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Perfil: Zora — a história dos povos aquáticos nas lendas de Zelda

Pela primeira vez, os dois tipos de Zora se encontrarão em um mesmo jogo.

em 12/09/2024

Ao longo dos 38 anos de The Legend of Zelda, Hyrule e as terras adjacentes foram habitadas por diversos povos humanos e não-humanos: Sheikah, Gerudo, Hylians, Kokiri, Picori, Twili, Goron, Rito; a lista é longa. Talvez a raça hyruleana que mais surgiu nessas aventuras tenha sido os Zora, o povo aquático. Eles estão presentes em 15 lendas, da que inaugurou a série à 21ª, Echoes of Wisdom, que será lançada em breve.

Como eu já expliquei em outro artigo, cada conto de Zelda aumenta um ponto. Uma das novidades agora é que, pela primeira vez, os Zora serão representados por duas tribos diferentes em um mesmo jogo: a do Rio e a do Mar. As duas são antigas, mas sempre estiveram em vertentes separadas, ainda que ostentassem o mesmo nome.

Por isso, a seguir vamos conhecer esses dois tipos usando os nomes empregados em Echoes of Wisdom apenas para diferenciar os designs, ok?



Uma raça, dois tipos, vários povos

Zora do Rio

Os Zora do Rio são os que têm cabeça de peixe com barbatanas nas laterais, com um corpo mais rústico, que lembra o de anfíbios. Com essa forma monstruosa, eles surgiram como inimigos desde o The Legend of Zelda original e marcaram presença em quase todos os jogos 2D da série, atacando quando Link invade seu território. Em A Link to the Past, vemos que essas criaturas são capazes de fala e até fazem negócios, pois o rei Zora vende (caro) um par de sapatos para natação.

Esse povo nunca foi totalmente amistoso ou aliado. Em A Link Between Worlds, os Zora apresentam certa organização social sob o governo da rainha Orden, que é uma dos Sete Sábios que protegem a Triforce, mas nem todos a obedecem. Os desgarrados territorialistas que se espalham pelos rios ficam cada vez mais selvagens com as eras, até serem reduzidos a feras na época de Zelda II: Adventure of Link.



Zora do Mar

Os Zora do Mar, por sua vez, têm aparência mais esguia e traços semelhantes a peixes, com uma cauda atrás da cabeça e longas barbatanas pendendo dos braços. Ao mesmo tempo, seus rostos são mais próximos das feições humanas e eles formam um reino civilizado que é aliado dos Hylians desde sua primeira aparição, em Ocarina of Time. 


Os povos são tão próximos que a princesa deles, Ruto, deseja se casar com Link, mas talvez essa conexão tenha acontecido porque ela é um dos Sete Sábios daquela era e ele é um portador da Triforce. Este segundo tipo representou a tribo nos jogos 3D (mas também apareceu em Oracle of Ages), acompanhando a distinção de design que marca os dois estilos que a série Zelda manteve paralelamente.

Tá, mas pera lá um pouco. Os dois tipos sempre foram vistos vivendo em lagos e nos rios que deságuam neles. Como assim tem um tipo de Zora do Mar? Há precedente para isso, uma vez que houve um reino Zora marítimo em Majora’s Mask. Ok, ainda não parece base suficiente, precisamos de mais contexto.

Ou seja, é hora da linha do tempo de Hyrule!

As linhas do tempo dos Zora

Já discuti sobre a relatividade dessa cronologia, que é legal, mas não deve ser levada muito a sério, então não voltarei a argumentar aqui. Vou apenas seguir o que diz o livro de 2017, The Legend of Zelda Encyclopedia.

A saga de Ocarina of Time dividiu a linha do tempo de Hyrule em três ramificações. 

A linha do tempo da derrota é aquela na qual Ganondorf vence Link. O jogo seguinte é A Link to the Past, e já vimos que ali os Zora não queriam muita conversa.

Já a linha do tempo de Link adulto leva a The Wind Waker, no qual Hyrule foi coberta por uma água e formou um grande oceano que, por algum motivo, era impróprio à sobrevivência dos Zora. Em face ao perigo, eles evoluíram para voar pelos céus, dando origem ao povo-pássaro Rito. Como? Pela magia das escamas do espírito do céu, o dragão Valoo, que se tornou sua divindade protetora.



A última linha do tempo é a de Link que volta a ser criança, seguindo para Majora’s Mask e, um século depois, para Twilight Princess. Nesses jogos, a civilização Zora perdurou como uma monarquia forte e importante para a manutenção da ordem do mundo, o que também vemos no jogo que está no final longínquo das linhas do tempo: Breath of the Wild.

É interessante apontar que esse jogo tem tanto Zora quanto Rito, o que pode significar que nem todos os Zora se tornaram pássaros e parte da raça permaneceu aquática, em uma bifurcação evolutiva de um ancestral em comum.

Em resumo, os Zora têm três destinos: monarquia orgulhosa, monstros e pássaros. E como eles estão em Echoes of Wisdom?

Mesmo mostrando as raças Goron e Deku Scrub, os trailers dão a entender que os Zora terão mais destaque que os demais, inclusive com dois vilarejos para visitar na campanha, um para cada tipo. Ou seja, pela primeira vez, os dois grupos coexistirão em um jogo só, como duas tribos que, apesar das semelhanças, valorizam mais suas diferenças.

Pelos trailers, as coisas parecem não estar muito boas entre eles: há uma rivalidade que precisará da intervenção diplomática da princesa Zelda.



Apêndice: algumas possíveis referências

Embora não possamos afirmar sobre inspirações diretas para a criação dos Zora, o tema de raças aquáticas sencientes é muito antigo e comum ao redor do planeta, da antiga Mesopotâmia à Europa medieval, aos povos indígenas brasileiros e ao conto A Pequena Sereia, escrito em 1838 pelo dinamarquês Hans Christian Andersen.

Em referências mais modernas, a ideia de uma raça de terrível mistura entre humanos e peixes está presente em contos icônicos de H. P. Lovecraft, como Dagon (1917) e A Sombra Sobre Innsmouth (1938), além do filme O Monstro da Lagoa Negra (1954), um dos monstros clássicos da Universal Studios. O design da criatura lembra bastante aquele que mais tarde seria usado para os primeiros Zora, incluindo o rei Zora de A Link to the Past, especialmente quando vemos a representação no mangá de Shotaro Ishinomori.

O Japão, sendo um arquipélago, dá ao mar uma grande importância em suas histórias, que até falam de um reino sob as águas. Talvez a mais famosa desse ramo seja a do pescador Urashima Tarô em sua visita ao palácio do imperador marinho que, em vez de um homem-peixe, é um dragão. Quem o leva até lá é a princesa Otohime, que foi salva pelo humilde herói humano e se apaixonou por ele, dando-lhe a bênção de respirar na água, uma história que facilmente lembra a da princesa Ruto, de Ocarina of Time.



Ecos de Sabedoria

Como esperado, Echoes of Wisdom dará continuidade a diversas tradições da série e fará até um “crossover” cultural entre os Zora aliados e aqueles que costumavam ser representados como monstros, no que será mais uma oportunidade para a soberana de Hyrule mostrar que a força de sua Sabedoria ecoa a própria base do seu reino.

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Revisão: Juliana Paiva Zapparoli

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
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