Crônica

Setembro Amarelo — Como Animal Crossing: New Leaf salvou a minha vida

A paz de ser prefeito no pior ano da minha vida.

! AVISO: ESTE ARTIGO TRATA SOBRE TEMAS SENSÍVEIS QUE PODEM CAUSAR GATILHOS PARA CERTAS PESSOAS !
Existem algumas máximas na vida que infelizmente ninguém consegue escapar. O primeiro coração partido, as dores do crescimento, dúvidas e angústias pessoais e, acima de tudo, escapar da morte. Todos já tivemos experiências relacionadas com a morte, seja perder pessoas próximas em eventos traumáticos, ver um pet que você ama tanto falecer ou até passar por eventos que quase nos levaram ao fim, como por pouco não ser atropelado em uma rua movimentada.


Mas, em algumas pessoas, a qualidade de vida e o estado mental podem desencadear pensamentos intrusivos e ações agressivas que colocam sua própria vida em risco. A grosso modo, pensamentos suicidas. E, para combater essas dores, é preciso se encher com pessoas que te amam e coisas que melhorem seu ego. Neste último dia de setembro, em respeito ao Setembro Amarelo, eu gostaria de compartilhar um pouco da minha experiência e como um pequeno jogo chegou no momento que eu mais precisava: Animal Crossing: New Leaf.

Um pouco de contexto

O ano era 2018. Logo nos primeiros dias, eu tinha sido picado por um escorpião preto e eu notava tensões entre pessoas que eu amo. Mentiras e revelações apareciam e eu tentava ao máximo colocar uma máscara de que eu estava bem, que as coisas poderiam melhorar. Por volta da metade de janeiro, eu e minha família descemos para praia mas, antes, passamos em São Paulo para comer e abastecer.

Na época, Animal Crossing: Pocket Camp havia sido lançado e foi minha primeira vez jogando algum título da franquia. Era um joguinho legal, mas eu queria entender melhor o apelo de interagir com os personagens, não meramente ficar preso na mecânica gacha e limitada de um jogo de celular. Quando chegamos em São Paulo, eu comprei Animal Crossing: New Leaf para o meu 3DS por um preço bem camarada e, no meio da viagem, comecei a jogar.

Dono do meu mundinho

New Leaf tem como contexto um viajante que chega a uma pequena cidade e lá, depois de algumas peripécias rápidas, vira o prefeito da comunidade, podendo construir uma casa para si e melhorar a infraestrutura do local como colocar estabelecimentos e plantar árvores.

Não apenas isso, mas residentes chegam e partem depois de um tempo, criando laços com os habitantes e principalmente com o jogador, além de eventos dependendo do período do ano. Exemplo: em outubro, começa o preparatório para o Halloween. Após isso, a neve começa a cair, sinalizando o início do inverno e a chegada do Natal e Ano Novo. Em fevereiro, tem o carnaval, seguido da Páscoa em março/abril e por aí vai. Em suma, a sua cidade é seu playground.

Minha salvação

2018 foi, sem dúvidas, o pior ano da minha vida. Pelo ano inteiro eu tive inseguranças sobre o mundo ao meu redor, dúvidas sobre meu desempenho na faculdade, infelicidade plena, o falecimento da minha avó e outros fatores que eu não me sinto seguro em falar online por questões pessoais. Mas uma coisa eu digo: meu espírito e mente estavam quebrados. Não vou mentir que eu pensei muito no fim da vida. Só por sorte e muita fé que eu não fui além, graças também ao suporte e amor das pessoas na minha vida, uma fagulha de esperança no meu coração e certas mídias que consumi.

Em livros, eu tive JoJo’s Bizarre Adventure, One Piece e o Épico de Gilgamesh. Em anime, Kill la Kill e Tengen Toppa Gurren Lagann. E, por fim, em jogos, The World Ends With You, Asura’s Wrath e o tópico deste artigo, Animal Crossing: New Leaf. Ligar meu 3DS depois do almoço, ser agraciado pela presença dos habitantes coloridos da minha cidade e vê-la crescer lentamente virou um ritual pelo ano.

Perceber que o jogo notava se eu não acessasse ele por alguns dias me impulsionava a jogar diariamente também, seja pelo compromisso de ver as reações dos personagens ou, se o dia fosse especial, achar algo diferente na minha cidade. Isso aumentou quando eu pude ir para Tortimer Island e ter mais diversão com uma família de tartarugas. E depois que eu conheci algumas amizades por causa das visitas online, eu pude experimentar ainda mais o que New Leaf poderia oferecer.

Folhas caindo, Sol subindo

Não posso dizer que todos meus medos e eventos traumáticos daquele ano fatídico foram todos resolvidos simplesmente por caçar borboletas e pagar meu aluguel para Tom Nook. Mas digo com firmeza que me ajudou a passar por alguns momentos terríveis, em que percebi que eu estava precisando frear um pouco minha vida caótica e simplesmente relaxar em uma terra colorida.

New Leaf cresceu rapidamente como um dos jogos mais preciosos para mim, ao ponto de eu torcer firmemente para que Isabelle entrasse no então anunciado Super Smash Bros. Ultimate. E lá estava ela, no final daquela transmissão especial de setembro, abrindo o envelope toda surpresa e se juntando ao panteão.

Eu estava no meio da aula assistindo e quase gritei de alegria ao ver que ela recebeu uma chance de provar seu valor no campo de batalha. E quando comprei meu Switch e, inevitavelmente Mario Kart 8, ela e a Villager feminina obviamente viraram duas das corredoras que eu mais gosto de selecionar quando decido disputar as corridas.

Fiquem bem

Quando os fogos de artifício estouraram no ano novo de 2019, lá estava meu 3DS aberto. Eu estava comemorando a virada com família e amigos em dois planos existenciais. Depois de um ano excruciante e incerto, eu sobrevivi. A parte mais engraçada é que 2019 foi um dos anos mais calmos da minha vida, continuando a jogar New Leaf e outros jogos.

Seis anos depois, estou aqui. Já faz um tempo que eu não visito minha cidade, mas as memórias e sentimentos que esse simpático jogo me deram são muito importantes. Me ajudaram a me sentir vivo de novo, a seguir com minha vida e enfrentar dores e sofrimentos.

E parece que Animal Crossing não apenas me ajudou. Eu me lembro de ver artigos e notícias nos primeiros anos da pandemia do coronavirus e como muitas pessoas estavam achando conforto em suas ilhas, brincando isoladamente ou com amigos. Às vezes, é bom relaxarmos, simplesmente acertar um balão e ver o que tem dentro, pescar um pouco e pegar um tubarão enorme ou simplesmente arrumar o lugar onde você mora.

Mas acima de tudo, saiba disso: você não está sozinho, caro leitor, e você está indo muito bem.

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli

Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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