Análise: Reynatis entrega combates ágeis e história interessante, porém com falhas em jogabilidade

O novo RPG de ação da FuRyu é mais uma aposta que, embora capaz de entreter, não corrige os erros passados da desenvolvedora.

em 23/09/2024

Reynatis
é o mais recente lançamento da FuRyu. As produções da desenvolvedora, como de praxe, são uma espécie de oito ou oitenta: ou temos muitos acertos ou muitos erros, nunca parece existir um meio-termo — e o mesmo vale para gostar ou não de títulos como Crystar, Crymachina, Monark e Trinity Trigger, entre outros.


Este novo RPG de ação foi originalmente lançado no Japão em julho e chega ao Ocidente no próximo dia 27 de setembro. Porém, mesmo contando com nomes de peso em sua produção, mais especificamente Yoko Shimomura, a mente por trás da trilha sonora de Super Mario RPG, e Kazushige Nojima, o responsável pelo enredo de Final Fantasy VII e outras entradas da longeva franquia da Square Enix, Reynatis deixa a desejar em aspectos importantes para um bom aproveitamento do jogo como um todo.

Shibuya (de novo), agora com magia

Recentemente, muitos jogos têm apostado na movimentada Shibuya, em Tóquio, para construir suas narrativas. Com tantas histórias se passando nessa região, algumas mais reais e outras fantasiosas, infelizmente não dá para escapar de uma sensação de “mais do mesmo”.

Em Reynatis, a aposta é um ano de 2024 distópico, no qual Wizards, cidadãos capazes de usar poderes mágicos, se misturam às pessoas comuns. Neste contexto, existem duas forças opostas: a Guild, uma facção formada por magos que buscam sua liberdade e o uso de magia sem restrições, e a Magical Enforcement Agency (M.E.A.), uma força policial cuja principal tarefa é suprimir esses Wizards rebeldes.


Sendo assim, a trama gira em torno de dois pontos de vista diferentes: representando a força que defende o livre uso da magia, temos Marin Kirizumi, que cresceu escondendo suas habilidades — porém não aliado nem à Guild nem à M.E.A. —, e Sari Nishijima, uma das melhores agentes da M.E.A. que acredita que a proibição da magia é necessária para manter a ordem.

Além dessas duas forças opostas, outro fator importante entra no conflito: uma droga ilícita chamada Rubrum, feita com sangue de Wizards e que pode garantir poderes mágicos às pessoas normais, além de amplificar o potencial de quem já os tem, porém com perigosos efeitos colaterais. Dessa forma, quem acaba perdendo o controle para o Rubrum pode, na pior das hipóteses, se transformar em monstros.


Com um começo morno, temos um desenrolar fragmentado que, a princípio, alterna entre Marin e Sari. Depois de alguns acontecimentos, esses dois protagonistas unem forças para descobrir a verdade por trás de suas convicções; de longe, a história é um dos chamarizes de Reynatis, pautando temas como identidade e aceitação, liberdade, justiça e a luta contra a opressão.

Contudo, essa abordagem não é isenta de falhas. Com tanto potencial para explorar, em diversos momentos senti que o desenvolvimento abre pouca margem para debater os pontos principais — não chega a ser ruim, mas com certeza não faz jus à grandiosidade (se posso colocar assim) que a história tenta passar.

Sob uma ótica mais otimista, temos personagens secundários e alguns NPCs que ajudam a construir um pano de fundo mais atrativo para a aventura. Esses aspectos obviamente ajudam a remediar as falhas narrativas, mas não em sua totalidade. 

Entre a Supressão e a Liberação

A jogabilidade central de Reynatis não foge do padrão de RPGs de ação. Basicamente, exploramos Shibuya e algumas dungeons que compõem uma dimensão paralela conhecida por Another, completando missões principais e secundárias, às vezes em um vai-e-volta incessante que beira a repetição. Combates acontecem aqui e ali, mas, assim como o desenrolar da história, eles demoram para brilhar — falarei deles mais adiante neste tópico.

Talvez o que eu possa considerar o ponto-chave da jogabilidade é a presença de dois “modos” para os personagens: Supressão (Suppression), no qual nossos protagonistas ocultam suas habilidades mágicas para se misturar à população, e Liberação (Liberation), com o qual os Wizards utilizam seus poderes mágicos para combater as ameaças que assolam Shibuya e sua população. Em relação a esses “estados”, é interessante ver como as pessoas reagem ao uso da magia: se jogamos como Sari, o modo Liberação é tido como algo normal e corriqueiro; já como Marin, revelar que o garoto é um Wizard causa comoção pública que dá início a uma perseguição por parte da M.E.A.


É como se tivéssemos aqui um repeteco do que acontece em títulos como GTA: se Marin for capturado pela M.E.A., podemos até tentar combater os policiais, porém existe uma diferença de força descomunal. Para evitar o possível game over, Shibuya nos oferece alguns “pontos seguros”, nos quais podemos nos abrigar para esperar o burburinho passar; trata-se de uma mecânica interessante, porém subaproveitada na maioria das vezes.

Outros elementos notáveis de exploração incluem completar as supracitadas missões secundárias para diminuir o indício de malícia (Malice) em Shibuya e encontrar grafittis conhecidos por Wizarts, que concedem aos nossos personagens benefícios únicos, como habilidades, golpes especiais e até mesmo bonificação em experiência e dinheiro. Esses dois elementos andam praticamente de mãos dadas, já que algumas dessas Wizarts só podem ser acessadas ao alcançarmos uma porcentagem específica de malícia.


Agora entra a parte que realmente brilha em Reynatis: o combate. Com muita agilidade e personalidade própria, enfrentar os inimigos requer uma boa dose de atenção, com batalhas que recompensam o bom uso de reflexo e timing preciso.

Além disso, cada personagem que compõe nossos grupos (estes variam dependendo do momento em que estamos na história) possui tipos de luta diferenciados, sendo bastante interessante alternar entre os aliados para explorar suas capacidades individuais. Aqui, as Wizarts também desempenham um papel importante, já que, embora sejam compartilhadas entre todos os companheiros de time, essas habilidades nos permitem criar builds diferenciadas para cada um deles.

Tanto potencial desperdiçado em uma lamentável performance no Switch

Reynatis tem um estilo de arte que não segue o padrão “estilo mangá” de outros jogos da FuRyu, com um estilo artístico que pende mais para o realismo assinado por Yasutaka Kaburagi. É um design de personagens interessante, que combina bastante com a atmosfera do jogo, em especial a Shibuya distópica retratada.

Igualmente bem trabalhadas são a trilha sonora (embora um tanto repetitiva depois de um tempo), composta por Yoko Shimomura, e a dublagem integral em japonês, que conta com grandes nomes do ramo. É uma pena, infelizmente, que a performance no Switch não faz jus à beleza de Reynatis como um todo, com gráficos borrados e mal renderizados tanto no modo portátil quanto na dock, além de alguns engasgos aqui e ali após carregamentos de tela — ao menos, estes são rápidos.


Sinceramente falando, o RPG não tem um aspecto gráfico caprichado em nenhuma plataforma, mas consegue ser ainda pior no hardware datado do console híbrido. Não chega a ser injogável, mas acarreta alguns problemas, como a demora para processar o fim de uma batalha; em vários momentos, mesmo depois da tela de resultados, a música que estava sendo tocada era de combate, acompanhada pelas vozes dos personagens atacando.

Outro fator que atrapalha nos combates é a péssima câmera, que impede um bom uso do sistema de trava de mira e troca rápida de oponentes. Por fim, diferentemente de explorar Shibuya, as dungeons de Another são malfeitas, com um level design preguiçoso e ausência de um mapa preciso, o qual também não ajuda em nada a navegação (além de não poder ser expandido).

Mediano em tudo o que propõe, mas estranhamente aproveitável

Reynatis merecia mais polimento, isso é inegável, ainda mais pelo preço que está sendo cobrado na eShop (R$ 314,99). Para entusiastas do gênero, especialmente fãs de títulos da Square Enix, este RPG é uma boa pedida e está longe de ser um dos piores na biblioteca do console híbrido, apesar de suas ressalvas.

No entanto, é preciso manter duas informações em mente: só vale a pena investir em Reynatis quando ele estiver com alguma promoção relevante e não ter altas expectativas em relação a nada que o jogo promete. Sabendo das suas capacidades, este RPG pode ser aproveitado sem grandes problemas dentro de suas limitações, por mais que seja mais um típico caso de “ame ou odeie” da FuRyu.

Ilustração exclusiva do bônus de pré-venda na Amazon japonesa, assinada por Kaburagi e utilizada para a capa desta análise

Prós

  • História interessante, com vários temas pertinentes e atuais e personagens que conseguem sustentá-la;
  • Combates envolventes e ágeis, com grande foco em esquiva e exploração dos diversos pontos fortes de cada personagem;
  • Mesmo que as Wizarts encontradas sejam compartilhadas com todos os componentes do grupo, elas oferecem diversificação nas builds dos personagens;
  • A arte de Yasutaka Kaburagi combina com a proposta do jogo;
  • Telas de carregamento rápidas;
  • Dentro de suas limitações, é um RPG que pode ser aproveitado por entusiastas do gênero;
  • As músicas e dublagens são de ótima qualidade.

Contras

  • Performance lamentável no Switch, especialmente em relação aos gráficos e ao processamento de informações;
  • Problemas de câmera atrapalham durante os combates;
  • As músicas chegam a ser repetitivas depois de um tempo;
  • As dungeons que compõem a dimensão Another são pouco elaboradas e repetitivas;
  • O minimapa em Another mais atrapalha que facilita a navegação, além de não poder ser expandido;
  • A história e o combate demoram para ficar interessantes de fato;
  • Algumas mecânicas e a trama como um todo poderiam ter sido melhor desenvolvidas;
  • Só vale a pena investir no jogo caso tenha alguma promoção relevante.
Reynatis — PC/PS5/PS4/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida por NIS America
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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