Análise: Cricket: Jae's Really Peculiar Game é uma charmosa aventura entre amigos

Superando traumas e medos, um grupo de jovens busca realizar seus desejos.

Um dos subgêneros mais simpáticos dos jogos, na minha opinião, é o RPG Motherlike. Se você acompanhou meus artigos no final de julho para comemorar os 35 anos da trilogia Mother, já deve saber do meu enorme amor pela série e como fico sempre ligado quando aparece algum jogo inspirado na franquia.


Às vezes, um game pode ir muito bem e criar sua própria identidade, enquanto outros têm muita inspiração e pouca substância para serem únicos.

Dentre os anúncios das últimas transmissões do Mother Direct, onde jogos de fãs baseados em Earthbound são revelados, estava Cricket: Jae's Really Peculiar Game, destacando-se pelos gráficos desenhados a mão e combate dinâmico com combinações de membros do grupo. Vista sua capa e pegue as barras de cereal, pois está na hora de uma pequena aventura.

A dor da perda

Em uma pequena cidade, vive Jae, um rapazinho que era bastante feliz e ativo, especialmente próximo de sua mãe. No entanto, ela havia falecido recentemente, deixando-o sozinho e triste, com apenas Zack, seu melhor amigo, como companhia para apaziguar a dor.

Depois de uma rápida desventura para levar flores ao túmulo de sua mãe, uma garota cai do céu com um cone de trânsito, quase acertando Jae e Zack. Seu nome é Symphony, e ela está indo em direção a Yimmelia, uma terra mágica na Lua que, reza a lenda, pode realizar desejos. Vendo essa a oportunidade para ter sua mãe de volta, os três novos amigos partem em uma jornada para chegar ao local mítico, enquanto arranjam novos companheiros e desafiam traumas e dores internas que os assombram.

A amizade é mágica

A apresentação de Cricket é poderosíssima, com uma história única, recheada de temas fortes e personagens carismáticos, cada um com suas singularidades que os tornam interessantes de acompanhar. Suas interações são verossímeis e bastante emocionantes, com alguns momentos que nos fazem prender a respiração e cativam por seu charme.

Não são apenas os protagonistas que são divertidos e interessantes, mas sim todo o universo do jogo. As cidades são coloridas, com suas próprias músicas igualmente únicas e emanando o charme da pegada Motherlike, com os mais variados e esquisitos cidadãos habitando-as. De policiais inúteis a garotos viciados em cafeína, de gangues de tubarões barulhentos a caipiras vivendo em trailers.

A inspiração de Mother está mais visível na posição da câmera longe dos personagens e pelo ambiente ser algo moderno, mas Cricket consegue ter sua identidade própria, com seu humor inteligente e sua pegada sentimental. E, como um bom título do subgênero, os inimigos não deixam a desejar, tendo uma galeria legal de animais, robôs, fãs tóxicos usando fursuits e outras maluquices para barrar o caminho dos pequenos heróis. E por falar neles…

Operação Meu Gato

A turma em Jae’s Really Peculiar Game é composta por seis integrantes, que se juntam ao grupo com o passar da aventura. Jae, o protagonista, é um garoto gentil, mas ainda bastante afetado pela perda da mãe, vítima de câncer. Ele atua como o bardo do grupo, tendo ataques medianos e ficando encarregado de dar suporte aos outros, com sua arma de escolha sendo um rastelo.

Zack é o vizinho e melhor amigo de Jae, um garoto legal e confiante. Ele adora uma boa briga, usando seus punhos e amor por boxe para enfrentar os inimigos e proteger seus amigos, tendo pouca magia, mas compensando com sua grande força. Por baixo de sua pose forte, porém, existe uma grande tristeza e um vazio por causa do abandono de seu pai.

Symphony é quem dá a ideia de ir para Yimmelia depois de cair do céu com seu cone de trânsito. Bastante impulsiva, ela age sem pensar na maior parte do tempo, tentando, por exemplo, argumentar com uma líder de gangue sem nem ter nada em mente, mas com boas intenções. Symphony anseia por amigos, sentindo-se bastante solitária e com medo de que os outros a odeiem. Com seu cone, ela tem bastante força nos seus golpes e boas combinações com os outros membros.

Acacia vive em um trailer, aparentemente servindo como o estereótipo da garota mimada e mandona, se achando melhor que os outros e dando ordens a torto e a direito, como ela substituir o vocalista de uma banda que se recusava a cantar. E, para deixar ainda mais clara a sua posição de mandona, sua arma é um megafone barulhento, com o qual ela pode atacar todos os inimigos, mas com dano relativamente mais baixo que os outros.

Twila é uma dumana, mestiça entre humano e a raça dumi, seres com poderes telepáticos, orelhas pontudas e que podem canalizar a energia das frutas elemelões. Esperta, descolada e poderosa, ela sofria bastante bullying em sua escola e cidade (a mesma de Acacia) por sua natureza, ao ponto de ficar isolada a maior parte do tempo. Com seus elemelões, Twila pode atacar os inimigos com uma variedade de elementos, mas com sua saúde mais fragilizada por ser mestiça.

Por fim, Charlie é uma pessoa genial, criança de pai e mãe inventores e com muitos doutorados, além de já ter cursado a faculdade. No entanto, seus pais estão sempre atarefados e praticamente se esquecem que elu (é, pronome They/Them) existe. Com seu cachorro robótico, Charlie consegue desferir diversos ataques poderosos e dar suporte ao grupo.

BRIGA! BRIGA! BRIGA!

O sistema de luta de Cricket é diferente de outros Motherlikes. Como semelhantes, os inimigos aparecem no campo e é possível escapar deles ou bater diretamente com a corrida, podendo atacar primeiro. Na luta, até três personagens do time ficam em campo contra um máximo de quatro inimigos, separados em dois lugares na frente e dois atrás. A força e vida dos inimigos é afetada diretamente pelas atitudes rudes de Jae, como jogar latas de lixo nas pessoas, bater nelas com a corrida ou simplesmente sair de perto enquanto elas estão conversando. Isso também oferece mais experiência se a luta for vencida, então é um gambito interessante.

Nas lutas, os ataques têm três níveis de poder, dependendo do timing do jogador: normal, se não apertar nenhum botão; levemente mais fortes se apertar o botão A no momento certo; ou ainda mais poderosos se apertar o botão B. O mesmo vale para defesa, onde o ataque do inimigo pode ser completamente negado se você apertar B corretamente. Pode parecer inicialmente complicado, especialmente para alguns golpes especiais em que deve-se apertar múltiplas vezes, mas logo fica divertido de tentar acertar o timing.

Além disso, um dos grandes diferenciais de Jae’s Really Peculiar Game é a opção de fazer combinações entre os membros do grupo. Por exemplo: usando um pouco de sua mana, Jae pode fazer Zack saltar bem alto e acertar um inimigo; Charlie confere um microfone maior para Acacia causar mais dano; e Symphony e Twila podem fazer chover energias e melhorias para o grupo. Além de usar mana, esses movimentos consomem uma barra chamada Tide Wave, que se enche com parries perfeitos, além de também gerar um efeito de câmera lenta para podermos acertar com mais facilidade o timing dos ataques/defesa.

O jogo comete alguns erros bem bobos que impedem que a experiência seja impecável. Os telefones (inspiração bem óbvia de Mother, mas super charmosa, que são usados para salvar), por exemplo, podem ser bem esparsos, o que não seria um problema se o jogo não tivesse fechado algumas vezes automaticamente quando eu estava jogando, sem motivo nenhum. Isso me fez voltar um pouco no progresso e foi meio chato de repetir tudo de novo, com um medo constante de um novo crash sem que eu pudesse salvar.

Outro erro bem pequeno é a falta de variação de NPCs, com o mesmo modelo de personagem tendo a chance de aparecer logo depois de interagir com um cidadão. Além disso, o jogo está em inglês. É frustrante como um jogo tão denso e bonito como Cricket tenha ignorado o português brasileiro, considerando que existem algumas opções de idiomas, mas, como falei, são erros bem bobos, que não tiram toda a qualidade da jornada.

Amigos para sempre

Cricket: Jae's Really Peculiar Game foi uma das surpresas mais agradáveis que tive esse ano. Criativo, com escrita genial, bonito visualmente e feito com muito carinho, é um título obrigatório para fãs do subgênero e um exemplo de como fazer algo inspirado, mas conquistando sua própria identidade. Inclusive, eu estava precisando de um jogo assim por causa do período que estou vivendo, mas isso é conversa para outro dia.

Uma das melhores maneiras de comemorar os 35 anos de Earthbound Beginnings e 30 anos de Earthbound é dando uma chance a uma nova geração de crianças heroicas, desbravando a força inerte dentro de seus corações e o valor da amizade.



Prós

  • História rica, com temas poderosos que são tratados com respeito e cuidado;
  • Personagens carismáticos e com camadas para desvendar e conhecer;
  • Trilha sonora de alta qualidade e marcante;
  • Combate intuitivo e fácil de se adaptar, além de combos bastante divertidos;
  • Belíssima direção de arte, como se fosse um desenho infantil;
  • Mundo criativo, lore interessante e absolutamente hilária.

Contras

  • Ausência de opção para idioma PT-BR;
  • Ausência de sidequests que poderiam desenvolver ainda mais o mundo;
  • Alguns crashes inexplicáveis no meio da jogatina, que podem atrapalhar o progresso devido a inexistência de checkpoints e autosaves.
Cricket: Jae's Really Peculiar Game — PC/Switch — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela PM Studios, Inc.
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Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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