Análise: SINce Memories: Off the Starry Sky é o primeiro lançamento da série em inglês — e não é uma estreia marcante

Com diversos tropeços no texto em inglês, a trama, que já tem um ritmo lento, fica quase intragável, ofuscando os pontos positivos desta visual novel.

em 28/10/2024

Eu nunca tinha ouvido falar da série Memories Off, então meu contato com SINce Memories: Off the Starry Sky é mais uma recomendação do meu amigo e colega Ivanir. Ao menos, esta visual novel, que também é a entrada mais recente da franquia, não requer conhecimento prévio dos acontecimentos originais; porém, se tratando do primeiro lançamento oficial de um Memories Off no Ocidente, faltou cuidado da publicadora em adaptá-lo satisfatoriamente para o público-alvo.

Luto, redenção, amizades e romance

Junya Mizumoto é um estudante universitário que carrega a culpa pela morte de seu irmão mais velho, Takaya Mizumoto, alguns anos antes do desenvolvimento da trama. Devido ao trauma, as memórias do fatídico dia ainda são um mistério para o protagonista, mas ele está disposto a fazer de tudo para descobrir a verdade por trás da morte de Takaya e qual era o último trabalho que ele estava realizando.

Fora a vida universitária, Junya também ajuda seu pai com a loja Suigendo, que oferece serviços diversos — de mudanças simples a reformas — às pessoas que habitam a província de Sumisora, em Kanto. Ele também tem uma boa relação com suas amigas de infância, Chihaya Honjo e Hinata Ise, que dão seu máximo para evitar que o jovem se afunde no luto.


Contudo, o protagonista tem um grande defeito: apesar de ser um jovem de bom coração, ele se sente em dívida com seu irmão e quer, a todo custo, terminar o trabalho que Takaya começou. O estopim para o conflito entre realidade e idealização aparece quando Azusa Satomi, uma garota da idade da irmã mais nova do protagonista, acusa Junya de querer roubar o lugar de Takaya; para a misteriosa personagem, que aparentemente conhece o mais velho dos Mizumotos, o comportamento do filho do meio é inaceitável.

No entanto, os diversos sentimentos fragmentados do protagonista começam a vir à tona quando Junya decide ajudar Chihaya a reformar a antiga casa dos avós da garota. Inclusive, são esses sentimentos que colocam a história de SINce Memories para funcionar. 


De certa forma, a narrativa aposta em uma ambientação mais cotidiana e mundana (slice of life) com um ritmo um pouco mais lento para conduzir a leitura, trabalhando pouco a pouco as características individuais de cada personagem. Embora esta abordagem seja característica em visual novels do gênero, é entendível que algumas pessoas possam se sentir incomodadas com a demora para o desenvolvimento dos conflitos narrativos.

Não ajuda também o fato de que a localização para o inglês esteja abaixo do aceitável, com muitos erros de tradução e digitação que chegam a comprometer o entendimento de certas passagens textuais. Em alguns momentos, precisei reler trechos inteiros simplesmente para compreender o que estava sendo dito.

Cinco estrelas no céu azul

Além das já comentadas Chihaya, Hinata e Azusa, há mais duas garotas que podem se tornar um potencial interesse romântico para Junya: Yuriko Oyama e Chunyu Huang. Não cabe a mim dar spoilers, mas é muito interessante ver como, apesar de elas caírem em certos tropos midiáticos, suas personalidades vão muito além dessa superfície clichê.

Pela primeira vez em uma visual novel, eu não consegui decidir entre “gosto mais desta garota” e “esta ficará por último”; pelo contrário, todas são extremamente bem-trabalhadas e é difícil não querer conhecê-las mais a fundo. Também achei muito interessante como elas ajudam Junya, cada qual à sua maneira, a superar e conviver com o luto.


Novamente, muitas das informações transmitidas na rota comum só são melhor desenvolvidas quando entramos nas histórias individuais de cada uma dessas garotas, mas é uma leitura que vale a pena. Além disso, cada garota conta com três finais distintos (ruim, neutro e melhor), o que garante à visual novel um bom fator de rejogabilidade.

Para além dos interesses românticos de Junya, os personagens secundários também merecem destaque. Eles também têm importância na vida do rapaz, mas, em vários momentos, senti que a relação entre eles poderia ser melhor trabalhada.


Eu queria, por exemplo, ter entendido melhor o que faz Misora Mizumoto ser tão próxima de seu irmão, quando os dois têm objetivos e personalidades totalmente opostas. O mesmo vale para Aino, a melhor amiga de Misora e que claramente nutre uma paixão não correspondida por Junya, mas ela é delegada apenas a esse tropo.

São oportunidades um pouco desperdiçadas, mas que não chegam a comprometer o aproveitamento da leitura. No geral, a respeito dos personagens, temos desenvolvimentos críveis e verossímeis, o que é mais um ponto positivo para a visual novel.

O básico do básico de uma visual novel

O ponto alto de SINce Memories certamente está na sua excelente apresentação audiovisual. As artes são lindas e em alta definição, e os sprites, que seguem essa mesma qualidade, contam até com variações que dão mais charme aos personagens, como vê-los de costas, sincronização labial e até alterações nas expressões faciais.

Além do charme visual, a trilha sonora é, na minha opinião, o ponto alto do jogo, com composições que realmente enaltecem cada momento da trama. Para completar o pacote, todos os personagens possuem dublagem integral em japonês — a única exceção aqui é Junya, mas ele quebra o padrão de “protagonista silencioso” com algumas falas dubladas.


No entanto, apesar de a visual novel trazer os elementos esperados em termos de jogabilidade (possibilidade de pular texto já lido, salvamento/carregamento rápido, velocidade de texto, leitura automática e histórico de mensagens etc.), essas ferramentas não vão além disso. Para piorar, não existe um modo de voltar a um ponto específico da narrativa por meio do log, mas a gota d’água é a versão de Switch não ser compatível com a tela de toque do console.

A interface simples, porém delicada e a presença de galeria para conferir CGs, finais, vídeos e músicas fecham o pacote, fazendo com que este seja um jogo que consiga atiçar a curiosidade por seu visual charmoso.

Podia ser melhor? Sim, mas não deixa de ser uma boa recomendação

SINce Memories: Off the Starry Sky marca a chegada da franquia Memories Off ao Ocidente, mas, infelizmente, deixa a desejar em um aspecto importante: a localização para o inglês, que compromete significativamente o aproveitamento e entendimento da história. Talvez não seja a melhor maneira de promover um conteúdo inédito para este lado do globo, porém o produto final é uma ótima recomendação para quem gosta de uma narrativa mais mundana, verossímil e “pé no chão”.

Prós

  • Primeiro jogo da série Memories Off oficialmente traduzido para o inglês;
  • Personagens bem-construídos e verossímeis;
  • A trama, apesar do desenvolvimento lento, é bem-conduzida;
  • Ótima apresentação audiovisual, com direito a dublagem integral em japonês para os demais personagens e parcial para o protagonista;
  • Artes e sprites em alta definição;
  • Oferece todos os recursos de jogabilidade necessários para o bom funcionamento de uma visual novel.

Contras

  • O ritmo lento pode desmotivar algumas pessoas;
  • Erros grotescos na localização para o inglês, tanto de tradução quanto de digitação, muitas vezes comprometendo o entendimento do texto;
  • Sem suporte à tela de toque do Switch;
  • Sem recurso para voltar a um trecho já lido por meio do log de mensagens.
SINce Memories: Off the Starry Sky — PC/PS4/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida por PQube

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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