Participar de eventos de games sempre é empolgante, principalmente quando novos títulos estão disponíveis para teste. Porém, para pessoas com deficiência, sempre há uma barreira entre essa animação e o jogo. Pode ser um estande que não tem rampas, filas cheias de gente que podem hiperestimular visitantes com Transtorno do Espectro Autista, TVs altas demais para pessoas em cadeiras de rodas ou controles difíceis de serem usados.
Esse último exemplo particularmente me afeta, não por não conseguir manusear o controle devido a minha deficiência física, mas sim por toda a estrutura ao redor do acessório: cabos curtos, comandos não customizáveis e não conseguir apoiar o controle em nada fazem com que a experiência seja bacana, mas não a melhor possível.
Então, quando meus colegas do Nintendo Blast me avisaram que a Nintendo possuía não só um espaço dedicado a pessoas com deficiência no seu estande da Brasil Game Show 2024, mas com controles adaptáveis, sabia que queria conferir o local em minha cobertura. Só estando lá que descobri que essa era uma iniciativa histórica da empresa não só no Brasil, como no mundo todo.
Novidade mundial
Ao chegar no evento, fui direto para o estande da Big N para localizar todos os jogos e atividades que estavam disponíveis. Eis que, depois de certa caminhada ao redor do local, encontrei a seção PcD. Eram duas estações com televisores pendurados em uma altura menor – levando em conta pessoas em cadeiras de rodas –, puffs para sentar e mesas com os controles adaptáveis.
No caso, estavam sendo usados os Flex Controllers, da fabricante japonesa terceirizada Hori. O acessório é um produto licenciado pela Nintendo e o único controle de Nintendo Switch no mercado pensado para pessoas com deficiência.
Ele possui uma série de botões grandes em sua superfície representando o D-Pad e alguns comandos dos Joy-Con e Controles Pro, como A, B, X, Y, L, R, -, +, Home e Captura de Imagens. Na sua lateral, há entradas USB e plugs de 3,5mm para conectar botões, analógicos e outros acessórios externos que representam diferentes inputs dos controles de Switch. No estande, havia periféricos da Logitech e da AbleGamers Brasil ligados aos Flex Controllers.
Falando na AbleGamers, o nome da ONG não estava no estande, mas pessoas da instituição, como Christian Bernauer e Catia Rodrigues, vestiram a camisa da Big N como consultores de acessibilidade para a empresa. Aliás, foi com eles que descobri que aquela era a primeira vez no mundo que a Nintendo havia colocado controles para PcDs em um evento para o público. Um momento histórico que acabou passando despercebido por muitos.
Com as mãos no Flex Controller
Após realizar minha entrevista com a gerente de relações públicas da companhia, Pilar Pueblita, fui direto para a seção com os controles adaptáveis com um amigo. Minha esperança era que o novo Super Mario Party Jamboree estivesse lá para que pudesse experimentar. Ao perguntar, infelizmente o game não estava presente nas estações. Mas então veio a proposta: "Você quer jogar o Mario Party com o Flex Controller?".
Para não perder a oportunidade, disse que sim, e Christian foi atrás da equipe de organização e segurança para esquematizar esse jogatina. Enquanto isso, pude me sentar com um Flex Controller e jogar Princess Peach: Showtime!.
A experiência foi bem agradável. Embora o analógico externo estivesse um pouco solto demais, a sensação de poder jogar com os braços mais abertos, como no controle UMAGIC, sempre é muito boa. Além disso, os botões do próprio controle da Hori são firmes, mas fáceis de apertar. Nada mais comum vindo de uma empresa que produz arcade sticks.
Após alguns minutos, Christian apareceu com um controle adaptável extra e, junto com meu amigo, fomos para a seção do Super Mario Party Jamboree. Uma pessoa responsável pela estrutura do estande rompeu o lacre que protegia o Nintendo Switch em uma das estações de jogo. Conectamos o Flex Controller e, depois de algumas configurações, estávamos aproveitando a festa do Mario.
Como o acessório é desenhado para ficar sobre algum tipo de suporte e a estrutura do local onde Mario Party estava sendo demonstrado não tinha qualquer tipo de base de sustentação, Christian e meu amigo tiveram que segurá-lo na altura de meus braços durante as partidas.
A parte inferior do controle possui uma entrada para parafusos na qual diferentes tipos de suportes podem ser acoplados, assim como uma câmera pode ser presa em um tripé, por exemplo. Fica a dica para que, em eventos futuros, PcDs possam usar o controle junto a um suporte e todos os periféricos adicionais em todas as estações.
Quanto à experiência de jogo em si, o Flex Controller funcionou, mas acabou limitando a minha jogabilidade ao ser utilizado sozinho porque Super Mario Party Jamboree utiliza bastante os controles analógicos nos minijogos. Como o acessório só possui o D-Pad nativamente, há uma dureza no controle dos personagens, mas nada que impedisse o jogo de se desenrolar.
Impressões do local
Voltando ao espaço para pessoas com deficiência e conversando com pessoas, ouvi relatos de que, mesmo discreto, o ambiente estava ajudando muitos visitantes. Não só pessoas em cadeiras de rodas ou jogadores com movimentos motores finos limitados puderam aproveitar, como também pessoas com Transtorno do Espectro Autista – já que o local era mais afastado da multidão, trazendo menos estímulos – e pessoas com diferentes níveis de deficiência visual – pois podiam se aproximar mais da tela.
No entanto, alguns pontos do estande em si poderiam ser aprimorados. Por exemplo, a quantidade de rampas. Cadeirantes conseguiram entrar na área da Nintendo somente por alguns pontos específicos, o que dificultava o acesso a algumas estações de jogo.
Além disso, a lotação do espaço, principalmente durante a distribuição de brindes, pode dificultar a locomoção de pessoas com mobilidade reduzida. Durante a entrega de sacochilas do My Nintendo, a quantidade de pessoas era tamanha que a saída da fila para PcDs ficou obstruída.
Porém, no geral, foi importante ver a Nintendo se importando mais com acessibilidade em suas participações em eventos e, principalmente, com pessoas e estruturas prontas, dispostas e capacitadas para ajudar.
O que experimentei, principalmente jogando Super Mario Party Jamboree, é algo fora da curva em relação ao comportamento imaculado que a empresa costuma ter em suas aparições públicas. Mas pessoas com deficiência são assim: cada uma tem suas características específicas. Cabe ao entorno se adaptar para atendê-las e fico feliz que a Big N tomou passos no caminho certo quanto a isso.
No final da BGS, pude levar um Flex Controller para a casa. Esperem por testes e impressões aqui no Nintendo Blast.