Análise: The Karate Kid: Street Rumble: Porradaria dos EUA até o Japão

Aventura em 16 bits cumpre bem o papel de beat 'em up, mas sem grandes surpresas.

“Em memória de Chad McQueen (28/12/1960 – 11/09/2024), que fez o papel de Dutch, um dos amigos de Johnny Lawrence no primeiro filme.”

Karatê Kid. Quem não ama a clássica história do garoto novo na cidade que é detonado por valentões e aprende artes marciais com um exímio mestre de caratê? No mundo dos games, a série não tem muita presença, com alguns jogos aqui e ali, mas com qualidade bem duvidosa.

Então, sem aviso prévio, uma nova aventura foi anunciada: The Karate Kid: Street Rumble, assumindo um estilo de jogo diferente dos títulos anteriores. Amarre a bandana e… Concentração. Hora do treino.



A Saga de Daniel LaRusso

Street Rumble efetivamente reconta a trajetória de seu primeiro protagonista, Daniel LaRusso. Os níveis são tematizados ao redor dos três filmes protagonizados por Ralph Macchio, sendo: Karatê Kid — A Hora da Verdade (1984), Karatê Kid 2 — A Hora da Verdade Continua (1986) e Karatê Kid 3 — O Desafio Final (1989). O jogo adapta muito bem as narrativas dos filmes para criar os conflitos nas fases.

No primeiro filme, Daniel se muda para Reseda, Los Angeles, e logo arruma encrenca ao começar a flertar com Ali Mills, a ex-namorada do valentão Johnny Lawrence, um exímio, mas impulsivo, lutador de caratê. Após ser salvo por Miyagi, um faxineiro e mestre da arte marcial, este desafia Lawrence para disputar no torneio local e provar sua honra e fibra.

No segundo filme, Daniel e Miyagi vão para Okinawa, Japão, terra natal do mestre, para prestar respeitos a um conhecido em seu leito de morte. No entanto, o passado do sensei o persegue e cabe a Daniel curar feridas antigas e se provar mais uma vez digno dos ensinamentos dele.

Por fim, o antigo sensei de Lawrence, o imponente e perigoso John Kreese, e seu amigo, o ex-militar Terry Silver, planejam se vingar da dupla por tirar sua honra. Com isso, eles armam um plano para derrotar Daniel e Miyagi usando o terrível lutador Mike Barnes, além de tentar destruir sua amizade.

Encerar com a direita, esfregar com a esquerda

O jogo segue a linha básica de títulos beat 'em up, onde o jogador deve avançar da esquerda para a direita e detonar absolutamente tudo e todos que vê pela frente. Entre os personagens que podem ser escolhidos estão Daniel, Ali, Miyagi e Kumiko, a namorada de Daniel no segundo filme, e com leves mudanças de gameplay como socos mais rápidos ou golpes aéreos mais lentos, além de roupas alternativas muito legais.

Os comandos são bem simples e fáceis de pegar, podendo usar um ataque básico ou ataque especial, com possibilidade de carregar o segundo para dar mais força, além de engajar combos satisfatórios entre eles. Uma mecânica interessante é a barra de poder que se encontra abaixo da vida, que carrega na medida que os golpes atingem inimigos. Se ela for totalmente preenchida, é possível usar um ataque poderoso que nocauteia os inimigos à frente. Além disso, serve como escudo, sendo usada para aparatar ataques e não afetar a vida.

Visualmente, Street Rumble é muito bonito, com gráficos em 16 bits superdetalhados e expressivos, remetendo a outros beat ‘em up que seguem a mesma linha, como Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder's Revenge (o título que iniciou essa nova onda do gênero, com visuais expressivos). A trilha sonora também é muito boa, com pegadas bombásticas e remetendo bastante ao ritmo dos anos 80, mesmo que fosse legal se tivesse algum remix da icônica música You're the Best (1984).




Quebrando a perna

O jogo não possui vozes, mas está completamente traduzido para o português brasileiro, e muito bem, por sinal, com pouquíssimos erros ortográficos. Também tem uma pequena galeria para escutar músicas, ver desenhos do jogo e também sprites dos personagens, o que é muito legal. Além disso, os minijogos podem ser rejogados, como pegar uma mosca com hashis e um Boss Rush. Infelizmente, Street Rumble comete alguns erros que desmotivam jogatinas em sequência. Para começar, os combos são muito limitados, diminuindo a variedade e não evoluindo com os jogos. Por exemplo: o moveset inteiro de Daniel é baseado no primeiro filme, sem nenhuma referência à sequência, onde alguns dos golpes mais legais da série aparecem, como o movimento dos tambores. E como mencionado anteriormente, não existe uma grande mudança de gameplay entre os personagens, deixando bem inútil a escolha entre eles.

É bem estranho também que não tenha um modo VS no jogo (onde poderíamos lutar contra a máquina ou um jogador, emulando as lutas dos filmes), considerando que esse é o maior atrativo da franquia.

Existe a opção de aparatar (parry), onde o ataque do inimigo é interrompido, mas ela é bem difícil de fazer e ainda mais de perceber quando foi feita, uma vez que não tem um efeito ilustrado à mostra. Inexplicavelmente, não é possível pegar itens no chão e usar como armas, algo crucial em jogos do gênero. No primeiro chefão, o capacete dele cai no chão e fica lá, podendo ser chutado e atacado. Fiquei alguns segundos tentando pegar, inutilmente, até perceber que não daria. Sem contar que destruir tudo pelo cenário não oferece nada além de pontuação e vida, o que deixa em dúvida o motivo de coletar as moedas.

Porém, Street Rumble comete dois erros agressivos: o primeiro é que existe a possibilidade de co-op… apenas offline, o que é legal se você tiver amigos, mas sem uma única opção online (além de mostrar seus pontos e o cumprimento de objetivos necessários nas fases, mas eles são minúsculos e sem importância). Em segundo, limitar os títulos representados. Por mais que Karatê Kid 4 — A Nova Aventura e, especialmente, Karatê Kid (2010) sejam filmes medíocres, seria legal se tivessem seus personagens como jogáveis. Não só isso, a aclamada série Cobra Kai é totalmente ignorada, perdendo a oportunidade de fazer Daniel e Lawrence lutarem lado a lado pela primeira vez nas ruas.

A Hora da Verdade

The Karate Kid: Street Rumble é o melhor jogo da franquia. Essa não é uma meta muito alta para se passar, mas ele cumpre seu papel. Seus gráficos bonitos e sua jogabilidade simples são seu maior trunfo e jogar com amigos deixa ainda mais divertida a experiência, rendendo horas de diversão.

No entanto, a simplicidade pode cansar depois de algum tempo: a falta de alicerces do gênero (como pegar armas e uma dificuldade mais desafiadora), sem co-op online e pouca representatividade da franquia fazem deste mais um jogo que existe, sem identidade própria além de “aquele jogo do Karatê Kid”. Como um grande fã da série, eu estou satisfeito mas sinto que poderia ter mais.



Prós

  • Gráficos pixelados muito bem feitos;
  • Níveis bastante legais de jogar;
  • Combate fácil de aprender e divertido de executar;
  • Quatro dos personagens mais icônicos da saga para escolher e jogar,
  • Traduzido para PTBR com poucos erros;
  • Galeria de arte legal e minigames divertidos.

Contras

  • Baixa representatividade da franquia, ignorando mais da metade do legado de Karatê Kid;
  • Sem co-op online;
  • Não é possível usar itens que caem no chão,
  • Pouca razão para rejogar os níveis além de aumentar um pouco o poder dos personagens.
The Karate Kid: Street Rumble — PC/PS5/PS4/Switch/XBSX/Android — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida por GameMill Entertainment

Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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