Uma das estéticas mais bonitas já criadas em animação é o chamado anime dos anos 90. Enfeitados com os mais diversos detalhes no ambiente e aliados com expressões fortes que evocam emoções e colorações únicas (derivadas da saturação das cédulas de animação), foi popularizado por animes como Street Fighter II: o filme, Sailor Moon, Samurai X e Neon Genesis Evangelion.
É com essa promessa de design que Shikon-X Astro Defense Fortress chamou a minha atenção e, logo após alguns minutos de gameplay, prendeu a minha atenção instantaneamente. Sem mais delongas, viaje comigo nesta jornada estelar.
Cabeça nas nuvens (ou melhor, nas estrelas)
Em um futuro distante, a humanidade ascendeu às estrelas e coexiste com diversas espécies alienígenas, vivendo em harmonia e prosperidade. Isto é, até que os Rolars atacaram e deixaram inúmeros órfãos e órfãs.
Entre esses pobres coitados estava Daaia, que cresceu desde criança como soldado pela Federação, com o objetivo de vencer a guerra contra os Rolars, sendo uma das melhores pilotos com a nave Shikon-X. Certo dia, uma estranha figura no banheiro começa a fazê-la ponderar sobre o conflito, como o fato de que ninguém sabe como os Rolars se parecem ou como seus ataques são esparsos, com Daaia ficando presa num planeta vizinho pouco depois de mais uma emboscada, levando-a a conhecer mais sobre o universo ao seu redor e descobrir o que é verdade e o que é mentira.
Café forte, reforçado com charme e humor
Em análises passadas, falei como influência e homenagens são legais, contanto que o projeto consiga sua própria identidade. Desde o primeiro segundo da tela de introdução, com o prefácio sendo descrito como a famosa introdução de Flash Gordon (e de Star Wars, mas a referência seria óbvia…) , logo deu para perceber que o jogo poderia levar um processo pela angulação e mudando completamente de posição.
Nesse instante, o jogo mostra seu maior trunfo: referências e homenagens mas pinceladas com altas doses de humor inteligente e diversão. Grogu com o capacete do Mandaloriano em um fliperama, um minigame totalmente inspirado em Game & Watch, referências a O Iluminado e outras, tanto óbvias quanto mais sutis, são muito bem pensadas e criam uma identidade única para o jogo, aliado com seu humor próprio. Daaia é uma protagonista muito divertida de acompanhar, com tiradas hilárias e pensamentos ainda mais absurdos (e apreciadora de um bom café forte) e os outros personagens são igualmente memoráveis e engraçados.
Não bata senão dá tilt
A jogabilidade não poderia ser mais básica, operando como um point and click à moda antiga, no estilo dos jogos da LucasArts, porém com mais liberdade de movimento, andando por cenários 3D com personagens pixelados (exceto pelos robôs, bem quadrados e charmosos), direcionando Daaia para solucionar puzzles e interagir com os elementos ao seu redor. Além disso, existem três minigames bastante divertidos de se jogar, em especial o de pinball, que responde muito bem e não tenho vergonha de dizer que desperdicei uma boa parte do meu tempo nele.
Porém, pequenos detalhes impedem o potencial total de Shikon-X. Para começar, o jogo inexplicavelmente tem carregamentos bem longos, considerando os gráficos e a jogabilidade simples. Além disso, acho estranho que um jogo feito na América Latina (no caso, Chile) tenha opção de idiomas espanhol e inglês, mas falte completamente o português brasileiro. Apesar de os personagens serem carismáticos, não posso dizer o mesmo da trilha sonora, completamente esquecível e genérica.
Por fim, o jogo é modesto, mas ambicioso. Modesto no sentido de que é óbvio que ele foi um projeto pequeno, mas ambicioso por sua história interessante, mas curta, levando pouco mais de três horas para completar. Sem entrar em spoilers, mas algumas perguntas muito importantes ficaram em aberto para uma possível continuação, o que seria muito desapontador se ela nunca vier.
A fronteira final
Shikon-X Astro Defense Fortress foi uma das maiores surpresas que tive este ano. Eu tinha me interessado puramente pela estética anime anos 90 e me prendi com o potencial que reside dentro dessa ideia. Um jogo simples, mas feito com muito carinho e dedicação, é uma boa forma de passar um tempo para quem quiser um jogo rápido, mas divertido.
Da mesma forma que o futuro pode aguardar cemitérios de influencers que podem gerar cultos fanáticos por pedras inúteis (mais uma vez, não pergunte), só posso esperar que essa simpática e gentil aventura possa receber uma chance de expandir seu universo.
Prós
- História interessante, pegando influências, mas ganhando identidade própria;
- Protagonista divertida que ama café;
- Gráficos simples, mas bem feitos;
- Minigames divertidos e excelente senso de humor;
- Jogabilidade humilde e divertida.
Contras
- Sem opção de PTBR;
- Carregamentos demorados;
- Trilha sonora nada memorável;
- Alguns puzzles muito simples;
- Futuro da narrativa nebuloso.
Shikon-X Astro Defense Fortress - Switch/PC - Nota: 8,5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Cópia cedida pela WhisperGames