Curiosamente, a série é bastante tímida em relação à Nintendo, principalmente porque o diretor do estúdio de desenvolvimento da franquia, Masayoshi Yokoyama, acreditava que a marca Nintendo era muito family-friendly para uma série como Yakuza. Então, para fechar a última Direct Partner Showcase, foi anunciado o port de Yakuza Kiwami para Switch, pegando todos de surpresa. Mas será que ainda vale a pena viver a queda e renascimento do Dragão de Dojima? Prepare-se para lutar e venha comigo.
Dez anos depois, Kiryu é liberto e descobre que as coisas estão bem diferentes: Nishikiyama agora tem sua própria família, Yumi sumiu depois daquela fatídica noite, 10 bilhões de ienes do clã Tojo (o grupo acima das famílias) foram roubados e seu líder fora assassinado. Indo ao funeral para encontrar respostas, Kiryu encontra seu pai adotivo, Shintaro Kazama, que lhe diz ter informações sobre o paradeiro de Yumi, mas ele foi acertado por um tiro e Kiryu, mais uma vez, é acusado de um crime que não cometeu, obrigando-o a fugir às pressas do velório.
No dia seguinte, Kiryu encontra uma garotinha, Haruka, que se diz ser filha de Mizuki, irmã desconhecida de Yumi, portando um colar que a yakuza quer incansavelmente. Com isso, começa a jornada do Dragão de Dojima para descobrir a relação de Haruka com as gangues, encontrar Yumi, limpar seu nome e derrotar Nishiki.
Adições ao arsenal
Yakuza Kiwami é o remake, inicialmente lançado para PS3 e PS4, do primeiro jogo e a versão Switch é um port bastante fiel do relançamento. Tal como o jogo original, sua história é rica e complexa, inicialmente intimidadora pela quantidade de nomes, mas fácil de memorizar e adequar com a narrativa. Além disso, Kiwami trouxe flashbacks da queda de Nishiki, revelando como ele mudou de um homem bom e honrado para um lorde do crime e guerra. Os gráficos do jogo também são muito bonitos, com nenhum serrilhado e poucos carregamentos entre transições como entrar e sair de um local ou para começar o jogo. Eu só vi alguns modelos transpassando o chão e alguns NPCs andando contra cercas, mas era logo corrigido e acontecia pouquíssimas vezes.
Kiryu tem total liberdade para andar por Kamurocho, uma reconstrução bastante fiel do distrito real de Kabuchiko, com pessoas andando pelas ruas e estabelecimentos para acessar. Além de prosseguir com a narrativa principal, existem diversas histórias secundárias para explorar e conhecer as pessoas que moram na região, seja ajudando uma garota a vender palitos de fósforos ou lidando com golpistas imbecis. Isso faz com que sintamos a experiência de que Kamurocho é mesmo uma comunidade com pessoas vivendo ali, inclusive reagindo com Kiryu trombando com elas ao andar por aí.
Além dessas opções, existe uma vasta variedade de entretenimento para Kiryu se divertir no meio tempo que luta contra os demônios de seu passado, como ir num bar e beber diferentes tipos de álcool, jogar dardos (sozinho ou com um segundo jogador), sinuca, shogi, mahjong e até jogos de azar, todos recriados fielmente e cada um mais divertido que o outro (até a máquina de garra, tão irritante quanto na vida real). Admito que passei um bom tempo no karaokê, tentando acertar todas as notas de Baka Mitai, música popularizada pelo meme Da Me Da Me.
Quando foi lançado, Kiwami reformulou completamente seu sistema de combate para melhor se adequar com a prequel Yakuza 0. Assim, o sistema de combate é do gênero beat 'em all, porém com mais variedade. Kiryu tem acesso a quatro estilos diferentes de luta: Brawler (o mais balanceado), Rush (o mais rápido, mas deixando com golpes mais fracos e deixando a guarda mais aberta), Beast (o mais lento, mas com golpes devastadores e poderosos) e Dragon (um equilíbrio entre os três estilos e o principal usado por Kiryu).
Todos os golpes respondem bem e são muito satisfatórios de executar, ainda mais com duas das maiores singularidades de Yakuza, sendo a utilização do ambiente e objetos no combate e a mecânica Heat. Como em um bom jogo do gênero, Kiryu pode pegar objetos e arrancar a vida de inimigos com eles, variando de uma garrafa esquecida na rua até uma moto estacionada, se prontificando a detonar todo e qualquer pobre coitado que ousar entrar na frente dele. Ainda mais, ao acertar golpes, a barra de Heat cresce e dá a possibilidade de executar ataques especiais que arrancam a vida dos oponentes, podendo ser uma simples execução de socos até detonar a cabeça de alguém na porta de um carro (não se preocupem, Kazuma Kiryu jamais matou uma única pessoa), sendo igualmente satisfatórios e divertidos de executar e ver.
No começo do jogo, os golpes são poderosos e nocauteiam a maioria dos inimigos com facilidade. No entanto, dez anos no xadrez fizeram o Dragão de Dojima ficar ocioso, deixando-o bem mais fraco. Assim, é necessário derrotar inimigos para reconquistar a força antiga de Kiryu, implementando pontos de experiência para utilizar em diversas melhorias, como aumentar a barra de vida ou Heat do personagem, ganhar novos ataques, ou aumentar seu ataque ou defesa. Também existem tarefas pequenas para concluir (como comer todos os pratos de um restaurante ou derrotar uma certa quantidade de inimigos com execuções Heat diferentes) e adquirir pontos específicos, e melhorar certos aspectos como correr por mais tempo sem cansar, impulsionando ainda mais a volta à glória de Kiryu.
Não apenas isso, mas também foi adicionado o sistema “Majima Everywhere”, onde o personagem Goro Majima, capitão da família Majima e autodeclarado rival de Kiryu, aparece em diversas situações para desafiar o jogador e provar ser melhor, seja em uma luta ou jogando boliche. Ao longo da série, Majima virou um personagem favorito dos fãs e essa adição foi implementada para dar mais tempo de tela ao Cão Louco de Shimano, considerando sua pouca presença na história do primeiro jogo, o que resulta em momentos memoráveis e hilários, além de manter o jogador atento a suas habilidades e melhorar o estilo Dragon.
Em análises passadas, eu disse que todo relançamento que se preze deve incluir rascunhos e desenvolvimento de seus jogos para fins de preservação e curiosidade. Esse meu pensamento se estende inclusive para ports de remakes, e Yakuza Kiwami falha nesse quesito, não trazendo nenhuma adição ao jogo além de sua presença na plataforma. Por fim, o jogo não tem legendas em português, um problema enorme que compromete a compreensão da história (uma vez que os personagens só falam em japonês e existe a possibilidade de legendas em inglês).
EXTREMO
Yakuza Kiwami é uma enorme surpresa para a Big N, depois de tanto tempo ignorando a empresa. Existem erros que comprometem atingir sua perfeição, mas que podem receber vista grossa diante da qualidade gigantesca do produto final.Com uma narrativa poderosa, personagens icônicos, jogabilidade afiada e um dos melhores equilíbrios entre sombrio e humorístico que eu já vi, é com certeza um dos meus jogos favoritos de 2024. Agora é só rezar para que os outros títulos sejam anunciados também em um futuro próximo.
Prós
- História excelente, com camadas e reviravoltas;
- Personagens icônicos e carismáticos;
- Sistema de combate afiado e que responde bem;
- Ambientação viva e com variedade de minigames;
- Excelente equilíbrio de seriedade e humor;
- Port muito bem feito, sem travamentos e visualmente belíssimo.
Contras
- Falta de suporte ao português;
- Falta de bônus especiais como artworks e comentários de desenvolvimento.
Yakuza Kiwami — Switch — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sega