Análise: Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven traz uma história que perdura gerações em um RPG fenomenal

O novo título da Square Enix é um verdadeiro banquete de sistemas e possibilidades, proporcionando uma experiência ímpar para os fãs de RPGs.

em 30/10/2024
Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven é um remake completamente em 3D do RPG lançado originalmente em 1993 para Super Nintendo. Em nosso texto de impressões, afirmamos que o jogo tinha potencial para ser um dos melhores RPGs do ano, e foi exatamente isso que a Square Enix nos entregou.

A lenda dos sete heróis

Em um passado distante do universo de Romancing SaGa 2, sete heróis se uniram para salvar o mundo de uma calamidade. Com o passar do tempo, esse grupo se transformou em uma lenda, contada através de gerações, que afirmava que ele retornaria quando a humanidade mais precisasse de sua ajuda.

Essa profecia se cumpre, mas não da maneira esperada. Isso porque os sete indivíduos retornam corrompidos e repletos de ressentimento. No meio desse caos, durante um ataque organizado por Kzinssie, um dos guerreiros lendários, Victor, um dos dois príncipes do Império Varennes, acaba falecendo.

Após uma investida malsucedida contra o antigo herói, o rei Leon fica gravemente debilitado. Para livrar o mundo desse mal, o monarca recorre a uma magia de sucessão, transferindo seus conhecimentos e poderes ao seu filho caçula Gerard, incumbindo-o dessa árdua missão.

A narrativa de Revenge of the Seven é bastante curiosa, pois se desenrola ao longo de várias gerações, com o jogador constantemente controlando um novo governante que herda a sabedoria de seu antecessor. Com exceção de Gerard e do último imperador, que possuem uma conexão mais direta com a trama central, os diversos monarcas atuam mais como avatares do que propriamente como protagonistas.

Diferentemente de muitos RPGs da Square Enix, nos quais acompanhamos o desenvolvimento de laços entre um grupo de heróis, aqui, o foco do enredo está nas pequenas histórias que cada região do mundo oferece. À medida que ajudamos indivíduos e cidades a resolver seus problemas, expandimos nosso domínio e influência nesses lugares.

Embora essa abordagem possa incomodar alguns jogadores por gerar uma certa desconexão com os personagens jogáveis, as tramas que encontramos são verdadeiramente cativantes. Ainda que o objetivo principal seja derrotar os sete vilões, a importância narrativa e a influência gerada nos aspectos de gameplay fazem com que o conteúdo alternativo se confunda com o obrigatório.

Graças a esses aspectos, Revenge of the Seven se torna um jogo em que todas as missões disponíveis são relevantes, seja para enriquecer o mundo e o próprio Império Varennes, seja para trazer mudanças palpáveis aos elementos da jogabilidade. Somado a isso, a não-linearidade característica da série nos permite explorar eventos sem uma rigidez de ordem e com algumas resoluções diferentes, resultando em uma das obras mais singulares do gênero e garantindo um grande fator replay.

Para finalizar sobre a história, é importante destacar que o jogo utiliza flashbacks para contextualizar a vida dos sete heróis, mostrando como se reuniram, o que enfrentaram e por que se corromperam. Lamentavelmente, mais uma vez, temos um excelente título da Square Enix que não conta com legendas em português.

Um mundo que vale a pena desbravar

Em Revenge of the Seven, a exploração se dá em uma perspectiva 3D em terceira pessoa. Aqui, o mundo é dividido em diversas regiões abertas, cidades e masmorras, as quais podemos acessar por meio de viagens rápidas disponíveis no mapa geral.

Além de andar e correr, também podemos pular, e muitas dungeons incluem trechos onde essa ação é essencial. Vale destacar que podemos ver os inimigos vagando pelos cenários e surpreendê-los com ataques pelas costas, garantindo uma vantagem inicial nos combates. Os ambientes ainda são repletos de itens e baús, recompensando a exploração.

A investigação minuciosa do mundo de Romancing SaGa 2 beneficia o jogador de várias maneiras. Um dos destaques são os Mr. S, pequenos seres amarelos de um olho só, que concedem uma recompensa a cada cinco encontrados. Para exemplificar, ao coletarmos 25 dessas criaturas, desbloqueamos a habilidade de visualizar todos os baús presentes em uma área.

Outro recurso que recompensa os exploradores são os já mencionados flashbacks que abordam o passado dos sete heróis. Essas lembranças são acessíveis por meio de mecanismos espalhados em diversas regiões e, além de fornecerem uma ótima contextualização narrativa, encontrar esses objetos nos premia com recursos importantes, incluindo uma nova classe e a possibilidade de construir novas instalações (um sistema que abordaremos mais adiante).

Infelizmente, o principal ponto negativo de Revenge of the Seven também está relacionado ao mundo, embora eu acredite que ele se manifeste apenas na versão do Switch. No console da Nintendo, o jogo apresenta uma lentidão no carregamento das texturas ao entrarmos em um cenário. Ainda que esse atraso seja breve, trata-se de algo visualmente desagradável.

Desenvolvendo um reino

Um sistema muito importante em Romancing SaGa 2 é o desenvolvimento de Avalon, a capital de Varennes. Aqui, ao pagarmos quantias consideráveis de moedas, conseguimos construir várias estruturas na cidade, as quais desbloqueiam novas mecânicas.

Para exemplificar, podemos construir e aprimorar uma ferraria, com cada novo upgrade no local oferecendo mais opções de equipamentos e acelerando o processo de fabricação. Já com o laboratório de magias, conseguimos combinar dois elementos para criar novos feitiços.

São cinco estruturas ao todo, com algumas delas possuindo mais aprimoramentos do que outras. Embora a construção se resuma a acessar um menu e pagar o valor correspondente, os benefícios que esses estabelecimentos trazem influenciam muito os demais sistemas do jogo, especialmente no que se refere ao combate.

Um sistema de combate profundo e viciante

Falando sobre o combate, em vez do tradicional nível geral de personagens, Revenge of the Seven utiliza níveis de maestria individuais para cada arma ou elemento empregado. Assim, quanto mais um sujeito empunhar uma espada pequena, maior será seu nível de proficiência com esse equipamento. O mesmo se aplica a arcos, espadões e todos os outros tipos de armas, além das diversas categorias de elementos das magias.

Neste jogo, cada espécie de arma possui um golpe básico que não consome MP, aqui denominado de BP (Battle Points). No entanto, à medida que utilizamos o equipamento, habilidades mais poderosas, com diferentes custos de BP, são desbloqueadas por meio de Glimmer, uma mecânica que permite que os heróis aprendam novos movimentos durante o próprio confronto.

Um dos aspectos mais interessantes deste remake é que as batalhas se tornaram mais intuitivas. Assim, na aba de techs, que abrange todas as habilidades de armas, podemos visualizar, por meio de um ícone amarelo, quais talentos têm uma probabilidade de ativar  Glimmer.

Há uma ampla variedade de inimigos, e cada um deles apresenta fraquezas específicas a determinados tipos de armas ou spells (magias). Explorar essas vulnerabilidades, que também são facilmente identificáveis nas listas de golpes, é fundamental não apenas para maximizar o dano causado aos monstros, mas também para preencher uma barra chamada Overdrive.

Com o Overdrive preenchido, podemos desencadear os United Attacks, que são poderosos golpes combinados entre os personagens. Embora, a princípio, possamos mesclar apenas duas habilidades, à medida que cumprimos certos requisitos, como conquistar novos territórios ou encontrar lembranças dos sete, a capacidade de combinação se expande gradativamente até chegar ao ponto em que todo o grupo possa participar.

Outro elemento com o qual precisamos nos preocupar é o LP (Life Points), um valor que representa a vitalidade total de cada herói. Quando o LP chega a zero, o sujeito sofre uma morte permanente. Embora o HP sempre se regenere ao final de cada combate, o jogo é desafiador e exige que o jogador mantenha constante atenção para evitar a perda definitiva de seus personagens.

Ainda vale destacar que o sistema de herança não afeta apenas o monarca, mas todos os seus aliados. Assim, conforme as gerações avançam, nossos heróis são substituídos por seus descendentes. Vale destacar que muitos indivíduos são desbloqueados conforme cumprimos as diversas missões espalhadas por Varennes, o que se torna mais um motivo relevante para explorarmos todo o mundo.

Graças a todos esses aspectos, somos incentivados a montar um grupo diversificado para cobrir ao máximo as fraquezas dos inimigos. Além disso, embora exista um mecanismo de recuperação de energia na área anterior a cada boss, o trajeto até eles é bastante longo em algumas dungeons. Como praticamente todas as habilidades consomem BP, precisamos gerenciar esse recurso de forma estratégica.

Apesar de apresentar inúmeros sistemas e exigir que o jogador compreenda e domine todos os elementos relacionados ao combate para superar os principais desafios, Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven é uma excelente porta de entrada para conhecer a série SaGa. Este remake não apenas torna o combate mais intuitivo como também introduz gradualmente as diferentes mecânicas, oferecendo explicações adequadas ao longo da campanha.

Um RPG indispensável

Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven é um remake que captura a essência de um RPG curioso e icônico e o revitaliza para os padrões modernos, tornando-se uma excelente escolha para os veteranos da série SaGa e uma ótima porta de entrada para novos jogadores. Com uma combinação primorosa de diversos sistemas distintos, o jogo se destaca como um representante indispensável do gênero e se consolida como uma das obras mais fascinantes da Square Enix.

Prós

  • A não-linearidade e as possibilidades com as quais podemos lidar com algumas situações conferem liberdade ao jogador e fazem com que o jogo possua um excelente fator replay;
  • Trama interessante que foca nos problemas individuais do império ao longo de várias gerações, além de apresentar de forma envolvente a transformação dos heróis em vilões;
  • Todas as missões disponíveis são relevantes, contribuindo para a construção do mundo e desbloqueando mecânicas importantes;
  • Os elementos que caracterizam a exploração do mundo influenciam outros sistemas e recompensam o jogador de maneira satisfatória;
  • O sistema de combate é profundo e muito divertido, oferecendo diversos subsistemas para explorarmos, como Glimmer e United Attacks.

Contras

  • A abordagem narrativa pode resultar em uma desconexão emocional com a maioria dos protagonistas, o que pode incomodar alguns jogadores;
  • A versão do Switch apresenta um atraso no carregamento das texturas ao entrarmos nas regiões;
  • Ausência de legendas em português.
Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven — PC/PS4/PS5/Switch —  Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix
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