É natural que, quando se trata de uma franquia tão longeva como The Legend of Zelda, haja a expectativa de renovações frequentes para garantir que os jogos continuem a surpreender os jogadores, sem descaracterizar os elementos que os tornaram famosos e icônicos. Echoes of Wisdom, o próximo título da série que estará disponível em breve, tem a responsabilidade de trazer essas renovações à categoria das aventuras com câmera de vista de cima e, pelo que sabemos até agora, pode trazer um futuro promissor para elas.
Aprendendo com os irmãos
Breath of the Wild foi, sem dúvida, um dos jogos mais importantes para que a franquia saísse de uma longa estagnação que havia sido agravada por seu antecessor, Skyward Sword, devido ao esgotamento da fórmula utilizada desde Ocarina of Time. Esse feito foi realizado ao trazer uma completa mudança do loop de jogabilidade, onde houve uma revisão de conceitos muito estabelecidos, como o desbloqueio de itens por calabouços, uma história mais linear, entre outros.
Por outro lado, os jogos 2D da série não necessariamente estagnaram ou cansaram suas fórmulas, mas, em compensação, enfrentaram um grande hiato entre as últimas entradas. A última foi Link’s Awakening, um remake, em 2019 e, se quisermos contar o último título totalmente inédito, teremos que voltar mais de 10 anos até A Link Between Worlds no 3DS, que também foi uma espécie de pseudo-remake de A Link to the Past.
Este “remake”, no entanto, foi responsável pelo teste de algumas ideias que viriam a influenciar Breath of the Wild, como a entrega de todos os itens principais logo no início da aventura e a não-linearidade de escolher as dungeons sem uma ordem tão pré-determinada. Com Echoes, é possível retomar o ciclo de inovações, fazendo com que os títulos de câmera top-down aprendam com as últimas aventuras tridimensionais e pratiquem novos experimentos que possam impactar toda a franquia no futuro, aproveitando o longo hiato como uma vantagem.
Nesse quesito, a nova aventura estrelada por Zelda mostra-se disposta a tentar renovações logo com a troca de protagonista: este será o primeiro título principal comandado totalmente por ela, assim como também o primeiro em que o personagem jogável não será Link. Isso permitiu que os desenvolvedores refletissem como poderiam trazer uma jogabilidade mais única, já que um novo herói não precisa ser limitado às espadas, cambalhotas e outros elementos clássicos do fiel escudeiro de Hyrule.
Essa reflexão resultou na criação de uma jogabilidade com influência de aspectos mais sandbox, uma tendência que foi recentemente explorada em Tears of the Kingdom. Zelda, por exemplo, poderá interagir com qualquer objeto pelo cenário e utilizá-lo a seu favor para combate, movimentação e resolução de problemas, algo semelhante ao que vimos nas mecânicas Ultrahand e Fuse de Tears.
Outra influência que pode ser atribuída às aventuras tridimensionais recentes está no próprio cenário de Echoes, que parece ter uma maior verticalidade. Os jogos 2D tendem a ser mais rígidos em sua construção de mundo, permitindo pouca exploração além dos limites do que está na mesma altura do protagonista, o que torna a introdução da habilidade de, por exemplo, pular e alcançar árvores, uma quebra destes paradigmas sem que o jogo necessariamente se transforme em um mundo aberto.
Isso reforça que a chave para a experimentação está em saber traduzir aquilo que se encaixa em cada estrutura de gameplay. Não havia um desejo de um Legend of Zelda com vista de cima funcionando exatamente como Breath of the Wild, mas os ensinamentos trazidos de lá tornam a nova aventura mais interessante e permitem novas possibilidades de jogabilidade.
Olhando para a frente
A grande questão levantada por essa matéria, contudo, é: como será o futuro da franquia a partir da premissa de Echoes? É difícil respondê-la antes do lançamento do jogo, uma vez que não sabemos como, na prática, todas essas mecânicas irão se entrelaçar; porém, certos elementos já apresentados podem apontar alguns caminhos.
A escolha de Zelda como protagonista, por exemplo, permite um futuro em que poderemos ter mais jogos com outros personagens titulares. A franquia possui um vasto catálogo de possibilidades para escolha, do qual os próprios desenvolvedores têm conhecimento, já que se aproveitaram disso para criar experiências como os spin-offs no estilo musou.
Nada impede que tenhamos uma jornada em que Impa ou algum vilão seja o protagonista jogável — ou melhor, uma aventura em que haja múltiplos personagens, seja aventurando-se em conjunto ou até mesmo por meio de campanhas separadas. Isso permitiria que os desenvolvedores pudessem explorar outros ângulos de algumas raças conhecidas da série — imagine jogar com uma guerreira Gerudo ou um Goron brutamontes?
Echoes of Wisdom também mostra que as aventuras “open air” da série podem coexistir com jornadas menores e mais contidas. Nos últimos anos, alguns fãs têm sentido falta da estrutura mais tradicional, com calabouços com chaves, portas, puzzles e um pouco de combate, além de outros elementos da antiga fórmula de Ocarina of Time.
Dado o escopo mais limitado das aventuras 2D, elas podem ajudar a suprir um pouco dessa falta; por exemplo, sabemos que em Echoes haverá dungeons mais tradicionais, além do próprio mundo ser menor e talvez não tão aberto. É, novamente, o reflexo daquilo que apontamos anteriormente: o equilíbrio entre o velho e o novo, aprendendo com o que se criou, mas não deixando totalmente para trás as raízes que deram alicerce a tudo.
Inovação x Tradição
The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom deixa claro que a franquia segue versátil o suficiente para continuar entregando aventuras novas e familiares ao mesmo tempo, independentemente de seu escopo. Considerando tudo que sabemos do jogo até então, o futuro da vertente 2D segue em boas mãos com um potencial promissor para surpreender e manter seus fãs. Que outras surpresas você está esperando para esta nova jornada? Deixe nos comentários!
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Revisão: Davi Sousa