o estilo frenético de combate dos jogos principais, se aproximassem da história de Cereza.
Antes de deixar a Platinum Games, desenvolvedora da franquia, Kamiya refletiu o desejo de manter Bayonetta como um ícone duradouro, atualizando e inovando a cada novo lançamento, sem perder a essência que conquistou os fãs, seja na forma de lançamentos de jogos principais ou spin-offs. Esse desejo de longevidade, aliado à criatividade da equipe da Platinum Games e ao apoio da Nintendo, promete fazer com que Bayonetta continue a surpreender, explorando novos caminhos e atraindo uma audiência diversa.
Mas a saída de Hideki Kamiya, o criador da série, da Platinum Games em 2023, marca o fim de uma era, mas também abre um novo capítulo para Bayonetta. Resta à comunidade de fãs aguardar ansiosamente para ver como a série evoluirá sob nova direção criativa.
15 anos de Bayonnetta
A combinação de ação acelerada, storytelling cativante e uma protagonista poderosa garantiu que Bayonetta e seu universo se tornassem sinônimos de inovação e qualidade na indústria, evoluindo a cada jogo, evitando cair no mesmo erro de outros jogos do gênero.
Com quatro títulos, dos quais três são exclusivos de plataformas Nintendo, que aprofundaram a lore e o gameplay, Bayonetta provou ser forte o suficiente para não ficar para trás como um jogo isolado; é uma franquia que continua a desafiar as expectativas e a definir o gênero. À medida que olhamos para o futuro, resta-nos celebrar o passado vibrante de Bayonetta e antecipar as aventuras que ainda estão por vir.
Revisor: Beatriz Castro