Análise: The Last Shot: Engrenagens da revolução

Aventure-se em um mundo dieselpunk destruído pela guerra.

O estilo artístico retrofuturista é um dos meus favoritos de todos os tempos, englobando tecnologia e visuais de eras diferentes com toques modernos e contemporâneos. Um dos subgêneros desse estilo é o dieselpunk, pegando a estética dos dois pós-Guerras Mundiais e do início da tensão nuclear, com ciência a base de diesel e muito, mas muito metal.


Bioshock e o reboot de Wolfenstein são exemplos de jogos inspirados nessa temática e The Last Shot, o mais novo jogo desenvolvido pelo estúdio russo Rumata Lab e publicado pela Sometimes You, parte desse movimento, apresentando uma história sutil, mas eficiente. Venha comigo encarar esse tempo sombrio.

HORA DE ACORDAR!

Tão rapidamente como uma explosão, a história de The Last Shot começa abruptamente, mostrando rapidamente uma cidade inundada por fumaça, metal e armas a postos. Com um grande estrondo, nosso protagonista acorda de seu sono e se prepara para ir ao trabalho, atuando como mecânico em uma fábrica ao mesmo tempo em que ajuda algumas pessoas pelo caminho.

Em sua companhia, ele tem uma amiga com quem dividiu momentos divertidos e que participa ativamente na linha de frente na guerra. Porém, ela é capturada e cabe ao nosso herói ir atrás dela enquanto desvenda uma conspiração macabra no conflito.

HORA DO TRABALHO!

Se a história parece simples neste pequeno resumo, é porque ela não poderia mais ser simplificada. A escolha de idiomas é nada mais do que uma formalidade (português é uma das opções, mas apenas lusitano) porque toda a trama é contada sem diálogos ou textos, apenas com expressões e desenhos, o que deixa uma linguagem universal para sua narrativa.

Isso é um ponto positivo e, ao mesmo tempo, negativo. Enquanto o jogo pode ser acessível para todos, existe um grande vácuo na história e no desenvolvimento do jogo. Não sabemos o nome do protagonista, de sua amiga, do governo que o oprime, do inimigo que luta, deixando um certo distanciamento entre jogador e objetivo (como se importar com os empecilhos do pobre mecânico se mal sabemos quem ele é e se suas relações são tão tênues?).

HORA DO ALMOÇO!

Como um bom mecânico, nosso protagonista tem à disposição três instrumentos cruciais para sua profissão, sendo uma chave-inglesa, um martelo e suas próprias mãos, bastante úteis em sua jornada. Pelo seu caminho, puzzles irão aparecer e eles devem ser ligados das maneiras mais simplórias possíveis, como apertar um botão até que canos se aliem, quebrar uma pedra com o martelo, puxar ou empurrar algo pesado com as mãos e consertar algo com suas ferramentas. 

Os comandos respondem muito bem, além da mobilidade de nosso corajoso herói ser travada, mas fluida, podendo andar, pular, correr e se abaixar levemente para passar por lugares baixos. Se tiver alguma dúvida, dicas sutis em formato de balão de pensamento aparecem sobre a cabeça do carinha, dando uma pista de como prosseguir.

O jogo não é muito longo, podendo ser completado em torno de cinco horas, sem coletáveis ou conteúdos para desvendar mais sobre o mundo, lore e personagens, o que é meio chato. O que é realmente um problema é a sua pouca variedade de trilha sonora. As músicas são bem legais, passando muito bem a impressão de retrofuturista e um mundo cercado por máquinas.

Isso vira um incômodo, no entanto, pela longevidade dos níveis, sendo extremamente longos e fazendo as músicas entrarem em loop mais vezes que eu gostaria de escutar. Elas são muito boas, mas podem irritar se tocadas incessantemente. Por fim, o jogo praticamente não tem carregamentos, apenas dois tipos um tanto demorados, sendo para começar o jogo ou entre fases, além que ele roda perfeitamente no Switch, seja na TV ou no portátil.

HORA DO SEGUNDO TURNO!

Nem só de problemas que The Last Shot é construído. Visualmente, o jogo é belíssimo. A arte de capa pode assustar alguns jogadores, com um estilo um tanto diferente em comparação com outros indies, mas, se passar pelo preconceito, quem joga é agraciado por um inferno feito de metal, borbulhando em vapor e óleo, mas impactante por sua apresentação.

Os gráficos são desenhos feito a mão, bastante expressivos e com tonalidades belíssimas, com destaque para os pôsteres que enfeitam as paredes da cidade, inspirados no construtivismo russo para emanar a ambientação industrial. Além disso, existem easter eggs muito bem colocados e divertidos de encontrar (meu favorito é ver a TARDIS, de Doctor Who, aparecer em algum canto e, quando saio da área de visão e volto, ela já não está mais no lugar). É possível controlar o zoom da câmera do jogo, podendo estar mais próximo ou distante da ação para ver melhor e, incidentalmente ou não, ter uma visão ainda mais ampla da beleza dieselpunk.

Por fim, um pequeno detalhe legal é a opção de usar máscara médica, podendo selecionar livremente no menu de opções. Ela é totalmente estética e não altera no gameplay, mas se usar, todos os personagens estarão usando também, um indicativo sutil da péssima qualidade em que o mundo do jogo se encontra.

HORA DE IR EMBORA!

The Last Shot é um puzzle simples que não ousa revolucionar como seu herói anônimo, mas é um jogo divertido de se passar umas horas. Sua beleza gráfica e seu entretenimento rápido são boas formas de matar um tempo.

Um pouco de oportunidade perdida para desenvolver um subgênero tão abrangente e interessante como dieselpunk, mas trazendo um mundo horroroso de viver, mas belo de apreciar.

Prós

  • Campanha bem curta, inspirando fator replay;
  • Belíssimos visuais dieselpunk;
  • Controles que respondem bem;
  • Praticamente sem tempo de carregamento;
  • História muda e de entendimento universal;
  • Puzzles divertidos.

Contras

  • Sem opção pt-BR;
  • Mundo e relações de personagens pouco exploradas,
  • Trilha sonora legal, mas que pode ficar irritante depois de um tempo em loop.
The Last Shot — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sometimes You

Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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