Desde o lançamento The Legend of Zelda em 1986, a série seguiu se expandindo e complexando os elementos narrativos inseridos, mesmo que apenas de plano de fundo, o que acabou gerando a rica mitologia da franquia. Uma das grandes discussões entre os fãs, no entanto, é sobre a necessidade de uma timeline oficial que organize a sequência dos jogos. Em 2011, a Nintendo divulgou uma linha do tempo oficial no livro Hyrule Historia, colocando os eventos de cada jogo em uma ordem cronológica.
Mas será que essa timeline é realmente necessária para a série?
Hyrule Historia: uma demanda dos fãs
O Hyrule Historia, lançado em 2011, foi a resposta direta da Nintendo ao desejo crescente dos fãs por uma linha do tempo oficial que conectasse os eventos da série The Legend of Zelda. Por anos, os jogadores debateram e criaram teorias sobre como os jogos se relacionavam entre si, especulando sobre a ordem cronológica das aventuras de Link.
Essa demanda por uma explicação oficial levou a Nintendo a organizar e apresentar uma timeline definitiva no livro, revelando como os títulos se conectam através de diferentes eras e realidades alternativas. Embora tenha sido uma tentativa de satisfazer a curiosidade dos fãs e fornecer uma estrutura coesa para o universo de Zelda, a timeline também trouxe novas questões.
Timeline e o sentimento de coesão
Para muitos, a timeline dá coesão ao universo de Zelda. Com tantos jogos, personagens e eras diferentes, uma linha do tempo clara ajuda a conectar os eventos e personagens recorrentes, como Link, Zelda e Ganon. A timeline sugere que, apesar de cada jogo parecer independente, eles fazem parte de uma história maior. Para os fãs mais dedicados à lore da série, isso é um convite para explorar mais a fundo a mitologia de Hyrule, estabelecendo relações entre os jogos e descobrindo novas camadas de interpretação.
Além disso, a timeline oferece uma estrutura para os jogos que pode trazer uma nova dimensão de entendimento para quem gosta de discutir teorias. Por exemplo, ela dá contexto a eventos que antes pareciam desconexos, como o mundo decadente de The Wind Waker ou o ciclo do tempo em Majora’s Mask Para esses jogadores, a timeline é uma peça importante que enriquece a narrativa, transformando a experiência de jogo em algo maior que a aventura individual de Link em cada título.
Confinamento criativo
Por outro lado, há aqueles que argumentam que Zelda nunca precisou de uma timeline. Antes de ser oficializada, os jogos da série eram vistos como histórias independentes, cada um trazendo sua própria interpretação dos temas de heroísmo, coragem e sabedoria e o eterno conflito entre Link, Zelda e o Ganon (com certas excessões). Não havia necessidade de conectar todos os jogos com precisão. Cada aventura de Link podia ser vivida por si só, sem a pressão de entender onde aquilo se encaixava dentro de uma narrativa maior.
Além disso, a própria timeline oficial não é simples. A linha do tempo se divide em três após os eventos de Ocarina of Time, criando uma estrutura confusa para quem não é familiarizado com a lore —ou até para quem é. Para novos jogadores ou aqueles que preferem se concentrar apenas na experiência de cada jogo individualmente, a timeline pode parecer uma complicação desnecessária.
Outro ponto a se considerar é que a tentativa de manter uma linha do tempo coesa pode limitar a criatividade dos desenvolvedores, o que já foi mencionado pelo produtor da franquia, Eiji Aonuma. Com a necessidade de "encaixar" cada novo jogo em algum ponto da cronologia, pode-se acabar sacrificando a inovação em favor da continuidade. Uma das maiores forças da série sempre foi sua capacidade de reinventar o mundo de Hyrule a cada nova aventura. Ao prender-se a uma timeline rígida, há o risco de reduzir essa liberdade criativa.
O caso de Skyward Sword
Skyward Sword é um exemplo claro de como a Nintendo tentou colocar o enredo de Zelda em primeiro plano, ao explorar as origens da Master Sword e os primeiros eventos da cronologia de Hyrule. O jogo foi elogiado por expandir a narrativa da série, oferecendo uma história mais detalhada e emocionalmente envolvente, especialmente no relacionamento entre Link e Zelda. No entanto, nem todos os jogadores ficaram satisfeitos, especialmente no quesito jogabilidade. O uso obrigatório dos controles de movimento do Wii gerou frustração para muitos, e a estrutura mais linear e segmentada do mundo, com áreas menos interconectadas, também foi um ponto de crítica. Apesar de suas inovações na narrativa, Skyward Sword dividiu opiniões ao sacrificar parte da liberdade de exploração que muitos associam à série.
Uma quebra com as timelines?
Apesar de toda a discussão sobre a timeline da franquia e as novas informações sobre ela, como o caso de uma “atualização” da timeline exposta em um evento da Nintendo em Sydney, em 2024, várias entrevistas dos produtores dão a entender que deveríamos ter certa flexibilidade quanto ao tema.
É possivel encontrar uma entrevista em que Aonuma diz que Breath of the Wild/Tears of the Kingdom se passam pós Ocarina of Time, outras informações mostram que a linha do tempo pré Breath of the Wild devia ser tratada como uma era de mitos, em que tudo pode ou não ter acontecido como foi visto, assim como também já foi aludido de que a posição de cada jogo na timeline é a que melhor satisfizer a experiência e a mente de cada jogador.
Um meio termo
Então, Zelda realmente precisa de uma timeline? A resposta talvez seja: depende de como você vê a série. Para os fãs que adoram teorizar e mergulhar nas conexões entre os jogos, a timeline oferece uma estrutura rica para explorar. Mas para aqueles que preferem enxergar cada título como uma história única e independente, ou só querem apreciar a jogabilidade, ela pode parecer uma complicacão desnecessária.
Talvez o ideal seja um equilíbrio, onde a timeline exista como um recurso opcional para quem deseja se aprofundar na lore, mas sem limitar a liberdade criativa que sempre definiu Zelda. Afinal, sabemos que aquilo que define, em boa parte dos casos, o processo de desenvolvimento dos jogos na Nintendo é a gameplay e a diversão em primeiro lugar.
Revisão: Cristiane Amarante